O Grande Prêmio do
Brasil de Fórmula 1 de 2018 até que foi uma grata surpresa. Tivemos disputas,
emoção, drama, incidentes, mas o mais importante, e isso quase não foi
mencionado pela mídia especializada, é que foi o primeiro GP do Brasil sem um
piloto brasileiro na pista. E, contrariando os catastrofistas que apregoavam
que a corrida tupiniquim iria para o brejo sem um ídolo local, este foi o GP
com maior público em vários anos. Quem foi a Interlagos, e aguentou todas as
filas, calor, ameaças de chuva, segurança (nunca se sabe, apesar das promessas
das autoridades), e o furdunço que são algumas arquibancadas, não se incomodou,
ou não ligou a mínima se havia ou não um brasileiro na pista. O que não quer dizer
que ficaram sem ter para quem torcer.
E o grande nome da
corrida, a bem ou mal, foi Max Verstappen. Primeiro, de forma positiva, pelo
modo como partiu para cima dos líderes, até assumir a liderança da corrida.
Apesar da desvantagem de potência do motor Renault, a melhor estabilidade do
chassi RB14, que o fez tratar muito melhor os pneus, permitiram ao intrépido e
arrojado holandês levantar a torcida com suas ultrapassagens. Infelizmente, foi
do holandês também o papelão do fim de semana, ao empurrar Esteban Ocon após a
corrida, tremendamente irritado pelo toque entre ambos que impediu que o piloto
da Red Bull ganhasse a prova, cuja vitória caiu no colo de Lewis Hamilton, que
averbou seu 72º triunfo, e está agora a 19 vitórias de igualar o recorde de Michael
Schumacher nessa estatística.
Não que Verstappen não
tivesse motivos para estar tremendamente irritado. Porém, agressão física pega
mal, e pior, seus chefes na Red Bull, Christian Horner e Helmut Marko,
endossaram a atitude do holandês, dizendo que ele foi até comedido, dando a
entender que ele devia ter partido para a porrada mesmo contra o francês da
Force India.
Só que a maior parte
da culpa cabe ao próprio Max Verstappen. O piloto da Force India, àquele
momento da corrida, tinha compostos novos, e estava momentaneamente mais rápido
que o piloto da Red Bull. Já era a segunda volta com Ocon acossando Verstappen,
procurando tirar a volta de desvantagem que ele tinha para o líder. E, na
freada do “S”, ele foi para a tentativa. Começou bem, na entrada, chegando até
a colocar o bico na frente, mas na saída, eis que Verstappen fecha a porta, e o
francês, sem ter para onde ir, acaba tocando no holandês, fazendo ambos
rodarem. Verstappen, líder da corrida, caiu para a 2ª posição, e falou todo
tipo de impropérios contra Ocon, que também conseguiu seguir na prova. Achei um
incidente de corrida, e os comissários, numa atitude que pra mim pareceu
exagerada, tacaram-lhe um stop & go de 10s. Sua corrida, que já era
complicada, ficou ainda pior.
Vi diversas opiniões
mundo afora. Vários crucificam Ocon, enquanto alguns seguem pela via, que é
minha opinião, de que Max deveria ter tido mais cuidado. A frase de Hamilton na
antessala do pódio disse tudo, ao afirmar que o holandês tinha tudo a perder
naquela manobra. E, se formos levar ao pé da letra, Verstappen não pode
reclamar tanto: ele poderia até ter abandonado ali, e dar adeus completo ao GP,
mas seu carro resistiu, e ele ainda ameaçou a vitória de Hamilton, perseguindo
o novo pentacampeão até a bandeirada final, terminando em 2º lugar. Não tiro
seu motivo de frustração, mas também não foi esse desastre todo que ele faz
aparentar.
No primeiro GP do Brasil sem um brasileiro na corrida, o público foi excelente. Falta de um representante no grid não fez diferença, como muitos alardeavam. |
E aí, ficamos naquela
discussão: piloto retardatário deve, ou melhor, pode ou não descontar sua volta
para o líder, caso tenha condições de fazê-lo? Claro que pode! O regulamento
não proíbe isso. Fala apenas em tomar cuidados gerais que se deve ter em toda
tentativa de ultrapassagem. E quanto à bandeira azul? Para que a bandeira azul?
Verstappen estava sendo perseguido por Ocon, e não o contrário. Se o francês
consumasse a ultrapassagem, bastava um pouco de paciência a Max, que logo,
logo, ele recuperaria terreno, e superaria Ocon novamente, que aí, como
retardatário, deveria dar caminho. Mas Verstappen, arrojado na pista, por vezes
até em demasia, e que vinha dando show nas últimas corridas sem ficar criando
caso com ninguém, resolveu fechar Ocon, que talvez tenha sido um pouco otimista
demais ao tentar superar Verstappen, pois o conhece muito bem. O holandês, com
sua birra em não permitir ser ultrapassado, mesmo que por um retardatário,
poderia ter dado espaço, perderia talvez 1 ou 2s de vantagem para Hamilton, mas
tinha carro e condições para recuperar isso sem maiores problemas. Ele se
acostumou a jogar o carro nos outros nas suas tentativas de ultrapassagem, como
forma de intimidação, e isso já causou vários incidentes, e até acidentes.
Estava demorando para ele arrumar confusão novamente. Se ele conseguiu várias
ultrapassagens lindas, por outro lado, sem desmerecer seu talento na pilotagem,
contou também com a visão geral de corrida de alguns dos pilotos que ele
superou, que sabiam que uma dividida ali seria mais prejudicial do que
benéfica. Mas, e se estes pilotos começarem a se comportar do mesmo jeito que
Verstappen gosta de se guiar?
Não seria difícil o
pessoal parar de aliviar quando for superado pelo holandês, e isso pode levar a
divididas, toques de rodas, e enroscos entre os carros. E será que aí
Verstappinho vai gostar da brincadeira? Para quem já tirou até o companheiro de
equipe da corrida com uma manobra completamente desnecessária, não demora tanto
para isso acontecer. E aí, o que acontece depois?
Aliás, Verstappen, até
Mônaco vinha cometendo erros em todas as corridas. Ele mesmo admitiu que, após
a prova monegasca, onde viu Daniel Ricciardo ganhar a prova largando da pole,
enquanto ele, na ânsia de querer andar mais que o australiano, errou e bateu o
carro, precisou colocar a cabeça no lugar, e vinha obtendo muitos bons
resultados, mostrando todo o seu talento e arrojo, e sem arrumar confusões.
Parecia que ele enfim estava amadurecendo, e isso era muito importante, pois
ele será o líder do time na pista em 2019, e o time todo apostará nele. Mas, e
se voltarem os velhos hábitos? Christian Horner e Helmut Marko que se virem,
pois em momentos chaves, eles simplesmente endossaram as atividades de Max, que
vai se achando mais do que já é no atual momento. Ele pode, e certamente vai
crescer muito, e tem muito tempo pela frente para poder escrever seu nome na
galeria de campeões da F-1. Mas, se não dosar certas atitudes, o tiro pode sair
completamente pela culatra.
Foi o caso do
incidente com Ocon, que já vinha acossando o piloto da Red Bull há duas voltas,
de modo que Max deveria, ou pelo menos saber, ou ser avisado pelo time, para deixar
o concorrente passar. Afinal, isso nada mudaria na sua corrida. Mas Verstappen,
ao invés de abrir na saída do “S”, e há espaço suficiente para isso, sem
comprometer o desempenho da trajetória, simplesmente foi para cima, na
tangência habitual, como se estivesse sozinho na pista, e o toque acabou
inevitável. Verstappen gostou de bancar o macho depois da prova, empurrando
Ocon, mas se fizesse isso com alguns pilotos de antigamente, seria mandado para
o centro médico depois de uma bela surra, por mais condenável que isso fosse.
Ayrton Senna cometeu
erro parecido aqui em 1990, quando tentou ultrapassar a Tyrrel de Satoru
Nakajima, que era mesmo retardatário. Mas, impaciente, tentou fazer isso no
Bico de Pato. O japonês, fazendo sua trajetória habitual, foi atingido pelo
bico da McLaren, e Senna precisou ir aos boxes trocar o dispositivo, e com
isso, a vitória, praticamente certa, virou um 3º lugar, pior ainda tendo de ver
seu desafeto Alain Prost triunfar no seu quintal. Só que Senna, mesmo chateado,
encarou o erro, e foi agredir Nakajima. Mas é verdade que ele não teve a mesma
paciência com Eddie Irvinne no GP do Japão de 1993, quando o irlandês,
estreando pela Jordan, acabou disputando posição com o tricampeão quando estava
uma volta atrás. Nervosinho, Ayrton deu um soco em Irvinne nos boxes após a
prova. E, em 1992, Ayrton quase foi também às vias de fato com Michael
Schumacher, quando o alemão o acabou atingindo no início do GP da França
daquele ano e o tirou da corrida. Mas houve também o incidente de Senna com
Jean-Louis Schlesser em Monza, em 1988, quando o piloto da McLaren ia ganhar a
corrida, e ao ultrapassar Schlesser, então defendendo a Williams, acabou
tocando nela, e saiu da corrida. Ayrton não foi socar Jean-Louis depois por
causa disso.
E nem falo do enrosco
de Nélson Piquet com Eliseo Salazar em 1982 na Alemanha, quando o brasileiro
partiu para as vias de fato ali mesmo na pista, assim que saiu de seu Brabham,
jogado na caixa de brita pelo toque com o retardatário...
Aliás, por mim,
deveria acabar com essa palhaçada de bandeira azul. Piloto que é piloto precisa
superar os retardatários com a mesma maestria com que supera seus rivais
diretos na pista. E Ocon, claro, tinha o direito de tentar descontar sua volta.
Qualquer problema após ali, que motivasse o Safety Car, lhe permitiria crescer
na corrida, aproveitando as oportunidades. É assim na Indycar, que embora
também tenha a regra da bandeira azul, não virou essa frescura toda que se
tornou na F-1. Aliás, piloto hoje reclama de muita coisa que os pilotos de
antigamente tinham de resolver na pilotagem, e não na choradeira via rádio.
Seria muito bom se o Liberty Media resolvesse livrar a F-1 de alguns
regulamentos anacrônicos e chulos. Mas acho que aí é pedir demais...
Ou então, vamos ser
radicais: piloto que tomar volta do líder deve ir para os boxes e abandonar a
corrida, para evitar incidentes potenciais com os líderes. Do jeito que vi
críticas a Ocon, sem levar em consideração todos os fatores, essa turma só se
satisfaria com isso...
Mas, mesmo com o
problema de Verstappen, o triunfo de Lewis Hamilton não foi fácil. A Mercedes
errou na estratégia de pneus para a corrida, e o inglês estava com um composto
mais duro, que obviamente, foi se desgastando na parte final da corrida, além
de não render o que se esperava. Verstappen, com um composto mais macio, mesmo
com o carro levemente avariado, vinha voando para cima do novo pentacampeão, e
cruzou a linha de chegada com cerca de 1s5 de diferença para o holandês da Red
Bull. Palmas para o inglês, que se contou com a sorte para a vitória cair no
seu colo, também precisou manter-se frio e impecável para extrair o máximo que
pudesse de seu carro nas voltas finais, para impedir Verstappen de retomar a
ponta. E, quando nos lembramos da performance pífia de Valtteri Bottas nesta
corrida, onde o finlandês foi apenas o 5º colocado, mesmo fazendo duas paradas,
não dá para deixar de enaltecer a performance de Hamilton.
Na Ferrari, situação
parecida, com Kimi Raikkonen a mostrar que poderá deixar saudades em Maranello,
com mais um pódio, em 3º lugar, enquanto Vettel, com problemas em um sensor no
carro, segundo alegou seu time, foi o 6º, à frente justamente de quem será seu
novo companheiro de time em 2019, o monegasco Charles Le Clerc, que fez outra
corrida de encher os olhos. Se a Ferrari não “podar” o rapaz em detrimento de
Sebastian Vettel, como fez com Raikkonen todos estes anos, o garoto vai longe
em Maranello e na F-1. Méritos também para a corrida de Daniel Ricciardo, que
novamente punido por trocar componentes do turbo, largou a meio do grid para
vir sempre no ataque, e terminar em 4º lugar, e sem tocar em ninguém em
divididas e ultrapassagens. A Red Bull, por mais que negue, sentirá saudades do
simpático australiano, que foi buscar novos ares, cansado do ambiente carregado
do time dos energéticos, por razões mais do que óbvias. E, sinceramente, não
sentirei pena do time austríaco em nenhum momento. Eles já foram um time que
trouxe um frescor e sentimento de novidade na F-1, mas depois que passaram a vencer
corridas, infelizmente pegaram todos os vícios da categoria máxima do
automobilismo, e algumas das atitudes e respostas atravessadas dadas a
Ricciardo mostram a falta de respeito que isso se tornou.
No saldo dos que
pontuaram, a Hass terminou com seus dois carros, consolidando sua posição, e a
Force India, apesar de tudo, vai fazendo um final de temporada digno, com mais
um ponto solitário de Sérgio Pérez. Quem não terá motivos para dizer o mesmo é
a Williams e a McLaren, que ficaram nas últimas posições. O time de Woking até
começou a temporada prometendo e mostrando progressos, em relação ao ano
passado. Infelizmente, isso ficou para trás, e os dois times, os mais
tradicionais da categoria, ao lado de Ferrari, amargaram um ano do qual não
terão saudades. A McLaren iniciou uma reestruturação para o próximo ano,
procurando corrigir os problemas de seu carro, uma vez que terá ainda mais
atenção da Renault do que este ano. A baixa no time inglês é a saída de
Fernando Alonso, um talento consagrado que cansou de andar no fundo do pelotão,
com motivos mais do que justos, e terá novos desafios em 2019, entre eles,
retornar para disputar as 500 Milhas de Indianápolis, mais uma vez em conjunto
com a McLaren.
Na Williams, o
ambiente é muito mais tenebroso e incerto para a nova temporada, quando terá
desfalques financeiros e técnicos. Ou a escuderia consegue construir um bom
carro, ou sua dupla de pilotos, por mais talentosa que possa ser, não
conseguirá fazer muito, por mais que se esforce. Agora, vamos para Abu Dhabi,
semana que vem, cumprir tabela e encerrar de vez o campeonato da F-1. E que
venham 2019...
E a MotoGP chega a Valência, para
a prova de encerramento da temporada 2018. A corrida será disputada no circuito
Ricardo Tormo, que possui 4 Km de extensão, e um total de 14 curvas. A corrida,
no domingo, será disputada em 27 voltas. Entre os destaques, a prova final de
Dani Pedrosa, que se despede da condição de piloto titular, embora vá
prosseguir ligado à classe rainha do motociclismo como piloto de testes da KTM,
a exemplo de Casey Stoner, que exerceu a mesma função na Ducati nos últimos
anos. Stoner, aliás, está encerrando sua função como piloto de testes da equipe
de Bolonha, dizendo que tem outros objetivos para 2019. No ano passado, Pedrosa
obteve em Valência aquela que é praticamente sua última vitória na MotoGP, já
que este ano o piloto teve vários problemas e percalços e não conseguiu vencer
nenhuma corrida, o que foi um dos motivos para a equipe oficial da Honda
dispensá-lo, e contratar seu compatriota Jorge Lorenzo para sua posição em
2019. A corrida em Valência também determinará quem vai ficar em 3º lugar na
classificação final do campeonato. Valentino Rossi é o 3º, mas com apenas 2
pontos de vantagem para seu companheiro de Yamaha Maverick Viñales, que ao
menos encerrou momentaneamente a seca de triunfos no time dos três diapasões
com sua vitória na Austrália. Para o “Doutor”, terminar à frente do companheiro
de equipe é questão de honra no time japonês. O canal pago SporTV2 exibe a
corrida ao vivo do domingo a partir das 11:10 Hrs., pelo fuso horário de
Brasília.
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