sexta-feira, 20 de julho de 2018

VERGNE CAMPEÃO NA FORMULA-E

Jean-Éric Vergne, da Techeetah, conquistou o título da quarta temporada da F-E com uma prova de antecedência, e fechou o campeonato com uma bela vitória na segunda corrida de Nova Iorque (abaixo).

            Pelo quarto ano consecutivo, o campeonato da Formula-E, o certame de competição de carros monopostos 100% elétricos, ostenta um campeão diferente. Nelsinho Piquet foi o primeiro; depois veio Sébastien Buemi; Lucas Di Grassi foi o campeão da temporada passada; e agora, findo o 4ª ano da competição, o francês Jean-Éric Vergne levanta a taça de campeão. E com todos os méritos. Foram 4 vitórias no campeonato, um terço das provas disputadas, e uma grande regularidade e constância durante toda a competição, pontuando em todas as corridas. Não foi uma vitória do acaso.
            A conquista veio na primeira corrida da rodada dupla de Nova Iorque, que encerrou a temporada. E com uma performance de respeito: por ter usado mais energia do que o permitido, Vergne teve de largar na última fila, ao lado do parceiro de time na Techeetah, Andre Loterer, também punido. Enquanto Loterer partiu para o tudo ou nada logo na largada, Vergne foi um pouco mais paciente, para evitar se envolver em alguma confusão no momento da largada. Mas, depois de algumas voltas, mostrando ter um carro muito bem acertado, o francês foi à luta, e começou a ganhar posições. A meta era no mínimo marcar Sam Bird, da equipe Virgin, o único com chances de estragar a festa do piloto francês. Mas Bird não teve a performance que se esperava de um postulante ao título, e sua equipe também não conseguiu um bom acerto para a pista montada na área portuária do bairro do Brooklin. A meio da corrida, o inglês acabou superado por Loterer, que seguindo a estratégia da equipe, passou a segurar Bird, para que Vergne conseguisse chegar nele.
            Jogo de equipe à parte, Bird nesse momento, sem conseguir dar o troco em Loterer, e recuperar a posição perdida, praticamente entregava os pontos na luta pelo título. Vergne chegou, e passou sem maiores problemas. Mas não ficou apenas nisso: Jean-Éric continuou avançando. Poderia simplesmente se contentar em chegar junto de Bird, que postergaria a decisão para a corrida de domingo, ainda com imensa vantagem, mas preferiu encerrar a contenda logo de uma vez. Ao finalizar a prova na 5ª posição, enquanto Bird chegava apenas em 9º, Vergne assegurou matematicamente o título. O primeiro da F-E decidido antes da corrida final, que seria no dia seguinte.
            A Formula-E apresentou postulantes novos nesta temporada na disputa pelo título. Lucas Di Grassi e Sébastien Buemi, os campeões dos anos anteriores, digladiaram-se com problemas em seus carros no início da temporada, ficando impossibilitados de entrar na disputa. Quando seus problemas foram resolvidos, o máximo que puderam fazer foi terminar o ano de forma digna. Di Grassi conseguiu mais do que esperava: com uma reação espetacular a partir da etapa do Uruguai, o piloto brasileiro engatou uma sequência de 7 pódios consecutivos, dois deles de vitórias, e conquistou o vice-campeonato por 1 ponto de diferença sobre Sam Bird, que voltou a ter uma performance abaixo do esperado na corrida derradeira de domingo, e acabou superado na pontuação por Lucas, que conseguiu, junto com Vergne, ser o grande destaque da temporada, pela grande recuperação empreendida depois que seu time resolveu seus problemas de confiabilidade do equipamento.
Sam Bird se manteve na luta até a penúltima corrida, mas não teve um bom desempenho na rodada dupla final em Nova Iorque, e viu Vergne conquistar o título.
            O ano começou com caras novas disputando as vitórias. Sam Bird começou na frente, vencendo a primeira corrida em Hong Kong. Felix Rosenqvist, da Mahindra, venceu de forma categórica a segunda corrida na cidade chinesa, e dava toda pinta de que seria um forte nome na luta pelo título, até porque venceu de forma convincente a prova seguinte, em Marrakesh. Jean-Éric Vergne também começou forte o ano, subindo ao pódio na primeira corrida, e mantendo-se constante na pontuação, até vencer na 4ª etapa, em Santiago. Até ali, tudo apontava para uma trinca de pilotos na luta pelo título: o francês da Techeetah; o inglês da Virgin; e o sueco da Mahindra. Sébastien Buemi, apesar de ter conquistado dois pódios, não parecia ter o vigor e a imponência das temporadas anteriores, e o então campeão Lucas Di Grassi, por incrível que pareça, não tinha um ponto sequer na classificação, ao fim do primeiro terço do campeonato. E as corridas, apesar de alguns altos e baixos, mostravam boas disputas. E novos nomes ditando o favoritismo na disputa era mais do que bem-vindo.
            A quinta corrida do ano, na Cidade do México, marcou o ponto de virada para a equipe Audi. Resolvidos seus problemas de confiabilidade do equipamento, o time de Ingolstadt enfim mostrou a força que deveria ter exibido desde o início da temporada, onde até conseguia mostrar velocidade, mas os carros deixavam seus pilotos na mão, especialmente Lucas Di Grassi. Vencedor da etapa mexicana no ano anterior, o brasileiro conseguiu marcar seus primeiros pontos no ano, enquanto Daniel Abt conquistava sua primeira vitória no certame. A prova também marcaria o declínio da equipe Mahindra, que dali em diante não conseguiria mais mostrar a mesma desenvoltura do início da competição, o que acabaria deixando Rosenqvist fora da luta pelo título.
Lucas Di Grassi teve um início de temporada abaixo das expectativas, mas com a casa em ordem, recuperou-se mostrando porque foi campeão na temporada anterior, e terminou roubando o vice-campeonato de Sam Bird com duas vitórias, uma delas na primeira corrida de Nova Iorque (abaixo).
            Na prova seguinte, em Punta Del Este, no Uruguai, Lucas Di Grassi voltaria ao pódio para não mais sair dele até o fim do campeonato, iniciando sua recuperação na competição. Mas foi Jean-Éric Vergne quem mostrou força no balneário uruguaio, ao resistir ao assédio do piloto brasileiro durante boa parte da corrida sem cometer o mínimo erro ou dar qualquer chance a Lucas de arrebatar a vitória. Ali, o francês mostrava que pretendia manter-se firme na luta pelo título. Mas Sam Bird também não estava disposto a facilitar: o inglês fechou o pódio no Uruguai, e na etapa seguinte, em Roma, na estréia da capital italiana no calendário, conquistou sua 2ª vitória no campeonato, mostrando que Vergne não ia conseguir se livrar dele tão fácil assim.
            Mas em casa, na prova de Paris, Jean-Éric tratou de colocar as coisas no seu devido lugar, e venceu sem ser contestado. Mesmo assim, Bird foi o 3º colocado, e se mantinha na briga, apesar de ficar um pouco mais para trás. Mas tudo ficou um pouco mais complicado em Berlim, onde Sam Bird terminou em 7º, enquanto Vergne fechava o pódio. A desvantagem na classificação começava a ficar quase intransponível, a menos que o piloto da Techeetah tivesse um fim de semana totalmente ruim, e Bird conseguisse capitalizar o momento. E suas preces foram atendidas: na prova de Zurique, o francês teve seu pior final de semana na temporada, terminando a corrida apenas em 10º lugar. Bird foi ao pódio, onde só não pôde comemorar mais porque a vitória foi de Lucas Di Grassi, voltando ao degrau mais alto do pódio, e continuando sua recuperação vertiginosa na classificação: àquele momento, Lucas já era o 3º colocado, ficando atrás somente de Vergne e Bird, os protagonistas do duelo pelo título.
            A diferença caía para 23 pontos a favor de Vergne, uma distância considerável, mas superável, já que tínhamos duas corridas, e 58 pontos em jogo. E tudo poderia acontecer na rodada dupla de Nova Iorque. A maior esperança do piloto da Virgin era conseguir repetir a performance do ano anterior, quando vencera as duas corridas, com atuações magistrais. Mas tudo saiu errado: a Virgin não conseguiu acertar o carro tão bem, e Bird também não conseguiu fazer a diferença na pista. E, mesmo que tivesse conseguido adiar a decisão para domingo, na última corrida, Vergne teve um desempenho irrepreensível na prova final, vencendo para obter seu 4º triunfo na temporada, e coroar o seu título com chave de ouro. Sam perderia do mesmo jeito, uma vez que sua performance no domingo foi até inferior à de sábado, ao ponto de ter conseguido perder até o vice-campeonato para Lucas Di Grassi, que com o 2º lugar, passou à frente do inglês na tabela de pontos. A favor do piloto francês ainda temos nada menos que 4 pole-positions na temporada, sendo o piloto que mais vezes largou na frente no ano, um ateste de sua velocidade nos momentos decisivos das classificações, ainda mais quando lembramos que algumas pistas são bem complicadas para quem larga lá atrás. Vergne terminou o ano com 54 pontos de vantagem para o vice-campeão, a maior diferença já imposta entre o campeão e o vice na história do certame até aqui.
            Tivemos ainda a conquista, inédita, por parte da Audi no campeonato de equipes, superando a Techeetah na prova final, por 2 pontos na classificação, um feito para a equipe, depois do início de temporada catastrófico. Contribuiu para isso a queimada de largada de Andre Loterer na prova de domingo, o que motivou uma justa punição ao piloto, que caiu para a segunda metade do grid, e precisou vir recuperando posições, terminando a prova em 9º lugar. Não fosse isso, a Techeetah também levaria o título de equipes, além do de pilotos.
Felix Rosenqvist e a Mahindra começaram o ano bem fortes, mas perderam muito terreno na segunda metade da temporada,  ficando fora da briga pelo título.
            A Renault despede-se da competição, com sua operação conjunta com a e.dams sendo assumida pela Nissan na próxima temporada. Mas a temporada teve uma situação inusitada: em nenhum momento a equipe oficial da fábrica francesa conseguiu mostrar a desenvoltura exibida nas três temporadas anteriores, quando foi a campeã na classificação de equipes. Neste ano, Sébastien Buemi acabou por não vencer nenhuma corrida, tendo como melhores resultados um 2º e um 3º lugares. Fora isso, o piloto suíço largou 3 vezes na pole-position, mas em nenhuma destas ocasiões conseguiu transformar a vantagem de largar na frente em uma nova vitória. Foi a primeira temporada em que Sébastian passa em branco nesse quesito. E se teve um piloto que sentiu a queda de rendimento de seu time foi justamente Nicolas Prost, que se nos outros anos era facilmente superado por Bueno na e.dams, desta vez levou uma surra descomunal do parceiro suíço: enquanto Buemi fez uma temporada digna, terminando em 4º lugar, com 125 pontos, Prost foi apenas o 19º colocado, marcando apenas 8 pontos com um carro que nem de longe era tão ruim assim como seus resultados fazem supor. Não é por acaso que o time anunciou que não renovou o contrato de Nicolas para a próxima temporada. E também pesou o fato de Alain Prost, seu pai, desligar-se oficialmente da escuderia, para permanecer como embaixador da Renault agora na escuderia de fábrica da marca francesa na F-1. Sem o pai para bancar sua permanência, Nicolas dançou, e agora terá de procurar outro time para competir, se é que conseguirá se manter na F-E no próximo campeonato.
            E, se a e.dams decaiu, como explicar que a Renault ainda conseguiu ser campeã da temporada com Jean-Éric Vergne? Sim, é isso mesmo: a Techeetah é um time cliente da Renault, e conseguiu um entrosamento e performance superiores ao do próprio time de fábrica, mostrando que o problema nunca foi o equipamento fornecido, mas como se trabalhou nele. Desde a primeira corrida, a Techeetah se mostrou muito competitiva, e apesar de alguns altos e baixos, nunca decaiu de performance durante toda a competição, encerrando o ano com uma vitória do novo campeão para ninguém duvidar de sua capacidade, ou da grande coesão que a escuderia chinesa demonstrou no campeonato. E só reafirmando que o time não conquistou o título de equipes porque Andre Loterer queimou a largada na última corrida e acabou punido. Mas é verdade que o piloto alemão demorou algumas corridas até se acertar ao carro e à competição, deixando de marcar pontos que fizeram falta na disputa que acabou travada junto à Audi.
            O time de Ingolstadt, aliás, teve méritos pela sua recuperação durante o campeonato. A escuderia viu também o melhor campeonato de Daniel Abt em quatro temporadas, e sua dupla de pilotos venceu 4 provas, duas corridas com Lucas, e outras duas com Daniel. Não fossem os problemas de fiabilidade das primeiras corridas, poderia ter facilmente lutado pelo título. Se o ganharia, é outra história, porque mesmo quando começou a vencer, Jean-Éric Vergne e a Techeetah mostraram-se mais do que à altura para enfrentá-los. O duelo de equipes na tabela mostrou que a disputa foi mesmo apertada.
            Com 4 triunfos de Vergne pela Techeetah, e outros 4 com a dupla da Audi, as vitórias restantes no ano ficaram com Sam Bird e Felix Rosenqvist, que venceram duas corridas cada. O piloto da Mahindra ainda anotou 3 pole-positions, empatando na estatística com Buemi, ficando ambos atrás apenas de Vergne, com suas 4 poles. Daniel Abt marcou a única pole da Audi, enquanto Mith Evans conquistou sua primeira pole e de sua equipe, a Jaguar, em seu segundo ano na categoria. O time inglês, aliás, alternou altos e baixos durante o ano, mas mostrou bom crescimento em várias provas.
Nelsinho Piquet teve um  ano de estréia positivo na Jaguar, mas teve várias provas com azares e erros do piloto.
            Nelsinho Piquet começou o ano com boa regularidade, mas a meio do campeonato sua performance decaiu, aliada a um conjunto de fatores que não ajudou o brasileiro a superar a situação, sofrendo com quebras e acidentes de pista em alguns momentos. O brasileiro vinha forte para voltar a pontuar na primeira corrida de Nova Iorque, quando um problema eletrônico fez seu carro pifar logo após o pit stop, fazendo-o dar adeus à prova. No domingo, na prova final, Piquet enfim pôs fim ao azar e terminou em 7º, voltando a pontuar depois de 6 provas zerado, e terminando o ano em 9º lugar, com 51 pontos, e bem abaixo de seu companheiro de equipe, Mith Evans, que surpreendeu em alguns momentos, e finalizou o ano em 7º lugar, com 68 pontos. Melhor sorte na próxima temporada, quando o brasileiro continuará na equipe inglesa. De última colocada no ano anterior, a Jaguar terminou em 6º no campeonato, com 119 pontos.
            Venturi, Nio, Dragon e Andretti não mostraram nada de novo neste ano, exibindo poucos e modestos resultados. Vejamos se continuarão assim na próxima temporada, que fará sua estréia no dia 15 de dezembro, nas ruas de Riad, capital da Arábia Saudita, que marcará o início de uma nova fase na categoria. Até lá, então...
Sébastian Buemi passou o ano sem vencer uma única corrida, na despedida da Renault da F-E. Que venha a Nissan no próximo campeonato...

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