Com corridas boas ou
ruins, não há como negar que a temporada atual da Fórmula 1 está cheia de altos
e baixos. Mas ninguém pode dizer que a luta pelo título da temporada não está
interessante. E a prova da Áustria, disputada domingo passado no Red Bull Ring,
fez o campeonato mudar novamente de líder. Quando todos esperavam ver a
Mercedes e Lewis Hamilton abrirem folga na pontuação, eis que deu tudo errado
para os prateados, como há muito tempo não se via, em condições normais de
corrida. A dupla prateada, que monopolizou a primeira fila do grid, ficou pelo
meio do caminho. Valtteri Bottas, que certamente está precisando se benzer com
alguém, para ver se sua sorte melhora, teve uma pane hidráulica em seu carro,
enquanto Hamilton, que já tinha seus próprios problemas, parou a poucas voltas
do fim, com problemas na pressão de combustível de seu monoposto.
O resultado, com o
terceiro lugar de Sebastian Vettel, recolocou o alemão na dianteira do
campeonato, e com apenas 1 ponto de vantagem para Hamilton. E com 12 corridas
ainda pela frente. Aliás, hoje mesmo todo mundo volta à pista, e em
Silverstone, palco sagrado do automobilismo mundial, e que viu nascer aqui, no
dia 13 de maio de 1950, o campeonato mundial de Fórmula 1, com a disputa da
primeira corrida da história da nova categoria. E Lewis, que costuma brilhar
aqui, vem mordido para esta corrida, decidido a retomar a dianteira da
pontuação. Tudo indica que podemos ter uma corrida animada aqui, dependendo do ponto
de vista, claro. Ah, sim, esqueci de mencionar que a Ferrari teve outro motivo
para sair sorrindo de Zeltweg: com o 2º lugar de Kimi Raikkonen, o time de
Maranello passou à frente da Mercedes no Mundial de Construtores, com 10 pontos
de vantagem.
Comemoração maior só
na Red Bull: Max Verstappen venceu a corrida, e fez a festa do time dos
energéticos, que apesar de ter sua sede em Milton Keynes, aqui na Inglaterra,
corre sob a bandeira da Áustria. E o circuito de Zeltweg, antes chamado de
Osterreichring, hoje se chama Red Bull Ring porque é propriedade de Dietrich
Mateschitz, dono do império das bebidas energéticas do touro vermelho. E ele,
bem como todo o time, festejaram como nunca essa inédita conquista do seu time
de F-1 em sua própria pista. E com muita razão. Só Daniel Ricciardo não pôde
engrossar a festa: seu carro quebrou durante a prova, e o simpático australiano
tinha tudo para também subir ao pódio, e tornar a comemoração ainda mais
apoteótica. Verstappen, aliás, parece ter colocado a cabeça no lugar, e quando
não está arrumando encrenca na pista, mostra o talento que o faz ser uma das
maiores revelações dos últimos tempos na F-1, e um futuro campeão mundial. E o
garoto conseguiu manter o seu desempenho constante e defender sua liderança na
pista em uma corrida onde inúmeros pilotos tiveram problemas com bolhas nos
pneus, o que surpreendeu a muitos, e propiciou uma corrida cheia de
alternativas e disputas. O desempenho de Max foi perfeito, conseguindo segurar
sua liderança quando Raikkonen chegou bem forte nas voltas finais para dar uma
pressionada no garoto. Mas Kimi nunca esteve perto o suficiente para tentar a
ultrapassagem, e pôde comemorar – do jeito dele, claro, mais um pódio na
carreira, e pela segunda corrida, terminar na frente de Vettel.
Aliás, este foi um
fato interessante: a Ferrari, que tantas vezes na maior cara de pau impôs suas
manobras de equipe, e lá mesmo, na Áustria, deixou muita gente indignada com a
patacoada de 2002, dessa vez deixou Raikkonen chegar na posição que merecia, mesmo
com a disputa pelo título pegando fogo entre Vettel e Hamilton. Por um momento,
a esportividade falou mais alto que a politicagem cretina do jogo de equipe, e
a Ferrari merece os devidos parabéns por isso. Afinal, não faltaram vozes, até
mesmo na sala de imprensa, se perguntando quando Raikkonen teria que dar
passagem a Vettel, lembrando da política do time italiano quanto a seus
pilotos. Para alguns, a Ferrari teria aprendido com os erros de suas atitudes
do passado. E permitido a Kimi manter sua posição porque, neste momento do
campeonato, nada está decidido ainda. Ou talvez o time italiano, que já anda
meio ressabiado com a Liberty Media, atual dona da F-1, possa ter ficado com
algum receio de fazer tal manobra novamente, e de novo em Zeltweg, lembrando
das sonoras vaias que o time rosso recebeu em 2002. E, como o pessoal do
Liberty tem um pensamento mais liberal, pois nos Estados Unidos, não existe
esse negócio de “jogo de equipe” no meio do campeonato, vai que a Ferrari
tomasse uma punição brava por maracutaia no resultado de uma corrida, ajudando
a “denegrir” a imagem do esporte...? Especulação minha, admito. Mas quem sabe?
Tentando fazer um bom esforço para resgatar a imagem da F-1 perante os
torcedores, jogos de equipe poderiam ser um tiro no pé, ainda mais a esta
altura da disputa...
E, com o resultado da
prova austríaca, temos 9 corridas disputadas, com vitórias em quantidades
iguais para três escuderias diferentes. Foram 3 triunfos da Ferrari, três para
a Mercedes, e outras três para a Red Bull. Situação mais do que interessante,
onde podemos ver que tanto Mercedes quanto Ferrari parecem estar em pé de
igualdade na luta pelo título, com algumas pistas, e pneus principalmente,
caindo melhor para um time do que para o outro, em que pese uma pequena
vantagem da Ferrari no cômputo global até aqui. E não por acaso o time de
Maranello liderar a competição: marcou pontos em todas as corridas, tendo sua
menor pontuação justamente na Espanha. Em contrapartida, a Mercedes ficou
zerada na Áustria, o que não acontecia desde a corrida da Espanha de 2016.A Red
Bull só não está mais perto das duas porque zerou por completo no Bahrein e no
Azerbaijão. Caso contrário, poderia estar bem mais perto na classificação de
construtores e de pilotos. É cedo para afirmar, mas se a Red Bull conseguir
progredir mais do que Ferrari e Mercedes, pode ser capaz de chegar mais firme
para a festa da luta pelo título, e quem sabe, fazer a disputa pegar fogo pra
valer. É o que todos querem ver.
Enquanto isso, quem
também fez um corridão na Áustria foi a Hass, e com seus dois pilotos. Romain
Grosjean, depois de comer o pão que o mecânico amassou desde o início do
campeonato, finalmente desencantou e foi o destaque da escuderia estadunidense
no final de semana, andando sempre forte e sem se envolver em confusões ou ter
azares. E Kevin Magnussem terminou logo atrás dele, dando à escuderia um
resultado que poderia ter sido conquistado já na Austrália, se não tivessem se
atrapalhado todos nos pit stops dos pilotos. O 4º e 5º lugares do time o
catapultaram para a 5ª posição no Mundial de Construtores. Force India e
McLaren tiveram seus altos e baixos, mas conseguiram sair de Zeltweg no lucro:
o time indiano, que vive uma grave crise financeira, fez o 6º e o 7º lugares, e
só não superou a McLaren na classificação porque Fernando Alonso conseguiu se
reencontrar na corrida, e abocanhou o 8º lugar, garantindo assim mais alguns
pontos para ele e seu time. Mesmo assim, a McLaren caiu para 6º lugar, com o
bom resultado da Hass. E sobrou festa também para a Sauber, que mais uma vez
viu Charles LeClerc fazer outra excelente performance, terminando em 9º, e com
Marcus Ericsson fazendo uma boa corrida, terminando em 10º, e também marcando
uns pontinhos. Com isso, o time suíço está quase alcançando a Toro Rosso na
pontuação (19 a 16 para o time de Faenza).
Romain Grosjean enfim espantou o azar nesta temporada e fez um belo 4º lugar, e a Hass também marcou a 5ª posição com Kevin Magnussem, no melhor fim de semana da equipe na F-1 justo em seu 50º GP. |
Aliás, desastre total
para Renault e Toro Rosso em Zeltweg. Nico Hulkenberg ficou pelo caminho quando
seu turbo foi pelos ares, enquanto Carlos Sainz Jr. ficou sem pneu e sem
performance na parte final da corrida. Na Toro Rosso, o mesmo aconteceu com
Pierre Gasly, traído pelos pneus com bolhas, enquanto Brendon Hartley acumulou
mais um abandono, por problemas mecânicos no seu carro. Na Williams, pior que
está não poderia ficar, e olha que Robert Kubica andou novamente no primeiro
treino livre de sexta, só para constatar que o carro continua uma porcaria. Só
não cruzaram em último porque Stoffel Vandoorne teve uma corrida errática, e
conseguiu ficar até mesmo atrás da dupla de Grove.
O comportamento inesperado
dos pneus, que criaram bolhas nos carros de vários pilotos, acabou dando maior
agitação à corrida, uma vez que alguns pilotos sofreram muito mais com o
desgaste dos compostos do que outros. Hamilton não conseguiria vencer a
corrida, tendo de fazer dois pit stops para manter o ritmo na corrida, e mesmo
assim, já havia sido superado por Vettel quanto foi forçado a abandonar. A
dupla da Ferrari acabou sendo menos afetada pelo problema, realçando o
excelente comportamento de seu carro em preservar os compostos de pneus. Assim
como também aconteceu algo curioso: o carro de Alonso, ao correr com o bico do
carro do ano passado, passou a ter mais estabilidade e performance, o que
permitiu ao espanhol crescer na prova. O que não deixa de ser um ponto negativo
ao desenvolvimento do atual chassi MCL33, que parece não render como o velho
MCL32 fazia questão de mostrar ter potencial. Aliás, Zak Brown pelo menos veio
a público revelar que o carro de 2017 gerava melhor pressão aerodinâmica que o
atual, o que comprova que o time não conseguiu mesmo criar um bom carro este
ano.
Charles LeClerc marcou pontos novamente para a Sauber, enquanto Fernando Alonso conseguiu voltar a pontuar num GP. |
A escolha de pneus
aqui para Silverstone é diferente da feita na Áustria, mas o desgaste prematuro
dos pneus foi o que deu um pouco mais de graça ao GP, o que valida a crítica de
que os compostos atuais estão sendo duráveis “em excesso”, e com isso tirando a
imprevisibilidade que o comportamento menos durável dos compostos oferecia em
outras temporadas, o que promovia um intenso quebra-cabeça aos estrategistas e
pilotos para conseguirem ter sempre o melhor rendimento dos pneus em corrida.
De uma estratégia de apenas 1 parada em Zeltweg, vários pilotos tiveram que
parar 2 vezes, o que não era esperado. Será que a história se repete aqui na
Inglaterra? Talvez não, porque as condições da pista são diferentes, e os
compostos também. Mas, pelo sim, pelo não, acredito que as escuderias vão andar
bastante hoje para tentarem acumular dados e evitarem surpresas na corrida. O
que não quer dizer que elas não possam ocorrer assim mesmo.
E outro lance interessante
foi ver os carros quebrando na Áustria. E até a campeoníssima Mercedes, que
prima pela resistência e fiabilidade de seu equipamento, ainda mais com as
restritivas regras absurdas impostas pela F-1 na durabilidade de seu
equipamento, acabou ficando pelo caminho. Foi a prova com mais abandonos no
ano, ao lado da corrida da Austrália, onde também tivemos 5 carros ficando pelo
caminho, devido a problemas diversos. É preciso afrouxar um pouco os limites de
equipamento que os pilotos podem usar por temporada. Não é preciso voltar aos
velhos tempos, mas obrigar os carros a serem quase inquebráveis também demanda
muitos custos, e isso nem sempre se reverte em benefício para o show da
competição esportiva. Nesse ponto, a corrida da China este ano teve apenas um abandono,
e por barbeiragem entre companheiros de equipe, com Brendon Hartley a ter
ficado pelo caminho, depois que ambas as Toro Rosso se tocaram em uma disputa
de posição atrapalhada.
Esperemos que a
corrida neste domingo seja bem interessante e disputada, para o bem da
competição, e do campeonato, que apesar de tudo, vem se mostrando bem
disputado, apesar das corridas chatas que acabou apresentando. É verdade que
não dá para termos sempre boas corridas, mas também é verdade que a F-1 não
precisava dificultar tanto termos um número melhor de boas corridas na
competição com suas regras em excesso e mal concebidas. Vamos ver o que
Silverstone nos reserva esse ano. E, pelo menos como torcedor, espero que São
Pedro compareça. Um pouco de chuva sempre torna a disputa mais interessante. Mas
é claro que os times não curtem muito isso, e nem alguns pilotos. Mas o
público, em especial o inglês, adora corridas complicadas, e provas na chuva
sempre são assim, na imensa maioria das vezes...
A McLaren começou a fazer uma
reformulação para tentar sair da crise. Depois de rifar Tim Goss há algumas
semanas, esta semana foi a vez de Eric Boiller dar adeus ao time de Woking. Zak
Brown informou que o time inglês precisará de uma verdadeira reengenharia para
voltar a ser grande, e que isso não ocorrerá da noite para o dia. Parte das
funções desempenhadas por Bouiller serão assumidas por Gil de Ferran, que já
está executando suas novas atribuições aqui em Silverstone, como novo diretor
esportivo da escuderia inglesa. O brasileiro já foi diretor da BAR na década
passada, quando a escuderia vinha em ascenção, e foi um dos intermediários na
contratação de Rubens Barrichello, que estava deixando a Ferrari. Com a Honda
assumindo as rédeas do time algum tempo depois, Gil deixou a escuderia,
voltando aos Estados Unidos. Fernando Alonso tem o brasileiro em alta estima,
já que Gil foi seu instrutor no ano passado, quando o espanhol competiu nas 500
Milhas de Indianápolis, e ambos se deram muito bem, havendo respeito mútuo
entre os dois profissionais. Resta saber se o brasileiro conseguirá somar
forças para ajudar a McLaren a reencontrar o seu rumo, e voltar a ser grande.
Meu receio é o time não conseguir dar a volta por cima como pretende, e Gil
acabar sendo “queimado” no processo pela falta de resultados, uma coisa que
alguém com a sua história e currículo no mundo do automobilismo não merece nem
um pouco. E Brown não evitou revelar que, muito provavelmente, o setor técnico
precisará ser reforçado e mexido, o que significa que, se o projeto do carro de
2019 não corresponder aos anseios de retomada do time às primeiras colocações
nas corridas, muita gente poderá ter de procurar novos empregos. Resta saber
quanto tempo isso demorará para apresentar os resultados esperados... Nesse
ponto, a F-1 nunca é uma ciência exata...
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