A pista de Barcelona na última quarta-feira: neve, muito frio, e um dia da pré-temporada que foi para o brejo... |
As equipes terminaram
ontem a primeira parte da pré-temporada da Fórmula 1 em 2018, e infelizmente,
pudemos ver como a categoria consegue continuar sendo idiota, egocêntrica, e
mesquinha. Basicamente, metade do tempo disponível para treinos foi para o
brejo por causa da onda de frio que se abate sobre o continente europeu no
momento. Tivemos um dia completamente inutilizado, enquanto outro foi bem
prejudicado pelas interpéries. E, mesmo assim, as equipes não chegaram a acordo
para estender a sessão de testes até hoje, sexta-feira, onde poderiam pelo
menos compensar o tempo perdido durante os demais dias. Para prorrogar os
testes, era necessário ter concordância unânime dos times, mas Force India e
Williams melaram tudo. A regra de concordância geral foi uma idéia aventada
para proteger os times mais fracos de decisões que fossem tomadas pela maioria
das escuderias, que poderiam impor seu ponto de vista a todo o grid. Só que,
com o passar do tempo, essa regra virou completamente pela culatra, passando a
servir para atravancar a tomada de decisões que possam resolver certas
situações. E nem falei de outra regra besta, que é a de permitir apenas um
carro na pista por vez de cada time, restringindo ainda mais os trabalhos, que
poderiam ser acelerados se as escuderias pudessem contar com sua dupla de
pilotos ao mesmo tempo dando voltas, permitindo obter e analisar mais dados simultaneamente.
Com o tempo melhorando
significativamente desde ontem, as possibilidades de os times trabalharem forte
e bem na pista da Catalunha hoje eram excelentes, e isso certamente lhes
propiciaria desenvolver seus carros bem mais a contento, minimizando possíveis
prejuízos que o tempo ruim impôs a seus cronogramas. Infelizmente, alguns times
pensam mais em seus umbigos do que no panorama geral da F-1. O duro é que não
dá nem para crucifica-los tanto assim, pois foram acostumados, após décadas de
experiência, a pensarem somente neles mesmos, com raros momentos de exceção.
Bernie Ecclestone foi um dos que incentivou tal tipo de atitude. Como então
presidente da FOCA, e depois FOM, não era interessante para ele que os times se
unissem, de forma que poderiam ter força para se oporem às suas decisões
administrativas, e derrubarem suas diretrizes. Assim, cada escuderia se
acostumou a defender seus próprios interesses, pois os outros não o fariam. E
deu no que deu.
Mas há outros males
dos quais a F-1 continua teimando em não corrigir. A restrição de testes,
adotada como forma de conter os gastos das escuderias, virou uma praga que
parece de difícil solução. O tempo ruim na Espanha, e na Europa em geral,
evidencia a necessidade de se trabalhar em locais onde o clima esteja mais
quente. Cogitou-se de fazer parte da pré-temporada no Bahrein, que nem fica
assim tão longe da Europa, mas teve times que rejeitaram a idéia, alegando
custos. Ficar testando só em Barcelona também já encheu. Por mais que o
circuito espanhol tenha curvas variadas, achar que só ele pode servir já soa
como birra. Uma categoria que se diz tão “profissional” como a F-1, ficar refém
deste tipo de comportamento... É complicado mesmo... E depois quando se fala
que eles precisam mudar de atitude, muita gente chia... Ainda há muito o que
fazer, para corrigir certas imbecilidades. É preciso haver um melhor
planejamento, e alternativas caso sejam necessárias.
Novo dono da categoria
máxima do automobilismo, o Liberty Media tem feito algumas boas iniciativas
para tentar tornar a F-1 menos engessada e mais flexível. Tomara que tomem logo
atitudes para corrigir certos aspectos também quanto à programação, local e
duração das próximas pré-temporadas. Do jeito que está, vai muito mal. E os
times, em parte culpados por isso, também são os maiores prejudicados. Se o
tempo ruim persistisse até a semana que vem, as escuderias teriam de embarcar para
a Austrália praticamente sem saber o que esperar de seus novos projetos, uma
vez que não tivessem tido tempo de testar adequadamente. E aí, como ficariam
eles, nessa situação? A corrida australiana viraria uma bela loteria,
completamente imprevisível, que até poderia ser boa para os fãs, mas também
poderia ter o efeito contrário, e prejudicar a competição pela falta de preparo
hábil dos times. Falando curto e grosso, as escuderias tiveram de certo modo
apenas o equivalente a um dia ideal de condição de pista para desenvolver seus
trabalhos. Algumas pistas podem ser dadas do que esperar dos novos times para
esta temporada, mas as condições climáticas bagunçaram tanto o cronograma das
escuderias, que não dá para levar estes indícios com muita certeza.
No último dia, enfim tempo bom, e todos na pista. E Hamilton na frente, dando um susto nos concorrentes com o melhor tempo da semana. |
Se não, vejamos: pelo
que vimos esta semana, com base apenas nos trabalhos de ontem, a Mercedes dá
pinta de que vai sobrar este ano. Lewis Hamilton marcou o melhor tempo,
deixando todos os outros times e pilotos para trás. A McLaren enfim está
podendo trabalhar decentemente numa pré-temporada, o que não conseguiu nos
últimos três anos. O time enfrentou alguns problemas, e descobriu alguns
outros, mas nada que seja motivo de preocupação, comparado com o que sofreram
na pré-temporada do ano passado, muito pelo contrário... O novo carro já está
mostrando ser bem mais rápido do que o de 2017, o que é muito bom, mas quanto
mais rápido, levando-se em conta como o carro anterior não era competitivo,
devido ao retrocesso do propulsor da Honda exibido naquele momento? Isso
depende muito dos concorrentes, e da posição em que eles se encontram, e o
quanto também melhoraram para esta temporada. E, neste ponto, a Red Bull fica
com uma certa interrogação. Daniel Ricciardo marcou o melhor tempo na
segunda-feira, mostrando que o carro é rápido, mas Max Verstappen teve vários
problemas a serem solucionados, e seus tempos de volta não pareceram muito
promissores, além de ter perdido um bom tempo nos boxes esperando os mecânicos
resolverem a situação. Será que o otimismo do time austríaco foi exagerado, ao
afirmar que poderia ter enfim um início de temporada mais em pé de igualdade
com a Mercedes e a Ferrari, já que o carro agora seria desenvolvido por Adrian
Newey desde o princípio do projeto? Ainda é cedo para afirmar. Enquanto isso, a
Ferrari parece relativamente bem com o desempenho de seu novo SF71-H. Os
tempos, contudo, andaram um pouco altos, mas o time italiano rodou bastante,
aproveitando o tempo disponível quando foi possível. O carro parece bem
confiável, e não é bom subestimar os italianos, que até estiveram bem calmos
durante a semana. Mesmo assim, não dá para deixar de sentir certa preocupação
com a melhor marca obtida por Hamilton, com pneus médios, enquanto Sebastian
Vettel, com a Ferrari equipada com pneus macios, foi cerca de 0s9 mais lento.
Uma diferença a ser considerada, dependendo das condições de cada carro no
momento das respectivas voltas. Mas o próprio Vettel afirma que a Mercedes
realmente sai na frente, mais uma vez. Mas... seria um blefe para jogar a
pressão nos rivais? Não parece muito... No ano passado, a Ferrari se mostrou
muito forte nos testes, e depois comprovou no início do campeonato que não
estava brincando... Dificilmente resolveriam esconder tanto o jogo agora...
Outro dado que preocupa são os pneus, uma vez que os médios em tese são menos
rápidos que os macios, sugerindo que a Mercedes pode ser ainda mais veloz...
Depois de três anos tendo só problemas nas pré-temporadas, a McLaren enfim voltou a andar bastante, e foi quem mais voltas deu na quinta-feira. |
A Honda parece ter
enfim conseguido mostrar confiabilidade no seu equipamento, a ponto de a Toro
Rosso ser o time com mais quilometragem obtida em Barcelona, algo que sem
dúvida chegou a impressionar todo mundo no pit line, uma vez que nos anos
anteriores, era quase certo propulsor nipônico ou estourar, ou ter de andar
abaixo do limite possível, sacrificando potência, para evitar novas quebras.
Fica a dúvida quanto à potência da nova unidade, se ainda estará muito atrás
dos outros propulsores. Mas, se levarmos em conta o tempo frio na Catalunha,
cabe também outra dúvida, se a unidade de potência se comportou assim tão bem
por causa do frio, evitando esquentar demais. Lembrando que as corridas serão
disputadas em temperaturas bem mais altas, espera-se que a Honda não tenha tido
sua fiabilidade camuflada pelo frio. E a Red Bull estará de olho firme no
desempenho da Honda, que se estiver sendo enfim bem-sucedida no desenvolvimento
de sua unidade de potência, poderá equipar o time matriz dos energéticos em
2019. Christian Horner e Helmut Marko adorariam dar um chute na Renault, que
tantas críticas já sofreu por parte de ambos, várias delas até merecidas, mas
outras nem tanto. Vai ser um ano decisivo para a marca nipônica provar que
ainda pode ser competitiva na F-1.
Surpresa: a Toro Rosso foi o time que mais andou. O motor Honda parece até confiável agora. Resta ver a potência e velocidade... |
A Renault parece ter
conseguido, contra todas as expectativas, dar um bom salto de competitividade
em relação ao ano passado, como escuderia de fábrica. Nico Hulkenberg e Carlos
Sainz Jr. mostraram-se entusiasmados com os tempos obtidos, mas ainda assim
mantém os pés no chão, sem criar falsas ilusões. O novo modelo RS18 realmente
parece ter sido um grande passo em frente no projeto da marca de voltar a lutar
pelo título, ainda que isso permaneça um pouco distante. Na melhor das
hipóteses, poderemos ter um bom duelo pela posição de 4ª força na categoria. Se
Mercedes, Ferrari e Red Bull mantiverem suas posições, a grande incógnita é
quem virá logo a seguir. E a Renaul parece se credenciar a essa posição,
inclusive com o potencial de sua nova unidade de potência, que ainda não parece
ter mostrado tudo do que é capaz.
A Force India ocupou
essa posição em 2017, mas até o presente momento, o time de Vijay Mallya não
parece estar tão bem como seria de se esperar, apresentando resultados não tão
animadores. Talvez o fato de o novo carro não estar completamente pronto seja o
grande problema. Aliás, em tempos não tão distantes, o time teve a péssima
idéia de testar na primeira semana da pré-temporada com o carro do ano
anterior, enquanto finalizava o novo, com a finalização atrasada em virtude de falta
de recursos para pagar alguns fornecedores. O time até conseguiu se recuperar
no campeonato, mas não houve como negar que esse detalhe prejudicou a
escuderia. Depois da excelente temporada do ano passado, será que eles
cometeriam o mesmo erro?
Hass, Williams e Alfa
Romeo Sauber ainda ficam com certos altos e baixos. Um destes times pode ser a
lanterna do grid este ano, mas não dá para apontar quem seria, até porque em
determinados momentos, todos eles andaram melhor do que alguém. Na Williams,
foi interessante ver Robert Kubica, o piloto reserva e de testes do time, andar
mais rápido que Sergey Sirotkin, um dos titulares, que tanta presença tinha que
teria sido até confundido por Frank Williams como um dos mecânicos do time, ao
invés de ser reconhecido como piloto. Some-se a isso a notícia de que a
escuderia perderá o polpudo patrocínio da Martini para 2019, e poderemos dizer
que a escuderia de Grove já tem com o que se preocupar a longo prazo, e olha
que ainda nem deu para avaliar se o novo FW41 tem algum potencial de fato ou
não, mas se levarmos a sério as marcas alcançadas nesta semana, o ano poderá
ser mesmo um complicado para a escuderia inglesa, como muitos esperavam que
fosse...
Max Verstappen não teve uma semana muito produtiva, tendo problemas com o carro em suas sessões, ao contrário de Daniel Ricciardo. |
Na Hass, o fato da
escuderia estadunidense pegar da Ferrari todas as partes prontas possíveis,
ajuda a dar ao novo VF18 um certo potencial, permitindo que eles se beneficiem
de certas conquistas obtidas com o modelo SF70-H do ano passado, conforme Kevin
Magnussen demonstrou, ao obter uma boa quilometragem ontem, e um tempo muito
satisfatório. O otimismo só não é maior porque McLaren e Renault realmente
parecem estar muito melhores do que eles, e a se confirmar uma boa performance
por parte da Force India, a disputa deles deve ficar pela 7ª posição no
campeonato de construtores, em duelo direto com a Toro Rosso e a Williams. E o
potencial da Alfa Romeo Sauber ainda precisa ficar bem claro.
A segunda sessão de
testes será decisiva para termos uma visão melhor da relação de forças da F-1 para
a temporada deste ano, se o clima não atrapalhar: há previsão de chuva para os próximos
dias na Catalunha, e isso poderia complicar também os trabalhos das escuderias,
que tentarão tirar todo o atraso possível dos trabalhos desta semana. Tomara
que não aconteça. Mas, seria até bom acontecer, para ver se a F-1 muda seu modo
tacanho de realizar os testes de pré-temporada, e fosse mais flexível e menos
engessada, permitindo-se mais tempo de pista. Seria bom voltarmos a ter 12, ou
quem sabe até 15 dias de testes futuramente. Que o bom senso prevaleça...
A Formula-E chegou à Cidade do
México para mais uma etapa do campeonato de carros monopostos elétricos. E o
fim de semana já começou complicado para Lucas Di Grassi, uma vez que seu time,
a Audi ABT, precisou efetuar nova troca do inversor de seu trem de força para tentar
solucionar o problema que fez o brasileiro abandonar as últimas etapas e seguir
zerado até agora na classificação da nova temporada da competição. Com isso,
Lucas perderá novamente 10 posições no grid da corrida mexicana, que será
realizada em um traçado montado dentro do circuito Hermanos Rodriguez. Mas
apesar do clima de preocupação no time, que acredita ter encontrado a raiz do
problema de confiabilidade no carro de Di Grassi, mas só poderá implantar a
correção para a corrida seguinte, por causa do prazo estipulado pelo
regulamento, as possibilidades de se obter um bom resultado na Cidade do México
não são ruins, se levarmos pelo retrospecto de Lucas nesta corrida: em 2016,
ele venceu a corrida, mas acabou desclassificado devido a um problema técnico
que fez com que seu carro estivesse abaixo do peso mínimo; e no ano passado,
devido a um toque na asa, o brasileiro chegou a cair para o último lugar, e
conseguiu fazer uma recuperação incrível, e ainda vencer a corrida, contra
todas as previsões. Se o carro não deixar Lucas novamente pelo meio do caminho,
quem sabe ele consegue desencantar finalmente na atual temporada? A corrida
terá transmissão ao vivo pelo canal pago Fox Sports 2 neste sábado a partir das
19 horas (horário de Brasília).
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