Ano novo, problemas velhos: a McLaren teve vários problemas nesta pré-temporada, mas pelo menos o carro mostra ter potencial, ao contrário de 2017. |
Enfim, tivemos uma
semana que podemos realmente chamar de pré-temporada, depois do fiasco que
foram os primeiros quatro dias de testes na pista da Catalunha na semana
passada. O tempo em Barcelona esta semana surpreendeu, e até mesmo a previsão
de chuva, que preocupava o pessoal da Fórmula 1, não se concretizou: tivemos
sol e pista seca, e todo mundo aproveitou para andar tudo a que tinha direito e
mais um pouco, só não varando a noite na pista porque o circuito tinha de ser
fechado, e ninguém era de ferro. Mesmo assim, os times conseguiram acumular uma
quilometragem impressionante, em alguns casos. E, claro, algumas escuderias
tiveram bons e maus momentos.
Comecemos pela boa
surpresa dos testes: a Toro Rosso. Equipada com a nova unidade motriz da Honda,
parece que os japoneses finalmente conseguiram pelo menos produzir um
equipamento confiável. Brendon Hartley e Pierre Gasly em nenhum momento tiveram
qualquer contratempo relacionado ao motor, e a escuderia fez impressionantes 498
voltas na pista nosdias de testes desta semana. E ainda por cima conseguindo
alguns tempos expressivos. Será que os japoneses finalmente desencantarão na
F-1 novamente, agora em 2018? A resposta será crucial, porque a Red Bull não vê
a hora de dar um pé na bunda da Renault, e se a unidade nipônica mostrar enfim
potencial, o que não tínhamos visto nos últimos três anos, podem apostar que o
time dos energéticos vai pegar os motores para enfim ser novamente um time de
fábrica, como era em seus tempos áureos com a Renault, que resultaram nos
títulos de 2010 a 2013. A quilometragem também foi muito importante para que a
nova dupla de pilotos do time de Faenza mostre do que é capaz, uma vez que o
desempenho de ambos nas corridas finais da temporada de 2017 foi bem ruim,
mesmo considerando-se a perda de ritmo no desenvolvimento do bólido do time.
Com o carro muito mais na mão, Hartley e Gasly poderão enfim confirmar seus
talentos. A única dúvida é mesmo qual a posição que eles ocuparão, uma vez que
tudo indica que teremos uma disputa pra lá de acirrada no meio do pelotão. E o
pega promete ser dos melhores.
Com 520 voltas rodadas
entre terça e hoje, sexta, a Renault mostra que, apesar de alguns problemas
aqui e ali, nada foi preocupante na escuderia oficial da marca, que teve tempos
muito bons com seus dois pilotos, e muita constância nos long runs empreendidos
na pista da Catalunha. O potencial do time, que tem como meta evoluir firme e
gradativamente para voltar a disputar o título da categoria, pode acabar sendo
maior do que eles esperavam já para esse ano, e com a excelente adição de
Carlos Sainz Jr., e a manutenção de Nico Hulkenberg, o time francês pode pintar
como boa surpresa da temporada, por ter agora uma dupla igualmente forte. Seria
uma grande recompensa ao enorme esforço que a Renault tem feito recentemente em
seu projeto de competição, a ponto de deixar de estar presente na F-E a partir
de sua próxima temporada, para dedicar-se integralmente a seus planos para a
F-1. Além de reforçar o staff técnico na fábrica em Enstone, o desenvolvimento
da nova unidade de potência híbrida confirma que, se não está tão forte quanto
Mercedes e Ferrari, a desvantagem de performance ficou bem menor, o que deverá
permitir a seus times, de fábrica e clientes, sonhar bem mais alto este ano na
competição do que nos anos anteriores.
A Williams não conseguiu empolgar ninguém nos testes de Barcelona. Prenúncio de um ano mais complicado do que se previa? |
O destaque negativo
vai para a Williams, que se já despertava dúvidas pela inexperiência da dupla
de pilotos titulares, confirmou que vai ter de lutar para não ficar na rabeira
do grid este ano. Lance Stroll já afirmou que o time não tem potencial para
vencer, excelente observação do óbvio (será que ele ainda não tinha percebido
antes?). O time de Grove rodou 535 voltas, número significativo, o que mostra
que o carro é confiável, ao menos. Por outro lado, em nenhum momento seus
pilotos conseguiram anotar tempos que impressionassem, e pior, Robert Kubica
deu mostras de conseguir ser mais veloz que os pilotos titulares... Muita gente
já achava que a Williams ia ficar devendo este ano, mas se depender dessa pré-temporada,
Felipe Massa se livrou de uma tremenda fria ao pular fora da F-1 novamente. É
pena ver um time tradicional como a Williams dessa maneira. Ano passado, fez 20
anos da conquista de seu último título na F-1, com o canadense Jacques
Villeneuve, e todo aquele ar esperançoso visto em 2014, quando o time voltou a
andar na frente, ou entre os primeiros na nova e atual era turbo, já se
desvaneceu por completo, e as promessas de reestruturação empreendidas no ano
passado parecem não ter surtido ainda o efeito desejado.
A situação só não é
pior porque a Alfa Romeo Sauber deve disputar com a Williams o posto de último
time no grid. A escuderia suíça completou 499 voltas esta semana, e a exemplo
do time inglês, o carro parece ser confiável. Mas, velocidade que é bom, aí é outra
história. Se Charles LeClerc parece ser um jovem de potencial, não se pode
esperar muito de Marcus Ericsson, que só continua no time pela força de seus
patrocinadores. A parceria entre a escuderia e a Alfa Romeo (leia-se Ferrari)
ainda vai demorar a surtir os efeitos desejados. Os tempos obtidos até foram
constantes, mas até os primeiros treinos oficiais em Melbourne, a escuderia
pode continuar este ano na mesma posição do ano passado, fechando os grids na
última fila. Primeira campeã do Mundial de F-1 em 1950, com Giuseppe Farina, a
Alfa Romeo deixou a F-1 pela última vez em 1985, por baixo, e o seu retorno,
até o presente momento, está sendo por baixo. Vejamos se pelo menos o time
conseguirá evoluir durante a temporada, e não apenas ficando para trás dos
concorrentes, que certamente evoluirão.
A Red Bull tem tudo para ter o seu melhor início de temporada em vários anos, e quer entrar com tudo na briga desde a primeira corrida da temporada. |
Quem também teve uma
semana complicada foi a McLaren. Rodando “apenas” 334 voltas, por terem perdido
tempo com problemas no carro e na unidade de potência, que exigiu duas trocas
completas, o time de Woking parece estar repetindo a pré-temporada traumática
do ano passado, quando ainda era impulsionada pela Honda. Muitos fizeram piadas
da situação vivida pela McLaren, que ainda enfrenta problemas, enquanto a Toro
Rosso não viu um único percalço utilizando as unidades de potência japonesas
até agora. Fernando Alonso e o resto do time tentam aparentar tranquilidade,
mas já viram que terão de corrigir alguns setores do carro, como a traseira do
bólido, para melhorar a refrigeração da unidade de potência, que demanda mais
cuidados do que o previsto inicialmente. O consolo é que o novo chassi MCL33
mostra ter potencial para ser um carro realmente rápido, um alívio que não existia
no ano passado, quando a escuderia e seus pilotos se preocupavam unicamente em
conseguir chegar ao fim das corridas sem quebrar ou tomar voltas dos
adversários. O time inglês já prepara um pacote de modificações para a
Austrália, e pelo menos, há esperança no horizonte. Só não dá para saber ainda
até onde vai o potencial do time para este ano. Mas que ele é melhor do que o
de 2017, isso é.
Melhor time do resto
do grid em 2017, depois de Mercedes, Ferrari e Red Bull, a Force India rodou
543 voltas esta semana, e foi progressivamente melhorando suas marcas, mas
ainda não parece ter o mesmo ímpeto demonstrado na segunda metade da temporada
passada. Mas o time de Vijay Mallya já mostrou nos últimos anos conseguir fazer
render o máximo com o mínimo de recursos, e se o novo modelo 2018 mostrar
potencial, pode ser questão de tempo até conseguirem acertar os detalhes
pendentes do bólido. A dupla é forte e competitiva, e se não se esfregar um no
outro na pista, é garantia de levar o carro até o limite de suas forças. Mas, pelo
que se viu em Barcelona, as chances de serem superados pela Renault, McLaren, e
até Toro Rosso, prenunciam um ano de maiores dificuldades na busca de resultados.
Ao menos a quilometragem percorrida mostrou fiabilidade do equipamento, e esse
será um quesito muito importante nesta temporada. Se conseguirem melhorar sua velocidade
sem sacrificar a fiabilidade, eles poderão novamente colher bons frutos.
Quem parece mostrar
ter algum potencial, mas ainda a ser explorado adequadamente, é a Hass. Tida
como potencial companheira da parte de trás do grid, fazendo companhia à
Williams e Alfa Romeo Sauber, o time norte-americano começou a averbar alguns tempos
expressivos nestes dois últimos dias de testes, tendo conseguido cumprir 500
voltas, melhorando bastante sua confiabilidade, e podendo se concentrar um
pouco mais na performance. É esperar para ver se as boas marcas conseguidas por
Romain Grosjean e Kevin Magnussem não foram fogo de palha para mostrar que têm
um carro veloz. Desde sua estréia na F-1, a Hass tem mantido os pés no chão
enquanto vai ganhando experiência e conhecimento sobre o mundo da F-1, para evoluírem
gradativamente, sempre em busca de crescer de modo sustentável. Eles até podem ter
evoluído em relação a 2017, mas o problema é se os concorrentes evoluírem ainda
mais do que eles, o que neutralizaria boa parte de seus esforços. Mas a
competição é isso: você tem de dar o seu melhor, independentemente do que os
rivais façam.
E, neste ponto,
Mercedes, Ferrari e Red Bull parecem ter tudo para proporcionar um bom
campeonato. O time dos energéticos parece que enfim conseguirá iniciar um ano
em ótima forma. O novo RB14 teve seu projeto comandado desde o início por
Adrian Newey, e junto à evolução da unidade de força da Renault, apesar de
alguns problemas aqui e ali, deixaram o time muito mais satisfeito do que nos
últimos anos. Foram 571 voltas rodadas em Barcelona nesta semana, com Daniel Ricciardo
chegando a comandar os tempos sem um dos dias. Se o time austríaco conseguir começar
o ano muito mais próximo de Ferrari e Mercedes, e levando em conta sua
capacidade de evoluir o carro ao longo do ano, a Red Bull tem tudo para
realmente incomodar os principais favoritos e até entrar na briga pelo título.
Claro, isso vai depender do real potencial tanto de Ferrari como de Mercedes,
que também tiveram marcas de rodagem pra lá de expressivas. O time de
Maranello, a exemplo do ano passado, encerrou os trabalhos com as melhores
marcas de todas, 1min17s182, com Sebastian Vettel ontem, e 1min17s221, com Kimi
Raikkonen hoje. Foram 577 voltas realizadas esta semana, o que mostra que o
novo SF71-H já atingiu um nível de confiabilidade excelente, com a escuderia
realizando simulações de GPs, e observando atentamente as possibilidades de acertos
e o comportamento dos novos tipos de compostos de pneus que a Pirelli oferecerá
este ano. No ano passado, muitos esperavam que a Ferrari estivesse fazendo jogo
de cena com seus bons tempos, mas a sua competitividade revelou-se mais do que
real ao iniciar o campeonato. Este ano, entretanto, o time está sendo mais
comedido nas suas declarações, procurando não se entusiasmar antes do tempo.
Mas é impossível dizer que o time de Maranello não estará de fato na briga pelo
título. Vettel já declarou que a Mercedes é a favorita no início da competição,
mas não se sabe quanto. Blefe ou realidade? Tem quem aposte no blefe, até para
surpreender os prateados. Não seria impossível, é verdade.
O que preocupa é a
aparente calmaria na Mercedes, e especialmente o bom humor de Lewis Hamilton.
Com 729 voltas completadas, a Mercedes foi o time que mais deu voltas no
circuito nesta semana de testes, sem sofrer nenhum problema, e usando seus dois
pilotos todos os dias, garantindo excelentes quilometragens para ambos. E a
forte suspeita de que não exigiram tudo do que o modelo W09 pode render, até
para não dar pistas aos adversários do que pode vir pela frente. Uma atmosfera
distinta da de 2017, onde apesar de saberem que tinham novamente um carro
campeão nas mãos, eles sabiam também que ele era meio temperamental, o que
permitiu à Ferrari liderar a competição durante a primeira metade do
campeonato, até que conseguissem “domar” o lado tempestuoso do monoposto. Toto
Wolff até parece disfarçar um pouco, ao dizer que a Red Bull poderá ser uma forte
adversária, mas é difícil saber se isso é para jogar pressão nos adversários,
ou encarar a realidade.
A Mercedes foi o time que mais rodou esta semana, e Lewis Hamilton esbanja tranquilidade, preocupando os adversários. O time alemão vai em busca do 5º título consecutivo na F-1. |
No ano passado,
Hamilton sabia que tinha um carro potencialmente indócil nas mãos, mas nos testes
deste ano, já declarou que todos os pontos negativos do modelo W08 foram
corrigidos, e o novo W09 é muito rápido. Uma coisa é certa: Hamilton não é o
tipo de piloto que fica de bom humor à toa. Por isso, a hipótese da Mercedes
estar escondendo parte de sua verdadeira força é muito possível. Só saberemos
realmente qual será essa força nos primeiros treinos livres no Albert Park, já
em Melbourne. A pré-temporada já ficou para trás. Ao fim da última hora de
treinos na Catalunha, todos os times já tomaram o caminho de volta para suas
fábricas. Será uma semana corrida, pois no próximo final de semana, todos já
embarcam para a longa viagem até o outro lado do mundo, na Austrália. Além dos
preparativos para a viagem, todos farão o possível para implantar melhorias
através da análise dos dados obtidos esta semana na pista espanhola. O momento
da verdade se aproxima, e veremos quem fez melhor o seu dever de casa. Que venha
o campeonato da Fórmula 1 de 2018!
Com transmissão ao vivo tanto
pelo canal aberto quanto pelo canal pago Bandsports, a TV Bandeirantes terá Eduardo
Vaz fazendo a narração das provas da Indycar nesta temporada, em substituição a
Téo José, que foi demitido em janeiro, e hoje está no canal pago Fox Sports,
narrando outras categorias automobilísticas, como a Nascar e a Formula-E. Ao
menos a emissora manteve Felipe Giaffone na função de comentarista, que já
desempenha há vários anos, e é garantia de pelo menos conhecimento sobre a
competição. A emissora garantiu que todas as corridas serão transmitidas ao
vivo, o que certamente deve ocorrer apenas no Bandsports. As provas disputadas
no sábado devem ser transmitidas pelo canal aberto sem maiores problemas, assim
como as 500 Milhas de Indianápolis. Mesmo assim, é bom não esperar muita coisa
por parte da emissora, que deve estar apenas esperando vencer o contrato de
transmissão para largar tudo e partir para outra, dado o descaso com que sempre
tratou a competição norte-americana. Só não larga de vez porque a multa
contratual deve ser grande, e depois da furada que foi a corrida brasileira que
seria realizada em Brasília, eles não vão querer mais encrencas que podem
resultar num sério rolo financeiro... A transmissão começa a partir das 13:30
da tarde no domingo.
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