Fernando Alonso segue firme defendendo a McLaren na F-1 em 2018 (acima), mas o asturiano também irá competir no Mundial de Endurance (WEC), defendendo a equipe Toyota na classe LMP1 (abaixo). |
Os boatos acabaram se
confirmando, e o anúncio foi feito nesta semana: Fernando Alonso irá disputar
as 24 Horas de Le Mans deste ano, em seu plano de tentar conquistar a Tríplice
Coroa do mundo do automobilismo, que é composto pela corrida francesa, as 500
Milhas de Indianápolis nos Estados Unidos, e o Grande Prêmio de Mônaco de F-1.
Este último o espanhol já venceu, e no ano passado, até chegou perto de tentar
a vitória, antes de sofrer uma quebra de motor já na parte final da corrida. E,
agora, Alonso correrá em Sarthe pelo time mais forte do WEC, na classe LMP1, a
Toyota, único time de fábrica do certame, depois dos abandonos de Audi e
Porsche. Nem é preciso dizer que será um dos favoritos destacados, a não ser que
os demais times privados da classe LMP1 consiga ter performance para desbancar
os japoneses na mítica corrida francesa.
Mas também é errado já
esperar uma vitória certa de Alonso em Le Mans. A Toyota ainda não desencantou
nas 24 horas mais famosas do mundo do automobilismo, e para chegar em primeiro,
primeiro precisa-se chegar lá, e nos últimos dois anos, os nipônicos não
conseguiram fazer isso. Aliás, no ano passado, por pouco um time da LMP2 não
venceu a corrida, não tivesse sobrado um dos carros da Porsche ainda no páreo,
mostrando que nem sempre o mais veloz vence em Le Mans, mas quem consegue
sobreviver a toda a prova. Fernando competiu no fim de semana passado nas 24
Horas de Daytona, nos Estados Unidos, como forma de já ir se aclimatando para a
corrida na França em junho, e gostou do que viu, embora não tenha conseguido
lutar pela vitória, mesmo que seu time tenha liderado, ainda que
esporadicamente, a prova na Flórida.
Mas, o que ninguém
esperava mesmo, era o conteúdo total do anúncio: Alonso não irá apenas correr
em Le Mans pela Toyota, mas em todas as provas do campeonato do Mundial de
Endurance este ano, pelo time japonês. Mas o espanhol manterá a prioridade da
Fórmula 1, defendendo a McLaren, e com isso, a única corrida do WEC onde não
estará presente será na etapa das 6 Horas de Fuji, uma vez que no mesmo final
de semana teremos o Grande Prêmio dos Estados Unidos, em Austin, no Texas. Mas,
e não é que o pessoal de Fuji já está se mobilizando para mudar a data da
prova, a fim de permitir que Alonso corra lá? Realmente, é algo pra lá de
interessante, e resgata, para os pilotos da F-1, um pouco dos tempos em que
seus competidores simplesmente corriam a todo momento, e em todo lugar, nos
tempos românticos do automobilismo.
Alonso irá se dividir
entre seus deveres na F-1 e no WEC, o que lhe ocupará durante metade dos fins
de semana deste ano, competindo em nada menos do que 26 finais de semana. Haja
disposição para tanta corrida. Muitos apostam que 2018 deve ser o último ano de
Fernando na F-1, com o asturiano mudando-se de mala e cuia para o WEC em 2019.
Pode até ser. Mas isso certamente dependerá sobremaneira de como a McLaren, em
sua nova parceria com a Renault, irá se comportar nas pistas este ano. Depois
de três temporadas de muitas esperanças e decepções ainda maiores com a Honda,
de quem se esperava muito, a motivação em Woking para a temporada deste ano faz
recordar os bons tempos do time inglês quando vitórias eram encaradas com
naturalidade, e não como algo excepcional. Ainda é cedo para dizer que a
McLaren voltará quem sabe a disputar vitórias e/ou o título na F-1, mas os
ânimos de Alonso parecem completamente renovados, e tido como o piloto mais
completo do grid, ele certamente quer provar que ainda é o piloto que
“aposentou” Michael Schumacher na década passada, e era tido como provável
sucessor do alemão na busca pelos recordes da categoria máxima do
automobilismo, se sua carreira não tivesse se guiado por caminhos errados, e se
perdido em alguns momentos pelo seu egocentrismo exagerado.
Curiosamente, os
tempos de penúria de resultados na associação McLaren/Honda parecem ter feito
Alonso aproveitar mais a vida e ficar um pouco menos sério e causador de
confusões. Não que ele tenha virado santo de uma hora para outra, mas
certamente soube transformar sua imagem para continuar em evidência, mesmo com
a falta de resultados na F-1. No ano passado, quando anunciou que disputaria as
500 Milhas de Indianápolis, ele surpreendeu o mundo com a notícia. Foi para os
Estados Unidos, e aproveitou a atmosfera única do IMS e da centenária corrida
norte-americana, sendo um dos destaques não apenas na mídia mas também na
corrida. Depois disso, sua participação em Daytona no início deste ano já não
foi exatamente uma surpresa, e a ambição de correr em Le Mans, já era mais do
que conhecida, e que agora irá se realizar.
No ano passado, o espanhol competiu nas 500 Milhas de Indianápolis, e foi um dos destaques da corrida. E gostou da experiência. |
E é concebível um
piloto de alta performance, competindo em um certame tão exigente como a F-1,
conseguir dividir suas atenções e correr a sério em outro campeonato, ao mesmo
tempo? Para Mark Webber, amigo de Alonso, e que recentemente pendurou o
capacete, e foi campeão no WEC com a Porsche, o espanhol deveria se concentrar
na F-1, uma vez que a categoria exige dedicação praticamente integral para ser
bem-sucedido lá, e que seria um erro dividir atenções. Acho isso relativo: há
quem saiba lidar com isso, e quem não saiba lidar. De minha parte, os pilotos
são profissionais que não correm apenas pela paixão e pelo seu ganha-pão, mas
principalmente pelo desafio. E quanto maior o desafio, maior o desejo de
vencê-lo. O WEC é um campeonato importante, mas não tem tantas corridas quanto
a F-1, e por enquanto, apenas a etapa de Fuji será desfalcada pelo asturiano,
em detrimento da F-1. O fato da F-1, e também do WEC, não terem mais tantos
testes, como era comum na década passada, ajuda os pilotos neste sentido.
Mas o asturiano também
tem sido auxiliado por outros fatores. O primeiro deles, é a mudança ocorrida
na McLaren: há pouco tempo atrás, Alonso havia sido convidado pela Porsche para
correr pelo time em Le Mans, mas Ron Dennis e a Honda, por tabela, foram
contra. Bem, Dennis não está mais na McLaren, e a Honda também, o que facilitou
o acordo com a Toyota, a maior rival da Honda no mercado de carros nipônico. E
Zak Brown, novo diretor da McLaren, tem sido um grande aliado das pretensões de
Alonso, porque sabe que, com seu piloto feliz, ele vai dar tudo e muito mais do
que isso na pista. E Alonso faz questão de agradecer à McLaren pelo que irá
poder fazer em 2018, como já havia sido grato pelo que pôde em 2017, quando foi
a Indianápolis. Depois de renovar com o time inglês para este ano, confiante na
parceria com a Renault, onde foi bicampeão com o time de fábrica em 2005 e
2006, Fernando certamente vai pilotar como nunca em 2018. E, para o bem da
competição, espero que seja bem-sucedido, tanto na F-1 quanto no WEC, afinal,
quanto mais gente andando na frente, melhor para todas as competições.
Alonso também disputou as 24 Horas de Daytona, e se não causou furor como em Indianápolis, ainda assim, também gostou do que viu. |
Antigamente, era comum
os pilotos da F-1 se dividirem entre várias competições automobilísticas pelo
mundo afora. É verdade que os tempos eram outros: o calendário da F-1 possuía
menos provas do que hoje, e também não corriam em lugares tão distantes como
atualmente, o que demanda muito mais tempo em viagens longas para os GPs. A
partir dos anos 1980, as participações de pilotos da categoria máxima do
automobilismo em outras competições começou a decair, em virtude do nível de
profissionalismo começar a ser muito mais exigente, e o aumento dos testes e
corridas. Bernie Ecclestone, por sua vez, também começou a ser contra ver os
pilotos da F-1 defendendo outros campeonatos, de forma que nos últimos tempos,
era praticamente contra ver seus competidores correndo em outros lugares, com
birra de que eles “desfalcassem” a F-1, emprestando a fama de serem pilotos
desta em outros campeonatos. Nico Hulkenberg, que venceu as 24 Horas de Le Mans
pela Porsche, após os alemães não terem conseguido a liberação de Fernando
Alonso junto à McLaren, foi o exemplo de situação que o chefão da FOM queria
evitar, já que Nico acabou ganhando muito prestígio pelo feito, mas não tendo
sido obtido na F-1, isso incomodava o cartola. Para ele, os pilotos da F-1
deviam se comprometer unicamente com o seu campeonato, e não ir se aventurar
por aí em outras paragens.
E, até para evitar
isso, o calendário da F-1 em muitos anos “bateu” de frente com algumas provas
importantes de outros campeonatos, justamente para dificultar a “fuga” de algum
piloto para estas provas. Ou alguém acha que foi coincidência que no ano
seguinte após Hulkenberg vencer em Le Mans, a prova em Sarthe acabou
coincidindo com uma etapa do calendário de F-1? Mas, felizmente, Bernie também não está mais
no comando da F-1, e o Liberty Media tem sido muito mais maleável e flexível,
para não dizer também muito menos egocêntrico no trato com a categoria máxima
do automobilismo. Não é perfeito, lógico, mas trouxe alguns avanços, e tenta
como pode deixar o ambiente da categoria menos sisudo e sério. Quem sabe ainda
possamos ver Mônaco e as 500 Milhas de Indianápolis acontecendo em finais de semana
diferentes, como já ocorreu no passado? Seria muito bom. Pelo menos para essas
corridas especiais do mundo do esporte a motor, permitiria a alguns pilotos
encararem outros desafios bem interessantes, em momentos mais oportunos de suas
carreiras.
Pilotos são
profissionais como muitos outros, e se acham que podem dar conta de participar
de outras corridas em outros campeonatos, eles devem ter plena liberdade de
opção. Dependerá mais de suas equipes, e de suas prioridades. É verdade que nem
todo time gosta deste tipo de situação, uma vez que seus pilotos podem sofrer
acidentes inesperados, e com isso, prejudicar sua escuderia. Quem não lembra do
acidente que quase matou Robert Kubica em 2011, quando o polonês, contratado da
equipe Renault, estava disputando uma etapa de rali? Aquilo arruinou o ano do
time na F-1, mas a direção da escuderia, apesar de tudo, preferia que seu
piloto tivesse liberdade para correr em outros lugares, a ter um contratado sem
iniciativa. E o próprio piloto também precisa saber pesar os prós e contras, de
modo a calcular os riscos, e eventuais problemas na sua carreira, no caso de
algo inesperado acontecer. E, claro, achar onde correr, e se o time tem
interesse em contar com seus serviços. E, apesar de tudo, não são todas as escuderias
que aceitam pilotos dessa maneira. Existem corridas especiais, onde vêm
competir pilotos de muitos outros lugares e campeonatos, como as 24 Horas de
Daytona, que contaram também com pilotos da Indy, da Stock Car brasileira, e do
WEC, e F-1, entre outros. E o panorama é similar em Le Mans.
E Alonso também não
estará correndo em um time qualquer: estará na Toyota, onde em tese terá como
rivais apenas o outro carro da escuderia e seu grupo de pilotos, se mantiverem
performance superior aos demais times da classe LMP1. Claro que isso também
aumentará sua cobrança por resultados, mas ninguém pode dizer que o espanhol
não está encarando desafios, em seu objetivo de correr em outras paragens.
Alguns pilotos costumam fazer isso com frequência, e Alonso tem todo o direito
de tentar a sorte nestas novas corridas. Que seja bem-sucedido pelo bem-estar
geral das competições do esporte a motor.
A F-E volta a acelerar neste
sábado, para a etapa de Santiago, no Chile. O circuito da prova tem extensão de
2,47 Km, com 12 curvas, e pelo menos um bom trecho de reta que deve favorecer
possibilidades de ultrapassagem. A corrida será disputada em 37 voltas, e terá
transmissão ao vivo no canal pago Fox Sports a partir das 17:00 Horas, horário
de Brasília. Na disputa do campeonato, Felix Rosenqvist, da Mahindra, lidera a
competição, com 54 pontos, seguido de perto por Sam Bird, da Virgin, com 50. Na
3ª colocação está Jean-Éric Vergne, da Techeetah, com 43 pontos. Nelsinho
Piquet é o 4º colocado, com 25 pontos. Lucas Di Grassi, o atual campeão, teve
muitos azares neste início de campeonato, e está zerado na pontuação, situação
que certamente complica suas pretensões de lutar pelo bicampeonato. Mas o
brasileiro não é o único que teve percalços: Sébastien Buemi também não conseguiu
iniciar o ano do jeito que esperava, mas conseguiu começar a reagir, ao subir
ao pódio em Marrakesh, com o 2º lugar, e com isso, marcar 22 pontos até o
momento, que lhe permitem sonhar em uma reação na competição, que pode vir já
neste final de semana, e voltar à luta pelo título da temporada. É preciso
ficar de olho no suíço, que mostrou uma performance forte no Marrocos, mesmo
que tenha sido derrotado na luta pela vitória pelo líder do campeonato. A
perspectiva é de outra corrida bem equilibrada entre vários pilotos, e sendo
uma pista que praticamente ninguém conhece, as surpresas tem chance de serem
ainda maiores.
Traçado da pista do ePrix de Santiago, etapa que estréia no campeonato da Formula-E neste final de semana. |
O campeonato nacional da Stock
Car começa apenas dia 10 de março, mas a categoria já arrumou confusão ao
estabelecer uma regra que proíbe a participação de pilotos que já tenham
corrido regularmente na categoria, para a Corrida de Duplas que abre a
competição. Segundo notícia veiculada no site Grande Prêmio (www.grandepremio.com.br), qualquer
piloto que tiver disputado mais de 6 etapas do certame, ou do Brasileiro de
Turismo, de 2010 para cá, não poderá participar da prova como convidado. As
regras ainda dizem que o piloto convidado deve preferencialmente ter
participado de campeonatos de relevância internacional nos últimos cinco anos.
A idéia explícita é forçar a vinda de pilotos internacionais. Muita gente não
gostou da regra, e a Vicar, que inventou isso, podia muito bem fazer a Stock
deixar de passar este tipo de vergonha, e permitir que pilotos profissionais
pudessem participar sem firulas. É o Brasil, e suas besteiras, um hábito que
parece permanecer de qualquer jeito, e não apenas no automobilismo...
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