Vencedor da etapa de Santiago, Jean-Éric Vergne assumiu a liderança na F-E. Mas os rivais estão logo atrás dele na pontuação. |
Com a realização do
ePrix de Santiago, sábado passado, a F-E já disputou quatro corridas da atual
quarta temporada da categoria, e o prospecto para a disputa do título é bem
promissor, com nada menos do que 3 pilotos de três equipes diferentes dividindo
os holofotes principais, e alguns coadjuvantes brigando para entrar nessa
briga, e não deixar de marcar presença. As voltas finais da corrida disputada
na capital do Chile foram bem empolgantes, com nada menos do que 5 pilotos
andando bem próximos uns dos outros, e mais um sexto chegando bem perto para
engrossar a disputa. Qualquer erro ali, por menor que fosse, poderia arruinar
os planos do piloto de garantir um bom resultado. E olha que tivemos toques,
fritadas de pneu, e quase um acidente entre dois pilotos da mesma escuderia.
Para quem estava
entediado de a luta pelo título da categoria se resumir aos nomes de Nelsinho
Piquet (no primeiro ano), Sébastien Buemi e Lucas Di Grassi (todas as temporadas
anteriores), a atual temporada traz novos nomes na luta pelo título. A primeira
corrida da nova temporada, disputada em Hong Kong, teve vitória de Sam Bird, da
Virgin, começando a competição na frente dos rivais, e ele ainda marcou um bom
5º lugar na segunda prova, saindo da China com 35 pontos, e só não
monopolizando as atenções porque Jean-Éric Vergne, da Techeetah, em seus
calcanhares, com 33 pontos obtidos com uma 2ª e 4ª colocações na rodada dupla
disputada na cidade chinesa. E Felix Rosenqvist, da Mahindra, também mostrou
que estaria na briga, com 29 pontos obtidos da vitória na segunda prova, mais a
obtenção da pole-position e da volta mais rápida na corrida. E são estes três
pilotos que estão dividindo as atenções do campeonato após estas quatro provas
disputadas.
Em Marrakesh,
Rosenqvist tratou de mostrar que o triunfo obtido na segunda corrida de Hong
Kong não era mero acaso, e averbou uma nova vitória, após um duelo feroz com
Sébastien Buemi, que havia largado na pole-position da prova marroquina, mas
nunca conseguiu abrir vantagem sobre os concorrentes, e especialmente sobre o
piloto da Mahindra. Sam Bird, por sua vez, veio logo atrás, subindo ao pódio em
3º, e também mostrando que Felix não poderia baixar a guarda na classificação.
Já Jean-Éric Vergne também não deixava ambos sumirem na frente, ao fazer um bom
5º lugar, e manter-se firme entre os primeiros colocados na classificação. Em
Santiago, um circuito novo, onde ninguém tinha referências, era a próxima
parada da competição, e poderia literalmente acontecer qualquer coisa.
Sam Bird venceu a primeira corrida da nova temporada e segue firme no páreo. |
E até aconteceu, mas
não mudou os nomes dos principais destaques da atual temporada. Desta vez, a
vitória ficou com Vergne, que largou na pole-position, com a Techeetah ainda
por cima conquistando uma dobradinha, a primeira do time, e da história da F-E,
com o 2º lugar de André Lotterer. Buemi marcou nova presença no pódio, e logo
atrás, quem apareceu: justamente Felix Rosenqvist e Sam Bird, para continuarem
juntinhos como o trio favorito na disputa pelo título. A vitória catapultou
Vergne para a dianteira na classificação, com 71 pontos, graças à constância do
piloto, que marcou pontos nas quatro provas, e bem. Só que não dá para marcar
bobeira: Felix Rosenqvist encontra-se logo atrás, com 66 pontos, e só não
lidera a competição porque ficou sem marcar pontos na primeira corrida de Hong
Kong, onde terminou apenas em 14º lugar. Com 61 pontos, Sam Bird vem logo
atrás, e o inglês, a exemplo de Vergne, também pontuou nas quatro corridas,
sempre estando entre os 5 primeiros colocados. São apenas 10 pontos separando
estes três pilotos, e com algumas variações dependendo da pista, todos estão
andando forte e constantes na maior parte da temporada até aqui, e se
mantiverem esse ritmo, com certeza um deles faturará o título de campeão deste
ano, o que seria muito bom para a competição. O certame, aliás, está
interessante, pois tivemos três vencedores diferentes nas quatro provas, com
3 pilotos diferentes marcando a pole (Vergne saiu na frente na primeira corrida
de Hong Kong e em Santiago), com quatro pilotos diferentes marcando a volta
mais rápida. Um bom sinal de equilíbrio, ninguém pode contestar. E estes três
pilotos estão relativamente próximos na pontuação, e dependendo do resultado
das próximas corridas, a dianteira pode mudar. Começamos com Sam Bird na
frente, depois a liderança foi parar nas mãos de Rosenqvist, e agora é Vergne
quem está em primeiro na pontuação. Ninguém pode marcar bobeira nesta disputa a
três. E, lembrando que, com o cancelamento da rodada dupla de Montreal, que
encerraria a temporada, temos agora apenas 8 provas para serem disputadas. Quem
ficar para trás terá menos tempo para tentar recuperar o prejuízo. Por
enquanto, 10 pontos de diferença ainda não são um revés significativo, mas com
o avanço da temporada, a situação mudará de figura para quem tiver azar entre
estes três, que até agora vem dando uma bela disputa nas corridas.
Felix Rosenqvist venceu duas provas e promete dificultar a vida dos seus adversários na pista. Não se pode menosprezar o piloto da Mahindra. |
A partir daí, o mais
próximo adversário é justamente Sébastien Buemi, da e.Dams, campeão da segunda
temporada, que está em 4º lugar, com 37 pontos, na classificação. O piloto
suíço já subiu duas vezes ao pódio, e mostra que tem carro para brigar pelo
campeonato, mas vai precisar remar muito para descontar a desvantagem de
pontos, que no momento, é significativa, uma vez que a rodada dupla em Hong
Kong foi particularmente desastrosa para ele, onde marcou apenas 1 ponto. As
coisas só voltaram ao normal em Marrakesh e Santiago, mas Sébastien já viu que
a parada será dura contra os rivais. Se nada de anormal acontecer com o trio da
ponta, Buemi pode até alcançá-los, e entrar na briga, mas provavelmente será
mais para o final da competição. O carro da e.Dams não parece ter o mesmo
equilíbrio dos da Techeetah, Mahindra e Virgin, mas apenas Buemi está
conseguindo tirar tudo o que seu bólido pode proporcionar, a exemplo dos
rivais, que à exceção da Techeetah (pelo menos considerando a performance
global deles em Santiago), só tem tido destaque com Rosenqvist e Bird, uma vez
que seus parceiros de equipe não tem conseguido acompanhar o ritmo deles.
Sébastien Buemi já tem dois pódios, mas vai precisar correr atrás do prejuízo na pontuação em relação aos líderes, e o carro da e.Dams não parece ter a força dos últimos dois anos. |
Se o piloto da e.Dams
conseguir se juntar aos líderes e embolar a disputa, seria ainda melhor, pois
teríamos quatro pilotos, de quatro escuderias diferentes, brigando pelo título
da F-E, algo que outras competições de maior expressão, como a F-1 e a Indycar
não veem há muito, muito tempo. Se todos eles, duelarem diretamente uns com os
outros, tudo ficará ainda mais imprevisível, e com disputas ainda mais
ferrenhas na pontuação. Quem vai ser o campeão? Ninguém tem como saber ainda.
O ponto negativo do momento
atual é a ausência do atual campeão da categoria, o brasileiro Lucas Di Grassi,
nesta disputa. Piloto cerebral e arrojado, Di Grassi ostenta uma marca
tremendamente incômoda, de ser o único piloto do grid atual sem pontos. Pior é
ver que seus melhores resultados foram na rodada dupla de Hong Kong, onde ficou
em 17º e 14º nas duas provas, sem conseguir marcar pontos, depois de largar em
6º e 13º. Nas outras provas, o brasileiro ficou a pé, com problemas no carro,
que também se manifestaram nas corridas na China, mas lá apenas o relegaram a
ficar fora da zona de pontos. Em Marrakesh e Santiago, os abandonos foram ainda
mais contundentes pelo fato de o carro da Audi ABT mostrar um ritmo muito
competitivo. No Marrocos, Lucas largou em 5º, mas acabou sendo o primeiro a
abandonar a corrida, onde mostrava que podia batalhar pelo pódio, e até pela
vitória. Já no Chile, Di Grassi marcou o 3º tempo no grid, mas por conta de uma
penalização pelo fato de a equipe ter trocado o inversor de energia de seu trem
de força, perdeu 10 posições na largada, tendo de sair em 13º. Mostrando
novamente uma performance forte, e uma estratégia de corrida firme, Lucas já
era o 5º colocado após a troca de carros no pit stop, e viria firme para tentar
o pódio, quando de repente seu carro apagou novamente, tirando-o da corrida, e
deixando-o extremamente frustrado, a ponto de nem querer falar com a imprensa
após o ocorrido.
E a frustração de
Lucas é mais do que justificada: ele tem feito o que pode na pista, e o carro
da escuderia já mostrou que é competitivo. Mas a confiabilidade está em xeque,
e pior, a equipe não sabe o que está errado, uma vez que nada parece fora do
lugar. Daniel ABT também vem tendo sua dose de azar, mas por outros fatores:
venceu a segunda corrida em Hong Kong, mas acabou desclassificado por uma
burrada cometida pela equipe, na troca deum código de barras de um equipamento
do seu carro. Em Marrakesh ele foi o 10º colocado, e em Santiago viu suas
chances na corrida irem para o brejo após seu carro ficar danificado em um
toque com Sébastien Buemi. Tanto que os únicos pontos da Audi ABT no atual
campeonato, 11, são provenientes do alemão. Allan McNish, quando indagado sobre
o que está acontecendo com o carro de Di Grassi, respondia incrédulo não saber
o que está havendo. E a expectativa, quando a Audi assumiu de vez sua
participação na F-E, que até o ano passado era de uma parceria com a ABT, e
tornou-se um time oficial de fábrica, a exemplo da e.Dams, era de melhorar sua
performance e deixar de cometer alguns erros crassos e banais que nas
temporadas anteriores causaram a desclassificação de Lucas Di Grassi em duas
corridas onde o brasileiro havia sido o vencedor. E o novo carro tem se
mostrado realmente rápido, o suficiente para colocar Lucas como um desafiante
sério do trio Vergne/Bird/Rosenqvist. Mas, para chegar em primeiro, primeiro é
preciso chegar, e nem isso ele está conseguindo. E, com 71 pontos de
desvantagem para o líder na classificação, posso afirmar que a temporada já era
para Lucas, no que tange à defesa de seu título e luta pelo bicampeonato. Mesmo
que o carro venha a ser confiável, mesmo que ele vencesse todas as corridas, o
que é improvável, dado o equilíbrio que o certame vem apresentando, os outros
pilotos teriam que sofrer uma dose cavalar de azares para que o brasileiro
pudesse entrar na disputa. O objetivo agora é pelo menos terminar o ano com a
moral em alta, e resgatar parte do orgulho perdido com este que é o pior início
de temporada de um campeão da categoria. Mesmo Nelsinho Piquet, em seu tenebroso
segundo campeonato, já como campeão da F-E, tinha pelo menos marcado 4 pontos
nas primeiras quatro corridas disputadas. Di Grassi nem isso está conseguindo
no momento. E torna-se muito mais ruim quando a própria equipe se vê perdida em
conseguir resolver o problema.
Enquanto isso, se tem
alguém que está resgatando seu nome na competição, é justamente Nelsinho
Piquet. Primeiro campeão da categoria de carros monopostos elétricos, Nelsinho
amargou uma segunda temporada muito ruim com o time pelo qual havia sido
campeão na primeira temporada, a China Racing. O terceiro ano foi mais
promissor, mas para a atual temporada Piquet aceitou o convite da Jaguar, e só
nas quatro primeiras corridas, já marcou 33 pontos, a mesma quantia atingida em
toda a temporada passada, e só não está melhor porque ficou sem marcar pontos
na segunda prova de Hong Kong por problemas no carro. No time da marca inglesa,
Piquet já esteve rondando o pódio, e está logo atrás de Vergne, Rosenqvist,
Bird, e Buemi, ocupando a 5ª posição na classificação. E isso com o carro da
Jaguar ainda apresentando um desempenho inferior aos dos pilotos à sua frente
na classificação. Mas a Jaguar vem mostrando potencial para evoluir e alçar
vôos mais altos, e conta justamente com o talento e a capacidade de Nelsinho
para atingir estes objetivos. E tudo indica que estão no caminho certo: um
retorno de Piquet ao pódio já é uma realidade possível, e com um pouco mais de
sorte, quem sabe voltar a vencer corridas, e retornar à disputa pelo título.
Nelsinho não esconde o
entusiasmo vivido em seu novo time, onde todos estão empenhados em melhorar
tudo, havendo muitos detalhes a serem estudados para fazer com que a escuderia
venha para a frente, disputar as primeiras posições. E, se mesmo com a
performance do carro ainda abaixo dos times citados acima, Piquet já se coloca
logo atrás de seus pilotos, as perspectivas são muito animadoras assim que tudo
se encaixar de vez. Mas, quanto a tentar disputar o título, suas chances são
mais complicadas que as de Buemi, devido à desvantagem na pontuação para os
líderes, e lembrando que o suíço tem um carro mais competitivo, mas nem por
isso deixando de ir à luta. Afinal, na primeira temporada, de início Nelsinho
parecia ser carta fora do baralho, e mesmo assim conseguiu chegar lá, e
conquistando o título da competição. Repetir o feito não é impossível, mas será
difícil. E, se Piquet conseguir chegar para discutir o título, nada poderia ser
melhor para a imagem da F-E, tendo nada menos do que 5 pilotos, de 5 times
diferentes lutando pelo título. Muitos fãs de corridas têm criticado ferozmente
a categoria, chamando-a de “competição de autorama”, pelo fato de seus bólidos
elétricos serem “lentos” e não fazerem o barulho que tanto os motiva em
disputas de carros, mas as disputas nesta nova temporada estão muito
interessantes, e com mais pilotos na briga direta pelo título, assim como
equipes, a F-E se apresenta como uma opção realmente válida para aqueles que
querem ver boas disputas e duelos na pista. É verdade que a categoria tem seus
defeitos, mas que competição não os tem?
E tudo deverá ficar
ainda mais interessante a partir da próxima temporada, com a adoção dos novos
bólidos, cujo visual já foi divulgado recentemente, e que deve promover uma
grande mudança no aspecto da competição, com os carros sendo muito mais
velozes, e capazes de disputar toda a corrida sem necessidade de troca de
monoposto, como é feito atualmente, com a adoção de baterias muito mais
potentes e eficientes. Por mais que seus detratores não cansem de menosprezar a
F-E, o futuro das competições automotivas será elétrico. Pode demorar, mas isso
vai acontecer um dia. O importante é que as disputas na pista sejam empolgantes
e atrativas para quem curte automobilismo de verdade. E, até chegarmos a esse
futuro, a F-E terá um papel muito importante no desenvolvimento da tecnologia
de motores elétricos. Quem viver, verá...
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