sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

DUELO PROMISSOR NA FORMULA-E


Vencedor da etapa de Santiago, Jean-Éric Vergne assumiu a liderança na F-E. Mas os rivais estão logo atrás dele na pontuação.

            Com a realização do ePrix de Santiago, sábado passado, a F-E já disputou quatro corridas da atual quarta temporada da categoria, e o prospecto para a disputa do título é bem promissor, com nada menos do que 3 pilotos de três equipes diferentes dividindo os holofotes principais, e alguns coadjuvantes brigando para entrar nessa briga, e não deixar de marcar presença. As voltas finais da corrida disputada na capital do Chile foram bem empolgantes, com nada menos do que 5 pilotos andando bem próximos uns dos outros, e mais um sexto chegando bem perto para engrossar a disputa. Qualquer erro ali, por menor que fosse, poderia arruinar os planos do piloto de garantir um bom resultado. E olha que tivemos toques, fritadas de pneu, e quase um acidente entre dois pilotos da mesma escuderia.
            Para quem estava entediado de a luta pelo título da categoria se resumir aos nomes de Nelsinho Piquet (no primeiro ano), Sébastien Buemi e Lucas Di Grassi (todas as temporadas anteriores), a atual temporada traz novos nomes na luta pelo título. A primeira corrida da nova temporada, disputada em Hong Kong, teve vitória de Sam Bird, da Virgin, começando a competição na frente dos rivais, e ele ainda marcou um bom 5º lugar na segunda prova, saindo da China com 35 pontos, e só não monopolizando as atenções porque Jean-Éric Vergne, da Techeetah, em seus calcanhares, com 33 pontos obtidos com uma 2ª e 4ª colocações na rodada dupla disputada na cidade chinesa. E Felix Rosenqvist, da Mahindra, também mostrou que estaria na briga, com 29 pontos obtidos da vitória na segunda prova, mais a obtenção da pole-position e da volta mais rápida na corrida. E são estes três pilotos que estão dividindo as atenções do campeonato após estas quatro provas disputadas.
            Em Marrakesh, Rosenqvist tratou de mostrar que o triunfo obtido na segunda corrida de Hong Kong não era mero acaso, e averbou uma nova vitória, após um duelo feroz com Sébastien Buemi, que havia largado na pole-position da prova marroquina, mas nunca conseguiu abrir vantagem sobre os concorrentes, e especialmente sobre o piloto da Mahindra. Sam Bird, por sua vez, veio logo atrás, subindo ao pódio em 3º, e também mostrando que Felix não poderia baixar a guarda na classificação. Já Jean-Éric Vergne também não deixava ambos sumirem na frente, ao fazer um bom 5º lugar, e manter-se firme entre os primeiros colocados na classificação. Em Santiago, um circuito novo, onde ninguém tinha referências, era a próxima parada da competição, e poderia literalmente acontecer qualquer coisa.
Sam Bird venceu a primeira corrida da nova temporada e segue firme no páreo.
            E até aconteceu, mas não mudou os nomes dos principais destaques da atual temporada. Desta vez, a vitória ficou com Vergne, que largou na pole-position, com a Techeetah ainda por cima conquistando uma dobradinha, a primeira do time, e da história da F-E, com o 2º lugar de André Lotterer. Buemi marcou nova presença no pódio, e logo atrás, quem apareceu: justamente Felix Rosenqvist e Sam Bird, para continuarem juntinhos como o trio favorito na disputa pelo título. A vitória catapultou Vergne para a dianteira na classificação, com 71 pontos, graças à constância do piloto, que marcou pontos nas quatro provas, e bem. Só que não dá para marcar bobeira: Felix Rosenqvist encontra-se logo atrás, com 66 pontos, e só não lidera a competição porque ficou sem marcar pontos na primeira corrida de Hong Kong, onde terminou apenas em 14º lugar. Com 61 pontos, Sam Bird vem logo atrás, e o inglês, a exemplo de Vergne, também pontuou nas quatro corridas, sempre estando entre os 5 primeiros colocados. São apenas 10 pontos separando estes três pilotos, e com algumas variações dependendo da pista, todos estão andando forte e constantes na maior parte da temporada até aqui, e se mantiverem esse ritmo, com certeza um deles faturará o título de campeão deste ano, o que seria muito bom para a competição. O certame, aliás, está interessante, pois tivemos três vencedores diferentes nas quatro provas, com 3 pilotos diferentes marcando a pole (Vergne saiu na frente na primeira corrida de Hong Kong e em Santiago), com quatro pilotos diferentes marcando a volta mais rápida. Um bom sinal de equilíbrio, ninguém pode contestar. E estes três pilotos estão relativamente próximos na pontuação, e dependendo do resultado das próximas corridas, a dianteira pode mudar. Começamos com Sam Bird na frente, depois a liderança foi parar nas mãos de Rosenqvist, e agora é Vergne quem está em primeiro na pontuação. Ninguém pode marcar bobeira nesta disputa a três. E, lembrando que, com o cancelamento da rodada dupla de Montreal, que encerraria a temporada, temos agora apenas 8 provas para serem disputadas. Quem ficar para trás terá menos tempo para tentar recuperar o prejuízo. Por enquanto, 10 pontos de diferença ainda não são um revés significativo, mas com o avanço da temporada, a situação mudará de figura para quem tiver azar entre estes três, que até agora vem dando uma bela disputa nas corridas.
Felix Rosenqvist venceu duas provas e promete dificultar a vida dos seus adversários na pista. Não se pode menosprezar o piloto da Mahindra.
            A partir daí, o mais próximo adversário é justamente Sébastien Buemi, da e.Dams, campeão da segunda temporada, que está em 4º lugar, com 37 pontos, na classificação. O piloto suíço já subiu duas vezes ao pódio, e mostra que tem carro para brigar pelo campeonato, mas vai precisar remar muito para descontar a desvantagem de pontos, que no momento, é significativa, uma vez que a rodada dupla em Hong Kong foi particularmente desastrosa para ele, onde marcou apenas 1 ponto. As coisas só voltaram ao normal em Marrakesh e Santiago, mas Sébastien já viu que a parada será dura contra os rivais. Se nada de anormal acontecer com o trio da ponta, Buemi pode até alcançá-los, e entrar na briga, mas provavelmente será mais para o final da competição. O carro da e.Dams não parece ter o mesmo equilíbrio dos da Techeetah, Mahindra e Virgin, mas apenas Buemi está conseguindo tirar tudo o que seu bólido pode proporcionar, a exemplo dos rivais, que à exceção da Techeetah (pelo menos considerando a performance global deles em Santiago), só tem tido destaque com Rosenqvist e Bird, uma vez que seus parceiros de equipe não tem conseguido acompanhar o ritmo deles.
Sébastien Buemi já tem dois pódios, mas vai precisar correr atrás do prejuízo na pontuação em relação aos líderes, e o carro da e.Dams não parece ter a força dos últimos dois anos.
            Se o piloto da e.Dams conseguir se juntar aos líderes e embolar a disputa, seria ainda melhor, pois teríamos quatro pilotos, de quatro escuderias diferentes, brigando pelo título da F-E, algo que outras competições de maior expressão, como a F-1 e a Indycar não veem há muito, muito tempo. Se todos eles, duelarem diretamente uns com os outros, tudo ficará ainda mais imprevisível, e com disputas ainda mais ferrenhas na pontuação. Quem vai ser o campeão? Ninguém tem como saber ainda.
            O ponto negativo do momento atual é a ausência do atual campeão da categoria, o brasileiro Lucas Di Grassi, nesta disputa. Piloto cerebral e arrojado, Di Grassi ostenta uma marca tremendamente incômoda, de ser o único piloto do grid atual sem pontos. Pior é ver que seus melhores resultados foram na rodada dupla de Hong Kong, onde ficou em 17º e 14º nas duas provas, sem conseguir marcar pontos, depois de largar em 6º e 13º. Nas outras provas, o brasileiro ficou a pé, com problemas no carro, que também se manifestaram nas corridas na China, mas lá apenas o relegaram a ficar fora da zona de pontos. Em Marrakesh e Santiago, os abandonos foram ainda mais contundentes pelo fato de o carro da Audi ABT mostrar um ritmo muito competitivo. No Marrocos, Lucas largou em 5º, mas acabou sendo o primeiro a abandonar a corrida, onde mostrava que podia batalhar pelo pódio, e até pela vitória. Já no Chile, Di Grassi marcou o 3º tempo no grid, mas por conta de uma penalização pelo fato de a equipe ter trocado o inversor de energia de seu trem de força, perdeu 10 posições na largada, tendo de sair em 13º. Mostrando novamente uma performance forte, e uma estratégia de corrida firme, Lucas já era o 5º colocado após a troca de carros no pit stop, e viria firme para tentar o pódio, quando de repente seu carro apagou novamente, tirando-o da corrida, e deixando-o extremamente frustrado, a ponto de nem querer falar com a imprensa após o ocorrido.
            E a frustração de Lucas é mais do que justificada: ele tem feito o que pode na pista, e o carro da escuderia já mostrou que é competitivo. Mas a confiabilidade está em xeque, e pior, a equipe não sabe o que está errado, uma vez que nada parece fora do lugar. Daniel ABT também vem tendo sua dose de azar, mas por outros fatores: venceu a segunda corrida em Hong Kong, mas acabou desclassificado por uma burrada cometida pela equipe, na troca deum código de barras de um equipamento do seu carro. Em Marrakesh ele foi o 10º colocado, e em Santiago viu suas chances na corrida irem para o brejo após seu carro ficar danificado em um toque com Sébastien Buemi. Tanto que os únicos pontos da Audi ABT no atual campeonato, 11, são provenientes do alemão. Allan McNish, quando indagado sobre o que está acontecendo com o carro de Di Grassi, respondia incrédulo não saber o que está havendo. E a expectativa, quando a Audi assumiu de vez sua participação na F-E, que até o ano passado era de uma parceria com a ABT, e tornou-se um time oficial de fábrica, a exemplo da e.Dams, era de melhorar sua performance e deixar de cometer alguns erros crassos e banais que nas temporadas anteriores causaram a desclassificação de Lucas Di Grassi em duas corridas onde o brasileiro havia sido o vencedor. E o novo carro tem se mostrado realmente rápido, o suficiente para colocar Lucas como um desafiante sério do trio Vergne/Bird/Rosenqvist. Mas, para chegar em primeiro, primeiro é preciso chegar, e nem isso ele está conseguindo. E, com 71 pontos de desvantagem para o líder na classificação, posso afirmar que a temporada já era para Lucas, no que tange à defesa de seu título e luta pelo bicampeonato. Mesmo que o carro venha a ser confiável, mesmo que ele vencesse todas as corridas, o que é improvável, dado o equilíbrio que o certame vem apresentando, os outros pilotos teriam que sofrer uma dose cavalar de azares para que o brasileiro pudesse entrar na disputa. O objetivo agora é pelo menos terminar o ano com a moral em alta, e resgatar parte do orgulho perdido com este que é o pior início de temporada de um campeão da categoria. Mesmo Nelsinho Piquet, em seu tenebroso segundo campeonato, já como campeão da F-E, tinha pelo menos marcado 4 pontos nas primeiras quatro corridas disputadas. Di Grassi nem isso está conseguindo no momento. E torna-se muito mais ruim quando a própria equipe se vê perdida em conseguir resolver o problema.
Situações opostas para os brasileiros na F-E: enquanto Lucas Di Grassi, o atual campeão (acima), não conseguiu marcar um ponto sequer até agora por problemas de confiabilidade do carro, Nelsinho Piquet (abaixo) vem ajudando seu novo time, a Jaguar, a aumentar sua performance, com vistas a voltar ao pódio e às vitórias muito em breve.
            Enquanto isso, se tem alguém que está resgatando seu nome na competição, é justamente Nelsinho Piquet. Primeiro campeão da categoria de carros monopostos elétricos, Nelsinho amargou uma segunda temporada muito ruim com o time pelo qual havia sido campeão na primeira temporada, a China Racing. O terceiro ano foi mais promissor, mas para a atual temporada Piquet aceitou o convite da Jaguar, e só nas quatro primeiras corridas, já marcou 33 pontos, a mesma quantia atingida em toda a temporada passada, e só não está melhor porque ficou sem marcar pontos na segunda prova de Hong Kong por problemas no carro. No time da marca inglesa, Piquet já esteve rondando o pódio, e está logo atrás de Vergne, Rosenqvist, Bird, e Buemi, ocupando a 5ª posição na classificação. E isso com o carro da Jaguar ainda apresentando um desempenho inferior aos dos pilotos à sua frente na classificação. Mas a Jaguar vem mostrando potencial para evoluir e alçar vôos mais altos, e conta justamente com o talento e a capacidade de Nelsinho para atingir estes objetivos. E tudo indica que estão no caminho certo: um retorno de Piquet ao pódio já é uma realidade possível, e com um pouco mais de sorte, quem sabe voltar a vencer corridas, e retornar à disputa pelo título.
            Nelsinho não esconde o entusiasmo vivido em seu novo time, onde todos estão empenhados em melhorar tudo, havendo muitos detalhes a serem estudados para fazer com que a escuderia venha para a frente, disputar as primeiras posições. E, se mesmo com a performance do carro ainda abaixo dos times citados acima, Piquet já se coloca logo atrás de seus pilotos, as perspectivas são muito animadoras assim que tudo se encaixar de vez. Mas, quanto a tentar disputar o título, suas chances são mais complicadas que as de Buemi, devido à desvantagem na pontuação para os líderes, e lembrando que o suíço tem um carro mais competitivo, mas nem por isso deixando de ir à luta. Afinal, na primeira temporada, de início Nelsinho parecia ser carta fora do baralho, e mesmo assim conseguiu chegar lá, e conquistando o título da competição. Repetir o feito não é impossível, mas será difícil. E, se Piquet conseguir chegar para discutir o título, nada poderia ser melhor para a imagem da F-E, tendo nada menos do que 5 pilotos, de 5 times diferentes lutando pelo título. Muitos fãs de corridas têm criticado ferozmente a categoria, chamando-a de “competição de autorama”, pelo fato de seus bólidos elétricos serem “lentos” e não fazerem o barulho que tanto os motiva em disputas de carros, mas as disputas nesta nova temporada estão muito interessantes, e com mais pilotos na briga direta pelo título, assim como equipes, a F-E se apresenta como uma opção realmente válida para aqueles que querem ver boas disputas e duelos na pista. É verdade que a categoria tem seus defeitos, mas que competição não os tem?
            E tudo deverá ficar ainda mais interessante a partir da próxima temporada, com a adoção dos novos bólidos, cujo visual já foi divulgado recentemente, e que deve promover uma grande mudança no aspecto da competição, com os carros sendo muito mais velozes, e capazes de disputar toda a corrida sem necessidade de troca de monoposto, como é feito atualmente, com a adoção de baterias muito mais potentes e eficientes. Por mais que seus detratores não cansem de menosprezar a F-E, o futuro das competições automotivas será elétrico. Pode demorar, mas isso vai acontecer um dia. O importante é que as disputas na pista sejam empolgantes e atrativas para quem curte automobilismo de verdade. E, até chegarmos a esse futuro, a F-E terá um papel muito importante no desenvolvimento da tecnologia de motores elétricos. Quem viver, verá...

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