Lewis Hamilton comemora a conquista de seu quarto título em frente à torcida mexicana no autódromo Hermanos Rodrigues, ao fim do GP do México. |
Acabou! Lewis Hamilton
faturou o seu quarto título mundial. O piloto inglês da Mercedes fechou a
fatura no Grande Prêmio do México, depois de uma corrida complicada onde tanto
ele quanto seu grande rival pelo título da temporada, Sebastian Vettel, viram
seus planos de prova irem por água abaixo e terem de partir para corridas de
recuperação que, ao final, apenas confirmaram o que todos já esperavam desde a
prova dos Estados Unidos, de que era apenas questão de tempo até Lewis partir
para o abraço do título.
Apesar de mais um
campeonato vencido pela Mercedes, não se pode dizer que foi uma disputa
monótona. Diferente dos demais campeonatos, desde que estreou a nova era turbo,
em 2014, esta foi a temporada onde a equipe alemã enfrentou de fato uma
oposição na pista, com uma Ferrari que esteve em sua melhor forma nos últimos
anos, e onde Sebastian Vettel lutou bravamente em busca do título, só perdendo
forças nas últimas corridas, devido a vários fatores que se avolumaram,
comprometendo o belo campeonato que tanto ele quanto a Ferrari vinham
desempenhando até então.
E palmas para Lewis
Hamilton, que depois da derrota sofrida para Nico Rosberg no certame de 2017,
voltou mais focado e determinado que nunca, condições que foram essenciais para
que o piloto inglês enfrentasse a inesperada oposição por parte de Vettel e da
Ferrari, que em determinado momento da temporada, pintavam como mais favoritos
ao título do que Hamilton e a Mercedes. Mesmo nos piores momentos, vividos
principalmente na primeira metade da competição, Hamilton soube manter a cabeça
no lugar, e agarrar todas as oportunidades disponíveis, cometendo pouquíssimos
erros, e sabendo capitalizar as vantagens de seu equipamento no momento em que
isso lhe permitia acelerar fundo e demonstrar a gana e determinação que sempre
caracterizou sua carreira na F-1 desde sua estréia, em 2007.
Aos 32 anos, Lewis
Hamilton já se tornou um dos gigantes da história do automobilismo e da F-1.
Com quatro títulos mundiais no currículo, ele está abaixo apenas de Juan Manuel
Fangio, com 5 títulos, e de Michael Schumacher, com 7. Já igualou o número de
títulos de Sebastian Vettel e Alain Prost, superando ambos em número de poles e
vitórias, e podem estar certos de que as estatísticas irão aumentar ainda mais
nas próximas temporadas, a continuar dispondo de um carro vencedor, e que lhe
permita disputar o título da categoria máxima do automobilismo. Ele já é o
recordista de pole-positions, com 72 em 206 GPs disputados, e o segundo maior
vencedor de corridas, com 62. Um dos recordes de Michael Schumacher, que era o
número de poles, já foi superado pelo inglês. O recorde de vitórias do alemão,
91, ainda irá durar por pelo menos 3 temporadas, no ritmo de vitórias que Lewis
vem amealhando nos últimos anos, graças ao excelente conjunto da Mercedes.
Desde já, o piloto inglês já se torna o piloto a ser batido no ano que vem, e
motivação para isso não falta, o que já deixa os adversários com a pulga atrás
da orelha, em que pese a oposição, teoricamente, ter perspectivas de estar bem
mais forte em 2018, começando pela própria Ferrari, que vai tentar manter sua
base competitiva para evoluir ainda mais e se mostrar novamente forte para
disputar o título. Adicione uma Red Bull também mais forte, com um carro e
motor mais evoluídos, e teremos um páreo potencialmente interessante nos
duelos. Sem esquecer que todos esperam pelo renascimento da McLaren, agora
associada à Renault, que poderá voltar a disputar as primeiras colocações e
engrossar bastante essa disputa.
Isso deveria preocupar
Lewis Hamilton? Teoricamente, sim, e certamente o novo tetracampeão já está
ciente de que a temporada de 2018 certamente terá tudo para ser ainda mais
difícil do que foi a deste ano, mas a temporada de 2017 foi onde vimos Hamilton
nunca perder o controle na pista. Nunca deixando de ser o velocista que é,
Lewis aprendeu a dosar sua impetuosidade, garantindo os melhores lugares quando
não era possível vencer. Prova disso foi que em seu momento mais baixo em
termos de resultados, até a corrida no México, domingo passado, havia sido em
Mônaco, onde terminara em um 7º lugar, vendo Sebastian Vettel vencer a corrida
com folga, e abrindo vantagem na classificação, e mesmo assim, Hamilton manteve
sua tranquilidade e calma, sem se afobar na pista, ou cometer alguma
barbeiragem, situações costumeiras em outros momentos, quando o inglês sentia a
pressão dos concorrentes, e tentava responder sem pensar nas consequências,
procurando reagir o mais rápido possível, de forma até irresponsável, o que o
levava a sofrer vários incidentes, que o levaram a perder vários resultados
potenciais.
Esse era até então o
maior ponto fraco de Hamilton. Fora o fato de o inglês se divertir como poucos
em seus momentos de folga, figurando no show business ao lado de vários amigos
e pelo mundo afora, que era outra crítica que muitos lhe faziam, de que isso o
distraía e tirava sua concentração, como quando seus namoros também enfrentavam
altos e baixos, e isso parecia se refletir em suas performances. Tudo isso
ficou para trás, e se Lewis ainda se diverte como poucos em seus momentos de
descanso, ele parece ter não ter deixado mais que isso lhe tirasse o foco.
Aliás, muitos dizem que sua derrota para Nico Rosberg no ano passado o fez
ficar mais centrado em suas atribuições na Mercedes. Se com distrações
momentâneas Hamilton já era um piloto difícil de ser batido, concentrado e
focado em sua pilotagem, ele tornou-se um adversário muito mais eficiente e
competitivo, o que é uma péssima notícia para seus adversários, que ainda
tentavam explorar os pontos fracos conhecidos do piloto. E vimos isso ao longo
deste campeonato. Lewis estava sempre calmo, sereno. Mesmo nos momentos em que a
Mercedes foi batida com certa facilidade pela Ferrari, ele não desandou a fazer
críticas ou a fazer estribeiras na pista.
Na minha opinião, é
nos momentos de dificuldade que os pilotos crescem e aprendem a explorar seu
potencial com muito mais afinco e eficiência. Tendo estreado na F-1 já em um
time de ponta, Lewis sempre esteve no “paraíso” da F-1, podendo disputar as
primeiras posições e o campeonato desde o início, e para muitos, isso podia
acostumá-lo mal, já que nos momentos de dificuldades, ele poderia não saber
como reagir a estes momentos negativos. Surpreendendo desde o início, quando
todos achavam que ele seria um mero escudeiro de Fernando Alonso na McLaren em
2007, Hamilton mostrou logo que não estava ali para fazer figuração, e obteve
sua primeira pole e vitória no Canadá, naquele ano, levando Alonso a ter chiliques
que só fizeram o espanhol perder o campeonato e a criar cismas dentro da
escuderia. Hamilton perderia o título pelo seu noviciado, cometendo erros
crassos nas etapas finais, sentindo enfim a pressão da luta pelo título, o que
muitos acharam até natural. Mas ele já havia dado o seu recado, de que não
seria um piloto qualquer.
Em 2008, ele
conquistou seu primeiro título, e o último da equipe McLaren até hoje na F-1,
em uma disputa renhida com Felipe Massa. Os anos seguintes foram de menos
glórias, em especial em 2009, mas serviram para mostrar a Lewis que a vida na
F-1 tinha também seus pontos baixos. Ao deixar de disputar o título em algumas
temporadas, ele precisou aprender a conviver com momentos ruins, e em vários deles,
seu temperamento e descontrole o fizeram perder várias disputas que teria plenamente
condições de superar se mantivesse a cabeça no lugar. Demorou, mas Hamilton
aprendeu várias lições destes momentos, e chegava a hora de alçar vôos mais
independentes. Quando trocou a McLaren pela Mercedes para a temporada de 2013,
muitos disseram que ele estava sendo ingrato com quem sempre o apoiou e
garantiu sua entrada na F-1, além do fato de que, até aquele momento, a
Mercedes vinha tendo um desempenho inferior ao do time de Woking na categoria.
Na sua estréia pela McLaren, em 2007, Hamilton já mostrava suas garras e seu imenso talento ao volante, deixando o companheiro Fernando Alonso bem desconcertado. |
Mas foi uma mudança
certeira. A partir de 2013, a McLaren decaiu, enquanto a Mercedes começou a
evoluir, e naquele ano já se mostrou mais eficiente do que sua antiga
escuderia. Se ele ficou abaixo de Nico Rosberg na Mercedes em 2013, a partir de
2014, com o advento da nova era turbo, e a supremacia do time alemão, Lewis
mostrou a que veio, e mesmo enfrentando uma oposição forte de Rosberg, o que
levou ambos os pilotos a algumas rusgas na pista em alguns momentos, Hamilton
sagrou-se bicampeão, iniciando sua escalada rumo aos recordes da F-1. Em 2015,
seu ano mais favorável, ele chegou ao tricampeonato sem muitas dificuldades,
superando seu antigo amigo e atual parceiro de time com relativa facilidade. A
temporada do ano passado, contudo, foi cheia de altos e baixos, e Nico
aproveitou-se disso para vencer Hamilton e mostrar que ele também tinha
qualidades para ser campeão do mundo. A derrota foi dura de engolir, mas
necessária para Lewis ver que precisava se aplicar mais na pista e nos boxes,
para se tornar um piloto mais capaz e completo. Apesar de seu imenso talento e
seu arrojo, que o fazem em muitos momentos ser comparado a seu ídolo, o
brasileiro Ayrton Senna, era nítido que Hamilton ainda precisava aprender a se
concentrar mais na sua atividade. E ele parece ter conseguido atingir este
estágio, finalmente.
Fica nítida a evolução
do inglês quando comparado aos momentos de destempero emocional demonstrados
por Sebastian Vettel durante o campeonato, em especial após o incidente em
Baku, quando o alemão da Ferrari acertou o inglês da Mercedes durante um
período de safety car na pista da capital do Azerbaijão. Enquanto Vettel
reclamou várias vezes, Lewis manteve a cabeça fria. O esperado duelo
homem-a-homem, que muitos fãs e torcedores ansiavam que pegasse fogo, não
chegou a se concretizar, mesmo com ambos travando bons duelos roda a roda na
pista em diversos momentos.
A comparação com
Valtteri Bottas também é interessante. Em certos momentos, o finlandês deu
pinta de que poderia se intrometer na luta pelo título entre os dois pilotos. Hamilton,
claro, não se deixou levar pelo momento, e não perdeu o foco, quando muitos
apostavam que Bottas poderia entornar o caldo da competição, fazendo a Mercedes
“rachar” ao meio. Para o bem ou para o mal, Hamilton engatou vários resultados após
a Hungria, aproveitando todas as oportunidades que surgiram, e extraindo o
máximo do modelo W08, o que Valtteri não conseguiu fazer com a mesma
eficiência.
O desaire da largada
em Singapura, quando a dupla da Ferrari e Max Verstappen se enroscaram foi um
destes momentos em que Hamilton, já resignado em tentar apenas minimizar o prejuízo
do fim de semana, aproveitou o momento, e conseguiu uma vitória que nem ele
acreditava conseguir obter. Com uma vantagem já grande na pontuação, ele se
permitiu abdicar da vitória na Malásia, contentando-se em terminar à frente de
Vettel, que mais uma vez teve problemas, e precisou fazer uma corrida de
recuperação, vendo sua desvantagem na pontuação aumentar ainda mais. A vitória
na corrida malaia ficou com Max Verstappen, com Hamilton em 2º lugar, resultado
mais do que satisfatório, lembrando-se de que lá, no ano passado, ele sofrera
uma quebra de motor que praticamente inviabilizou sua conquista do título. No
Japão, ele foi impecável, não dando chances à concorrência de tentar algo, e repetiu
a dose nos Estados Unidos, onde até viu o rival Vettel sair na frente na
corrida, mas manteve-se tranquilo, e foi à caça do rival para superá-lo sem
maiores percalços momentos depois, e vencer novamente.
No duelo pelos títulos de 2014 a 2016 com Nico Rosberg, Lewis ganhou dois e perdeu um. |
Mesmo na prova do
México, onde um toque entre ele e Vettel poderia pôr tudo a perder e dar ao
rival alguma esperança de ainda levar o título, Lewis ficou firme na dele, e
mesmo com o carro não rendendo mais o seu melhor, devido a um problema no
difusor, não se afobou, e tratou de escalar o pelotão do jeito que dava,
travando com alguns pilotos, entre os quais Fernando Alonso, um belo duelo
pelas posições na pista. O toque se mostraria mais fatal para Vettel do que
para Hamilton, já que o piloto alemão da Ferrari contava com a vitória para
adiar o sonho da conquista do tetra do inglês, e para isso, fez uma volta
impecável na classificação, conquistando a pole-position. Mas sua corrida de recuperação
o fez chegar somente em 4º lugar, e mesmo que Hamilton não tivesse chegado em
9º, e até ficado sem marcar pontos, ele teria conquistado o título da mesma
maneira. Seriam 54 pontos de vantagem de Hamilton, com apenas 50 em disputa
nas etapas restantes.
Hamilton conquistou o
título com todos os méritos, e Vettel demonstrou grande esportividade ao
cumprimentar o inglês pela conquista, parabenizando-o pelo feito. Mas já
adiantando que fará tudo o que puder para impedir o rival de ser pentacampeão
no ano que vem. Semana que vem, os brasileiros poderão ver algo inédito na
história da F-1: teremos dois tetracampeões presentes na pista de Interlagos.
Serão 8 títulos na pista, o que não é pouca coisa. Teremos no grid nada menos
do que 11 campeonatos, já que estarão na pista também Fernando Alonso,
bicampeão em2005 e 2006, e Kimi Raikkonem, campeão em 2007, e até o presente
momento, o último título conquistado pela Ferrari, que passou praticamente uma década
sem conquistar novamente um título na F-1. É um desses raros momentos em que todos
poderão presenciar uma reunião de pilotos de grande estirpe, que ainda tem
muito o que mostrar, acompanhados de uma nova geração de talentos que promete
explodir em breve na categoria máxima do automobilismo, como Max Verstappen,
que já está fazendo e acontecendo, assim como Daniel Riciardo, e nomes como
Esteban Ocon, que a cada dia mostra-se mais capaz e veloz, entre alguns outros.
Nos vemos em Interlagos na semana que vem, e espero que tenhamos outra grande
corrida, assim como várias que tivemos este ano, com muitas disputas e duelos.
E Hamilton ostentando com grande orgulho e mérito seu novo título de
tetracampeão da F-1.
Um comentário:
Vettel largou na pole, disputou a primeira curva com Mad Max, perdeu, e ao ver que havia sido ultrapassado também pelo Hamilton, o emocional do alemão se manifestou. Nunca foi o seu forte! Não mediu as consequências da extensão de um ato impensado, como em Baku e em Cingapura: tocou com o aerofólio dianteiro no pneu traseiro esquerdo de Hamilton...
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