sexta-feira, 24 de novembro de 2017

UM SENNA NOVAMENTE CAMPEÃO



Bruno Senna comemora, no pódio de Sakhir,a vitória e o título de 2017 na classe LMP2 do Mundial de Endurance.

            Para muitos brasileiros, ficamos órfãos no automobilismo internacional após o último título conquistado por Ayrton Senna – o tricampeonato de Fórmula 1, em 1991, e o universo das corridas perdeu a graça desde então. Nada mais equivocado. É verdade que, com o falecimento de Ayrton em 1994, deixamos de ser protagonistas na categoria máxima do automobilismo, com algumas raras exceções nestes últimos 23 anos, mas tivemos conquistas em outros campeonatos, talvez menos famosos, e menos divulgados por aqui, mas nem por isso fáceis ou desinteressantes. Mas, eis que, após 26 anos, o sobrenome Senna volta ao topo de um campeonato de automobilismo. Sim, é isso mesmo: Senna novamente campeão! E não foi uma conquista à toa, podem apostar.
            Bruno Senna tornou-se, no último domingo, campeão da classe LMP2 (Le Mans Prototype 2), vencendo as Seis Horas do Bahrein na respectiva categoria. Junto de seu companheiro de equipe, o francês Julien Canal, fechou o ano com 186 pontos, terminando o ano com nada menos que 4 vitórias e uma pole-position, defendendo a equipe Rebellion. Em 14 anos de carreira, desde que optou por seguir novamente os passos de Ayrton Senna, foi o primeiro título conquistado por Bruno, que até então, tinha como melhor resultado o vice-campeonato na GP2 em 2008. Apesar de algumas vitórias, faltava um título. Bruno começou a correr ainda garoto, tendo como inspiração seu tio Ayrton, mas ele interrompeu sua carreira por 10 anos, após a morte de Senna, em 1994, estreando como piloto profissional apenas em 2004, começando nas Fórmulas Renault Challenge asiática e BMW, passando então pela F-3 inglesa, Porsche Supercup, GP2, Le Mans Series, entre outras. Quando chegou à F-1, não teve a sorte de possuir um carro competitivo logo de cara. Em sua estréia, em 2010, pela Hispania, o pior carro do grid, ele arrastou-se pelos fins dos grids, sem as mínimas condições de mostrar do que era capaz. No ano seguinte, entrou na segunda metade do campeonato, substituindo Nick Heidfeld na Lotus, um time que havia entrado em crise após perder Robert Kubica no início do ano em um acidente de rali. Bruno mostrou seu talento, mas não conseguiu obter os resultados necessários para continuar na escuderia. No ano seguinte, ele teve sua melhor chance, na Williams, mas apenas esquentou banco para a chegada de Valtteri Bottas em 2013, mesmo tendo sido mais regular e técnico do que o venezuelano Pastor Maldonado.
A semelhança física com Ayrton, quando está de capacete, impressiona. Mas pára por aí. Bruno não é um piloto fenomenal como o tio, mas também não é um piloto qualquer.
            Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, sempre foi questionado pelos fãs em termos de talento. Sendo um “Senna”, ele teria, na opinião destes, a missão de resgatar a mítica do nome que se tornou lenda no mundo das corridas, graças a seu tio Ayrton. E olhando para Bruno, especialmente com o capacete, quase idêntico ao usado por seu famoso tio, é impossível não notar a grande semelhança, como se Ayrton ainda estivesse entre nós, no auge, e com a juventude preservada. Mas, é preciso encarar a realidade: Bruno nunca foi Ayrton... Ele é um Senna, sim, mas o Bruno... Para os torcedores, isso não bastava: Bruno precisava ser o que seu tio foi, assim como qualquer outra promessa brasileira nas pistas.
            Verdade seja dita: Bruno não é o fenômeno que seu tio foi, mas está longe de ser um mau piloto. Se levarmos em conta a década “perdida” do rapaz, que viu o tio falecer nas pistas, e pouco tempo depois também perdeu o pai, deixar as corridas de lado era o mais “racional” a fazer, uma vez que a família estava traumatizada com os acontecimentos. Mas Viviane, mãe de Bruno, sabia que o filho queria correr, e anos depois, o liberou para seguir o seu sonho. O sobrenome, claro, ajudou Bruno em vários momentos, mas nas cobranças, ele também atrapalhava. Afinal, era um “Senna”. Ayrton chegou a se casar, mas se divorciou antes de fazer sucesso como piloto, e nunca teve filhos, ao contrário de Piquet e a família Fittipaldi, cujas novas gerações estão por aí até hoje. Cabia a Bruno defender o “legado” de Senna, ou para muitos, o mito que Ayrton foi. E justamente por isso, o tempo que Bruno perdeu entre a morte do tio e o início efetivo de sua carreira na Europa, tiveram de ser recuperados da melhor forma possível, e ele não se saiu mal.
            Em seu primeiro ano na F-3 inglesa, em 2005, ele foi o 10º colocado no campeonato, tendo subido ao pódio 3 vezes, e feito uma pole. Podia parecer pouco, afinal, estava competindo pelo bem estruturado time de Steve Robertson, uma das forças da categoria, mas não era o fim do mundo. No ano seguinte, Bruno mostraria a que veio, obtendo suas primeiras vitórias. Foram 9 pódios, com 5 vitórias e 3 poles, terminando o ano em 3º lugar. Ainda em 2006, ele terminou em 1º lugar no Grande Prêmio Australiano de F-3, vencendo 3 das 4 provas da disputa. Se não era um fora de série, estava muito bom para quem havia começado a correr praticamente dois anos antes. Em 2007, sua principal atividade foi a disputa da GP2, terminando o ano em 8º lugar, e vencendo uma corrida, competindo pela equipe Arden. No ano seguinte, defendendo a iSport, foi vice-campeão, com 6 pódios, entre eles duas vitórias, sendo uma delas justamente no Principado de Mônaco, onde Ayrton vencera 6 vezes, um momento antológico para todos e para o próprio Bruno, de vencer onde seu tio havia triunfado tantas vezes. Ao fim do ano, tudo estava pronto para o jovem Senna ser piloto titular da Honda na F-1 em 2009, reeditando a parceria Honda-Senna que havia sido tão vitoriosa entre 1987 e 1992, mas o abandono repentino da fábrica japonesa abortou a entrada do rapaz na F-1 em 2009, levando-o a disputar algumas provas da Le Mans Series. Em 2010, ele enfim faria sua estréia na categoria máxima do automobilismo, mas em um time sem as mínimas condições de mostrar seu talento. No ano seguinte, passaria a temporada apenas como piloto de testes da Lotus, não fosse a demissão do alemão Nick Heidfeld na segunda metade do campeonato. Bruno, enfim, teria melhores chances de mostrar do que era capaz, e sua participação nas corridas foi cheia de nostalgia, afinal, era um Senna pilotando a Lotus que reeditava a mítica pintura preta e dourada que havia sido defendida por seu tio entre 1985 e 1986.
A estréia na F-1 ocorreu em 2010, com o sofrível carro da Hispania. No ano seguinte, pela Lotus, marcaria os primeiros pontos na categoria (abaixo).
            Mas os resultados foram fracos, com Bruno marcando apenas 2 pontos. Contratado a tempo integral pela Williams em 2012, mesmo que por apenas aquela temporada, era a chance de sua afirmação, mas Bruno não conseguiu um lugar para o ano seguinte. O jovem então competiu no Mundial de Endurance, defendendo a Aston Martin nas classes de Turismo, e correndo em outras provas aqui e ali, procurando se estabelecer. No ano seguinte, com a estréia da Fórmula-E, ele foi um dos pilotos titulares da equipe Mahindra, e participou das duas primeiras temporadas da categoria, terminando a primeira em 10º lugar, com40 pontos; e a segunda em 11º, com 52 pontos. Ele acabou dispensado para a terceira temporada, e reencontrou-se novamente no Mundial de Endurance, defendendo a equipe RGR Sport na classe LMP2 da competição, onde finalmente se estabeleceu, e começou a ganhar seu merecido prestígio e respeito: terminou a competição como vice-campeão, ao lado do português Felipe Albuquerque e do mexicano Ricardo González, obtendo duas vitórias e uma pole-position.
            Neste ano,o brasileiro defendeu a Rebellion, time que até então vinha disputando a classe LMP1, mas resolveu descer à classe LMP2 por questões de custos. E a batalha foi acirrada durante todo o campeonato, em especial com a equipe Jackie Chan DC Racing, que começou o ano de forma contundente, vencendo 3 das primeiras 4 provas do ano, incluída aí o triunfo na LMP2 nas 24 Horas de Le Mans, onde a pontuação é dobrada. Le Mans, aliás, foi o ponto mais”baixo” da temporada para Bruno Senna, com o carro Nº 31 terminando apenas em 6º lugar. Até então, eles haviam obtido dois segundos lugares nas primeiras duas provas, repetindo o feito em Nurburgring. A partir daí, a Rebellion deslanchou no campeonato, com 4 vitórias nas 5 provas seguintes, só não triunfando nos Estados Unidos, onde foi a 3º colocada com o carro 31, mas ficou em 2º lugar com seu segundo carro, o Nº 13, que tinha entre seus pilotos o brasileiro Nelsinho Piquet.
Bruno Senna chega aos boxes da pista do Bahrein com os companheiros Nicolas Prost e Julien Canal. Prost, contudo, por não ter disputado uma das corridas, não chegou ao título, que ficou apenas para o seu compatriota e o brasileiro.
            Não foi uma conquista fácil. E domingo passado, no Bahrein, a Rebellion ainda precisou de estratégia para superar o time de Jackie Chan na pista, com quem disputava o título da classe LMP2, sendo que coube a Bruno guiar no stint final da prova, tendo inclusive problemas com o sistema hidráulico do carro, que deixou a direção pesada, e o fez perder performance. Bruno, contudo, ficou firme, conseguiu se manter à frente dos adversários, e cruzou a linha de chegada com determinação, conquistando a vitória, e sendo finalmente campeão. Não só isso: Bruno repete o feito de Raul Boesel, que exatos 30 anos atrás, tornou-se o primeiro piloto brasileiro a ser campeão no Mundial de Endurance, à época defendendo a equipe Jaguar. Curiosamente, muitos desconhecem a conquista de Boesel, já que no mesmo ano, Nélson Piquet conquistou o tricampeonato de F-1 pela Williams, o que atraiu a grande maioria da imprensa esportiva brasileira, até pelo campeonato de provas de longa duração ser muito pouco conhecido no Brasil.
            Da mesma maneira, muitos brasileiros também não deram muito valor às conquistas de Nelsinho Piquet e Lucas Di Grassi como campeões da Fórmula-E, uma vez que o campeonato de carros elétricos é muito novo, e igualmente pouco conhecido em nosso país. O Mundial de Endurance, que inclusive já teve algumas provas disputadas por aqui, segue ignorado pela grande massa de “torcedores” nacionais, ficando mais restrito ao círculo dos torcedores de automobilismo. E, até pela conquista ter sido obtida na classe LMP2, e não na LMP1, a mais visada, muitos tenderão a dizer que não é um título muito importante no automobilismo, o que é uma grande bobagem. A classe LMP2 teve nada menos do que 10 times competindo de forma acirrada neste ano, ao passo que na LMP1, a disputa ficou restrita aos 4 carros das equipes Porsche e Toyota. Em outras palavras, os duelos foram muito mais parelhos na LMP2, mesmo que Rebellion e Jackie Chan DC tenham sido as protagonistas da disputa.
            Bruno Senna, ao lado de Julien Canal, é campeão com todos os méritos, pelo empenho, e pela performance exibida na pista. Ao conquistar o seu primeiro título, Bruno sai da sombra de seu tio Ayrton, e poderá trilhar com muito mais propriedade sua trajetória no mundo do automobilismo a partir de agora, começando pelo desafio de competição da próxima temporada, onde certamente continuará no Mundial de Endurance, tendo seu nome consolidado na categoria como campeão. Aos brasileiros que preferirem ignorar esta importante conquista do piloto, azar o deles. Para Bruno, foi um momento histórico para ele, uma conquista merecida, e respeitada por muitos. Ele já disse que nunca seria Ayrton, mas apenas o Bruno. E está se saindo muito bem, enfim. Mesmo que esteja longe da F-1, que parece ser a única categoria na qual os brasileiros prestam atenção, mesmo que no ano que vem não tenhamos nenhum representante por lá. Bruno está feliz, e começa a se sentir realizado como piloto, sendo campeão. E é o que é importante para ele. Parabéns pela conquista, Bruno, e por fazer do sobrenome Senna novamente campeão no universo do automobilismo internacional!


A F-1 está encerrando o ano, e hoje começam os treinos oficiais em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, para a disputa da última prova do ano. Na pista, a disputa mais relevante é pelo vice-campeonato, praticamente garantido por Sebastian Vettel após a vitória em Interlagos, na última corrida. Valtteri Bottas ainda tem chances matemáticas, mas precisa vencer a corrida, além de torcer para Vettel não marcar pontos, pois está 22 pontos atrás do alemão da Ferrari, e o desempenho do finlandês na corrida brasileira infelizmente não o credencia a merecer tal conquista, pela apatia demonstrada no duelo contra o piloto da Ferrari. Um pouco mais atrás, Daniel Ricciardo, com 200 pontos, defende sua 4ª colocação contra Kimi Raikkonem, que está apenas 7 pontos atrás do piloto da Red Bull, e ficou o ano todo em segundo plano na Ferrari. E a briga está liberada na pista para a Force India, com o 4º lugar já assegurado no Mundial de Construtores, o que já ocorreu no Brasil, mas sem vermos um duelo entre seus pilotos, uma vez que Esteban Ocon abandonou a prova logo no início ao ser tocado por Romain Grosjean. As expectativas de uma boa corrida, contudo, esbarram no péssimo traçado do circuito de Yas Marina, que apesar de contar com uma grande reta, não é favorável às ultrapassagens como muitos podem imaginar. Aliás, circuitos que não favoreçam boas corridas podem estar com os dias contados no campeonato. A Liberty Media pretende rever os conceitos dos circuitos, e alguns autódromos, muito provavelmente aqueles projetados por Hermann Tilke, tem tudo para ficarem em baixa na categoria, e até deixarem o campeonato, ao vencimento dos atuais contratos de corridas em vigor. Ainda é cedo para comemorar, entretanto. Aguardemos o desenvolvimento dessa idéia, e de como isso será feito, em busca de melhorar as disputas na pista.
Imponente, a pista de Yas Marina, em Abu Dhabi, não proporciona boas corridas na F-1. GP encerra a temporada 2017.


Felipe Massa se despede da F-1 em Abu Dhabi, e afirmou já saber quem ocupara seu lugar na Williams no próximo ano. A equipe inglesa, claro, nega, mas Robert Kubica deve ser o novo titular da escuderia de Grove em 2018. O polonês, inclusive, irá testar nos dois dias que a F-1 terá em Yas Marina, na semana que vem, pela Williams. Todos ficam na expectativa de saber como Kubica, que era apontado como um futuro campeão até sofrer o acidente no rali que quase o matou e deixou fortes sequelas em um de seus braços, se apresentará de fato com um carro atual de F-1, e se ele conseguirá mostrar a performance exigida para extrair o máximo destes bólidos. A conferir na semana que vem...

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