Apesar dos esforços da Ducati, não teve jeito: Marc Márquez conquistou o título da MotoGp 2018 e chegou ao tetracampeonato. |
A torcida era grande
para vermos um novo e inesperado campeão na MotoGP, mas a dura realidade se
impôs, e Marc Márquez, piloto do time oficial da Honda, chegou ao
tetracampeonato na classe rainha do motociclismo, coroando mais um ano célebre
de sua curta, mas meteórica carreira na MotoGP. Diferente das duas primeiras temporadas,
em 2013 e 2014, onde arrasou seus concorrentes, nestes últimos dois anos a “Formiga
Atômica” precisou se empenhar a fundo para novamente conquistar o título,
mostrando ter amadurecido e aprendido a lidar com seu excesso de arrojo e
determinação, que o fizeram perder o título da temporada de 2015, batido pela
dupla da arquirrival Yamaha.
Aliás, a equipe dos
três diapasões até iniciou a temporada dando pinta de que seria o time a ser
batido, inclusive com Maverick Viñales a despontar como favorito ao título destacado,
graças a nada menos do que três vitórias nas primeiras cinco provas do ano. Até
então, a Honda havia obtido apenas dois triunfos, com cada um de seus pilotos a
vencer uma corrida. Não parecia que o rumo da competição tomaria outra direção
logo a seguir, na etapa de Mugello, onde Andrea Dovizioso mostrou-se impecável
com a Ducati, repetindo a dose na prova seguinte, em Barcelona, e embolando o
campeonato, com a perspectiva de que teríamos três times a batalhar pelo
título. A prova da Holanda, no tradicional circuito de Assen, até colaborava
para essa afirmação, com uma vitória de Valentino Rossi, indicando que a Yamaha
iria mesmo brigar pelo título. Quanto à Ducati, por melhores que fossem as expectativas,
muitos apostavam que a marca italiana ainda tinha que melhorar muito para poder
desafiar efetivamente as duas forças supremas da categoria.
Tanto é que, na
Alemanha e República Techeca, Marc Márquez voltou a mostrar porque ele era o
atual tricampeão da categoria, entrando firme na luta pelo título, o que até então
não tinha dado mostras convincentes de fazer. O piloto vinha se mantendo entre
os primeiros na classificação, mas parecia não assustar como em outros tempos.
Poderia brigar, mas ninguém mais se intimidaria perante ele. Fora o fato de já
colecionar dois abandonos, e ter perdido pontos importantes no campeonato, que
parecia bem equilibrado, e onde cada ponto perdido poderia fazer a diferença.
Mas tudo mudou a partir de Sachsenring, e desde então voltamos a ver o velho e
arrojado Marc Márquez na disputa, com sua estonteante velocidade. Não por
acaso, Marc arrebatou a pole-position em quatro provas consecutivas, da
Alemanha à Grã-Bretanha, mostrando uma forma impecável nas classificações.
Felizmente, o destino
do campeonato não estava fadado a ser um desfile de Márquez correndo livre para
o seu quarto título. Andrea Dovizioso mostrou que a Ducati, enfim, estaria
pronta para brigar pelo título, após muitos anos de promessas e falta de
resultados. O piloto italiano conquistou uma vitória heroica em Zeltweg,
superando Márquez na última volta para vencer pela 3º vez na temporada, e em
Silverstone, Andrea não apenas repetiria a dose, vencendo pela 4ª vez no ano,
como ainda veria Márquez abandonando a prova, ficando sem marcar pontos. A esta
altura, a dupla da Yamaha já havia ficado para trás, vítima da queda de
performance de suas motos: Viñales já não assustava como fazia no início do
ano, e Valentino Rossi acumulava resultados abaixo do esperado, e ambos já
encaravam as dificuldades de tentarem se manter vivos na luta pelo título.
Surpreendendo a todos, Andrea Dovizioso venceu seis corridas na temporada e terminou como vice-campeão com todos os méritos. |
Já estava nítido que a
Honda, com Márquez, era o favorito ao título, enquanto todos se perguntavam se
a Ducati, em que pese a campanha excepcional de Andrea Dovizioso, teria forças
para chegar enfim ao título, depois de tanto tempo. Márquez bem que tentou
encerrar a questão, com duas vitórias contundentes em Misano e Aragão, mas o
problema é que o rival da marca de Borgo Panigale não se intimidou: apesar de um
resultado morno em Aragão, Dovizioso contou mais uma vez com São Pedro para
embaralhar as chances e novamente surpreender Marc no Japão, novamente roubando
um triunfo certo do piloto da Honda em casa, e vencendo pela 5ª vez no ano, e
igualando-se ao rival tricampeão em número de vitórias na temporada. A disputa
até então vinha sendo razoavelmente parelha: Márquez tinha a seu favor seu
imenso talento, e a força da Honda, a melhor moto da competição, mas Dovizioso,
na melhor temporada de toda a sua carreira, não apenas não se deixava
intimidar, como conseguir igualar as forças, chegando à reta final da competição
com chances reais de levar o título, e dar à Ducati seu segundo campeonato
mundial na classe rainha. Estava sendo bom demais para ser verdade.
Por isso mesmo, foi
duro ter de cair na real, mas na Austrália, Márquez não apenas se impôs, vencendo
pela 6ª vez no ano, como Andrea, na pior prova da temporada em que cruzou a
linha de chegada, finalizou em um pífio 13º lugar. A disputa do título, a
partir dali, penderia definitivamente para o então tricampeão mundial da Honda.
Mas, como a esperança é a última que morre, eis que Dovizioso ainda conseguiu
um lampejo de esperança ao vencer novamente, na Malásia, e ao menos impedir que
a disputa do título não chegasse à última corrida, graças ao 4] lugar do rival
espanhol.
Mas seria preciso um
milagre para que o italiano levasse o título, e desde o início da corrida,
Márquez tratou de mostrar que não daria chances ao rival. Largando da pole,
Marc nem se preocupou tanto em ser superado por Johann Zarco, que assumiu a
ponta e parecia destinado a vencer na derradeira etapa do campeonato. O importante
era evitar riscos e manter Dovizioso na mira. Na verdade, a tarefa do espanhol foi
até facilitada por seu conterrâneo Jorge Lorenzo, que acabou atrapalhando a
corrida de seu companheiro de equipe na Ducati não o deixando ultrapassá-lo na
pista para tentar um ataque. Por mais difícil que fossem as possibilidades de
Andrea ser campeão, devia-se dar uma chance ao italiano de partir para o
ataque, e quem sabe o que poderia ter acontecido nesta disputa?
Jorge Lorenzo não deixou Dovizioso ultrapassá-lo na pista e impediu que o parceiro duelasse com Márquez a fundo na disputa pelo título na etapa final em Valência. |
Dovizioso andava
claramente mais veloz que Lorenzo, mas este não lhe dava nenhuma chance de ultrapassagem,
mesmo contrariando as ordens do time para deixar o parceiro ir para a frente
testar suas chances. Quem sabe o que poderia ter acontecido, ainda mais que Márquez
deu uma escapada de pista, por pouco não abandonando a corrida. E isso em tese
sem pressão de disputa por posição naquele momento. Imagine se estivesse a
duelar com Dovizioso pelo título? Jamais saberemos. A atitude de Lorenzo,
ignorando as aspirações da Ducati como um time, foram o anticlímax do que
poderia ser um duelo renhido pela taça de campeão, mesmo com poucas hipóteses
de Dovizioso conquistá-la, dada a diferença de pontos entre ambos. A queda de
Lorenzo acabou comemorada por muitos torcedores, como um castigo pelo espanhol
ter acabado de vez com as poucas chances do parceiro de ser campeão. Infelizmente,
a queda de Dovizioso, na volta seguinte, foi a pá de cal que encerrou a
competição antes da bandeirada, acabando com uma disputa que deixou os
torcedores eletrizados durante a maior parte do campeonato. O triunfo na
corrida de Valência ficou com Dani Pedrosa, em mais uma temporada em que ficou
completamente à sombra de seu parceiro de equipe, sem sequer conseguir disputar
o título.
Márquez chegou ao
título com todos os méritos. Com seis triunfos no ano, ele foi bem mais
constante que Dovizioso, e soube ser agressivo nos momentos certos, para
inflingir derrotas contundentes aos rivais, para desgarrar na reta final, mesmo
que tardiamente, e levar o seu 4º título em 5 temporadas na MotoGP, um
fenômeno, e que pode levar o jovem espanhol a se tornar o maior vencedor de todos
os tempos da classe rainha do motociclismo, superando as grandes lendas das
duas rodas, como Giácomo Agostini, e Valentino Rossi. Desde sua estréia na
MotoGP, em 2013, já disputou 90 corridas, conquistando 35 vitórias, 45 poles,
63 pódios, 1.535 pontos, e 37 voltas mais rápidas. Números impressionantes.
Claro que dispor de uma das mais competitivas motos do grid ajuda, mas quando
fazemos a comparação com Dani Pedrosa, seu companheiro de time nestas cinco
temporadas, a diferença de resultados é gritante: Pedrosa conseguiu apenas 9
vitórias, 7 poles, 41 pódios, 1.117 pontos, e 9 voltas mais rápidas. A “pior”
temporada da “Formiga Atômica” foi em 2015, quando terminou a temporada em 3º
lugar. Já Pedrosa teve seu melhor ano como companheiro de Márquez em 2013,
terminando a competição em 3º. Em 2014, 2015, e este ano, finalizou em 4º
lugar, enquanto no ano passado, foi apenas o 6º. Descontados os problemas
extra-pista, como a cirurgia que Dani precisou fazer no braço, e que o tirou de
várias etapas, ainda assim, é um desempenho bem discrepante, que apenas reforça
o imenso talento de Márquez, que não apenas ganhou uma moto competitiva para
fazer sucesso: ele fez este sucesso acontecer, e certamente continuará fazendo
pelas próximas temporadas.
Dani Pedrosa superou Johann Zarco para vencer a última corrida do ano, mas foi mais uma temporada em que ficou à sombra do parceiro Marc Márquez na Honda. |
Menos talentoso e
badalado que o novo tetracampeão, Andrea Dovizioso fecha o ano como campeão “moral”.
Com um equipamento ligeiramente inferior à da rival Honda, o italiano fez um
campeonato de alto nível, onde deixou de marcar pontos em apenas duas corridas,
mas foi menos constante que o rival, sendo seu ponto mais baixo justamente na
Austrália, na parte final da temporada, justamente quando precisava dar uma
resposta cabal para manter-se firme na luta pelo título. Seus piores resultados
na bandeirada até então no ano haviam sido na Alemanha (8º) e em Aragão (7º).
Suas vitórias em Zeltweg e Motegi, obtidas nos momentos finais de ambas as
provas, quando muitos já esperavam por mais vitórias de Marc Márquez,
levantaram o público não apenas nas arquibancadas dos autódromos, como em frente
às TVs no mundo inteiro, pela luta travada até os metros finais das corridas,
mostrando que tudo só termina realmente na bandeirada. Não por acaso, Andrea foi
recebido com aplausos ao chegar ao box da Ducati, em Valência, após a queda que
liquidou de vez suas parcas expectativas de ser campeão. Até os integrantes dos
times rivais cumprimentaram o piloto do time italiano pela grande temporada realizada,
num respeito mais do que sincero ao que Andrea conseguiu este ano. Um
reconhecimento mais do que merecido, não apenas para o piloto, mas também para
a Ducati, que esperava lutar efetivamente pelo título em 2018, mas o grande
empenho de todos na escuderia de Borgo Panigale, bem como às inspiradas
performances de Dovizioso, conseguiram antecipar já para esta temporada.
E espera-se um duelo
ainda mais acirrado para o ano que vem. A Honda deve manter sua força, e a
Yamaha poderá voltar com força total à disputa. E por isso mesmo, a Ducati não
pode relaxar, e continuar trabalhando ainda com mais afinco, para mais uma vez
lutar contra as rivais pelo título da competição, não apenas como fez este ano,
mas melhor, para propiciar a Dovizioso a força que lhe faltou em determinados
momentos do ano, que o fizeram ficar abaixo do rival Márquez, quando a moto não
foi tão competitiva como poderia ser. E que Andrea possa ser ainda mais efetivo
e habilidoso para mais uma vez estar lá na frente lutando por um título que o
italiano já mostrou ser capaz de merecer conquistar. Falta apenas combinar com
os rivais, especialmente com Marc Márquez, que já está pensando em seu 5º
título, e será o homem a ser batido no mundo das duas rodas.
Que venha o campeonato
da MotoGP de 2018! Emoções certamente não faltarão...
Contratado a peso de ouro pela
Ducati para reerguer o time e levar a equipe italiana de volta à disputa pelo
título da MotoGP, Jorge Lorenzo foi a grande decepção da temporada, tendo
muitos problemas e dificuldades para se adaptar ao estilo de condução da
Desmosédici. Ele próprio admitiu isso, após ficar atrás de Andrea Dovizioso na
imensa maioria das provas da temporada, conseguindo superar o parceiro de time
apenas raramente na pista. Mas, se teve algo que ajudou o espanhol a cair ainda
mais no conceito de todos, foi o seu comportamento na corrida final da
temporada, em Valência, onde recusou-se a fazer o jogo de equipe para favorecer
Dovizioso na luta pelo título, não deixando o parceiro ultrapassá-lo na pista. Ele
reconheceu que foi errado, mas isso não diminuiu o mal-estar dentro do time,
que procurou não causar celeuma, e não o crucificou pela atitude, pelo menos
não publicamente, assim como Andrea. Sou contra o jogo de equipe, por achar que
um piloto, se quiser ser campeão, precisa fazê-lo na pista, sem conchavos ou
favorecimentos. Só abro uma exceção, quando se trata justamente da última
corrida, e apenas um dos pilotos pode ter chance de ser campeão, se o outro já não
tem chances matemáticas para isso. Era o caso de Valência. Por mais que as
posições na pista àquela altura já confirmassem o título para Marc Márquez,
Lorenzo deveria ter deixado o parceiro ultrapassá-lo, e tentar o ataque contra
o rival. Poderia ter acontecido de tudo neste duelo, até mesmo o abandono de
Márquez, que se sem pressão, quase deu adeus à prova quando saiu da pista, o
que não teria havido numa luta roda a roda com Dovizioso? Valia a tentativa. Ao
simplesmente recusar-se a fazer isso, ignorando o sentimento de competição do próprio
time, que havia devotado seus esforços para dar o melhor de si a seus dois
pilotos, Lorenzo deu uma amostra de um comportamento egoísta que pode lhe fazer
falta quando precisar de um empenho similar por parte da Ducati, por não ter
corrido pelo time, em uma prova onde ele não precisaria se sacrificar tanto
assim pelo parceiro. Mas repito: é a única situação em que acho o jogo de
equipe válido, e ainda sou terminantemente contra quando um time já opta por
apenas um de seus pilotos desde o início do ano, relegando um deles às “sobras”,
enquanto apenas um concentra todos os esforços do time. Sei que sou muito
idealista e ético demais nesta posição, mas é a minha opinião, e não sou
obrigado a aceitar as palhaçadas que já vi em várias ocasiões, em outras
categorias, estragando as chances de outros pilotos e arruinando as
expectativas de várias corridas que poderiam muito bem ter sido bem melhores,
se isso não fosse levado tão a extremos, sem a necessidade para tanto...
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