quinta-feira, 16 de novembro de 2017

MÁRQUEZ TETRACAMPEÃO


Apesar dos esforços da Ducati, não teve jeito: Marc Márquez conquistou o título da MotoGp 2018 e chegou ao tetracampeonato.

            A torcida era grande para vermos um novo e inesperado campeão na MotoGP, mas a dura realidade se impôs, e Marc Márquez, piloto do time oficial da Honda, chegou ao tetracampeonato na classe rainha do motociclismo, coroando mais um ano célebre de sua curta, mas meteórica carreira na MotoGP. Diferente das duas primeiras temporadas, em 2013 e 2014, onde arrasou seus concorrentes, nestes últimos dois anos a “Formiga Atômica” precisou se empenhar a fundo para novamente conquistar o título, mostrando ter amadurecido e aprendido a lidar com seu excesso de arrojo e determinação, que o fizeram perder o título da temporada de 2015, batido pela dupla da arquirrival Yamaha.
            Aliás, a equipe dos três diapasões até iniciou a temporada dando pinta de que seria o time a ser batido, inclusive com Maverick Viñales a despontar como favorito ao título destacado, graças a nada menos do que três vitórias nas primeiras cinco provas do ano. Até então, a Honda havia obtido apenas dois triunfos, com cada um de seus pilotos a vencer uma corrida. Não parecia que o rumo da competição tomaria outra direção logo a seguir, na etapa de Mugello, onde Andrea Dovizioso mostrou-se impecável com a Ducati, repetindo a dose na prova seguinte, em Barcelona, e embolando o campeonato, com a perspectiva de que teríamos três times a batalhar pelo título. A prova da Holanda, no tradicional circuito de Assen, até colaborava para essa afirmação, com uma vitória de Valentino Rossi, indicando que a Yamaha iria mesmo brigar pelo título. Quanto à Ducati, por melhores que fossem as expectativas, muitos apostavam que a marca italiana ainda tinha que melhorar muito para poder desafiar efetivamente as duas forças supremas da categoria.
            Tanto é que, na Alemanha e República Techeca, Marc Márquez voltou a mostrar porque ele era o atual tricampeão da categoria, entrando firme na luta pelo título, o que até então não tinha dado mostras convincentes de fazer. O piloto vinha se mantendo entre os primeiros na classificação, mas parecia não assustar como em outros tempos. Poderia brigar, mas ninguém mais se intimidaria perante ele. Fora o fato de já colecionar dois abandonos, e ter perdido pontos importantes no campeonato, que parecia bem equilibrado, e onde cada ponto perdido poderia fazer a diferença. Mas tudo mudou a partir de Sachsenring, e desde então voltamos a ver o velho e arrojado Marc Márquez na disputa, com sua estonteante velocidade. Não por acaso, Marc arrebatou a pole-position em quatro provas consecutivas, da Alemanha à Grã-Bretanha, mostrando uma forma impecável nas classificações.
            Felizmente, o destino do campeonato não estava fadado a ser um desfile de Márquez correndo livre para o seu quarto título. Andrea Dovizioso mostrou que a Ducati, enfim, estaria pronta para brigar pelo título, após muitos anos de promessas e falta de resultados. O piloto italiano conquistou uma vitória heroica em Zeltweg, superando Márquez na última volta para vencer pela 3º vez na temporada, e em Silverstone, Andrea não apenas repetiria a dose, vencendo pela 4ª vez no ano, como ainda veria Márquez abandonando a prova, ficando sem marcar pontos. A esta altura, a dupla da Yamaha já havia ficado para trás, vítima da queda de performance de suas motos: Viñales já não assustava como fazia no início do ano, e Valentino Rossi acumulava resultados abaixo do esperado, e ambos já encaravam as dificuldades de tentarem se manter vivos na luta pelo título.
Surpreendendo a todos, Andrea Dovizioso venceu seis corridas na temporada e terminou como vice-campeão com todos os méritos.
            Já estava nítido que a Honda, com Márquez, era o favorito ao título, enquanto todos se perguntavam se a Ducati, em que pese a campanha excepcional de Andrea Dovizioso, teria forças para chegar enfim ao título, depois de tanto tempo. Márquez bem que tentou encerrar a questão, com duas vitórias contundentes em Misano e Aragão, mas o problema é que o rival da marca de Borgo Panigale não se intimidou: apesar de um resultado morno em Aragão, Dovizioso contou mais uma vez com São Pedro para embaralhar as chances e novamente surpreender Marc no Japão, novamente roubando um triunfo certo do piloto da Honda em casa, e vencendo pela 5ª vez no ano, e igualando-se ao rival tricampeão em número de vitórias na temporada. A disputa até então vinha sendo razoavelmente parelha: Márquez tinha a seu favor seu imenso talento, e a força da Honda, a melhor moto da competição, mas Dovizioso, na melhor temporada de toda a sua carreira, não apenas não se deixava intimidar, como conseguir igualar as forças, chegando à reta final da competição com chances reais de levar o título, e dar à Ducati seu segundo campeonato mundial na classe rainha. Estava sendo bom demais para ser verdade.
            Por isso mesmo, foi duro ter de cair na real, mas na Austrália, Márquez não apenas se impôs, vencendo pela 6ª vez no ano, como Andrea, na pior prova da temporada em que cruzou a linha de chegada, finalizou em um pífio 13º lugar. A disputa do título, a partir dali, penderia definitivamente para o então tricampeão mundial da Honda. Mas, como a esperança é a última que morre, eis que Dovizioso ainda conseguiu um lampejo de esperança ao vencer novamente, na Malásia, e ao menos impedir que a disputa do título não chegasse à última corrida, graças ao 4] lugar do rival espanhol.
            Mas seria preciso um milagre para que o italiano levasse o título, e desde o início da corrida, Márquez tratou de mostrar que não daria chances ao rival. Largando da pole, Marc nem se preocupou tanto em ser superado por Johann Zarco, que assumiu a ponta e parecia destinado a vencer na derradeira etapa do campeonato. O importante era evitar riscos e manter Dovizioso na mira. Na verdade, a tarefa do espanhol foi até facilitada por seu conterrâneo Jorge Lorenzo, que acabou atrapalhando a corrida de seu companheiro de equipe na Ducati não o deixando ultrapassá-lo na pista para tentar um ataque. Por mais difícil que fossem as possibilidades de Andrea ser campeão, devia-se dar uma chance ao italiano de partir para o ataque, e quem sabe o que poderia ter acontecido nesta disputa?
Jorge Lorenzo não deixou Dovizioso ultrapassá-lo na pista e impediu que o parceiro duelasse com Márquez a fundo na disputa pelo título na etapa final em Valência.
            Dovizioso andava claramente mais veloz que Lorenzo, mas este não lhe dava nenhuma chance de ultrapassagem, mesmo contrariando as ordens do time para deixar o parceiro ir para a frente testar suas chances. Quem sabe o que poderia ter acontecido, ainda mais que Márquez deu uma escapada de pista, por pouco não abandonando a corrida. E isso em tese sem pressão de disputa por posição naquele momento. Imagine se estivesse a duelar com Dovizioso pelo título? Jamais saberemos. A atitude de Lorenzo, ignorando as aspirações da Ducati como um time, foram o anticlímax do que poderia ser um duelo renhido pela taça de campeão, mesmo com poucas hipóteses de Dovizioso conquistá-la, dada a diferença de pontos entre ambos. A queda de Lorenzo acabou comemorada por muitos torcedores, como um castigo pelo espanhol ter acabado de vez com as poucas chances do parceiro de ser campeão. Infelizmente, a queda de Dovizioso, na volta seguinte, foi a pá de cal que encerrou a competição antes da bandeirada, acabando com uma disputa que deixou os torcedores eletrizados durante a maior parte do campeonato. O triunfo na corrida de Valência ficou com Dani Pedrosa, em mais uma temporada em que ficou completamente à sombra de seu parceiro de equipe, sem sequer conseguir disputar o título.
            Márquez chegou ao título com todos os méritos. Com seis triunfos no ano, ele foi bem mais constante que Dovizioso, e soube ser agressivo nos momentos certos, para inflingir derrotas contundentes aos rivais, para desgarrar na reta final, mesmo que tardiamente, e levar o seu 4º título em 5 temporadas na MotoGP, um fenômeno, e que pode levar o jovem espanhol a se tornar o maior vencedor de todos os tempos da classe rainha do motociclismo, superando as grandes lendas das duas rodas, como Giácomo Agostini, e Valentino Rossi. Desde sua estréia na MotoGP, em 2013, já disputou 90 corridas, conquistando 35 vitórias, 45 poles, 63 pódios, 1.535 pontos, e 37 voltas mais rápidas. Números impressionantes. Claro que dispor de uma das mais competitivas motos do grid ajuda, mas quando fazemos a comparação com Dani Pedrosa, seu companheiro de time nestas cinco temporadas, a diferença de resultados é gritante: Pedrosa conseguiu apenas 9 vitórias, 7 poles, 41 pódios, 1.117 pontos, e 9 voltas mais rápidas. A “pior” temporada da “Formiga Atômica” foi em 2015, quando terminou a temporada em 3º lugar. Já Pedrosa teve seu melhor ano como companheiro de Márquez em 2013, terminando a competição em 3º. Em 2014, 2015, e este ano, finalizou em 4º lugar, enquanto no ano passado, foi apenas o 6º. Descontados os problemas extra-pista, como a cirurgia que Dani precisou fazer no braço, e que o tirou de várias etapas, ainda assim, é um desempenho bem discrepante, que apenas reforça o imenso talento de Márquez, que não apenas ganhou uma moto competitiva para fazer sucesso: ele fez este sucesso acontecer, e certamente continuará fazendo pelas próximas temporadas.
Dani Pedrosa superou Johann Zarco para vencer a última corrida do ano, mas foi mais uma temporada em que ficou à sombra do parceiro Marc Márquez na Honda.
            Menos talentoso e badalado que o novo tetracampeão, Andrea Dovizioso fecha o ano como campeão “moral”. Com um equipamento ligeiramente inferior à da rival Honda, o italiano fez um campeonato de alto nível, onde deixou de marcar pontos em apenas duas corridas, mas foi menos constante que o rival, sendo seu ponto mais baixo justamente na Austrália, na parte final da temporada, justamente quando precisava dar uma resposta cabal para manter-se firme na luta pelo título. Seus piores resultados na bandeirada até então no ano haviam sido na Alemanha (8º) e em Aragão (7º). Suas vitórias em Zeltweg e Motegi, obtidas nos momentos finais de ambas as provas, quando muitos já esperavam por mais vitórias de Marc Márquez, levantaram o público não apenas nas arquibancadas dos autódromos, como em frente às TVs no mundo inteiro, pela luta travada até os metros finais das corridas, mostrando que tudo só termina realmente na bandeirada. Não por acaso, Andrea foi recebido com aplausos ao chegar ao box da Ducati, em Valência, após a queda que liquidou de vez suas parcas expectativas de ser campeão. Até os integrantes dos times rivais cumprimentaram o piloto do time italiano pela grande temporada realizada, num respeito mais do que sincero ao que Andrea conseguiu este ano. Um reconhecimento mais do que merecido, não apenas para o piloto, mas também para a Ducati, que esperava lutar efetivamente pelo título em 2018, mas o grande empenho de todos na escuderia de Borgo Panigale, bem como às inspiradas performances de Dovizioso, conseguiram antecipar já para esta temporada.
            E espera-se um duelo ainda mais acirrado para o ano que vem. A Honda deve manter sua força, e a Yamaha poderá voltar com força total à disputa. E por isso mesmo, a Ducati não pode relaxar, e continuar trabalhando ainda com mais afinco, para mais uma vez lutar contra as rivais pelo título da competição, não apenas como fez este ano, mas melhor, para propiciar a Dovizioso a força que lhe faltou em determinados momentos do ano, que o fizeram ficar abaixo do rival Márquez, quando a moto não foi tão competitiva como poderia ser. E que Andrea possa ser ainda mais efetivo e habilidoso para mais uma vez estar lá na frente lutando por um título que o italiano já mostrou ser capaz de merecer conquistar. Falta apenas combinar com os rivais, especialmente com Marc Márquez, que já está pensando em seu 5º título, e será o homem a ser batido no mundo das duas rodas.
            Que venha o campeonato da MotoGP de 2018! Emoções certamente não faltarão...


Contratado a peso de ouro pela Ducati para reerguer o time e levar a equipe italiana de volta à disputa pelo título da MotoGP, Jorge Lorenzo foi a grande decepção da temporada, tendo muitos problemas e dificuldades para se adaptar ao estilo de condução da Desmosédici. Ele próprio admitiu isso, após ficar atrás de Andrea Dovizioso na imensa maioria das provas da temporada, conseguindo superar o parceiro de time apenas raramente na pista. Mas, se teve algo que ajudou o espanhol a cair ainda mais no conceito de todos, foi o seu comportamento na corrida final da temporada, em Valência, onde recusou-se a fazer o jogo de equipe para favorecer Dovizioso na luta pelo título, não deixando o parceiro ultrapassá-lo na pista. Ele reconheceu que foi errado, mas isso não diminuiu o mal-estar dentro do time, que procurou não causar celeuma, e não o crucificou pela atitude, pelo menos não publicamente, assim como Andrea. Sou contra o jogo de equipe, por achar que um piloto, se quiser ser campeão, precisa fazê-lo na pista, sem conchavos ou favorecimentos. Só abro uma exceção, quando se trata justamente da última corrida, e apenas um dos pilotos pode ter chance de ser campeão, se o outro já não tem chances matemáticas para isso. Era o caso de Valência. Por mais que as posições na pista àquela altura já confirmassem o título para Marc Márquez, Lorenzo deveria ter deixado o parceiro ultrapassá-lo, e tentar o ataque contra o rival. Poderia ter acontecido de tudo neste duelo, até mesmo o abandono de Márquez, que se sem pressão, quase deu adeus à prova quando saiu da pista, o que não teria havido numa luta roda a roda com Dovizioso? Valia a tentativa. Ao simplesmente recusar-se a fazer isso, ignorando o sentimento de competição do próprio time, que havia devotado seus esforços para dar o melhor de si a seus dois pilotos, Lorenzo deu uma amostra de um comportamento egoísta que pode lhe fazer falta quando precisar de um empenho similar por parte da Ducati, por não ter corrido pelo time, em uma prova onde ele não precisaria se sacrificar tanto assim pelo parceiro. Mas repito: é a única situação em que acho o jogo de equipe válido, e ainda sou terminantemente contra quando um time já opta por apenas um de seus pilotos desde o início do ano, relegando um deles às “sobras”, enquanto apenas um concentra todos os esforços do time. Sei que sou muito idealista e ético demais nesta posição, mas é a minha opinião, e não sou obrigado a aceitar as palhaçadas que já vi em várias ocasiões, em outras categorias, estragando as chances de outros pilotos e arruinando as expectativas de várias corridas que poderiam muito bem ter sido bem melhores, se isso não fosse levado tão a extremos, sem a necessidade para tanto...

Nenhum comentário: