As belas instalações do circuito da Malásia inauguraram a era dos "megautódromos" da F-1, em 1999. |
A Fórmula 1 segue em
direção às etapas finais da temporada de 2017, e hoje iniciam-se os treinos
oficiais para o Grande Prêmio da Malásia, que terá um gosto diferente para
todos, dentro e fora da pista. É a despedida do circuito e do país asiático do
calendário da categoria, tendo estreado em 1999, e de lá para cá marcado
presença constante na competição. Mas, os tempos são outros, a própria F-1 é
outra, e passou por diversas mudanças. E, na sistemática de cobrança cada vez
maior por parte de Bernie Ecclestone das taxas de promoção de um GP, aliados
aos anos de domínio ora da Red Bull, ora da Mercedes, nos últimos anos, os
malaios resolveram que a relação custo-benefício da corrida já não era mais
vantajosa como em seu início, e optaram por não renovar o atual contrato com a
FOM.
Portanto, após quase
20 anos, e 19 edições, contando com a corrida deste domingo, o Grande Prêmio da
Malásia encerrará sua história na F-1. Mesmo com a categoria máxima do
automobilismo agora sob comando do grupo norte-americano Liberty Media, Sepang
não estará no calendário daF-1 em 2018, e não tão já voltará. Claro que os
malaios podem mudar de idéia, e resolverem retornar um dia, mas no momento,
eles decidiram que o belo e majestoso circuito de Kuala Lumpur passará a ter
como maior evento de competição a etapa da MotoGP, muito mais acessível, e que
traz muito mais emoção e disputa do que os bólidos de Mercedes, Ferrari, Red
Bull & Cia. O Liberty Media, por sua vez, tem outras pistas e países em
mente para expandir o calendário no momento, e se sai a Malásia no próximo ano,
volta a França, o que para muitos, é um bônus, ainda mais por trazer o circuito
de Paul Ricard de volta à F-1. Todos torcem, então, para que esta corrida de
despedida de Sepang possa pelo menos oferecer uma corrida decente e com emoção
para todos.
Aliás, dependendo do
resultado da corrida malaia, poderemos ver se haverá maior disputa pelo título
da temporada 2017 ou não. Lewis Hamilton vem de três vitórias consecutivas, e
por mais que alguns digam que, com a vantagem acumulada, o inglês pode correr
de forma mais segura em Sepang, creio que podem tirar o cavalo da chuva.
Hamilton, se tiver condições, partirá para o ataque, para vencer pela quarta
vez consecutiva, e quebrar definitivamente o ânimo do adversário, no caso,
Sebastian Vettel.
Mas o tricampeão da
Mercedes teria seus motivos para não lutar a ferro e fogo pela vitória na
corrida, dependendo da situação. Uma delas seria o ocorrido no ano passado,
quando Lewis tinha tudo para vencer aqui, e sofreu uma quebra de motor que
certamente foi decisiva para a perda do título da temporada de 2016. A partir
dali, com o triunfo de Nico Rosberg no Japão, a corrida seguinte, o alemão pôde
administrar os resultados até o fim da temporada, e ser campeão. Agora, quem
está em posição favorável é Hamilton, mas o inglês sabe que não pode comemorar
antecipadamente, ainda mais aqui na Malásia. E apesar de o circuito possuir
duas grandes retas que em teoria favorecem a potência da unidade de força da
Mercedes, o inglês diz que a Ferrari pode vir muito forte, e especialmente
Sebastian Vettel, se o alemão estiver com a cabeça no lugar para dar o melhor
de si, e não deixar o incidente de Singapura abalar sua confiança.
Maior vencedor da corrida da Malásia, Sebastian Vettel precisa repetir o triunfo para impedir a disparada de Lewis Hamilton. |
Pelo sim, pelo não, é
bom Hamilton não cantar vitória antes da hora mesmo. Com seis corridas até o
fim da temporada, muita coisa pode acontecer. Um abandono do inglês, ou ficar
fora dos pontos, e tudo pode se inverter. E nas 18 provas disputadas aqui em
Sepang, a Ferrari foi a escuderia que mais venceu, portanto, é bom mesmo ficar
de olho no que pode acontecer. E não se pode descuidar também do clima. Estamos
praticamente na linha do Equador, o calor é forte e abafado, com aquele clima
tropical onde pode desabar um temporal a qualquer momento, e olhe que a
previsão diz que pode chover neste final de semana... Se em Singapura foi Lewis
que comemorou a vinda da chuva, aqui é Vettel quem está fazendo a dança da
chuva para melhorar suas chances. Vale apelar para tudo para reverter as
expectativas na luta pelo título da temporada.
A favor de Sebastian
Vettel ainda está o fato de o alemão ser o maior vencedor da prova malaia, com
quatro vitórias até aqui. O primeiro triunfo veio em 2010, quando a Red Bull
começava a se impor como time de ponta na F-1, e levaria Vettel a seu primeiro
título ao fim daquela temporada. O alemão repetiria a dose em 2011, tanto na
vitória em Sepang, quanto na conquista do título da temporada, tornando-se
bicampeão. A vitória seguinte seria em 2013, no ano da conquista do
tetracampeonato do alemão pela Red Bull, no último título vencido até aqui
tanto por Sebastian quanto pelo time dos energéticos. Em 2015, Vettel
surpreendeu a favoritíssima Mercedes nesta pista, conquistando logo em seu
segundo GP pela escuderia de Maranello, sua nova casa, após deixar a Red Bull,
seu último triunfo nesta pista, para delírio da torcida rossa, que acreditava
que o time italiano seria capaz de abalar a supremacia da Mercedes na F-1. Mas
mesmo a Ferrari não conseguiu deter o massacre imposto na pista pelos carros
alemães.
Hoje, o objetivo de
Vettel é repetir aquela vitória marcante, para evitar ir a nocaute na disputa
pelo título da F-1. O resultado da corrida em Singapura, uma prova onde a
Ferrari tinha tudo para vencer, e Sebastian retomar a dianteira da competição,
foi para o vinagre com o acidente múltiplo na largada que acabou eliminando da
prova Sebastian Vettel, Kimi Raikkonem, Max Verstappen, e Fernando Alonso. Com
mais uma vitória de Lewis Hamilton, sua terceira consecutiva no retorno da F-1
das férias de verão, o alemão está com 28 pontos de desvantagem na
classificação, e precisa reagir já se ainda quiser manter vivas suas esperanças
de chegar ao pentacampeonato. Portanto, mãos à obra, e pelo desempenho dos
treinos de hoje poderemos ter algumas idéias a respeito das possibilidades ou
não da Ferrari de reverter a situação na classificação. Poderemos ter então uma
corrida disputada, ou não...
Com certeza, uma coisa
de que ninguém irá sentir saudade é deste calor sufocante. A prova é a mais
desgastante da temporada. Duas semanas atrás, em Singapura, que é nas
imediações, o fato da corrida ser disputada à noite mitiga o forte calor desta
área do sudeste asiático, mas aqui, próximo a Kuala Lumpur, a capital do país,
o preparo físico dos pilotos, com o sol a pino, é colocado mais do que à prova.
São 56 voltas, em um percurso pelos 5,543 Km de extensão da pista, totalizando
310,48 Km na corrida.
Da pista, certamente
os pilotos até poderão sentir saudades, apesar de que Sepang também tem seus
males. Quando estreou, em 1999, este foi o primeiro circuito da era “Hermann
Tilke”, que viria a se tornar, na opinião de muitos, uma praga no calendário da
F-1, com a concepção de pistas insossas e cheias de acelera-freia-acelera, que
não deixaram saudade em ninguém, com algumas exceções. Mas aqui, Tilke ainda
não tinha concebido o traçado com este tipo de característica, de modo que a
pista oferece seus desafios, e apresenta alguns pontos propícios para
ultrapassagens, exigindo não apenas um bom equilíbrio dos monopostos, mas
também potência para não ser vítima de outros concorrentes nos dois longos
trechos de retas, onde os propulsores dos bólidos são exigidos a fundo, e o
acerto dos carros tem que equilibrar a necessidade de velocidade de ponta com a
estabilidade nas demais curvas.
As belas coberturas das arquibancadas das grandes retas são um dos destaques da infraestrutura do circuito de Sepang. |
Mas, talvez a pior
“herança” de Sepang é que este foi o primeiro autódromo com uma megaestrutura,
concebida a nível nunca antes visto na categoria máxima do automobilismo. Com o
investimento do governo malaio, via Petronas, a petrolífera estatal do país,
foi concebido um autódromo monumental, com paddock imenso, boxes com o que
havia de mais moderno, com amplos espaços para todas as escuderias, e todos os
requisitos de segurança no traçado. Seriam características que a F-1 passaria a
exigir praticamente de todas as novas pistas que tivessem intenção de ingressar
no calendário da categoria, e isso praticamente limou as chances de vários
circuitos que já haviam sediado GPs de voltarem a sediar corridas, como por exemplo
Portugal, no Estoril, ou Jerez de La Fronteira, na Espanha.
Com o governo
bancando, Bernie Ecclestone não se fez de rogado, e vendo que dinheiro não era
problema, as exigências para se sediar um novo GP foram crescendo sem parar,
além da contratação obrigatória de Hermann Tilke projetar a pista. Como
surgiram vários interessados de lá para cá em tentar entrar na brincadeira,
Bernie sorriu de orelha a orelha, e os bolsos da FOM nunca se encheram tão
rápido como desde então. Os times, claro, adoraram as estruturas novas que
estiveram a dispor para eles nestas novas pistas, e alguns autódromos tiveram
de se reformar, sob o risco de perder suas corridas. Ou se atendia ao novo
“padrão” ou simplesmente podia-se pular fora. A resposta de Bernie era sempre a
mesma, no estilo “se não quer atender às exigências, temos vários candidatos na
fila que o farão...”
Bom... O tempo passou,
e este modus operandi de Ecclestone cansou vários destes candidatos que
entraram na brincadeira e saíram rapidinho, devido à escalada dos custos.
Turquia teve um excelente traçado, mas os turcos puxaram o carro devido aos prejuízos
acumulados. Abu Dhabi segue porque os árabes têm dinheiro para jogar fora, mas
o circuito tem um traçado horroroso, e o GP vale mais pelo visual da noite no
deserto do que pela emoção da corrida. Mas os malaios viram que o custo já não
compensa, e por isso, esta é a última prova. Nesse meio tempo, quem também veio
e se foi foram Índia e Coréia do Sul, cujas pistas não empolgaram ninguém.
Com fartas áreas de
escape, que oferecem muito mais segurança que as antigas pistas, um dos
destaques da arquitetura do autódromo é a cobertura das arquibancadas na reta
oposta e reta dos boxes, oferecendo ampla cobertura a quem se senta ali,
oferecendo uma bela e ampla vista das duas retas, separadas por uma curva em
grampo, onde os pilotos sempre tentam ultrapassar seus adversários, ou no fim
da reta dos boxes, onde há uma forte freada com curva bem mais aberta.
Dependendo da largada, os pilotos costumam entrara fundo nesta primeira curva,
onde podem construir uma ultrapassagem se conseguirem se manter nas tangências
corretas. E sem errar na manobra, ou as vastas caixas de brita podem receber
sem nenhuma cerimônia os pilotos mais afoitos nas manobras, e terminarem por lá
mesmo sua corrida.
Praticamente junto à linha do Equador, as tradicionais chuvas tropicais costumam aparecer na corrida malaia. E há precisão de chuva novamente para o fim de semana de despedida do GP de F-1. |
Na maioria das vezes,
é sempre triste quando um GP deixa o calendário da F-1. Claro, depende também
do carisma da pista. Todo mundo sentiu a falta do GP da França, ausente há uma
década no calendário da categoria máxima do automobilismo, mas ninguém sentiu
saudades de Magny-Cours, pista travada e onde, fora do autódromo, não havia
praticamente nada de atrativo ou relevante. Sepang certamente deixará saudades
para vários fãs, pelo carisma que a pista possui, oriunda de um momento onde os
circuitos da F-1 ainda não eram “pasteurizados” com características que na
maioria das vezes castigam as provas, impedindo-as de atingirem potencial maior
de disputa. Que possa retornar no futuro, um dia.
Com quatro vitórias, Sebastian
Vettel é o piloto que mais venceu neste circuito de Kuala Lumpur, nas
temporadas de 2010, 2011 e 2013 (competindo pela Red Bull), e em 2015
(defendendo aFerrari). Empatados na segunda posição, com três triunfos, estão
Michael Schumacher, que venceu em 2000, 2001 e 2004 (sempre pela Ferrari) e
Fernando Alonso, que chegou na frente em 2005 (competindo pela Renault), 2007
(defendendo a McLaren), e 2012 (guiando a Ferrari). Kimi Raikkonem venceu esta
corrida em duas ocasiões: a primeira vitória veio em 2003, com a McLaren, e a segunda
em 2008, agora na Ferrari. Os demais pilotos obtiveram apenas uma vitória, a
saber: Eddie Irvinne (1999, Ferrari), Ralf Schumacher (2002, Williams),
Giancarlo Fisichella (2006, Renault), Jenson Button (2009, Brawn), Lewis
Hamilton (2014, Mercedes), e Daniel Ricciardo (2016, Red Bull). Michael
Schumacher é o piloto que mais vezes largou na frente aqui, em 5 ocasiões
(1999, 2000, 2001, 2002, e 2004), seguido por Lewis Hamilton, com 4 poles
(2012, 2014, 2015, e 2016), vindo a seguir, empatados com duas poles cada um,
Fernando Alonso (2003 e 2005), Sebastian Vettel (2011 e 2013), e Felipe Massa
(2007 e 2008). Jenson Button (2009), Giancarlo Fisichella (2006), e Mark Webber
(2010) completam a lista dos pole-positions desta prova.
No último GP em território
malaio, o grid terá um nome nome: o francês Pierre Gasly ocupará um dos carros
da Toro Rosso, sendo o novo companheiro de Carlos Sainz Jr. no time sediado em
Faenza. A direção da escuderia retirou Daniil Kvyat da parada devido à falta de
resultados do russo, e aos seus acidentes sofridos na temporada. Em Singapura,
Daniil bateu sozinho, enquanto Sainz Jr. fazia sua melhor corrida na F-1 e
terminava a corrida em um esplendoroso 4º lugar. Muitos davam como certa sua
saída ao fim da temporada, mas ficavam as dúvidas sobre quem colocar no lugar,
já que Gasly no momento é o único nome disponível que restou no programa de
formação de pilotos da Red Bull, e em 2018, com os motores da Honda, em tese,
ter dois pilotos completamente “virgens” no grid não seria uma boa idéia, haja
a necessidade de desenvolver o propulsor nipônico. Pelo visto, a paciência com
Kvyat acabou de vez, e Gasly terá as provas restantes do ano para mostrar do
que é capaz e garantir a vaga na Toro Rosso em 2018... Ou ser mais um rifado na
“queima” de pilotos que os austríacos tem promovido nos últimos anos. Gasly que
se prepare para segurar um rojão bem complicado pela frente...
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