A Fórmula 1 voltou de
suas férias do verão europeu com uma dose dupla pra ninguém botar defeito, em
duas das pistas mais carismáticas do campeonato. Depois de passarmos pelo belo
e imponente circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica, chegamos agora a um dos
templos do automobilismo mundial: Monza. O tradicional circuito italiano
respira velocidade, e aqui, mais do que nunca, sente-se a devoção dos tiffosi à
escuderia que é uma verdadeira instituição nacional: a Ferrari. E este ano, a
fanática torcida rossa tem motivos mais do que justos para comemorar.
A corrida da Bélgica
mostrou uma Ferrari mais forte do que todo mundo esperava. Lewis Hamilton fez a
pole e venceu praticamente de ponta a ponta o GP belga, mas o tricampeão da
Mercedes nunca esteve tranquilo durante toda a corrida. Desde a largada, até a
bandeirada final, Hamilton esteve sempre acossado por Sebastian Vettel,
suportando uma pressão ferrenha do adversário, que esteve sempre empurrando seu
rival aos limites, tentando induzi-lo a um erro que seria fatal em suas
pretensões de vitória. Mas Lewis não errou: aguentou a pressão imposta pelo rival,
especialmente na relargada após a bandeira amarela para retirar detritos dos
carros da Force India que se tocaram de forma perigosa na descida para a Eau
Rouge, quando Vettel chegou a emparelhar seu carro com o inglês na reta Kemmel,
por pouco não conseguindo assumir a liderança.
Mas, para quem
imaginava que a Mercedes voaria em Spa, dada a natureza de alta velocidade do circuito
belga, sob medida para a grande potência da unidade híbrida da Mercedes e seus
praticamente mil HPs, o fato de Vettel não ter deixado Lewis desgarrar a
corrida inteira mostra que o modelo SF70H dos italianos está praticamente
empatado com o chassi W08 dos alemães, tendo conseguido neutralizar a melhoria
de performance alcançada pela Mercedes desde o GP do Canadá, e que parecia que
iria sobrepujar o carro de Maranello. E é essa esperança de uma performance à
altura que promete encher Monza já a partir de hoje, com seus torcedores ávidos
por um duelo ferrenho de seu ídolo, Vettel, contra Hamilton.
Não é uma esperança
fraca: a Ferrari está muito forte este ano, como não se via desde 2010, quando
Fernando Alonso perdeu o campeonato para o mesmo Vettel, mais por erro tático
do piloto e da escuderia italiana do que pela performance superior do
adversário. Vettel chegou a Monza com 7 pontos de vantagem para Hamilton, um
piloto da Ferrari na liderança do campeonato, numa disputa a ferro e fogo com
vários lances de emoção, que prometem um duelo imprevisível até o final do
campeonato, sem termos como saber quem levará o título. A última vez que um
piloto Ferrari chegou aqui em Monza na dianteira da competição foi em 2012, com
Fernando Alonso ocupando a primeira posição com 179 pontos, ostentando uma
vantagem confortável para Hamilton, então o 2º colocado, com 142 pontos, com
Kimi Raikkonem logo atrás, com 141 pontos, e Vettel, com 140. Para melhorar,
Alonso foi o 3º colocado na prova italiana, mantendo uma boa dianteira sobre
Hamilton, vencedor da prova naquele ano.
As expectativas eram
boas de Alonso conquistar o título, até porque havia até então um certo
equilíbrio na temporada, mas a partir de Singapura, Vettel e a Red Bull
dispararam, e um abandono no Japão fez a dianteira de Alonso na pontuação
evaporar, de modo que o espanhol e a Ferrari acabaram batidos pelo alemão e o
time dos energéticos. Desde então, a Ferrari e seus pilotos nunca estiveram na ponta
por ocasião do Grande Prêmio da Itália, até agora. E praticamente na condição
de favoritos iguais aos rivais da Mercedes.
Monza promete ferver
neste final de semana. Os tiffosi estarão torcendo mais do que nunca por Vettel
e Raikkonem, especialmente pelo alemão, que poderá devolver o time rosso à
condição de campeão, o que foi alcançado pela última vez em 2007, com Raikkonem,
que agora está reduzido à condição de segundo piloto no time italiano. O
entusiasmo do momento me lembra situação parecida vivida em 1990, quando o GP
da Itália também propiciou um duelo ferrenho entre os dois duelistas pelo
título naquele ano, o brasileiro Ayrton Senna, competindo pela McLaren, e o
francês Alain Prost, defendendo a Ferrari.
Ninguém duvidava que o
modelo 640 de Maranello era mais eficiente do que o chassi MP4/5B de Woking,
que não demonstrava a mesma supremacia de seus antecessores. Mas a determinação
e o arrojo de Senna eram as armas mais letais da McLaren, e o brasileiro fez
valer a força invulgar do V-10 da Honda (que era o melhor motor naqueles
tempos) para se impôr e frear as pretensões de Prost e dos italianos de
voltarem a ser campeões do mundo. Especialmente aqui em Monza, Senna praticamente
calou a torcida ferrarista com uma pole arrasadora, cerca de 0s4 mais veloz que
Prost, que parecia destinado a largar na primeira posição. Os dois duelaram ferozmente
pela vitória, com o brasileiro a vencer a contenda, cruzando a linha de chegada
6s à frente de Prost, numa batalha onde nenhum dos dois poderia cometer qualquer
erro. Foi determinando para a vitória de Ayrton seu maior arrojo e capacidade
de superar os retardatários com mais eficência do que o francês, sempre um
pouco mais lento neste tipo de manobra que Senna. Mas, justiça seja feita, o
público presente neste autódromo aplaudiu entusiasticamente ambos os pilotos no
pódio, pela grande demonstração de garra e pilotagem que ambos propiciaram aos
fãs da velocidade, torcedores da Ferrari ou não, como pudemos apreciar no
domingo passado em Spa-Francorchamps, onde os astros da temporada atual,
Hamilton e Vettel, deram o melhor de si na pista, durante toda a prova, na luta
pela vitória, numa performance exuberante dos maiores talentos do grid atual da
categoria máxima do automobilismo.
Hamilton é o primeiro
a afirmar que, favoritismo teórico à parte, a Mercedes e ele não terão um fim
de semana fácil aqui. O que pode ajudar o piloto inglês é o fato de o circuito
de Monza possuir muito menos curvas do que Spa, o que em tese deve ajudar o
motor Mercedes a demonstrar toda a sua força nas retas da pista italiana, onde
as medidas de velocidade passam dos 350 Km/h, e os bólidos da F-1 deverão
realmente voar baixo este ano, graças às novas configurações aerodinâmicas dos
carros. A unidade de força alemã ainda possui uma leve vantagem de performance
sobre a sua contraparte italiana, mas parte desse raciocínio também era
esperado para Spa, e o que vimos foi o carro da Ferrari acompanhando sem
dificuldades o da Mercedes, em especial no trecho que deveria ser o mais
complicado para eles, da Eau Rouge até a freada da Les Combes, o trecho de
maior velocidade da pista belga, sempre morro acima, com uma elevação nada desprezível.
Se o carro da Ferrari conseguiu
estar à altura do da Mercedes naquelas condições, aqui em Monza, um circuito
muito mais plano, e com menos curvas, a performance que deveria dar vantagem à
equipe alemã pode muito bem inexistir, ou ser muito menor do que se esperava.
Na “pior” das hipóteses, Hamilton vence essa corrida e assume a liderança do
campeonato, empatado com Vettel nos pontos, caso este seja o segundo colocado,
mas ganhando no desempate de vitórias (6 a 4). Mas o inglês já está olhando à
frente, e sabe que daqui em diante tudo deverá ficar muito mais complicado, em
pistas onde a Ferrari deverá vir ainda mais forte, a ponto de Lewis já afirmar
que não tem o melhor carro do grid. Exagero ou tentativa de despiste? Talvez um
pouco de ambos.
A próxima corrida, em Singapura,
já tem tudo para ser complicada para os alemães, em que pese a vitória de Nico
Rosberg na cidade-estado do sudeste asiático no ano passado, mais pelo esforço
pessoal do piloto do que pela performance absoluta do carro. E no ano anterior,
foi a Ferrari quem venceu por lá. Ou Hamilton vence aqui, e tenta retomar as
rédeas da competição, ou vai estar encrencado em Singapura, se os rivais
confirmarem estar em melhores condições, a exemplo dos dois últimos anos. Daí
em diante, tudo continua imprevisível, nas demais pistas.
Por isso mesmo, a
lembrança que me vem à mente do duelo Senna/Prost de 1990. Ferrari com o melhor
carro, mas McLaren com o melhor piloto e o melhor motor. Temos agora a Ferrari
novamente com perspectivas de ser realmente o melhor carro, frente a um piloto
que, se não é talvez superior a Vettel em talento, é decididamente arrojado, e
conta com o melhor motor da competição, em um carro que certamente não pode ser
subestimado. Quem vai ganhar o duelo de domingo? Hamilton costuma tirar do
carro tudo e mais um pouco quando o assunto é classificação, e na Bélgica, ele
igualou o recorde de poles de Michael Schumacher, e seu estilo de pilotagem e
arrojo certamente lembram muito Senna. Vettel, por sua vez, é um piloto muito
inteligente, e extremamente veloz, mesmo que alguns acreditem que ele não seja
tão arrojado quanto Hamilton. Mas, se naquele ano, Senna e Prost, mesmo com seus
estilos diferentes de condução, fizeram um duelo memorável em Monza, ainda que
não tenham trocado tentativas de ultrapassagens na pista, podemos ver novamente
aqui o mesmo duelo da Bélgica, e que tem tudo para levantar a torcida nas arquibancadas
do Parque de Monza, onde se localiza este circuito.
E na expectativa desse
duelo, o fervor da torcida e as bandeiras dos tiffosi deverão cobrir as
arquibancadas de vermelho já a partir de hoje. Com os contratos de sua dupla de
pilotos já renovados para a próxima temporada, a ordem da cúpula ferrarista é
conquistar o título, e sem espaço para derrotas. Mais do que uma vitória moral,
um triunfo em Monza será um delírio para a torcida, que não vê uma vitória de
um carro vermelho aqui desde 2010, com Fernando Alonso, e um golpe arrasador na
rival Mercedes na luta pelo título.
Que possamos assistir
novamente a um grande duelo. E que vença o melhor na pista...
A Willams andou forte em Monza em 2014 e 2015, mas a expectativa para este ano não é das melhores, depois do que se viu na Bélgica... |
Pista mais veloz do ano, Monza
tem tudo para os carros alcançarem as maiores velocidades finais do ano. Mas nem
todo mundo fica entusiasmado com isso. A dupla da Red Bull, por exemplo, já
antecipa que terá um fim de semana complicado. Para ter vantagem em Singapura,
a próxima corrida, o time austríaco já decidiu que trocará o motor do carro de
Daniel Ricciardo, o que o fará perder posições no grid nesta corrida, mas lhe
permitirá dispor de uma unidade praticamente nova na próxima prova. No ano
passado, a dupla da Red Bull até que fez uma corrida razoável, largando em 6º e
7º, e terminando em 5º e 7º, mas a mais de 45s de desvantagem do vencedor, Nico
Rosberg. Vejamos como os carros do time dos energéticos se comportarão este ano
nesta corrida. Mas eles não serão os únicos que poderão ter problemas. A
Williams, que fez uma classificação complicada na Bélgica, caindo logo no Q1, e
pontuando com sorte devido a percalços dos adversários, também poderá enfrentar
dificuldades aqui. No ano passado, o carro do time de Grove já mostrava uma
performance deficiente, mesmo contando com o potente motor da Mercedes, sendo que
Valtteri Bottas foi apenas o 6º colocado, a mais de 50s do vencedor, e Felipe
Massa terminou em 9º, a 1min05s de distância de Rosberg. E olha que em 2014 e
2015, o time inglês subiu ao pódio, em 3º lugar, nos dois anos com Felipe
Massa. E ainda teve Bottas sendo o 4º colocado nas duas oportunidades. Muito
difícil esperar que possam repetir esses resultados este ano.
Mas, falta de perspectiva mesmo é
da McLaren, que sabe que a unidade de potência da Honda não lhes permite vôos
mais altos. O pacote de atualizações apresentado na Bélgica parece não ter tido
o desempenho esperado, com um ganho estimado em míseros 0s1. Em Spa, Fernando
Alonso abandonou alegando perda de potência, ao que a Honda afirmou que seu
propulsor não apresentou qualquer problema aparente, dando a entender que o
espanhol simplesmente parou por parar, sem perspectiva de um melhor resultado,
por mais que se esforçasse ao volante, o que até conseguiu no início, chegando a
andar em 7º, mas passando a cair conforme a corrida progredia, sem ter como se defender
dos adversários, que o ultrapassavam sem a menor cerimônia na reta. Os
piadistas afirmam que o asturiano não mentiu quando disse que não tinha potência,
alegando que o propulsor nipônico nem sabe o que é isso, e portanto, que
realmente não tinha potência. Piadas à parte, o clima na McLaren e na Honda não
anda nem um pouco tranquilo, com ambas as partes tentando descobrir como irão
se virar em 2018, e com poucas perspectivas de uma solução fácil...
A Indycar disputa neste fim de
semana sua penúltima corrida na temporada, no circuito misto de Watkins Glen,
no Estado de Nova Iorque, a cerca de 400 Km da grande metrópole da Costa Leste
dos Estados Unidos. A corrida terá transmissão ao vivo pelo canal pago
Bandsports. No ano passado, Scott Dixon venceu essa corrida, e o neozelandês da
equipe Ganassi tem expectativas de repetir a dose para reverter sua desvantagem
na pontuação para o líder Josef Newgarden, que segue firme rumo ao título do
campeonato. Quem também precisa reagir é Hélio Castro Neves, que em 2016 foi o
3º colocado nessa corrida, mas assim como Dixon, só a vitória interessa para
manter firmes as chances de título. Correndo um pouco por fora vem os outros
dois pilotos da Penske, Simon Pagenaud e Will Power.
O tradicional circuito de Watkins Glen sedia a penúltima etapa da Indycar 2017. |
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