sexta-feira, 25 de novembro de 2016

F-1 2016: FIM DA ESTRADA



Abu Dhabi encerra o campeonato da Fórmula 1 em 2016 e assistirá novamente à decisão do título. Hamilton ou Rosberg?

            A Fórmula 1 chegou a Yas Marina, em Abu Dhabi, para o encerramento da mais longa temporada de toda a sua história. Com a corrida de domingo, foram 21 corridas em um único ano, um recorde, que poderia muito bem ser comemorado efusivamente pela F-1, não fosse o campeonato, mais uma vez, ter ficado restrito aos pilotos da Mercedes, que pelo menos fará neste circuito a decisão do título da temporada. Quem levará a taça de campeão? Nico Rosberg? Lewis Hamilton? O piloto alemão tem 12 pontos de vantagem para o inglês, e basta a ele um terceiro lugar para liquidar a fatura e ir buscar o caneco. Com o carro que tem, em tese, só um desastre dá chances efetivas a Hamilton de conquistar o tetracampeonato, que ficou certamente comprometido com o seu abandono na Malásia, ocasionado pela quebra do motor. Daí o fato de a decisão do campeonato, justo na sua última etapa do calendário, não empolgar tanto quanto poderia.
            O que salva as expectativas de termos mais emoção é que a Red Bull não está nem aí para a disputa do título. Daniel Ricciardo já avisou que pretende ir para cima da dupla prateada, e com ele, vem junto a sensação da temporada, Max Verstappen, que não pensa duas vezes na hora de dividir curva com um competidor na pista. Se a dupla dos energéticos conseguir igualar o ritmo das Mercedes neste circuito, e ficarem à frente de Rosberg, o caldo do triunfo do alemão em busca do título pode entornar. Para Hamilton, é tudo ou tudo: de preferência largar na pole, e ir-se embora do pelotão. Há quem sugira que o inglês, no comando, pode segurar o ritmo a fim de permitir a aproximação dos concorrentes, de modo que entrem na briga, e compliquem a situação de Nico. Mas é uma aposta de risco, pois ao mesmo tempo em que favorece a aproximação dos rivais, não pode dar brecha para uma ultrapassagem, e ficar para trás.
            Resta saber se a Red Bull terá ritmo para se enturmar no meio dessa disputa. No México, por exemplo, não conseguiu. Em Interlagos, na chuva, até tinha excelentes chances, mas erraram na estratégia de pneus, a isso deixou Rosberg confortável para ser um 2° lugar numa prova onde podia ter ficado em 3°, e que com isso teria forçosamente de ser pelo menos segundo aqui em Abu Dhabi. Para deixar tudo mais emocionante, é importante que o carro do time dos energéticos consiga ter um desempenho mais do que à altura dos carros prateados da Mercedes.
            E seria ainda melhor se pudéssemos ver a Ferrari se metendo no meio deste duelo também. O time italiano não vem tendo o campeonato que esperavam, e se a 3ª posição no campeonato de construtores é a realidade a ser encarada, seria bom se pudessem pelo menos fazer uma despedida honrosa da temporada, de quebra lutando pelo pódio, e ajudando a embica ainda mais a disputa pelo título da competição entre Rosberg e Hamilton.
            No campeonato de construtores, o único interesse na pista será no duelo entre McLaren e Toro Rosso, para ver quem fica com a 6ª colocação final na tabela. Fernando Alonso já adiantou que a pista é complicada para a McLaren, mas quem sabe não seja apenas um despiste para não prometer resultados que venham a não se concretizar? Pelo seu lado, a Toro Rosso dificilmente alcança o time de Woking, já que está 12 pontos atrás. E enquanto isso, a expectativa de vermos a rinha entre Sauber e Manor pegar fogo é real, mas de poucos resultados práticos. O time suíço saiu da forca graças à corrida espetacular de Felipe Nasr em Interlagos, e deve garantir-se na 10ª posição, relegando a Manor à posição de lanterna da competição, a menos que aconteça algo inusitado que deixe vários competidores pelo caminho.
O belo visual da pista de Yas Marina infelizmente não se estende à pista, que não oferece boas corridas.
            Já no que tange à disputa no mundial de pilotos, aí temos algumas possibilidades de arranca-rabos mais interessante. Além da disputa do título entre Rosberg e Hamilton, Max Verstappen está com Sebastian Vettel na alça de mira. O alemão da Ferrari é o 4° colocado, com uma vantagem de apenas 5 pontos para o holandês da Red Bull, que vai querer ficar atrás apenas de seu companheiro de equipe Ricciardo na classificação. Como o australiano já garantiu matematicamente o 3° lugar no campeonato, cabe a Vettel a missão de não se deixar superar por alguém que ele ajudou, involuntariamente, a se tornar uma dor de cabeça na pista. Já Kimi Raikkonem, vítima de dois abandonos nas últimas corridas, vinha estando páreo a páreo com Vettel na classificação, e agora tentará pelo menos ficar o mais próximo de Verstappen e Vettel nos pontos.
            Enquanto isso, na 7ª posição, com 97 pontos, Sérgio Perez vai tentar evitar ser surpreendido por Valtteri Bottas, mesmo que o finlandês esteja 12 pontos atrás. Da mesma forma, Nico Hulkenberg não deve esperar ser alcançado por Fernando Alonso, que tem apenas 2 pontos de vantagem para Felipe Massa, que busca pelo menos fazer uma despedida digna da F-1, e se conseguir pontuar com uma boa posição, superando o piloto da McLaren, melhor ainda. O brasileiro, porém, tem Carlos Sainz Jr. 5 pontos logo atrás, e poderia ser superado pelo piloto da Toro Rosso na reta final da competição. Mais atrás, Romain Grosjean e Daniil Kvyat, separados por 4 pontos, podem trocar de lugar, dependendo do que conseguirem na pista do Oriente Médio.
            Depois de virmos uma bela corrida em Interlagos, Abu Dhabi só se salva pelo belo visual da corrida começando com a luz do dia, passando pelo belo pôr-do-sol no deserto, e terminando a corrida à noite. O visual de Yas Marina também contribui para o show da prova. O problema é que fica somente nisso. O traçado do circuito, interessante no papel, é outra realidade na prática, e mesmo em 2010, quando o título foi decidido aqui, com vários pretendentes, a pista nunca contribuiu para uma corrida excitante e de disputas emocionantes, muito pelo contrário. Talvez esta seja uma das pistas mais detestadas criadas por Hermann Tilke, e que se não fosse as exorbitantes taxas que o governo de Abu Dhabi paga para receber a categoria, ainda mais encerrando o campeonato, a F-1 já teria se mandado destas paragens, ou pelo menos mandado redesenhar o traçado para algo mais interessante.
            E temporada foi longa, e cansativa. Para todos. Equipes, corpo oficial da FIA e da FOM. Imprensa especializada. Torcedores até. E, ao contrário do que ocorreu em temporadas recentes, todos os GPs foram realizados, sem nenhuma baixa na competição. A temporada só não foi melhor porque a Mercedes, mais uma vez, dominou completamente a temporada. A Ferrari, de quem se esperava pelo menos se aproximar mais do time alemão, estagnou, e seu lugar de principal rival acabou sendo tomado pela Red Bull, e ainda assim, com aproximação apenas relativa em boa parte das corridas. A Williams, de quem se esperava pelo menos esforço para se manter como 3ª força, não apenas estagnou como andou para trás, sendo superada pela Force India, que terminará o ano na sua melhor classificação na F-1 até hoje.
            O fim da temporada é mais do que esperado. Todo mundo quer partir para um merecido descanso. E a própria F-1 chega ao fim do ano desgastada. Por mais que continue exibindo certa pujança de seu calendário, a categoria máxima do automobilismo continua perdendo seu interesse por parte do público. Tivemos corridas decepcionantes, como a etapa de Baku, e o interesse da TV, tomando o Brasil como exemplo, começa a inspirar certos cuidados. Este ano foram 3 provas a não serem exibidas ao vivo pela Globo, que por sinal só fez transmissão “in loco” na etapa do Brasil, mantendo seu time de narradores e comentaristas fazendo transmissões de estúdio. Para o ano que vem, mesmo com o anúncio de venda de quase todas as cotas de transmissão, fica a dúvida de como será o esquema. Neste ano, tirando a prova do Brasil, a Globo eliminou por completo a transmissão do treino de classificação, preferindo passar um programa insosso no horário. Nem mesmo os treinos que eram realizados no horário da madrugada no Brasil foram exibidos. As classificações passaram a ser exclusivos do canal pago SporTV. Se é verdade que a audiência da corrida de Interlagos foi a melhor dos últimos anos, por outro lado é preciso levar em consideração que o ambiente da despedida de Felipe Massa, correndo pela última vez em casa, também influenciou. E o fato da prova ser sob chuva também ajudou.
Nico Rosberg tem 12 pontos de vantagem na classificação. Basta um terceiro lugar para faturar o título. Mas Hamilton tem outras idéias... Mesmo assim, será complicado evitar o título do piloto alemão.
            O que não ajuda foram os R$ 100 milhões de prejuízo que a corrida apresentou neste ano, decorrente da saída de patrocinadores devido à crise econômica nacional, que afetou, entre outras empresas, grupos como a Petrobrás, que foram dilapidadas em casos de corrupção sistêmica no governo do PT, que certamente afetou sobremaneira o envolvimento da petroleira brasileira no cenário automobilístico.
            Em 2017, com novas regras técnicas, espera-se que a competição seja melhor. Será um começo para uma tentativa de se resgatar a atratividade da F-1. Tem muita coisa que precisa melhorar, e quem sabe a nova gestão que será exercida pelo Grupo Liberty Media consiga pelo menos deixar a categoria menos estressante, e menos careta... Mas enquanto o ano que vem não chega, vamos aos últimos treinos livres do ano, e ao último GP. Aproveitemos os últimos momentos de 2016, antes de entrarmos na ressaca de fim de ano. Porque depois só voltamos às pistas da F-1 em fevereiro. E, como sempre acontece nestes momentos entre temporadas, acabamos sentindo uma saudade danada, e um desejo louco de que tudo comece logo para mais uma temporada de competições.


A Sauber confirmou esta semana o que todo mundo já esperava: Marcus Ericsson continua firme no time em 2017. E o piloto sueco sentiu o golpe da excelente corrida realizada por Felipe Nasr em Interlagos, que certamente garantiu à Sauber um belo reforço de caixa para o próximo ano, ao declarar que estava feliz pelo time, mas também incomodado pelo fato de ele não ter sido o autor da façanha. Nada mais natural: depois de ser amplamente superado pelo brasileiro no ano passado, o carro deplorável da Sauber neste ano não permitiu a Nasr exibir o mesmo desempenho. E, sem condições de manter a mesma preparação do carro para os dois pilotos, além de cometer erros no acerto dos carros, a Sauber ainda acabou sendo vendida para um grupo de empresários. E, no meio desta bagunça toda, Ericsson deu sorte de se sair melhor do que Felipe em várias corridas. Mas, na hora em que as condições de tempo deram uma ajuda, foi o brasileiro quem mostrou serviço, na corrida do Brasil. Ericsson, ainda por cima, acabou batendo e dando adeus à prova ainda nas primeiras voltas. Mas ali, o sueco já tinha perdido o bonde para Nasr, que já estava muito lá na frente, e lá foi ficando, até conseguir andar na 6ª posição, e finalizar em 9ª, marcando os primeiros, e certamente únicos pontos da escuderia em todo o campeonato. O contra-ataque de Nasr veio em boa hora, para resgatar os maus momentos vividos na temporada até aqui.


Felipe Nasr fez uma bela corrida sob chuva no Grande Prêmio do Brasil, mas sua situação continua muito delicada para permanecer na F-1 em 2017.
Felipe Nasr, infelizmente, continua na corda bamba para permanecer na F-1 em 2017. Seu principal trunfo nas negociações, que era ter o patrocínio do Banco do Brasil, ficou reduzido a apenas um terço da quantia disponibilizada até agora ao piloto, em virtude das políticas de austeridade adotadas pelo banco frente à crise econômica brasileira, para não falar dos rombos verificados no fundo de pensão dos funcionários da instituição, vítima da corrupção a que foi submetido nos últimos anos. Para complicar a situação, o mexicano Steban Gutierrez foi visto em encontro com Monisha Kaltenborn no paddock de Interlagos, e Gutierrez confirmou estar disputando a outra vaga da equipe suíça, tendo como principal trunfo o patrocínio que levaria do mexicano Carlos Slim, que certamente é em vultuoso. Pascal Wehrlein, atualmente na Manor, também estaria no páreo, com vistas a uma possível negociação com a Mercedes para receber seus propulsores, com um desconto “promocional”, a exemplo do que a Force India fez recebendo Steban Ocon para o próximo ano. E, como desgraça pouca é bobagem, Nasr ainda viu a Renault confirmar a permanência de Jolyon Palmer para a próxima temporada, quando todos apostavam que o inglês ficaria a pé, tendo feito uma temporada pífia até aqui. Até o fechamento desta coluna, a situação do piloto brasileiro estava indefinida para o próximo ano. Veremos se até o restante do final de semana as negociações se ajeitam e possamos ter uma idéia mais clara de onde Felipe estará – ou não, no próximo ano.


Além de Felipe Massa, que faz aqui em Yas Marina seu último Grande Prêmio de F-1, a Petrobrás também está de despedida, não apenas da Williams, mas também da Fórmula 1. A petrolífera estatal brasileira está encerrando seu atual contrato com o time de Grove, e já optou por não renová-lo. Vítima de escândalos de corrupção nos últimos anos, a Petrobrás enfrenta prejuízos enormes em seu balanço, e vem se desfazendo de ativos para conseguir voltar a operar com lucro. E o encerramento do programa na F-1 é parte do corte de gastos que está sendo implementado. Talvez, no futuro, a petrolífera retorne à competição, como já fez nesta oportunidade que está encerrando agora. O momento, infelizmente, é de apertar o cinto, e conseguir, através das investigações policiais, recuperar parte do que foi desviado na última década pelos esquemas de corrupção generalizada que empestearam a estatal.

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