Abu Dhabi encerra o campeonato da Fórmula 1 em 2016 e assistirá novamente à decisão do título. Hamilton ou Rosberg? |
A Fórmula 1 chegou a
Yas Marina, em Abu Dhabi, para o encerramento da mais longa temporada de toda a
sua história. Com a corrida de domingo, foram 21 corridas em um único ano, um
recorde, que poderia muito bem ser comemorado efusivamente pela F-1, não fosse
o campeonato, mais uma vez, ter ficado restrito aos pilotos da Mercedes, que
pelo menos fará neste circuito a decisão do título da temporada. Quem levará a
taça de campeão? Nico Rosberg? Lewis Hamilton? O piloto alemão tem 12 pontos de
vantagem para o inglês, e basta a ele um terceiro lugar para liquidar a fatura
e ir buscar o caneco. Com o carro que tem, em tese, só um desastre dá chances
efetivas a Hamilton de conquistar o tetracampeonato, que ficou certamente
comprometido com o seu abandono na Malásia, ocasionado pela quebra do motor.
Daí o fato de a decisão do campeonato, justo na sua última etapa do calendário,
não empolgar tanto quanto poderia.
O que salva as
expectativas de termos mais emoção é que a Red Bull não está nem aí para a
disputa do título. Daniel Ricciardo já avisou que pretende ir para cima da
dupla prateada, e com ele, vem junto a sensação da temporada, Max Verstappen,
que não pensa duas vezes na hora de dividir curva com um competidor na pista.
Se a dupla dos energéticos conseguir igualar o ritmo das Mercedes neste
circuito, e ficarem à frente de Rosberg, o caldo do triunfo do alemão em busca
do título pode entornar. Para Hamilton, é tudo ou tudo: de preferência largar
na pole, e ir-se embora do pelotão. Há quem sugira que o inglês, no comando,
pode segurar o ritmo a fim de permitir a aproximação dos concorrentes, de modo
que entrem na briga, e compliquem a situação de Nico. Mas é uma aposta de
risco, pois ao mesmo tempo em que favorece a aproximação dos rivais, não pode
dar brecha para uma ultrapassagem, e ficar para trás.
Resta saber se a Red
Bull terá ritmo para se enturmar no meio dessa disputa. No México, por exemplo,
não conseguiu. Em Interlagos, na chuva, até tinha excelentes chances, mas
erraram na estratégia de pneus, a isso deixou Rosberg confortável para ser um
2° lugar numa prova onde podia ter ficado em 3°, e que com isso teria
forçosamente de ser pelo menos segundo aqui em Abu Dhabi. Para deixar tudo mais
emocionante, é importante que o carro do time dos energéticos consiga ter um
desempenho mais do que à altura dos carros prateados da Mercedes.
E seria ainda melhor
se pudéssemos ver a Ferrari se metendo no meio deste duelo também. O time
italiano não vem tendo o campeonato que esperavam, e se a 3ª posição no
campeonato de construtores é a realidade a ser encarada, seria bom se pudessem
pelo menos fazer uma despedida honrosa da temporada, de quebra lutando pelo
pódio, e ajudando a embica ainda mais a disputa pelo título da competição entre
Rosberg e Hamilton.
No campeonato de
construtores, o único interesse na pista será no duelo entre McLaren e Toro
Rosso, para ver quem fica com a 6ª colocação final na tabela. Fernando Alonso
já adiantou que a pista é complicada para a McLaren, mas quem sabe não seja
apenas um despiste para não prometer resultados que venham a não se
concretizar? Pelo seu lado, a Toro Rosso dificilmente alcança o time de Woking,
já que está 12 pontos atrás. E enquanto isso, a expectativa de vermos a rinha
entre Sauber e Manor pegar fogo é real, mas de poucos resultados práticos. O
time suíço saiu da forca graças à corrida espetacular de Felipe Nasr em
Interlagos, e deve garantir-se na 10ª posição, relegando a Manor à posição de
lanterna da competição, a menos que aconteça algo inusitado que deixe vários
competidores pelo caminho.
O belo visual da pista de Yas Marina infelizmente não se estende à pista, que não oferece boas corridas. |
Já no que tange à
disputa no mundial de pilotos, aí temos algumas possibilidades de arranca-rabos
mais interessante. Além da disputa do título entre Rosberg e Hamilton, Max
Verstappen está com Sebastian Vettel na alça de mira. O alemão da Ferrari é o
4° colocado, com uma vantagem de apenas 5 pontos para o holandês da Red Bull,
que vai querer ficar atrás apenas de seu companheiro de equipe Ricciardo na
classificação. Como o australiano já garantiu matematicamente o 3° lugar no
campeonato, cabe a Vettel a missão de não se deixar superar por alguém que ele
ajudou, involuntariamente, a se tornar uma dor de cabeça na pista. Já Kimi
Raikkonem, vítima de dois abandonos nas últimas corridas, vinha estando páreo a
páreo com Vettel na classificação, e agora tentará pelo menos ficar o mais
próximo de Verstappen e Vettel nos pontos.
Enquanto isso, na 7ª
posição, com 97 pontos, Sérgio Perez vai tentar evitar ser surpreendido por
Valtteri Bottas, mesmo que o finlandês esteja 12 pontos atrás. Da mesma forma,
Nico Hulkenberg não deve esperar ser alcançado por Fernando Alonso, que tem
apenas 2 pontos de vantagem para Felipe Massa, que busca pelo menos fazer uma
despedida digna da F-1, e se conseguir pontuar com uma boa posição, superando o
piloto da McLaren, melhor ainda. O brasileiro, porém, tem Carlos Sainz Jr. 5
pontos logo atrás, e poderia ser superado pelo piloto da Toro Rosso na reta
final da competição. Mais atrás, Romain Grosjean e Daniil Kvyat, separados por
4 pontos, podem trocar de lugar, dependendo do que conseguirem na pista do
Oriente Médio.
Depois de virmos uma
bela corrida em Interlagos, Abu Dhabi só se salva pelo belo visual da corrida
começando com a luz do dia, passando pelo belo pôr-do-sol no deserto, e
terminando a corrida à noite. O visual de Yas Marina também contribui para o
show da prova. O problema é que fica somente nisso. O traçado do circuito,
interessante no papel, é outra realidade na prática, e mesmo em 2010, quando o
título foi decidido aqui, com vários pretendentes, a pista nunca contribuiu
para uma corrida excitante e de disputas emocionantes, muito pelo contrário.
Talvez esta seja uma das pistas mais detestadas criadas por Hermann Tilke, e
que se não fosse as exorbitantes taxas que o governo de Abu Dhabi paga para
receber a categoria, ainda mais encerrando o campeonato, a F-1 já teria se
mandado destas paragens, ou pelo menos mandado redesenhar o traçado para algo
mais interessante.
E temporada foi longa,
e cansativa. Para todos. Equipes, corpo oficial da FIA e da FOM. Imprensa
especializada. Torcedores até. E, ao contrário do que ocorreu em temporadas
recentes, todos os GPs foram realizados, sem nenhuma baixa na competição. A
temporada só não foi melhor porque a Mercedes, mais uma vez, dominou
completamente a temporada. A Ferrari, de quem se esperava pelo menos se
aproximar mais do time alemão, estagnou, e seu lugar de principal rival acabou
sendo tomado pela Red Bull, e ainda assim, com aproximação apenas relativa em
boa parte das corridas. A Williams, de quem se esperava pelo menos esforço para
se manter como 3ª força, não apenas estagnou como andou para trás, sendo
superada pela Force India, que terminará o ano na sua melhor classificação na
F-1 até hoje.
O fim da temporada é
mais do que esperado. Todo mundo quer partir para um merecido descanso. E a
própria F-1 chega ao fim do ano desgastada. Por mais que continue exibindo
certa pujança de seu calendário, a categoria máxima do automobilismo continua
perdendo seu interesse por parte do público. Tivemos corridas decepcionantes,
como a etapa de Baku, e o interesse da TV, tomando o Brasil como exemplo,
começa a inspirar certos cuidados. Este ano foram 3 provas a não serem exibidas
ao vivo pela Globo, que por sinal só fez transmissão “in loco” na etapa do
Brasil, mantendo seu time de narradores e comentaristas fazendo transmissões de
estúdio. Para o ano que vem, mesmo com o anúncio de venda de quase todas as
cotas de transmissão, fica a dúvida de como será o esquema. Neste ano, tirando
a prova do Brasil, a Globo eliminou por completo a transmissão do treino de
classificação, preferindo passar um programa insosso no horário. Nem mesmo os
treinos que eram realizados no horário da madrugada no Brasil foram exibidos. As
classificações passaram a ser exclusivos do canal pago SporTV. Se é verdade que
a audiência da corrida de Interlagos foi a melhor dos últimos anos, por outro
lado é preciso levar em consideração que o ambiente da despedida de Felipe
Massa, correndo pela última vez em casa, também influenciou. E o fato da prova
ser sob chuva também ajudou.
O que não ajuda foram
os R$ 100 milhões de prejuízo que a corrida apresentou neste ano, decorrente da
saída de patrocinadores devido à crise econômica nacional, que afetou, entre
outras empresas, grupos como a Petrobrás, que foram dilapidadas em casos de
corrupção sistêmica no governo do PT, que certamente afetou sobremaneira o
envolvimento da petroleira brasileira no cenário automobilístico.
Em 2017, com novas
regras técnicas, espera-se que a competição seja melhor. Será um começo para
uma tentativa de se resgatar a atratividade da F-1. Tem muita coisa que precisa
melhorar, e quem sabe a nova gestão que será exercida pelo Grupo Liberty Media
consiga pelo menos deixar a categoria menos estressante, e menos careta... Mas
enquanto o ano que vem não chega, vamos aos últimos treinos livres do ano, e ao
último GP. Aproveitemos os últimos momentos de 2016, antes de entrarmos na
ressaca de fim de ano. Porque depois só voltamos às pistas da F-1 em fevereiro.
E, como sempre acontece nestes momentos entre temporadas, acabamos sentindo uma
saudade danada, e um desejo louco de que tudo comece logo para mais uma
temporada de competições.
A Sauber confirmou esta semana o
que todo mundo já esperava: Marcus Ericsson continua firme no time em 2017. E o
piloto sueco sentiu o golpe da excelente corrida realizada por Felipe Nasr em
Interlagos, que certamente garantiu à Sauber um belo reforço de caixa para o
próximo ano, ao declarar que estava feliz pelo time, mas também incomodado pelo
fato de ele não ter sido o autor da façanha. Nada mais natural: depois de ser
amplamente superado pelo brasileiro no ano passado, o carro deplorável da
Sauber neste ano não permitiu a Nasr exibir o mesmo desempenho. E, sem
condições de manter a mesma preparação do carro para os dois pilotos, além de
cometer erros no acerto dos carros, a Sauber ainda acabou sendo vendida para um
grupo de empresários. E, no meio desta bagunça toda, Ericsson deu sorte de se
sair melhor do que Felipe em várias corridas. Mas, na hora em que as condições
de tempo deram uma ajuda, foi o brasileiro quem mostrou serviço, na corrida do
Brasil. Ericsson, ainda por cima, acabou batendo e dando adeus à prova ainda
nas primeiras voltas. Mas ali, o sueco já tinha perdido o bonde para Nasr, que
já estava muito lá na frente, e lá foi ficando, até conseguir andar na 6ª
posição, e finalizar em 9ª, marcando os primeiros, e certamente únicos pontos
da escuderia em todo o campeonato. O contra-ataque de Nasr veio em boa hora,
para resgatar os maus momentos vividos na temporada até aqui.
Felipe Nasr fez uma bela corrida sob chuva no Grande Prêmio do Brasil, mas sua situação continua muito delicada para permanecer na F-1 em 2017. |
Felipe Nasr, infelizmente,
continua na corda bamba para permanecer na F-1 em 2017. Seu principal trunfo
nas negociações, que era ter o patrocínio do Banco do Brasil, ficou reduzido a
apenas um terço da quantia disponibilizada até agora ao piloto, em virtude das
políticas de austeridade adotadas pelo banco frente à crise econômica
brasileira, para não falar dos rombos verificados no fundo de pensão dos
funcionários da instituição, vítima da corrupção a que foi submetido nos
últimos anos. Para complicar a situação, o mexicano Steban Gutierrez foi visto
em encontro com Monisha Kaltenborn no paddock de Interlagos, e Gutierrez
confirmou estar disputando a outra vaga da equipe suíça, tendo como principal
trunfo o patrocínio que levaria do mexicano Carlos Slim, que certamente é em
vultuoso. Pascal Wehrlein, atualmente na Manor, também estaria no páreo, com
vistas a uma possível negociação com a Mercedes para receber seus propulsores,
com um desconto “promocional”, a exemplo do que a Force India fez recebendo
Steban Ocon para o próximo ano. E, como desgraça pouca é bobagem, Nasr ainda
viu a Renault confirmar a permanência de Jolyon Palmer para a próxima
temporada, quando todos apostavam que o inglês ficaria a pé, tendo feito uma
temporada pífia até aqui. Até o fechamento desta coluna, a situação do piloto
brasileiro estava indefinida para o próximo ano. Veremos se até o restante do
final de semana as negociações se ajeitam e possamos ter uma idéia mais clara
de onde Felipe estará – ou não, no próximo ano.
Além de Felipe Massa, que faz
aqui em Yas Marina seu último Grande Prêmio de F-1, a Petrobrás também está de
despedida, não apenas da Williams, mas também da Fórmula 1. A petrolífera estatal
brasileira está encerrando seu atual contrato com o time de Grove, e já optou
por não renová-lo. Vítima de escândalos de corrupção nos últimos anos, a
Petrobrás enfrenta prejuízos enormes em seu balanço, e vem se desfazendo de
ativos para conseguir voltar a operar com lucro. E o encerramento do programa
na F-1 é parte do corte de gastos que está sendo implementado. Talvez, no
futuro, a petrolífera retorne à competição, como já fez nesta oportunidade que
está encerrando agora. O momento, infelizmente, é de apertar o cinto, e
conseguir, através das investigações policiais, recuperar parte do que foi
desviado na última década pelos esquemas de corrupção generalizada que
empestearam a estatal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário