terça-feira, 18 de outubro de 2016

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1997 – 10.10.1997



            De volta com a seção Arquivo, trago hoje a coluna publicada no dia 10 de outubro de 1997. O assunto em questão era o campeonato da Fórmula 1 daquele ano, que estava bem interessante, com ora o favoritismo pendendo para a Williams, com Jacques Villeneuve (e olhem que aquele seria o último título conquistado pela equipe de Frank Williams, que não conseguiu repetir o feito até hoje), ora com Michael Schumacher, que conseguia levar a Ferrari a finalmente disputar um título pela primeira vez desde a temporada de 1990, quando o time rosso contava com Alain Prost e Nigel Mansell. De quebra, mais algumas anotações rápidas do momento no mundo da velocidade naquela semana, onde iria ser disputado o Grande Prêmio do Japão, que poderia definir ou não o título da temporada, o que acabou acontecendo somente na prova final da competição, em Jerez de La Fronteira. Fiquem agora com o texto, e em breve trago mais colunas antigas por aqui...


REVIRAVOLTA

            Quem diria? Estamos vendo um dos melhores campeonatos dos últimos tempos na Fórmula 1. O mais incrível é ver como as coisas mudaram de uma hora para outra. E, até agora, na reta final do campeonato, pode ser perigoso dizer quem vai mesmo ser campeão ou não. Definitivamente, uma incerteza que só aguça a curiosidade e o interesse pelas corridas finais.
            Fazendo um retrospecto do mundial, dá para notar nítidas mudanças em todo o seu decorrer. No início, todo mundo achava que a Williams iria dar um passeio igual ao de 1996. O treino classificatório em Melbourne, na Austrália, até confirmava isso, com Jacques Villeneuve deixando até mesmo o seu novo companheiro de equipe, Heinz-Harald Frentzen, à distância. Este, por sua vez, mostrava que até ainda tinha vantagem sobre o resto da concorrência. Sem dúvida, as melhores previsões sobre o campeonato sofreram um forte golpe. Mas veio o “kamikaze” Eddie Irvinne na largada da corrida e jogou Villeneuve fora da pista. E com Frentzen a concorrência jogou com a cabeça, derrubando-o nas estratégias de box e levando a vitória na prova australiana. Estava dado o recado: com sorte, a Williams poderia enfrentar os adversários com um pé nas costas, mas se a sorte estivesse com a concorrência, poderíamos ter um campeonato para disputar.
            Nas provas seguintes, apesar dos bons indícios de competitividade, tudo pareceu caminhar no sentido de Jacques Villeneuve como candidato único ao título. Duas vitórias de ponta a ponta do piloto canadense, que apesar de fortemente pressionado nas voltas finais de cada corrida, venceu e mostrou o seu favoritismo. Se Villeneuve disparava no campeonato, sobrava o consolo de que a Williams, apesar de favorita, já não mostrava a mesma força de 96. Mas ainda era forte o suficiente para enfrentar a concorrência com alguma sobra. A vitória de Frentzen em San Marino, mesmo suportando forte pressão de Michael Schumacher, ajudou a reforçar essa imagem.
            Aí, veio Mônaco, e junto, uma infindável sucessão de erros por parte de Villeneuve, e da própria Williams.Uma estratégia de corrida equivocada em Monte Carlo permitiu a reação da Ferrari nas mãos de Michael Schumacher, que não perdeu a chance e venceu a corrida. O baque de Mônaco ainda não estava bem digerido quando Villeneuve venceu em Barcelona, aliviando a situação. Só que no circuito catalão a Prost por pouco não meteu um grande susto na Williams, com Olivier Panis terminando em 2º e andando até mais forte do que Villeneuve no final da corrida.
            O que veio nas provas seguintes foi uma inversão total do favoritismo no campeonato. Com os erros da Williams, Schumacher tratou de aproveitar a chance, ao mesmo tempo em que a Ferrari demonstrava forte evolução. Para piorar, em Magny-Cours, terra da Renault, Michael Schumacher venceu a corrida de forma categórica, deixando um enorme ponto de interrogação sobre Jacques Villeneuve, que cometia erros em demasia e até infantis. Nem mesmo a vitória do canadense em Silverstone aliviou o clima de tensão, pois a superioridade da prova era de Schumacher e a Ferrari. Só não venceram porque os carros vermelhos quebraram.
            E o campeonato continuou. Schumacher daqui, Villeneuve dali, cada um levando à sua maneira, com fortes indicações de que, no mano a mano, Schumacher daria um jeito de se virar. Já Villeneuve, por sua vez, precisava rogar pragas na concorrência para conseguir se manter na briga pelo campeonato, tal a quantidade de humilhação que passou, como na Hungria, por exemplo.
            A partir de Monza, curiosamente, tudo parece ter se invertido novamente: a Williams mostrava novamente ter mais carro, e a Ferrari parecia não encontrar mais a boa forma dos GPs anteriores. Mas, para Schumacher, tudo bem. A disputa ainda tinha muitas etapas, e com o seu talento, o alemão estava com tudo para partir para a luta, com convém a um grande campeão.
            Mas há um componente essencial para um campeão: sorte. E seja lá como for, parece que Villeneuve deve andar com diversos pés de coelho, trevos de 4 folhas, ferraduras e sabe-se lá mais o quê dentro de sua Williams. Em duas corridas consecutivas, Áustria e Luxemburgo, deu vitória do canadense. E enquanto Villeneuve se recuperava de sua desvantagem no campeonato e voltava a liderar o mundial, seu desafiante alemão caía pelas tabelas, vítima da queda de performance de seu carro e outros fatores alheios a seu controle.
            Como desgraça pouca é bobagem, nem mesmo a concorrência anda imune ao azar nesta briga. A McLaren que o diga: mostrou ser a melhor equipe nos treinos nas últimas provas e só não está vencendo porque deu tudo errado nas corridas. E a incerteza anda tão forte que, com certeza absoluta, ninguém sabe dizer se as coisas não vão mudar novamente aqui em Suzuka, onde é disputado o penúltimo GP da temporada. O campeonato já mostrou várias reviravoltas este ano e seria muito ousado dizer que não vai mais ocorrer nenhuma surpresa nestas últimas 2 etapas. Seja o que Deus quiser, então!


Com o favoritismo no campeonato restaurado, Jacques Villeneuve tem tudo para conseguir o título aqui em Suzuka, que mais uma vez poderá assistir à decisão de um título mundial, como várias outras vezes. Os japoneses devem estar adorando a situação: com 11 GPs disputados em Suzuka, nada menos do que 6 deles decidiram o título na pista da Honda.


Mais incertezas para a prova de domingo são as condições climáticas japonesas. Vale lembrar que durante os GPs de 1988, 1993, 1994 e 1995, choveu durante o desenrolar da corrida, o que costuma causar traumas em Jacques Villeneuve, ao contrário do que ocorre com Michael Schumacher. Pelo sim, pelo não, desde que chegou no autódromo japonês a Ferrari não pára de fazer coro de ensaio da dança da chuva...


Algum piadista circulando pelo paddock teria dito que viu uma nova foto de Ralf Schumacher com um novo modelo de “capacete”. E, curiosamente, o tal novo “modelo” guarda inúmeras semelhanças com aquele aparato que é usado pelos jumentos que puxam carroças. Verdade ou não, garanto que fiquei muito interessado em ver esta imagem...


Tom Walkinshaw ataca novamente. Cansado de esperar por uma definição nas negociações de motores para 98, o intrépido proprietário da TWR-Arrows optou por uma solução até boa: comprou a empresa de Brian Hart, que é considerado um dos melhores preparadores de motores do automobilismo. A missão de Hart será construir o novo motor da escuderia de Walkinshaw para a próxima temporada. O dinheiro virá da Yamaha, que patrocinará o projeto e o desenvolvimento do propulsor. Hart, que sempre foi impedido de conseguir grandes conquistas com seus motores na F-1 devido à falta de recursos, finalmente terá a chance de construir um motor que se espera ser de primeira linha e vencedor. Uma excelente chance para Brian Hart, certamente muito bem merecida...


Alain Prost faz estudos de longo prazo para sua escuderia. Jacques Villeneuve está em seus planos para a temporada de 1999. Michael Schumacher também não estaria descartado, mas para o ano 2000. Mas o tetracampeão avisa que é preciso manter os pés no chão no presente, e trabalhar com competência para que possa chamar estes pilotos pelos méritos da equipe, e não apenas para fazer farol...


Com uma vitória de Alex Crivillé, o GP da Austrália encerrou a temporada 97 da Motovelocidade 500cc. Michael Doohan, que venceu 12 provas este ano, acabou caindo de sua moto justamente no GP de seu país. Alexandre Barros ficou em 8º na corrida e terminou o campeonato em 9º, com 101 pontos. Nas 250cc, Max Biaggi conquistou o bicampeonato. Que venha 98!

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