Marc Márquez comemora a vitória e a conquista do tricampeonato em Motegi. |
Acabou acontecendo
mais cedo do que o próprio Marc Márquez esperava, mas azar dos outros. Hoje,
quando iniciarem os treinos para o Grande Prêmio da Austrália da MotoGP, no
circuito de Phillip Island, a “Formiga Atômica” já entrará na pista como o mais
novo tricampeão da classe rainha do motociclismo mundial. Márquez encerrou a
fatura no Grande Prêmio do Japão, disputado domingo passado no circuito misto
do complexo de Twin Ring Motegi. Para a Honda, nada mais perfeito do que
conquistar o título da MotoGP justamente em seu circuito. Motegi foi construído
no fim da década de 1990 como um complexo dedicado à velocidade, com proposta
até de receber a F-1, mas felizmente esta nunca aportou por lá. Se as instalações
são excelentes, o desenho da pista mista, que deveria receber os carros da
categoria máxima do automobilismo, é muito inferior ao de Suzuka, onde o GP
japonês está até hoje, tendo tido apenas algumas poucas ausências, quando a
corrida foi disputada em Fuji.
Márquez chegou a
Motegi com 52 pontos de vantagem para Valentino Rossi, seu mais direto
perseguidor. Para encerrar a contenda já no Japão, o piloto da Honda precisava
que a dupla da Yamaha, Rossi e Jorge Lorenzo, não pontuassem, e que ele vencesse
a prova. Nos treinos, a pole-position de Rossi indicava que a tarefa seria
complicada, e com Lorenzo largando em 3°, logo atrás de Márquez, a tarefa de
fechar a conquista do título em terras nipônicas não era levada a sério nem
pelo próprio Marc, que sabia que seria bem complicado conseguir o resultado
mágico de um duplo abandono da equipe rival. Mas, de vez em quando, os deuses
das corridas sabem aprontar algumas supresas...
E foi o que vimos em
Motegi. Na largada, Jorge Lorenzo conseguiu pular para a dianteira, enquanto
Rossi perdia algumas posições, e Márquez ficava na sua. Mas bastaram algumas
poucas voltas para Valentino iniciar sua caçada às primeiras colocações,
enquanto Lorenzo acabava sendo superado por Márquez, que tentava se desgarrar
na frente, ciente de que Rossi não iria aliviar na perseguição dali em diante.
Mas Marc nem precisou ficar tão preocupado. Valentino acabou caindo, logo na 6ª
volta. O “Doutor” ainda conseguiu voltar para pista, mas só deu para chegar aos
boxes e constatar que a corrida já era em definitivo. Sem Valentino na pista, a
única ameaça preocupante era Lorenzo, e não é que faltando 5 voltas para o fim
da corrida, o atual campeão da categoria, que ocupava a 2ª colocação e com isso
adiava o sonho da conquista de Márquez, também acabou caindo? Presente melhor,
impossível, para Márquez, que fechou a bandeirada com sua 5ª vitória na
temporada, e o tricampeonato conquistado.
Com quatro temporadas
na MotoGP, Marc Márquez vai batendo recordes de precocidade. Aos 23 anos, o
piloto espanhol já tem 3 títulos na classe rainha do motociclismo, um título na
Moto2, e outro título na Moto3. Números que já o colocam como um dos gigantes
do motociclismo mundial. Quando estreou na classe rainha, em 2013, Márquez de
cara assustou os concorrentes, e com 6 vitórias, faturou o título da categoria
em seu primeiro ano como piloto da equipe oficial da Honda, marcando 334
pontos, e superando Jorge Lorenzo, da Yamaha, por apenas 4 pontos. Para efeito
de comparação, seu companheiro de equipe, Dani Pedrosa, já experiente piloto na
equipe da Honda, ficou em 3° no campeonato, com 3 vitórias, e 300 pontos. No
ano seguinte, Márquez praticamente arrasaria a oposição, conquistando o
bicampeonato com 13 vitórias na temporada, marcando 362 pontos, deixando Valentino
Rossi como vice-campeão, com 295 pontos, nada menos do que 67 pontos de
vantagem na classificação. Pedrosa, novamente arrasado por Márquez na Honda,
foi apenas o 4° colocado, com apenas 1 vitória, e 246 pontos.
Valentino Rossi caiu na pista japonesa e deu adeus às esperanças de ser campeão da temporada 2016. Luta agora é pelo vice-campeonato, com Jorge Lorenzo. |
O estilo de Márquez
era do tipo “tudo ou nada”. Ou o garoto vencia, ou sofria algum acidente, muito
provavelmente nas vezes em que sofria oposição na pista. Nos dois primeiros
anos, com a Honda tendo o melhor equipamento da competição, em parte foi mais
fácil para Márquez simplesmente pulverizar os rivais na pista, especialmente em
2014. Mas em 2015, foi a Yamaha que apresentou o melhor equipamento, e com
isso, as disputas com a dupla Valentino Rossi e Jorge Lorenzo ficaram bem mais
acirradas. Tentando compensar no braço as deficiências de sua moto, Márquez se
envolveu em quedas e confusões durante o ano. Acabou terminando a temporada em
3/ lugar, vendo a dupla da equipe rival duelar entre si pelo título. Mas o ano
difícil foi benéfico para o jovem espanhol de Cervera, que a partir dali
aprenderia a ter mais constância na pista, e veria que conquistar pontos quando
não dava para vencer era uma tática que dava resultados, e sem deixar de ser
rápido e veloz na pista.
Justamente com essa
nova abordagem, é que Márquez superou seus rivais este ano. A Yamaha começou a
temporada com um desempenho melhor, e a Honda, com alguns problemas com a nova
eletrônica padrão adotada pela categoria, apresentava um equipamento mais
arisco e arredio. Mesmo assim, Márquez foi à luta, e na primeira corrida da
temporada, no Qatar, foi o 3° colocado, superado apenas por Jorge Lorenzo, e
Andrea Dovizioso, da Ducati. Rossi iniciava o ano fora do pódio, em 4°, mas as
diferenças mínimas na bandeirada prometiam uma temporada de bons duelos. Mas
Márquez não precisou esperar muito para brilhar: na Argentina, o piloto da
Honda venceu pela primeira vez na temporada, superou Rossi novamente, e ainda
viu Lorenzo ficar pelo meio do caminho. Nos Estados Unidos, uma nova vitória,
superando Lorenzo, e vendo Rossi ficar sem pontuar. Márquez já despontava como
o favorito ao título, mas seu status era questionável, pois a dupla da Yamaha
tinha tido seus percalços, e quando isso não acontecesse, a parada poderia ser
bem diferente.
Foi o que se viu em
Jerez, com Rossi e Lorenzo a dominarem a corrida, sem dar chance a ninguém.
Valentino venceu, Lorenzo foi 2°, e Márquez, 3° colocado. Ciente de que
discutir a vitória com os pilotos da Yamaha era inviável naquele dia, achou o
degrau mais baixo do pódio suficiente. E não estava errado. A corrida seguinte,
em Le Mans, foi o ponto mais baixo de Márquez na temporada. Enquanto a dupla da
Yamaha fazia uma nova dobradinha, Márquez era apenas o 13° colocado, marcando
parcos 3 pontos. Será que Marc ficaria para trás, enquanto Rossi e Lorenzo
disparavam na frente? Muitos pensavam que isso aconteceria de fato. Marc ainda
se digladiava com uma moto mais arisca, enquanto a Yamaha ainda tinha o melhor
equipamento. Mas a Honda haveria de se acertar, e Márquez, a adaptar-se ao
comportamento da moto. Na etapa seguinte, em Mugello, Márquez travou um
acirrado duelo com Lorenzo, vencido por este na linha de chegada, numa disputa
emocionante que levantou todo mundo nas arquibancadas. Se Marc não venceu, pelo
menos Rossi ficou pelo meio do caminho, vítima de problemas mecânicos em sua
moto.
O “Doutor” voltaria à
carga total em Barcelona, deixando Márquez para trás, e vencendo a corrida. Com
o 2° lugar, o piloto da Honda se deu por satisfeito, até porque Lorenzo mais
uma vez ficou pelo meio do caminho. Estava dado o sinal: enquanto a dupla da
Yamaha acumulava abandonos de sua dupla de pilotos, Marc pontuava tem
praticamente todas as corridas. E estes pontos haveriam de ser muito valiosos
nas etapas seguintes, onde a MotoGP viu nada menos do que 6 vencedores
diferentes em 6 provas, num raro momento de diversidade de vencedores como há
muito não se via. Jack Miller, da Marc VDS, venceu na Holanda; Márquez voltou a
vencer, na Alemanha; Andrea Iannone levou a Ducati à vitória na Áustria; Carl
Crutchlow, da LCR, triunfou na República Tcheca; Maverick Viñales, da Suzuki,
venceu na Inglaterra; e Dani Pedrosa, companheiro de Márquez na Honda, voltaria
ao degrau mais alto do pódio em San Marino. E nessas corridas todas, Márquez
sempre esteve bem na zona de pontuação: foi 2° na Holanda; venceu na Alemanha;
5° colocado na Áustria; 3° colocado na República Tcheca; 4° na Inglaterra; 4°
novamente em San Marino. E foi Márquez quem venceu novamente na pista de
Aragão, na Espanha, em um momento onde Valentino Rossi vinha diminuindo
paulatinamente a grande vantagem acumulada pelo piloto da Honda, para
sacramentar, de uma vez por todas, que ele ainda era o grande favorito na luta
pelo título, e não deixaria a guarda baixa.
Enquanto foi
acumulando pontos, a dupla da rival Yamaha tinha provas cheias de altos e
baixos, especialmente Jorge Lorenzo. Sem conseguir vencer novamente desde a
prova da Itália, em Mugello, o piloto espanhol ainda sumiu nas corridas onde a
chuva esteve presente a meio da temporada, obtendo resultados pífios para um
piloto de sua envergadura. Abandonou em Barcelona; foi 10° na Holanda; 15° na
Alemanha; 3° na Áustria; 17° na República Tcheca; 8° na Inglaterra; 3° em San
Marino; e 2° em Aragão. Valentino Rossi, por sua vez, teve performance mais
constante, mas também acabou tendo seus reveses, depois da etapa da Catalunha:
caiu da moto na prova sob chuva na Holanda; foi apenas 8° na Alemanha; 4° na
Áustria; 2° na República Tcheca; 3° na Inglaterra; 2° em San Marino; e 3° em
Aragão.
O próprio Márquez
admitiu que foi difícil ser “moderado” na atual temporada. Ele precisou ir
contra seu instinto de dar sempre o tudo por tudo, tendo de se contentar em
garantir a melhores posições possíveis, uma vez que nem sempre era possível
vencer. E, ao mesmo tempo, aprendeu a domar o seu equipamento, mais arisco e
arredio que o dos rivais, com seu grande talento, e a evolução que foi aos
poucos sendo conseguida pela Honda. Marc conseguiu dar o melhor de si em todas
as provas, enquanto os rivais enfrentavam seus próprios problemas, e iam
ficando pouco a pouco para trás. Márquez tornou-se um piloto muito mais
completo, consciente de como enxergar o panorama das corridas e do campeonato,
e para azar dos concorrentes, não ficou mais lento com esta nova abordagem. O
tricampeonato é mais do que merecido, pelo conjunto de resultados que conseguiu
acumular ao longo da temporada.
E a disputa na MotoGp
ainda não acabou. Valentino Rossi e Jorge Lorenzo vão brigar ferozmente pelo
vice-campeonato. Lorenzo, de partida para a Ducati em 2017, quer deixar a
Yamaha por cima, enquanto Rossi, que permanecerá no time dos três diapasões,
quer mostrar que ainda tem muita lenha para queimar, e já fala em competir até
depois dos 40 anos, mostrando um entusiasmo juvenil como o de qualquer garoto.
E não esqueçam do próprio Marc Márquez, que uma vez conquistado o título da
temporada, poderá pilotar à vontade nestas três corridas que faltam para
terminar a temporada, e quem sabe, voltar ao seu velho estilo implacável, para
poder relaxar um pouco e mostrar do que é realmente capaz com sua moto.
Aos rivais, um claro
recado: Márquez vai continuar sendo o homem a ser batido nas pistas da MotoGP
em 2017. O principal trunfo da concorrência, que era aquele piloto impetuoso,
por vezes instável, mas absurdamente veloz e talentoso, que corria como se não
houvesse amanhã, aprendeu que dá para vencer sem se esgoelar feito louco para
isso. Mais centrado, e ciente de respeitar os limites do momento, Márquez pode
ter atingido a maturidade para de fato tornar-se um piloto extremamente difícil
de ser batido. Dependerá apenas dele próprio, e da Honda. Os concorrentes que
se preparem...
Com 4,4 Km de extensão, o
circuito de Phillipe Island é a sede do Grande Prêmio da Austrália de MotoGP. A
pista possui 7 curvas para a esquerda e 5 curvas para a direita, e a corrida
terá um total de 27 voltas, totalizando um percurso de 120,1 Km. No ano passado
a vitória foi de Marc Márquez, com Jorge Lorenzo em 2°, e Andrea Iannone em 3°.
O australiano Casey Stoner é o maior vencedor deste GP, ao lado de Valentino Rossi,
ambos com 6 vitórias cada. Stoner também é o recordista de poles, com 5. O
canal pago SporTV mostra a corrida da classe rainha do motociclismo ao vivo
neste domingo a partir das 3:00 Hrs., horário de Brasília.
O Circuito das Américas, em Austin, no Texas, recebe a F-1 mais uma vez. |
Hoje começam os treinos livres
para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, no belo Circuito das Américas, próximo
a Austin, capital do Estado do Texas. Na pista, Lewis Hamilton tem de reagir na
competição, a fim de tentar neutralizar a enorme vantagem de 33 pontos
acumulada por seu companheiro de equipe Nico Rosberg na liderança do
campeonato. Foi aqui nesta pista onde Hamilton sacramentou a conquista de seu
tricampeonato, no ano passado, aproveitando-se de uma bobeada de Rosberg para
vencer e encerrar a luta pelo título antecipadamente. Isso não é possível de
acontecer este ano: mesmo que Rosberg vença e Hamilton não pontue, não haverá
como fechar matematicamente a disputa pelo título, pois a diferença iria a 58
pontos, com 75 ainda em disputa nas 3 provas finais. Este é sem dúvida o melhor
circuito no qual a F-1 já se apresentou nos Estados Unidos, pela estrutura e
desenho da pista, uma rara unanimidade, em se tratando de autódromos projetados
por Hermann Tilke. Uma pena que as provas disputas por aqui nunca foram das
mais empolgantes. No ano passado, o temporal que caiu complicou os treinos, e o
início da corrida foi meio caótico. Depois que a pista secou um pouco, a
corrida levou um tempo para assentar, mas enquanto isso não acontecia, até que
houve várias mudanças de posição e disputas entre os pilotos. Vejamos se este
ano eles se lembraram de não convidar São Pedro para o final de semana do GP...
E lembrando a todos: a Globo não
vai transmitir o Grande Prêmio dos Estados Unidos ao vivo por causa do futebol.
Quem quiser assistir à corrida terá de acompanhar pelo canal pago SporTV, que
transmitirá tudo ao vivo a partir das 17:00 Hrs, horário de Brasília...
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