Lewis Hamilton vinha cumprindo seu script rumo a mais uma vitória sem erros na Malásia, quando seu motor o deixou na mão. Abandono pode ser crucial para definição do título. |
Hoje começam os
treinos oficiais para o Grande Prêmio do Japão, e a pergunta que mais se ouve
no paddock de Suzuka é se Lewis Hamilton vai conseguir partir para a revanche
na luta pelo título, após o revés inesperado sofrido domingo passado em Sepang. Para Nico
Rosberg, que foi o grande sortudo da prova malaia, depois de um início de
corrida que parecia dos mais desanimadores, sair do circuito com 23 pontos de
vantagem na classificação era algo que o alemão não esperava nem em sonho.
Lewis Hamilton vinha
cumprindo seu dever conforme o script exigia: largou na pole, e em vista da
estratégia da Red Bull, que parecia colocar Max Verstappen em condições de
ameaçar a vitória do piloto da Mercedes, o atual campeão vinha aumentando
paulatinamente sua vantagem, e já estava praticamente com a vantagem em pista
necessária para fazer sua última parada e voltar ainda na frente, a menos que a
Mercedes fizesse alguma burrada no pit stop. Mas eis que o motor Mercedes de seu
carro quebrou, e Hamilton, mais desiludido do que nunca, deu adeus a uma
corrida onde tinha tudo para retomar a liderança. Acontece. E, este incidente
pode até decidir o título. Faz parte do jogo, e há de se lembrar que
antigamente, quando os carros eram menos fiáveis do que hoje, abandonos por
quebra mecânica, e até mesmo por falta de combustível, eram coisas bem comuns.
Nesta era atual, onde elevaram os patamares de confiabilidade dos carros a
níveis absurdos em virtude das exigências do regulamento de determinados
sistemas terem de durar X ou Y provas, as quebras tornaram-se menos rotineiras.
E, talvez por isso mesmo, tenham ficado ainda mais dolorosas para os pilotos,
em determinados momentos.
Hamilton acusou o
golpe em Sepang, pelas declarações ridículas que deu após a corrida, chegando a
insinuar que o time pode preferir ver Nico Rosberg campeão ao invés dele. Nada
mais estapafúrdico: a Mercedes tem mais é que receber os elogios por deixar que
sua dupla duele abertamente, o que ajuda o show da F-1 em um momento onde o
time alemão quase não tem oposição das demais escuderias, ao contrário da
atitude covarde tomada pela Ferrari nos tempos de domínio de Michael
Schumacher, quando não permitia a seus segundos pilotos duelarem abertamente
contra o alemão. Hamilton vinha tendo um comportamento até exemplar este ano.
Mesmo quando ficou 43 pontos atrás de Nico na classificação, pareceu manter
muito bem a cabeça no lugar, e sabia que seria apenas questão de acertar os
ponteiros para reagir no campeonato. E ele o fez com notável desenvoltura,
aproveitando os momentos em que as coisas passaram a dar errado para seu
parceiro, e a jogar duro quando Rosberg tentou intimidá-lo, como na Áustria. A
ponto de a desvantagem de 43 pontos tornar-se uma vantagem de 19 pontos, imediatamente
antes da F-1 entrar nas férias de agosto.
Pelo que Hamilton
vinha mostrando até ali, seria difícil batê-lo, a menos que algo errado
acontecesse. Até mesmo as punições calculadas em Spa-Francorchamps, para
permitir queo inglês tivesse opção de mais unidades de potência à disposição
para o restante do campeonato, correu conforme o script traçado em confirmar o
favoritismo do piloto inglês, com Nico Rosberg ficando cada vez mais com aquele
ar de dejá vu, em que seria novamente vice-campeão, apesar de todos os seus
esforços.
Mas, a partir de
Monza, quem diria, a situação se complicou novamente para os lados de Hamilton.
Se o inglês anotou uma pole com autoridade na Itália, uma largada falha
arruinou completamente suas chances de vitória. Nico Rosberg agradeceu, e
venceu sabendo que era uma chance que seria rara, em condições normais dali em diante. E, em Cingapura,
circuito onde a Mercedes havia falhado em vencer no ano passado, confirmou-se
novamente uma prova que seria difícil para o time alemão impor sua supremacia.
Mas Nico, aproveitando as oportunidades, não apenas marcou mais uma pole, como
venceu praticamente de ponta a ponta, enquanto Lewis não conseguia ter o mesmo
desempenho. O que devia ser uma vantagem controlada, voltou a ser desvantagem,
e Nico assumia novamente o comando do campeonato. Era preciso reagir, e
Hamilton foi à luta em Sepang, onde tudo parecia caminhar para o que se
esperava... até o motor do inglês ir para as cucuias.
Nico Rosberg nem se importou em terminar em terceiro em Sepang. O piloto alemão agora tem 23 pontos de vantagem para Hamilton na classificacão. |
Por essas e outras,
quando os pilotos da Mercedes tiverem entrado na pista de Suzuka hoje, Hamilton
vai querer mais do que nunca partir para o ataque. Com esta corrida, faltarão
as provas dos Estados Unidos, do México, do Brasil, e Abu Dhabi, para encerrar
o campeonato. Tem muito chão pela frente, mas a vantagem aberta por Rosberg, de
23 pontos, vai exigir de Hamilton empenho total em vencer. Se Nico
for segundo colocado, e imaginando que Lewis vença todas as corridas, ele só
recupera a dianteira na classificação na etapa do Brasil, e mesmo assim, seria
por 5 pontos de vantagem. Isso na hipótese de tudo dar certo para ele na
corrida, mas vendo o rival chegar logo atrás. Iríamos para Abu Dhabi ver uma
decisão onde tudo poderá acontecer. Mas não podemos descartar a hipótese de
algo dar errado para Hamilton, e se isso ocorrer, tudo ficará bem complicado.
E tudo vai depender do
que virmos aqui em Suzuka. Se Hamilton
não colocar a cabeça no lugar, e acabar cometendo outro erro, ou ver Rosberg
aumentar ainda mais sua vantagem, o piloto alemão pode dar um passo decisivo
para chegar ao seu primeiro título. Nas provas finais do ano passado, foi
Rosberg quem dominou as corridas, embora o campeonato já tivesse sido
matematicamente decidido a favor de Lewis. Se Nico se encher de brios e repetir
a pilotagem precisa daquelas etapas, será muito complicado batê-lo. E, se ele
andar bem, aí é que Hamilton pode acabar perdendo as estribeiras, se sentir que
seu possível 4º título irá para o brejo. Ou o inglês parte para o início da
revanche aqui no Japão, ou tudo ficará ainda mais complicado nas outras etapas.
E olhe que estou falando apenas como se a Mercedes corresse sozinha na pista. É
preciso lembrar de combinar com a concorrência, especialmente com a Red Bull,
que pode incomodar ainda mais em
Suzuka. O longo trecho da primeira metade da pista japonesa é
cheio de curvas, e exige um chassi extremamente equilibrado, o ponto forte do
RB12. Podem apostar que, depois da dobradinha conquistada em Sepang, o time dos
energéticos vai querer um bis, e olhe que Sepang tinha duas longas retas em que
a unidade de força da Renault deveria ter problemas para acompanhar o ritmo das
Mercedes, e em tese, até das Ferrari.
Aqui em Suzuka, o
grande número de curvas na primeira metade da pista é contrabalançado pelo
longo trecho em subida na segunda metade, que deve roubar desempenho da unidade
de potência francesa. E temos também o trecho da veloz curva 130R, logo após
este bom pedaço de reta. Mas podemos esperar por uma Red Bull pronta para botar
pra quebrar. E com sua dupla de pilotos mais do que motivada. Não vamos
esquecer que em 1993 Ayrton Senna venceu aqui com uma McLaren cujo motor Ford
V-8 não rendia o mesmo que o Renault V-10 da Williams de Alain Prost. Chuva à
parte na corrida daquele dia, é uma maneira de dizer que a Mercedes pode ter
dores de cabeça com o time dos energéticos nesta pista. E a Mercedes já tem
suas preocupações: a quebra da unidade de Hamilton deixou o time em alerta,
pois não havia nada que indicasse que ela estava prestes a quebrar, ou que
apresentasse algum problema que pudesse indicar isso. A questão é se pode
aparecer alguma outra surpresa no fim de semana.
Com relação a quem
pode ser o principal adversário do time prateado na corrida, favoritismo
teórico da Red Bull à parte, a Ferrari ainda vai querer tirar satisfações na
luta pelo vice-campeonato, algo que ficou bem mais complicado depois da
dobradinha da equipe austríaca em
Sepang. Se ficar enrolada em uma disputa com os carros
vermelhos, a Red Bull pode acabar deixando de ser uma preocupação, mas a ordem
em Maranello é tentar salvar o que resta da temporada, e para isso, ser pelo
menos vice-campeão de construtores é a ordem máxima, porque no campeonato de
pilotos, Daniel Ricciardo já escapuliu demais para uma reação tanto de Vettel
quanto de Raikkonen. E ainda tem Max Verstappen querendo se meter nesta briga,
o que será outra dor de cabeça para a dupla ferrarista. Imaginem se o moleque
atrevido termina o ano à frente de ambos? Se Vettel soubesse a encrenca que
arranjaria quando criticou Daniil Kvyat após a etapa da Rússia e provavelmente
desencadeou (ou no mínimo precipitou) o processo de troca dos pilotos entre a
Red Bull e a Toro Rosso...
A prova de Suzuka tem
tudo para ser interessante no domingo. E, dependendo do que virmos nos treinos
livres e na classificação, talvez tenhamos uma disputa mais ferrenha pelo
título, ou uma antecipação de quem pode vir a levar o troféu da temporada.
Portanto, vamos para os treinos livres (este texto foi fechado nesta
quinta-feira, antes do início dos mesmos), e esperemos por um bom fim de semana
para a F-1 no Japão.
Lewis Hamilton não foi o único
piloto a sofrer um desastre completo com o resultado do Grande Prêmio da
Malásia. Sebastian Vettel, que tinha chances de fazer uma boa corrida, mesmo
largando atrás das duas Red Bull no grid, acabou com sua corrida logo na
primeira curva, ao abrir demais na tentativa de ganhar posições, e acabou
acertando Nico Rosberg, que teve muita sorte de sua suspensão traseira ter
aguentado a pancada recebida do carro do alemão da Ferrari, que viu sua suspensão
dianteira torta logo ali, e deu adeus à corrida. Com o resultado, Vettel acabou
novamente superado por seu companheiro Kimi Raikkonen na classificação. O
finlandês agora é o 4º colocado, com 160 pontos, enquanto Vettel é o 5º, com
153. Mas, mesmo que não abandonasse, e tivesse uma corrida normal, sem
problemas, Vettel certamente amargaria mais uma derrota para a Red Bull,
terminando a corrida possivelmente em 3º lugar. Raikkonen foi o 4º colocado,
com 28s785 de desvantagem para Daniel Ricciardo, o vencedor. Nico Rosberg foi o
3º colocado, cruzando a linha de chegada com 25s516. Max Verstappen, o 2º
colocado, ficou a apenas 2s443 do piloto australiano e companheiro de equipe na
Red Bull. Só lembrando que foi na Malásia que Vettel venceu pela primeira vez
com a Ferrari, no ano passado, e tudo dava a impressão de que o tetracampeão
iria levar a Ferrari de volta ao topo da F-1 no curto prazo... A situação ficou
muito a desejar nesta temporada. Todo mundo no paddock fica imaginando o que
Vettel deve estar pensando em ver seu ex-time vencer novamente uma corrida,
enquanto a Ferrari só não anda mais para trás porque Force India e Williams
estão ainda mais para trás.
Felipe Massa, decididamente, não
está conseguindo fazer um fim de carreira satisfatório na F-1. Em Sepang, após
conseguir realizar um treino classificatório até razoável, viu suas chances de
obter um bom resultado irem para o brejo logo antes da largada, quando teve um
problema no acelerador de seu carro e teve de largar do fim do grid. E, como desgraça
pouca é bobagem, o piloto brasileiro ainda teve um pneu furado durante a
corrida, o que só ajudou a tornar o dia esquecível, finalizando a corrida em
13º lugar, e novamente sem conseguir marcar pontos. Em contrapartida, Massa
ainda teve de ver Valtteri Bottas finalizar numa ótima 5ª colocação, e chegar
aos 80 pontos, consolidando-se como melhor piloto do “resto” do grid, após as
duplas de Mercedes, Red Bull e Ferrari. Massa ainda acabou superado na
classificação do campeonato por Fernando Alonso, que largou em último e fez uma
corrida combativa para terminar em 7º lugar, bem próximo de Sérgio Perez, o 6º,
e Bottas, o 5º lugar. Se continuar nessa toada, a despedida de Massa da
categoria não deixará mesmo saudades...
O traçado que a F-E usará em Hong Kong tem 10 curvas e aproximadamente 1,86 Km. |
A Formula-E prepara-se para
iniciar a sua terceira temporada, e o novo palco de estréia é em Hong Kong, ao sul da
China, que substitui a prova de Pequim, que deu início à competição nos dois
anos anteriores. A nova pista tem 1,86 Km de extensão, com 10 curvas, e possui
até um trecho razoável de reta, mas não se pode imaginar que as ultrapassagens
serão fáceis: o traçado é pequeno, e mesmo o trecho de reta, após uma curva em
hairpin após a reta de largada, pode não facilitar tanto quanto se imagina no
mapa. Amanhã, sábado, a categoria inicia suas atividades, com o shakedown de
todos os carros, e até demonstração de corrida da Robo Race, carros robôs
elétricos sem pilotos que podem ser uma das sensações do futuro. No domingo, a
corrida será disputada em 45 voltas no circuito, às 15:30 horas locais. O canal
pago Fox Sports mostrará a corrida na íntegra a partir das 8:15 Hrs, pelo
horário de Brasília. Na pista, apenas dois brasileiros nesta temporada: Lucas
Di Grassi segue defendendo a escuderia Audi ABT; enquanto Nelsinho Piquet
aguarda um ano menos problemático com a NexTev Racing, que praticamente teve um
ano para esquecer na última temporada. Bruno Senna, infelizmente, não conseguiu
renovar com a equipe Mahindra, e está fora da competição. E um dos destaques da
nova temporada é a estréia da Jaguar, que vem como equipe completa para o
certame dos carros monopostos elétricos, com a dupla de pilotos Adam Carroll e Mitch
Evans. Apesar de negar o favoritismo, Lucas Di Grassi é um dos nomes mais
fortes do grid, ao lado do atual campeão Sébastien Buemi, que deve ser o piloto
a ser batido. Liguem suas tomadas que a nova temporada da F-E promete boas
disputas e emoções.
Hong Kong dá a largada para a nova temporada da Formula-E. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário