sexta-feira, 2 de setembro de 2016

EQUILÍBRIO E BOM SENSO


Max Verstappen e Kimi Raikkonen em disputa de posição na Bélgica: atrevimento do holandês na pista poderia ter provocado um acidente entre os dois na reta Kemmel.

            Depois de retornar das férias de agosto, a F-1 engatou dois Grandes Prêmios em dois fins de semana consecutivos, nas pistas mais carismáticas do calendário, Spa-Francorchamps e Monza, e hoje todos os pilotos entram novamente na pista do circuito italiano para a disputa do GP da Itália, que começa a semana com a boa notícia da renovação do acordo da F-1 com a pista por mais alguns anos, que estava em perigo de não acontecer, devido às constantes exigências de Bernie Ecclestone, sempre exigindo valores mais altos para manter a prova italiana nesta pista, uma das poucas do calendário onde se pode sentir a paixão do torcedor pelas corridas como não se vê em muitas das etapas novas da competição, compradas a toque de caixa pelos governos de países ao redor do mundo, que não se furtam a pagar as altíssimas taxas exigidas por Bernie.
            Mas o assunto da semana aqui no paddock do circuito italiano é a condução arrojada e estilo abusado de Max Verstappen, que andou se estranhando com os pilotos da Ferrari em Spa-Francorchamps, a ponto de receber críticas de vários pilotos e pessoas ligadas ao meio da F-1. Há quem defenda o arrojo do jovem holandês, que realmente vem dando uma sacudida mais do que bem-vinda na F-1, e que precisa, mais do que nunca, de algum atrativo para se manter em evidência, em um momento onde a supremacia da Mercedes não ajuda a empolgar a grande massa de fãs pelo mundo afora.
            O bate-boca em cima de Verstappen já não é de hoje. No ano passado, o garoto prodígio da Red Bull, então na Toro Rosso, envolveu-se num forte acidente com Romain Grosjean em Mônaco, levando ele e Romain para os muros de proteção da curva Saint Devote, onde felizmente ninguém se machucou feio, mas proporcionando uma saraivada de críticas ao piloto mais jovem da história a competir na F-1. Na época, escrevi que boa parte das críticas eram exageradas, pois Verstappen estava disputando seus primeiros GPs, e em face de uma F-1 onde hoje não se permite treinar a contento, os erros que ele cometia eram até normais, e que outros grandes nomes da F-1 já haviam tido seu momento de “barbeiros” na pista, e que seria questão de tempo até o jovem Max pegar melhor as manhas da categoria máxima do automobilismo, e lapidar o seu imenso talento às necessidades de prudência e respeito para com os demais pilotos na pista.
            Afinal, há alguns anos atrás, quem arrumava encrenca nas pistas por excesso de vontade era Lewis Hamilton, e hoje o atual tricampeão da F-1 conseguiu aliar seu arrojo costumeiro a uma visão de corrida que lhe permite ser mais cerebral e preciso, sabendo quando forçar ou não na disputa na pista, e isso sem deixar de ser veloz ou agressivo. Tudo bem que de vez em quando ainda dá umas cacetadas, mas ele aprendeu a ser um piloto além dos adjetivos simples de arrojado, agressivo, etc. Romain Grosjen, então, arrumava confusão em quase todo início de corrida, e lá mesmo, na Bélgica, acabou provocando um de grandes proporções a há alguns anos atrás, sendo até suspenso justamente da prova seguinte, aqui na Itália. Mas Romain evoluiu, e hoje é um piloto muito bem conceituado. Sérgio Perez foi outro piloto que recentemente até andou fazendo barbaridades na pista, e teve uma passagem tumultuada pela McLaren. Retomou seu rumo na Force India, e hoje vem fazendo sua melhor temporada na F-1. E ele não deixou de ser agressivo na pista, apenas aprendeu a dosar um pouco seu excesso de ímpeto e arrojo.
            Max Verstappen, por outro lado, está no centro das atenções da categoria este ano. Promovido para o time da Red Bull na corrida da Espanha, onde teve um excelente desempenho, e venceu em sua estréia em um time de ponta, o atrevido holandês tem mostrado personalidade na pista e fora dela. Mas também vem demonstrando que seu atrevimento pode escapar um pouco do controle, e isso pode ser algo perigoso. Quando questionado pelo modo como se defender perigosamente de Kimi Raikkonem numa disputa de posição na reta Kemmel, o ponto de maior velocidade da pista belga, dando uma ziguezagueada abrupta na frente do piloto da Ferrari e obrigando Kimi a tirar o pé e praticamente sair da pista para não bater, ele simplesmente se lixou para o que o finlandês falou, declarando que, se ele não gostou, o problema era dele, Raikkonen, e fim de papo, praticamente. Max conseguiu a proeza de tirar Raikkonen do sério, e todo mundo no paddock sabe que quando o “Homem de Gelo” fica “mordido” assim, não é por qualquer coisa...
Estilo bateu, levou: Verstappen disse que se os outros não gostaram do que do que ele fez na pista, azar o deles. Respostas atrevidas que já estão gerando antipatia pelo piloto da Red Bull.
            E, de fato, a manobra de Max na reta foi perigosa. Não fosse Raikkonen um piloto extremamente experiente, e conhecedor da pista belga, poderíamos ter visto um acidente violento ali, pela alta velocidade do momento. Max deu de ombros, e como não foi nem sequer chamado pelos comissários para dar explicações, simplesmente não vê nada de errado em suas atitudes na pista. E isso já é mais um erro que ele comete: ao simplesmente ignorar que está na pista com vários outros pilotos, o garoto prodígio da Red Bull pode começar a se achar acima de todos, e a fazer o que bem entende na pista. Ele criticou Raikkonen na largada pelo toque que sofreu em sua asa dianteira, praticamente culpando o finlandês por ter tido sua prova comprometida e não ter marcado pontos. Só que o real culpado, na ordem do enrosco na La Source, foi Sebastian Vettel, seguido por ele, Verstappen. Raikkonen foi parte inocente nesta história, porque acabou fechado por Vettel por fora na curva, enquanto Max veio por dentro, e em momento algum aliviou na dividida de curva, mesmo vendo que já estava praticamente rente ao muro tentando achar espaço para ultrapassar a dupla ferrarista. Kimi ficou sem ter para onde ir, acabou tocado por Vettel e acertou Max no embalo do toque.
            Jacques Villeneuve declarou que, se alguém não pôr algum “freio” em Max, podemos ver a um acidente feio a qualquer momento, com consequências que não serão nem um pouco agradáveis. Os fiscais, e principalmente a Red Bull precisam ter uma conversa séria com o piloto sobre essas atitudes, que podem resultar em um comportamento perigoso dentro da pista, para não mencionar que o seu atrevimento nas discussões já estão fazendo o garoto arrumar “inimigos” e não adversários na pista. Numa próxima dividida de posição, seu concorrente na pista dificilmente irá aliviar, e conhecendo o estilo agressivo de Verstappen, o pau vai comer, no pior sentido da palavra. Basta ver as rusgas ocorridas entre ele e Carlos Sainz Jr. durante a prova da Austrália neste ano, quando ele bateu boca com sua equipe pelo rádio, pedindo para que eles “tirassem” o espanhol da sua frente na pista, como se Carlos não tivesse direito de disputar sua prova. Max exagerou, e acabou tocando no seu então parceiro na Toro Rosso, por pouco não tirando ambos da corrida. E mesmo assim ele voltou a ir para cima do espanhol, sem muitos cuidados. Um estrelismo que só cresceu quando foi alçado ao time principal dos energéticos e já venceu sua primeira corrida, assombrando o mundo. E nem é preciso dizer que ele já começou até a tirar o sono de Daniel Ricciardo dentro da escuderia, e não somente por andar na frente do australiano na pista. Há quem diga que o clima nos boxes passou a ser um pouco mais tenso entre a dupla de pilotos, situação que não existia antes. E Daniel Ricciardo não é exatamente um piloto que anda comprando brigas...

Max Verstappen estreou com vitória na Red Bull no GP da Espanha, e já é a sensação da temporada. Mas o estrelismo e excesso de ego podem queimar o filme do holandês na pista.
            As opiniões sobre Max se dividem: para alguns, ele é a emoção que falta em um campeonato marcado pelo domínio sonolento da Mercedes, como se os demais pilotos na pista estivessem fazendo corpo mole nas disputas. Verdade seja dita: o excesso de punições aplicadas aos pilotos da F-1 nos últimos anos atingiu níveis preocupantes, e não foi pelo fato de a categoria ter virado um derby de demolição, mas pelo fato de os fiscais começarem uma “caça às bruxas” na condução dos pilotos, onde até um olhar torto pode render punição. Claro que isso deixou muitos pilotos, mas principalmente as escuderias, ressabiadas com a possibilidade de punições, e com isso, perda de resultados melhores de seus pilotos nas corridas, o que foi levando a uma certa postura até “conservadora” por parte de alguns pilotos, o que tirou em boa parte a sensação e o fascínio das disputas na pista. E com razão, pois o fã quer ver o pessoal duelar, e com a faca nos dentes. Por isso mesmo, as disputas agressivas de Max estão chamando tanta atenção, por fugir desse “panorama” a que a F-1 se acostumou nos últimos anos, inclusive com vários pilotos hoje chegando a condenar certas atitudes que antigamente eram até banais na categoria, como toques entre os carros. Hoje, toda encostada que algum piloto dê já é motivo para punição, ou quase toda encostada...
            E é mais do que notório que o piloto hoje precisa chegar “chegando” na F-1, mais do que nunca, para se fazer notar. E sabendo que as câmeras e holofotes estão voltados para si, Verstappen quer mostrar tudo do que é capaz, inclusive que não se deixa intimidar por “medalhões” da categoria. Isso não é novidade: Ayrton Senna, Michael Schumacher e Lewis Hamilton chegaram causando sensação e algum rebuliço, batendo de frente com alguns nomes já consagrados na F-1. É uma estratégia para se impor e marcar território, pois dentro da pista é um verdadeiro cada um por si, sem espaços para amizades e condescendências. Mas todos eles, depois de algumas encrencas, souberam encontrar seu equilíbrio e cavar o seu espaço de forma menos agressiva e com mais ética nas disputas de pista, e sem deixarem de ser arrojados.
Na largada em Spa, Raikkonen foi "prensado" por Sebastian Vettel por fora, e acabou atingido por Verstappen por dentro. O piloto da Red Bull ainda acusou o finlandês pelo toque ocorrido ali.
            Por isso mesmo, Max precisa reconhecer que anda abusando em algumas disputas, e cometendo alguns erros que podem gerar sérias consequências. E ele precisa aprender a ter respeito por seus companheiros na pista, o que em hipótese alguma significa deixar de ser rápido e agressivo. Todos os pilotos precisam se respeitar um mínimo na disputa. Afinal, por mais seguros que sejam os carros, com o se viu no violento acidente de Kevin Magnussen na saída da Eau Rouge, não é por causa disso que todo mundo vai tomar atitudes irresponsáveis na pista, pois um acidente pode ter consequências imprevisíveis. E o jovem holandês, se ficar convencido de que tudo pode fazer na pista, mais cedo ou mais tarde pode arrumar encrenca brava em algum duelo, se não se impor um mínimo de moderação no pé direito no acelerador.
            Que a Red Bull saiba trabalhar a cabeça do rapaz, que se moderar um pouco a sua agressividade e apetite, pode ter uma carreira brilhante na F-1. Max precisa baixar um pouco sua crista, ter um pouco mais de humildade no seu trato com os rivais, ouvindo o que eles podem dizer que seja importante. E não saindo dando botinadas em todo mundo que discorda de seus gestos e atitudes. Caso contrário, na hora que algo der errado, e Max acabar se estrepando, ou complicando outrem, causando um problema realmente grave, ele certamente não terá a simpatia ou condescendência dos demais caso necessite. É preciso chegar a um equilíbrio e bom senso, que conjugue as melhores características destes dois quesitos.
            A F-1, por outro lado, também precisa achar esse equilíbrio e bom senso, devolvendo aos pilotos um pouco mais de liberdade para travarem suas disputas de pista sem ficarem com o facão dos fiscais e comissários rondando suas cabeças pronto para lhes aplicar uma punição, e ter o bom senso de usar e aplicar estas punições somente quando um exagero for realmente cometido, e não a torto e a direito, como tem acontecido nos últimos anos. Duelos arrojados e agressivos precisam ser a tônico e o normal da categoria, e não a sua exceção.
            O pessoal se encanta com Verstappen justamente por sentir a falta destas disputas vigorosas e firmes na categoria máxima do automobilismo. Algo que eles não perderão se Max tiver um pouco mais de moderação e respeito na pista. Verstappen não irá perder nada com isso, muito pelo contrário, ele só terá a ganhar... E mais do que imagina...


A MotoGP inicia hoje os treinos para o Grande Prêmio da Inglaterra, no tradicional circuito de Silverstone. Marc Márquez entra novamente na pista para defender sua liderança do campeonato, mas na verdade, sua vantagem para Valentino Rossi, o atual vice-líder, é tão grande que o italiano poderia vencer as próximas duas etapas e mesmo que Marc abandonasse ambas, ainda assim permaneceria na primeira posição. Mas a dupla da Yamaha precisa reagir se quiser discutir o título da temporada. Já Jorge Lorenzo torce para o clima não aprontar das suas no circuito inglês, uma vez que o atual campeão da classe rainha do motociclismo apanhou feio domingo passado na corrida da República Tcheca, na pista de Brno. A corrida terá 20 voltas no traçado de 5,9 Km de Silverstone, com 8 curvas para a esquerda e 10 para a direita. O canal pago SporTV2 transmite a corrida ao vivo na manhã de domingo, às 11h30, pelo horário de Brasília.


Depois de finalizar a disputa do GP do Texas no último final de semana, a Indy Racing League já volta à pista neste final de semana, no circuito de Watkins Glen, na Costa Leste dos Estados Unidos. Pista das mais tradicionais do automobilismo norte-americano, o circuito retornou este ano ao calendário da categoria e virtude do cancelamento da corrida de Boston, que enfrentou percalços financeiros e antipatia por parte da população do entorno da cidade onde a prova seria realizada. Menos mal: as últimas provas em circuitos urbanos criados pela direção da categoria não conseguiram cair no gosto dos torcedores, e menos ainda no dos pilotos, e arrumaram uma das melhores pistas dos EUA para tapar o buraco no calendário. Glen é um circuito das antigas que já recebeu várias provas da categoria em anos recentes, durante as temporadas de 2005 a 2010. Will Power, da Penske, foi o último vencedor por lá, na etapa de 2010. Já o neozelandês Scott Dixon, da Ganassi, é o maior vencedor da pista, com três vitórias, em 2005, 2006, e 2007. Ryan Hunter-Reay faturou a prova em 2008, e o falecido Justin Wilson venceu a corrida em 2009. Watkins Glen é a penúltima etapa do campeonato, cuja disputa pelo título está polarizada entre Will Power e Simon Pagenaud, ambos da equipe Penske. A Bandeirantes transmite a corrida ao vivo na tarde deste domingo, a partir das 15h30 da tarde, pelo horário de Brasília.


Felipe Massa anunciou ontem aqui em Monza que se aposenta da F-1 ao fim da temporada atual. Será o assunto da coluna da semana que vem. Até lá.

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