Max Verstappen e Kimi Raikkonen em disputa de posição na Bélgica: atrevimento do holandês na pista poderia ter provocado um acidente entre os dois na reta Kemmel. |
Depois de retornar das
férias de agosto, a F-1 engatou dois Grandes Prêmios em dois fins de semana
consecutivos, nas pistas mais carismáticas do calendário, Spa-Francorchamps e
Monza, e hoje todos os pilotos entram novamente na pista do circuito italiano
para a disputa do GP da Itália, que começa a semana com a boa notícia da
renovação do acordo da F-1 com a pista por mais alguns anos, que estava em
perigo de não acontecer, devido às constantes exigências de Bernie Ecclestone,
sempre exigindo valores mais altos para manter a prova italiana nesta pista,
uma das poucas do calendário onde se pode sentir a paixão do torcedor pelas
corridas como não se vê em muitas das etapas novas da competição, compradas a toque
de caixa pelos governos de países ao redor do mundo, que não se furtam a pagar
as altíssimas taxas exigidas por Bernie.
Mas o assunto da
semana aqui no paddock do circuito italiano é a condução arrojada e estilo
abusado de Max Verstappen, que andou se estranhando com os pilotos da Ferrari
em Spa-Francorchamps, a ponto de receber críticas de vários pilotos e pessoas
ligadas ao meio da F-1. Há quem defenda o arrojo do jovem holandês, que
realmente vem dando uma sacudida mais do que bem-vinda na F-1, e que precisa,
mais do que nunca, de algum atrativo para se manter em evidência, em um momento
onde a supremacia da Mercedes não ajuda a empolgar a grande massa de fãs pelo
mundo afora.
O bate-boca em cima de
Verstappen já não é de hoje. No ano passado, o garoto prodígio da Red Bull,
então na Toro Rosso, envolveu-se num forte acidente com Romain Grosjean em
Mônaco, levando ele e Romain para os muros de proteção da curva Saint Devote,
onde felizmente ninguém se machucou feio, mas proporcionando uma saraivada de
críticas ao piloto mais jovem da história a competir na F-1. Na época, escrevi
que boa parte das críticas eram exageradas, pois Verstappen estava disputando
seus primeiros GPs, e em face de uma F-1 onde hoje não se permite treinar a
contento, os erros que ele cometia eram até normais, e que outros grandes nomes
da F-1 já haviam tido seu momento de “barbeiros” na pista, e que seria questão
de tempo até o jovem Max pegar melhor as manhas da categoria máxima do
automobilismo, e lapidar o seu imenso talento às necessidades de prudência e respeito
para com os demais pilotos na pista.
Afinal, há alguns anos
atrás, quem arrumava encrenca nas pistas por excesso de vontade era Lewis
Hamilton, e hoje o atual tricampeão da F-1 conseguiu aliar seu arrojo
costumeiro a uma visão de corrida que lhe permite ser mais cerebral e preciso,
sabendo quando forçar ou não na disputa na pista, e isso sem deixar de ser
veloz ou agressivo. Tudo bem que de vez em quando ainda dá umas cacetadas, mas
ele aprendeu a ser um piloto além dos adjetivos simples de arrojado, agressivo,
etc. Romain Grosjen, então, arrumava confusão em quase todo início de corrida,
e lá mesmo, na Bélgica, acabou provocando um de grandes proporções a há alguns
anos atrás, sendo até suspenso justamente da prova seguinte, aqui na Itália.
Mas Romain evoluiu, e hoje é um piloto muito bem conceituado. Sérgio Perez foi
outro piloto que recentemente até andou fazendo barbaridades na pista, e teve
uma passagem tumultuada pela McLaren. Retomou seu rumo na Force India, e hoje
vem fazendo sua melhor temporada na F-1. E ele não deixou de ser agressivo na
pista, apenas aprendeu a dosar um pouco seu excesso de ímpeto e arrojo.
Max Verstappen, por
outro lado, está no centro das atenções da categoria este ano. Promovido para o
time da Red Bull na corrida da Espanha, onde teve um excelente desempenho, e
venceu em sua estréia em um time de ponta, o atrevido holandês tem mostrado
personalidade na pista e fora dela. Mas também vem demonstrando que seu
atrevimento pode escapar um pouco do controle, e isso pode ser algo perigoso.
Quando questionado pelo modo como se defender perigosamente de Kimi Raikkonem
numa disputa de posição na reta Kemmel, o ponto de maior velocidade da pista
belga, dando uma ziguezagueada abrupta na frente do piloto da Ferrari e
obrigando Kimi a tirar o pé e praticamente sair da pista para não bater, ele
simplesmente se lixou para o que o finlandês falou, declarando que, se ele não
gostou, o problema era dele, Raikkonen, e fim de papo, praticamente. Max
conseguiu a proeza de tirar Raikkonen do sério, e todo mundo no paddock sabe
que quando o “Homem de Gelo” fica “mordido” assim, não é por qualquer coisa...
Estilo bateu, levou: Verstappen disse que se os outros não gostaram do que do que ele fez na pista, azar o deles. Respostas atrevidas que já estão gerando antipatia pelo piloto da Red Bull. |
E, de fato, a manobra
de Max na reta foi perigosa. Não fosse Raikkonen um piloto extremamente
experiente, e conhecedor da pista belga, poderíamos ter visto um acidente
violento ali, pela alta velocidade do momento. Max deu de ombros, e como não
foi nem sequer chamado pelos comissários para dar explicações, simplesmente não
vê nada de errado em suas atitudes na pista. E isso já é mais um erro que ele
comete: ao simplesmente ignorar que está na pista com vários outros pilotos, o
garoto prodígio da Red Bull pode começar a se achar acima de todos, e a fazer o
que bem entende na pista. Ele criticou Raikkonen na largada pelo toque que
sofreu em sua asa dianteira, praticamente culpando o finlandês por ter tido sua
prova comprometida e não ter marcado pontos. Só que o real culpado, na ordem do
enrosco na La Source, foi Sebastian Vettel, seguido por ele, Verstappen. Raikkonen
foi parte inocente nesta história, porque acabou fechado por Vettel por fora na
curva, enquanto Max veio por dentro, e em momento algum aliviou na dividida de
curva, mesmo vendo que já estava praticamente rente ao muro tentando achar
espaço para ultrapassar a dupla ferrarista. Kimi ficou sem ter para onde ir,
acabou tocado por Vettel e acertou Max no embalo do toque.
Jacques Villeneuve
declarou que, se alguém não pôr algum “freio” em Max, podemos ver a um acidente
feio a qualquer momento, com consequências que não serão nem um pouco
agradáveis. Os fiscais, e principalmente a Red Bull precisam ter uma conversa
séria com o piloto sobre essas atitudes, que podem resultar em um comportamento
perigoso dentro da pista, para não mencionar que o seu atrevimento nas
discussões já estão fazendo o garoto arrumar “inimigos” e não adversários na
pista. Numa próxima dividida de posição, seu concorrente na pista dificilmente
irá aliviar, e conhecendo o estilo agressivo de Verstappen, o pau vai comer, no
pior sentido da palavra. Basta ver as rusgas ocorridas entre ele e Carlos Sainz
Jr. durante a prova da Austrália neste ano, quando ele bateu boca com sua
equipe pelo rádio, pedindo para que eles “tirassem” o espanhol da sua frente na
pista, como se Carlos não tivesse direito de disputar sua prova. Max exagerou,
e acabou tocando no seu então parceiro na Toro Rosso, por pouco não tirando
ambos da corrida. E mesmo assim ele voltou a ir para cima do espanhol, sem
muitos cuidados. Um estrelismo que só cresceu quando foi alçado ao time
principal dos energéticos e já venceu sua primeira corrida, assombrando o
mundo. E nem é preciso dizer que ele já começou até a tirar o sono de Daniel
Ricciardo dentro da escuderia, e não somente por andar na frente do australiano
na pista. Há quem diga que o clima nos boxes passou a ser um pouco mais tenso
entre a dupla de pilotos, situação que não existia antes. E Daniel Ricciardo
não é exatamente um piloto que anda comprando brigas...
Max Verstappen estreou com vitória na Red Bull no GP da Espanha, e já é a sensação da temporada. Mas o estrelismo e excesso de ego podem queimar o filme do holandês na pista. |
As opiniões sobre Max
se dividem: para alguns, ele é a emoção que falta em um campeonato marcado pelo
domínio sonolento da Mercedes, como se os demais pilotos na pista estivessem
fazendo corpo mole nas disputas. Verdade seja dita: o excesso de punições
aplicadas aos pilotos da F-1 nos últimos anos atingiu níveis preocupantes, e
não foi pelo fato de a categoria ter virado um derby de demolição, mas pelo
fato de os fiscais começarem uma “caça às bruxas” na condução dos pilotos, onde
até um olhar torto pode render punição. Claro que isso deixou muitos pilotos,
mas principalmente as escuderias, ressabiadas com a possibilidade de punições,
e com isso, perda de resultados melhores de seus pilotos nas corridas, o que
foi levando a uma certa postura até “conservadora” por parte de alguns pilotos,
o que tirou em boa parte a sensação e o fascínio das disputas na pista. E com
razão, pois o fã quer ver o pessoal duelar, e com a faca nos dentes. Por isso
mesmo, as disputas agressivas de Max estão chamando tanta atenção, por fugir
desse “panorama” a que a F-1 se acostumou nos últimos anos, inclusive com
vários pilotos hoje chegando a condenar certas atitudes que antigamente eram
até banais na categoria, como toques entre os carros. Hoje, toda encostada que
algum piloto dê já é motivo para punição, ou quase toda encostada...
E é mais do que
notório que o piloto hoje precisa chegar “chegando” na F-1, mais do que nunca,
para se fazer notar. E sabendo que as câmeras e holofotes estão voltados para
si, Verstappen quer mostrar tudo do que é capaz, inclusive que não se deixa
intimidar por “medalhões” da categoria. Isso não é novidade: Ayrton Senna,
Michael Schumacher e Lewis Hamilton chegaram causando sensação e algum
rebuliço, batendo de frente com alguns nomes já consagrados na F-1. É uma
estratégia para se impor e marcar território, pois dentro da pista é um
verdadeiro cada um por si, sem espaços para amizades e condescendências. Mas
todos eles, depois de algumas encrencas, souberam encontrar seu equilíbrio e
cavar o seu espaço de forma menos agressiva e com mais ética nas disputas de
pista, e sem deixarem de ser arrojados.
Na largada em Spa, Raikkonen foi "prensado" por Sebastian Vettel por fora, e acabou atingido por Verstappen por dentro. O piloto da Red Bull ainda acusou o finlandês pelo toque ocorrido ali. |
Por isso mesmo, Max
precisa reconhecer que anda abusando em algumas disputas, e cometendo alguns
erros que podem gerar sérias consequências. E ele precisa aprender a ter
respeito por seus companheiros na pista, o que em hipótese alguma significa
deixar de ser rápido e agressivo. Todos os pilotos precisam se respeitar um
mínimo na disputa. Afinal, por mais seguros que sejam os carros, com o se viu
no violento acidente de Kevin Magnussen na saída da Eau Rouge, não é por causa
disso que todo mundo vai tomar atitudes irresponsáveis na pista, pois um
acidente pode ter consequências imprevisíveis. E o jovem holandês, se ficar
convencido de que tudo pode fazer na pista, mais cedo ou mais tarde pode
arrumar encrenca brava em algum duelo, se não se impor um mínimo de moderação
no pé direito no acelerador.
Que a Red Bull saiba
trabalhar a cabeça do rapaz, que se moderar um pouco a sua agressividade e
apetite, pode ter uma carreira brilhante na F-1. Max precisa baixar um pouco
sua crista, ter um pouco mais de humildade no seu trato com os rivais, ouvindo
o que eles podem dizer que seja importante. E não saindo dando botinadas em
todo mundo que discorda de seus gestos e atitudes. Caso contrário, na hora que
algo der errado, e Max acabar se estrepando, ou complicando outrem, causando um
problema realmente grave, ele certamente não terá a simpatia ou condescendência
dos demais caso necessite. É preciso chegar a um equilíbrio e bom senso, que
conjugue as melhores características destes dois quesitos.
A F-1, por outro lado,
também precisa achar esse equilíbrio e bom senso, devolvendo aos pilotos um
pouco mais de liberdade para travarem suas disputas de pista sem ficarem com o
facão dos fiscais e comissários rondando suas cabeças pronto para lhes aplicar
uma punição, e ter o bom senso de usar e aplicar estas punições somente quando
um exagero for realmente cometido, e não a torto e a direito, como tem
acontecido nos últimos anos. Duelos arrojados e agressivos precisam ser a
tônico e o normal da categoria, e não a sua exceção.
O pessoal se encanta
com Verstappen justamente por sentir a falta destas disputas vigorosas e firmes
na categoria máxima do automobilismo. Algo que eles não perderão se Max tiver
um pouco mais de moderação e respeito na pista. Verstappen não irá perder nada
com isso, muito pelo contrário, ele só terá a ganhar... E mais do que
imagina...
A MotoGP inicia hoje os treinos
para o Grande Prêmio da Inglaterra, no tradicional circuito de Silverstone.
Marc Márquez entra novamente na pista para defender sua liderança do
campeonato, mas na verdade, sua vantagem para Valentino Rossi, o atual
vice-líder, é tão grande que o italiano poderia vencer as próximas duas etapas
e mesmo que Marc abandonasse ambas, ainda assim permaneceria na primeira
posição. Mas a dupla da Yamaha precisa reagir se quiser discutir o título da
temporada. Já Jorge Lorenzo torce para o clima não aprontar das suas no
circuito inglês, uma vez que o atual campeão da classe rainha do motociclismo
apanhou feio domingo passado na corrida da República Tcheca, na pista de Brno.
A corrida terá 20 voltas no traçado de 5,9 Km de Silverstone, com 8 curvas para
a esquerda e 10 para a direita. O canal pago SporTV2 transmite a corrida ao
vivo na manhã de domingo, às 11h30, pelo horário de Brasília.
Depois de finalizar a disputa do
GP do Texas no último final de semana, a Indy Racing League já volta à pista
neste final de semana, no circuito de Watkins Glen, na Costa Leste dos Estados
Unidos. Pista das mais tradicionais do automobilismo norte-americano, o
circuito retornou este ano ao calendário da categoria e virtude do cancelamento
da corrida de Boston, que enfrentou percalços financeiros e antipatia por parte
da população do entorno da cidade onde a prova seria realizada. Menos mal: as
últimas provas em circuitos urbanos criados pela direção da categoria não
conseguiram cair no gosto dos torcedores, e menos ainda no dos pilotos, e
arrumaram uma das melhores pistas dos EUA para tapar o buraco no calendário.
Glen é um circuito das antigas que já recebeu várias provas da categoria em
anos recentes, durante as temporadas de 2005 a 2010. Will Power, da Penske, foi
o último vencedor por lá, na etapa de 2010. Já o neozelandês Scott Dixon, da
Ganassi, é o maior vencedor da pista, com três vitórias, em 2005, 2006, e 2007.
Ryan Hunter-Reay faturou a prova em 2008, e o falecido Justin Wilson venceu a
corrida em 2009. Watkins Glen é a penúltima etapa do campeonato, cuja disputa
pelo título está polarizada entre Will Power e Simon Pagenaud, ambos da equipe
Penske. A Bandeirantes transmite a corrida ao vivo na tarde deste domingo, a
partir das 15h30 da tarde, pelo horário de Brasília.
Felipe Massa anunciou ontem aqui
em Monza que se aposenta da F-1 ao fim da temporada atual. Será o assunto da
coluna da semana que vem. Até lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário