sexta-feira, 15 de julho de 2016

PATUSCADAS E FRESCURAS DA F-1



A chuva já havia parado em Silverstone, mas mesmo assim, os torcedores tiveram que aguentar seis voltas de procissão com o Safety Car. Frescura máxima na categoria máxima do automobilismo...

            Depois de uma corrida com um final eletrizante na Áustria, a F-1 teve novamente a oportunidade de assistir a uma boa corrida em Silverstone, em um clima completamente diferente do que se viu no circuito austríaco. Enquanto em Zeltweg havia vários espaços em branco nas arquibancadas, em Silverstone, a tradicional paixão do povo inglês pelo automobilismo tratou de lotar o circuito, com uma excelente presença de público já nos treinos livres na sexta-feira.
            Público que saiu mais do que satisfeito com a vitória do ídolo Lewis Hamilton, que largou na pole e comandou a corrida com autoridade, vencendo sem problemas e empatando a disputa pelo título a meio da temporada, fazendo prever uma segunda metade pra lá de disputada. E Hamilton ainda ganhou muito mais pontos “indo pra galera” comemorar, com uma euforia que eu não via no autódromo inglês desde a última vitória de Nigel Mansell, em 1992, quando o público foi à loucura com aquela que seria a última vitória do “Leão” no circuito.
            Mas o público, e não apenas o presente nas arquibancadas, teve de engolir também as patuscadas e frescuras que a F-1 teima em exibir atualmente, o que só colabora para a perda de interesse da categoria para muitos. O lance das “saídas” de pista, com os comissários a encherem o saco com o lance dos pilotos “ganharem tempo” fugindo dos “limites” estabelecidos no traçado e punindo quem não os respeitassem já deu trela além da conta. Vários pilotos, entre eles Lewis Hamilton, acabaram punidos, perdendo seus tempos na classificação para o grid. No caso de Hamilton, o inglês precisou voltar à pista, e para não deixar dúvidas, anotou um tempo ainda melhor do que a volta que lhe tiraram. Se não querem que os pilotos abusem das zebras, que aumentem sua altura, ou então se coloque grama ou brita logo após a faixa que determina o limite da pista. O lance das zebras é complicado, pois na Áustria vimos as zebras altas causarem sérios problemas a diversos pilotos que exageram na passagem pelas mesmas, mas não é um problema insolúvel: trata-se apenas de acertarem as medidas. E se querem que ninguém abuse dos limites da pista, que se coloque brita imediatamente ao lado do asfalto. Assim, ninguém vai pôr a roda fora do circuito.
É claro que com relação à brita logo além da pista, as opiniões se dividem. Alguns acham que ter asfalto foram do traçado ajuda os pilotos a se manterem na corrida. De fato, vários pilotos, inclusive Hamilton, tiveram escapadas na curva Abbey, tendo de contornar parte da pista pelo lado de fora para retornar ao traçado e retomarem a corrida. Se fosse inteiramente brita por ali, vários pilotos teriam simplesmente dito adeus à prova. Aí fica a questão: o piloto deve pagar a pena capital por escapar da pista, e ficar de fora da corrida, ou deve-se manter as extensas áreas de asfalto que permitem ao piloto conseguir retornar. Por outro lado, há que se invocar a questão de segurança, onde se houver grama ou brita e não zebra nos pontos de curva, os pilotos podem perder o controle de seus carros, e resultar em um acidente. Para toda opção, haverá prós e contras. De minha opinião, acredito que os pilotos devem se manter na pista, mas escapadas nas tangências de curva eram bem comuns antigamente, e ninguém fazia um escarcéu por causa disso. Quantas vezes vi pilotos fazendo a curva La Source, em Spa-Francorchamps, pelo lado de fora, quando escapavam, algo que nos dias atuais virou tabu pelas regras insossas da F-1. Aliás, hoje em dia, tudo é motivo para ser investigado e considerado abuso ou infração, e se exigir regra para isso. A F-1 anda uma chatice em suas atitudes há um bom tempo, não permitindo hoje atos que antigamente levantavam o torcedor nas arquibancadas.
            Querem um exemplo? Na sua vitória em Silverstone, em 1991, Nigel Mansell deu carona na volta para o box a Ayrton Senna, cuja McLaren havia parado a uma volta da bandeirada, com pane seca. O público inglês aplaudiu ambos os pilotos, afinal, Senna já era um mito da F-1, e Mansell, o seu grande herói. Hoje, tal atitude geraria uma multa para Senna e a McLaren, e talvez até a desclassificação para Mansell por adotar uma postura “irresponsável” e “perigosa”. A F-1, que precisa se mostrar atrativa para o grande público, precisa deixar de ter essa postura irracional e imbecil, onde coisas absolutamente triviais ganharam importância demasiada pelos motivos errados, e tornando-se indigerível com o que o público anseia ver na pista.
Pela ajuda que recebeu do box nas instruções de rádio, Nico perdeu o 2° lugar para Max Verstappen. O que pode e o que não pode ser dito aos pilotos ainda vai dar muita discussão...
            Da mesma maneira, a categoria parece apavorada com a chuva. Que motivo houve para deixar a corrida de domingo ter 10% de seu percurso transcorrer sob Safety Car? Evitar uma largada parada em piso molhado, OK. O momento da largada é um momento potencial para haver acidentes, no caso de toques, carros falhados, ou qualquer outro enguiço. Portanto, em piso molhado, dar a largada lançada é algo plenamente coerente, para minimizar confusões. Mas que se fizesse apenas a volta de apresentação, e liberasse os pilotos para a disputa. Não, eles fizeram os pilotos darem praticamente 6 voltas pela pista, quando já tinha parado de chover para o horário da corrida, e dá a impressão de que manteriam o Safety Car até a pista secar totalmente, o que quase aconteceu, já que quando a pista foi liberada, vários pilotos já se dirigiram aos boxes para trocar os compostos de chuva pesada pelos intermediários, o que mostrava que o traçado já não estava assim tão crítico. O pessoal queria ação, e o público idem. Aguentar aquela procissão atrás do Safety Car foi o fim da picada para muitos, que se perguntam onde está a coragem da categoria ultimamente.
            Ou será que todos os pilotos são barbeiros a ponto de não serem confiáveis ou não saberem simplesmente dirigir em pista molhada? Se for assim, não podem ser chamados de pilotos, pois o que os torna diferenciados é a sua capacidade de pilotarem máquinas de competição em altíssimo nível, sempre em busca dos limites, coisa que não é para qualquer pessoa conseguir fazer. E isso inclui saber pilotar nas mais variadas condições, entre as quais, na chuva. Lógico que há limites do bom senso para desafiar uma pista debaixo de um temporal, mas o que vimos em Silverstone era café pequeno diante do que a própria F-1 já viu em tempos que hoje parecem extremamente distantes. Pelos padrões que a F-1 teima em utilizar hoje, a corrida de 1988 em Silverstone, por exemplo, seria feita toda atrás do Safety Car, e na prática não teríamos corrida, só uma procissão. Mas foi uma tremenda corrida, e ninguém saiu reclamando das condições de tempo naquele dia além do que seria normal. Hoje, parece que até mesmo os pilotos, com raras exceções, não tem mais a fibra daqueles tempos.
Em 1988, corrida da Inglaterra foi disputada debaixo de chuva, e ninguém fazia frescuras naqueles tempos. Quem era bom mandava ver em quaisquer condições de pista, ao contrário do que se vê hoje em dia...
            Sobre o fato dos carros estarem ajustados para pista seca, já falei aqui e torno a repetir: que se permita um treino de pelo menos uns 15 minutos e os times possam ajustar os carros à situação de pista molhada em certos aspectos, como altura do carro, ângulo das asas, e calibragem dos pneus. É pedir muito? Em tese não, mas para a F-1, parece que é... Tenham paciência. Esse regime de parque fechado deveria prever exceções como essa. Como Gerhard Berger definiu esta semana, os motoristas não param de dirigir quando chove, eles se adaptam ao momento. Mas a F-1 parece incapaz de fazer isso, ou simplesmente não quer fazer, sabe-se lá por quais motivos.
            As voltas atrás do Safety Car roubaram do público e dos telespectadores a chance de vermos um duelo em pista molhada que prometia ser empolgante. Quem garantiria que a Mercedes teria o seu tradicional domínio no piso molhado. Seria a oportunidade de vermos Ferrari e Red Bull desafiarem o poderio do time alemão, e quem sabe até proporcionar um resultado completamente diferente para o GP. Em vez disso, tivemos de aturar praticamente 6 voltas de procissão, que tiraram até a paciência de Lewis Hamilton, que queria que o Safety Car sumisse logo da frente e liberassem a corrida, pra não falar que reclamou da baixa velocidade do veículo, quase acertando-o por trás em alguns momentos. E Lewis não era o único que queria partir logo para os finalmentes da competição. Já tínhamos visto esta cena ridícula em Monte Carlo. Será que a partir de agora será sempre assim? Então, o pessoal em casa vai simplesmente desligar a TV e ir fazer outra coisa. E alguns pensarão duas vezes antes de ir para o autódromo acompanhar uma corrida. A paixão dos ingleses pelo automobilismo é grande, a ponto até de aguentar esse desaforo que a F-1 mostra, mas mesmo essa paixão tem seus limites...
            Outro lance que deu o que falar foi a “ajuda” que Nico Rosberg teve pelo rádio para evitar a quebra de seu carro, com o problema de sua 7ª marcha. Nico recebeu instruções para evitar de usá-la, e mesmo com os argumentos da Mercedes de que isso seria necessário para evitar uma quebra iminente do câmbio, o piloto alemão acabou punido, e com isso perdeu o 2º lugar conquistado na pista para Max Verstappen. Uma punição de 10s foi ridícula. A partir de agora, os demais times também poderão se sentir no direito de tentar fazer a mesma manobra da Mercedes, se seu piloto na pista estiver com larga folga para o concorrente que vem atrás. Mas o problema nem é na verdade esse. Esses carros atuais tem uma eletrônica muito complicada. Concordo que o piloto precisa ser o responsável único pelo modo como conduz seu bólido, sem precisar das ajudas dos engenheiros para saber como pilotar. No seu “affair” de querer dar maior peso ao piloto, a FIA proibiu as ajudas via rádio, o que muita gente achou certo. Afinal, antes os engenheiros falavam coisas como “contorne curva x mais fechado”, “ajuste mistura de combustível para a posição Y”, e por aí vai. Mas o que acontece quando o carro começa a enguiçar como ocorreu com Rosberg domingo passado?
            Ou então se faça algo mais simples: proíba-se de mexer na regulagem do carro após a largada e até a bandeirada. E para garantir isso, tirem aquele excesso de botões dos volantes dos carros. Largou com um setup errado? O jeito é se virar... Era o que os pilotos faziam antigamente, quando não se tinha esse nível de tecnologia nos carros. E, se um ajuste errado, ou um problema for causar a quebra, que quebre... Não é o fim do mundo, embora para muitos possa parecer. A alternativa a Rosberg em Silverstone era ficar pelo meio do caminho, com o carro travado na marcha que começou a dar problema. Saiu até barato para o piloto e a Mercedes, que só perderam uma posição na corrida. Ou se não conseguem chegar a um acordo sobre o que pode ou não ser falado pelo rádio, das duas uma: ou se libera tudo, ou proíbe-se tudo, inclusive tirando até o rádio dos pilotos, e eles que tratem de correr por si mesmos completamente sozinhos na pista, como era feito há muitos anos atrás. Mas querem apostar que essa conversa sobre os rádios ainda vai dar muito pano para a manga em discussões? Não seria novidade, visto que a F-1 parece estar se especializando em dar tiros no pé nos últimos anos.
            Depois, ainda aturar Jean Todt falar que a F-1 segue firme e forte, e que não vê problemas na categoria... Todt já tinha uma postura irritante nos tempos em que comandava a Ferrari, quando o time italiano fazia seus jogos de equipe em favor de Michael Schumacher e desdenhava do que o público amante das corridas queria ver na pista, portanto, nada de novo em sua postura. Mas a F-1, com sua arrogância e prepotência, está confiando muito em sua força, que ainda é considerável, mas não imbatível. E, quando a casa cair, o baque certamente não será pequeno, por mais que tentem negar isso...


Hélio Castro Neves definitivamente está com um timming ruim para fazer alguns de seus pit stops nas corridas da Indy este ano. Em Iowa, foi a segunda prova no ano em que ele acabou vendo um bom resultado ir para o espaço por causa de uma bandeira amarela que surgiu imediatamente após fazer seu pit stop. Desta vez, o brasileiro, que andava entre os quatro primeiros durante boa parte da corrida acabou surpreendido pelo estouro de motor de Juan Pablo Montoya, seu companheiro de equipe. Com isso, os demais pilotos puderam parar com a velocidade menor proporcionada pela entrada do Pace Car, e Hélio acabou derrubado para a segunda metade do grid, com 3 voltas de desvantagem, de onde não conseguiu mais tirar a diferença para os primeiros colocados, terminando a corrida no pequeno circuito oval apenas em 13° lugar. O azar, aliás, veio em dose dupla, pois em outra parada, surgiu mais uma bandeira amarela, desta vez pela rodada de Max Chilton, o que ajudou a enterrar as chances de recuperação de Hélio na prova, e como desgraça pouca é bobagem, Tony Kanaan também acabou vitimado nessa hora, tendo feito também sua parada de box. O brasileiro da Ganassi estava batalhando pelo pódio, e acabou derrubado para trás, perdendo uma volta que também não conseguiu descontar, finalizando a corrida em 7° lugar. Se para Kanaan foi a primeira vez na temporada em que uma bandeira amarela azarou suas expectativas numa corrida, para Hélio foi a segunda prova. A primeira corrida em que o brasileiro da Penske acabou vendo sua prova arruinada foi na segunda corrida de Detroit. Hélio estava na liderança da prova, e após conseguir uma pequena vantagem, preparava-se para ir aos boxes para sua última parada. Mas eis que o carro de Jack Hawksworth apareceu parado na pista, motivando a bandeira amarela. Com isso, os boxes ficaram fechados, e Helinho só pôde entrar quando os mesmos foram liberados, o que o jogou para o fim do grid. Quem parou uma volta antes do brasileiro, como foi o caso de seus companheiros de equipe Will Power e Simon Pagenaud, terminaram a corrida em 1° e 2° lugares. O pior de tudo é que a estratégia de Hélio naquela corrida era melhor, pois seus parceiros de time poderiam ter de economizar combustível para chegar ao final, preocupação que a bandeira amarela eliminou. Hélio vai precisar de uma reza forte para se livrar deste tipo de azar, ao que parece... E Kanaan que se previna também...


Independente dos azares alheios, quem brilhou na etapa de Iowa foi Josef Newgarden. O piloto da equipe de Ed Carpenter simplesmente mandou e desmandou na corrida, chegando em determinado momento a colocar volta no 4° colocado. As bandeiras amarelas colaboraram para os concorrentes se aproximarem um pouco, mas o americano tratou de mostrar que não estava para brincadeira, e mesmo com alguns ferimentos após o violento acidente sofrido na etapa do Texas, conquistou uma vitória contundente, assumindo agora a 2ª colocação na classificação do campeonato, com 336 pontos. Wil Power bem que tentou, mas não conseguiu emplacar a terceira vitória consecutiva, mas mesmo assim assumiu a 3ª posição, com 334 pontos. Com a 4ª posição, Simon Pagenaud segue firme na liderança, com 409 pontos. O pódio em Iowa foi completado por Scott Dixon, que fez uma corrida inteligente para terminar em 3°, e ocupando agora a 4ª colocação, com 321 pontos no campeonato. E o pessoal da Indy, aliás, não descansa: Hoje mesmo todo mundo já está de volta na pista em Toronto, no Canadá, para a próxima etapa da competição, que acontece neste domingo, com transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports, a partir das 16:00 Hrs.

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