A chuva já havia parado em Silverstone, mas mesmo assim, os torcedores tiveram que aguentar seis voltas de procissão com o Safety Car. Frescura máxima na categoria máxima do automobilismo... |
Depois de uma corrida
com um final eletrizante na Áustria, a F-1 teve novamente a oportunidade de
assistir a uma boa corrida em Silverstone, em um clima completamente diferente
do que se viu no circuito austríaco. Enquanto em Zeltweg havia vários espaços
em branco nas arquibancadas, em Silverstone, a tradicional paixão do povo
inglês pelo automobilismo tratou de lotar o circuito, com uma excelente
presença de público já nos treinos livres na sexta-feira.
Público que saiu mais
do que satisfeito com a vitória do ídolo Lewis Hamilton, que largou na pole e
comandou a corrida com autoridade, vencendo sem problemas e empatando a disputa
pelo título a meio da temporada, fazendo prever uma segunda metade pra lá de
disputada. E Hamilton ainda ganhou muito mais pontos “indo pra galera”
comemorar, com uma euforia que eu não via no autódromo inglês desde a última
vitória de Nigel Mansell, em 1992, quando o público foi à loucura com aquela
que seria a última vitória do “Leão” no circuito.
Mas o público, e não
apenas o presente nas arquibancadas, teve de engolir também as patuscadas e
frescuras que a F-1 teima em exibir atualmente, o que só colabora para a perda
de interesse da categoria para muitos. O lance das “saídas” de pista, com os
comissários a encherem o saco com o lance dos pilotos “ganharem tempo” fugindo
dos “limites” estabelecidos no traçado e punindo quem não os respeitassem já
deu trela além da conta. Vários pilotos, entre eles Lewis Hamilton, acabaram
punidos, perdendo seus tempos na classificação para o grid. No caso de
Hamilton, o inglês precisou voltar à pista, e para não deixar dúvidas, anotou
um tempo ainda melhor do que a volta que lhe tiraram. Se não querem que os
pilotos abusem das zebras, que aumentem sua altura, ou então se coloque grama
ou brita logo após a faixa que determina o limite da pista. O lance das zebras
é complicado, pois na Áustria vimos as zebras altas causarem sérios problemas a
diversos pilotos que exageram na passagem pelas mesmas, mas não é um problema
insolúvel: trata-se apenas de acertarem as medidas. E se querem que ninguém
abuse dos limites da pista, que se coloque brita imediatamente ao lado do
asfalto. Assim, ninguém vai pôr a roda fora do circuito.
É claro que com relação à brita logo além da
pista, as opiniões se dividem. Alguns acham que ter asfalto foram do traçado ajuda
os pilotos a se manterem na corrida. De fato, vários pilotos, inclusive
Hamilton, tiveram escapadas na curva Abbey, tendo de contornar parte da pista
pelo lado de fora para retornar ao traçado e retomarem a corrida. Se fosse
inteiramente brita por ali, vários pilotos teriam simplesmente dito adeus à
prova. Aí fica a questão: o piloto deve pagar a pena capital por escapar da
pista, e ficar de fora da corrida, ou deve-se manter as extensas áreas de
asfalto que permitem ao piloto conseguir retornar. Por outro lado, há que se
invocar a questão de segurança, onde se houver grama ou brita e não zebra nos
pontos de curva, os pilotos podem perder o controle de seus carros, e resultar
em um acidente. Para toda opção, haverá prós e contras. De minha opinião,
acredito que os pilotos devem se manter na pista, mas escapadas nas tangências
de curva eram bem comuns antigamente, e ninguém fazia um escarcéu por causa disso.
Quantas vezes vi pilotos fazendo a curva La Source, em Spa-Francorchamps, pelo
lado de fora, quando escapavam, algo que nos dias atuais virou tabu pelas
regras insossas da F-1. Aliás, hoje em dia, tudo é motivo para ser investigado
e considerado abuso ou infração, e se exigir regra para isso. A F-1 anda uma
chatice em suas atitudes há um bom tempo, não permitindo hoje atos que
antigamente levantavam o torcedor nas arquibancadas.
Querem um exemplo? Na
sua vitória em Silverstone, em 1991, Nigel Mansell deu carona na volta
para o box a Ayrton Senna, cuja McLaren havia parado a uma volta da bandeirada,
com pane seca. O público inglês aplaudiu ambos os pilotos, afinal, Senna já era
um mito da F-1, e Mansell, o seu grande herói. Hoje, tal atitude geraria uma
multa para Senna e a McLaren, e talvez até a desclassificação para Mansell por
adotar uma postura “irresponsável” e “perigosa”. A F-1, que precisa se mostrar
atrativa para o grande público, precisa deixar de ter essa postura irracional e
imbecil, onde coisas absolutamente triviais ganharam importância demasiada pelos
motivos errados, e tornando-se indigerível com o que o público anseia ver na
pista.
Pela ajuda que recebeu do box nas instruções de rádio, Nico perdeu o 2° lugar para Max Verstappen. O que pode e o que não pode ser dito aos pilotos ainda vai dar muita discussão... |
Da mesma maneira, a
categoria parece apavorada com a chuva. Que motivo houve para deixar a corrida
de domingo ter 10% de seu percurso transcorrer sob Safety Car? Evitar uma
largada parada em piso molhado, OK. O momento da largada é um momento potencial
para haver acidentes, no caso de toques, carros falhados, ou qualquer outro
enguiço. Portanto, em piso molhado, dar a largada lançada é algo plenamente
coerente, para minimizar confusões. Mas que se fizesse apenas a volta de
apresentação, e liberasse os pilotos para a disputa. Não, eles fizeram os
pilotos darem praticamente 6 voltas pela pista, quando já tinha parado de
chover para o horário da corrida, e dá a impressão de que manteriam o Safety
Car até a pista secar totalmente, o que quase aconteceu, já que quando a pista
foi liberada, vários pilotos já se dirigiram aos boxes para trocar os compostos
de chuva pesada pelos intermediários, o que mostrava que o traçado já não
estava assim tão crítico. O pessoal queria ação, e o público idem. Aguentar
aquela procissão atrás do Safety Car foi o fim da picada para muitos, que se
perguntam onde está a coragem da categoria ultimamente.
Ou será que todos os
pilotos são barbeiros a ponto de não serem confiáveis ou não saberem
simplesmente dirigir em pista molhada? Se for assim, não podem ser chamados de
pilotos, pois o que os torna diferenciados é a sua capacidade de pilotarem
máquinas de competição em altíssimo nível, sempre em busca dos limites, coisa
que não é para qualquer pessoa conseguir fazer. E isso inclui saber pilotar nas
mais variadas condições, entre as quais, na chuva. Lógico que há limites do bom
senso para desafiar uma pista debaixo de um temporal, mas o que vimos em
Silverstone era café pequeno diante do que a própria F-1 já viu em tempos que
hoje parecem extremamente distantes. Pelos padrões que a F-1 teima em utilizar
hoje, a corrida de 1988 em Silverstone, por exemplo, seria feita toda atrás do
Safety Car, e na prática não teríamos corrida, só uma procissão. Mas foi uma
tremenda corrida, e ninguém saiu reclamando das condições de tempo naquele dia
além do que seria normal. Hoje, parece que até mesmo os pilotos, com raras
exceções, não tem mais a fibra daqueles tempos.
Sobre o fato dos
carros estarem ajustados para pista seca, já falei aqui e torno a repetir: que
se permita um treino de pelo menos uns 15 minutos e os times possam ajustar os
carros à situação de pista molhada em certos aspectos, como altura do carro,
ângulo das asas, e calibragem dos pneus. É pedir muito? Em tese não, mas para a
F-1, parece que é... Tenham paciência. Esse regime de parque fechado deveria
prever exceções como essa. Como Gerhard Berger definiu esta semana, os
motoristas não param de dirigir quando chove, eles se adaptam ao momento. Mas a
F-1 parece incapaz de fazer isso, ou simplesmente não quer fazer, sabe-se lá
por quais motivos.
As voltas atrás do
Safety Car roubaram do público e dos telespectadores a chance de vermos um
duelo em pista molhada que prometia ser empolgante. Quem garantiria que a
Mercedes teria o seu tradicional domínio no piso molhado. Seria a oportunidade
de vermos Ferrari e Red Bull desafiarem o poderio do time alemão, e quem sabe
até proporcionar um resultado completamente diferente para o GP. Em vez disso,
tivemos de aturar praticamente 6 voltas de procissão, que tiraram até a
paciência de Lewis Hamilton, que queria que o Safety Car sumisse logo da frente
e liberassem a corrida, pra não falar que reclamou da baixa velocidade do
veículo, quase acertando-o por trás em alguns momentos. E Lewis não era o único
que queria partir logo para os finalmentes da competição. Já tínhamos visto
esta cena ridícula em Monte Carlo. Será que a partir de agora será sempre
assim? Então, o pessoal em casa vai simplesmente desligar a TV e ir fazer outra
coisa. E alguns pensarão duas vezes antes de ir para o autódromo acompanhar uma
corrida. A paixão dos ingleses pelo automobilismo é grande, a ponto até de
aguentar esse desaforo que a F-1 mostra, mas mesmo essa paixão tem seus
limites...
Outro lance que deu o
que falar foi a “ajuda” que Nico Rosberg teve pelo rádio para evitar a quebra
de seu carro, com o problema de sua 7ª marcha. Nico recebeu instruções para
evitar de usá-la, e mesmo com os argumentos da Mercedes de que isso seria
necessário para evitar uma quebra iminente do câmbio, o piloto alemão acabou
punido, e com isso perdeu o 2º lugar conquistado na pista para Max Verstappen.
Uma punição de 10s foi ridícula. A partir de agora, os demais times também
poderão se sentir no direito de tentar fazer a mesma manobra da Mercedes, se
seu piloto na pista estiver com larga folga para o concorrente que vem atrás.
Mas o problema nem é na verdade esse. Esses carros atuais tem uma eletrônica
muito complicada. Concordo que o piloto precisa ser o responsável único pelo
modo como conduz seu bólido, sem precisar das ajudas dos engenheiros para saber
como pilotar. No seu “affair” de querer dar maior peso ao piloto, a FIA proibiu
as ajudas via rádio, o que muita gente achou certo. Afinal, antes os
engenheiros falavam coisas como “contorne curva x mais fechado”, “ajuste
mistura de combustível para a posição Y”, e por aí vai. Mas o que acontece
quando o carro começa a enguiçar como ocorreu com Rosberg domingo passado?
Ou então se faça algo
mais simples: proíba-se de mexer na regulagem do carro após a largada e até a
bandeirada. E para garantir isso, tirem aquele excesso de botões dos volantes dos
carros. Largou com um setup errado? O jeito é se virar... Era o que os pilotos
faziam antigamente, quando não se tinha esse nível de tecnologia nos carros. E,
se um ajuste errado, ou um problema for causar a quebra, que quebre... Não é o
fim do mundo, embora para muitos possa parecer. A alternativa a Rosberg em
Silverstone era ficar pelo meio do caminho, com o carro travado na marcha que
começou a dar problema. Saiu até barato para o piloto e a Mercedes, que só
perderam uma posição na corrida. Ou se não conseguem chegar a um acordo sobre o
que pode ou não ser falado pelo rádio, das duas uma: ou se libera tudo, ou
proíbe-se tudo, inclusive tirando até o rádio dos pilotos, e eles que tratem de
correr por si mesmos completamente sozinhos na pista, como era feito há muitos
anos atrás. Mas querem apostar que essa conversa sobre os rádios ainda vai dar
muito pano para a manga em discussões? Não seria novidade, visto que a F-1
parece estar se especializando em dar tiros no pé nos últimos anos.
Depois, ainda aturar
Jean Todt falar que a F-1 segue firme e forte, e que não vê problemas na
categoria... Todt já tinha uma postura irritante nos tempos em que comandava a
Ferrari, quando o time italiano fazia seus jogos de equipe em favor de Michael
Schumacher e desdenhava do que o público amante das corridas queria ver na
pista, portanto, nada de novo em sua postura. Mas a F-1, com sua arrogância e
prepotência, está confiando muito em sua força, que ainda é considerável, mas
não imbatível. E, quando a casa cair, o baque certamente não será pequeno, por
mais que tentem negar isso...
Hélio Castro Neves
definitivamente está com um timming ruim para fazer alguns de seus pit stops
nas corridas da Indy este ano. Em Iowa, foi a segunda prova no ano em que ele
acabou vendo um bom resultado ir para o espaço por causa de uma bandeira
amarela que surgiu imediatamente após fazer seu pit stop. Desta vez, o
brasileiro, que andava entre os quatro primeiros durante boa parte da corrida
acabou surpreendido pelo estouro de motor de Juan Pablo Montoya, seu
companheiro de equipe. Com isso, os demais pilotos puderam parar com a
velocidade menor proporcionada pela entrada do Pace Car, e Hélio acabou
derrubado para a segunda metade do grid, com 3 voltas de desvantagem, de onde
não conseguiu mais tirar a diferença para os primeiros colocados, terminando a
corrida no pequeno circuito oval apenas em 13° lugar. O azar, aliás, veio em
dose dupla, pois em outra parada, surgiu mais uma bandeira amarela, desta vez
pela rodada de Max Chilton, o que ajudou a enterrar as chances de recuperação
de Hélio na prova, e como desgraça pouca é bobagem, Tony Kanaan também acabou
vitimado nessa hora, tendo feito também sua parada de box. O brasileiro da
Ganassi estava batalhando pelo pódio, e acabou derrubado para trás, perdendo
uma volta que também não conseguiu descontar, finalizando a corrida em 7°
lugar. Se para Kanaan foi a primeira vez na temporada em que uma bandeira
amarela azarou suas expectativas numa corrida, para Hélio foi a segunda prova.
A primeira corrida em que o brasileiro da Penske acabou vendo sua prova
arruinada foi na segunda corrida de Detroit. Hélio estava na liderança da
prova, e após conseguir uma pequena vantagem, preparava-se para ir aos boxes
para sua última parada. Mas eis que o carro de Jack Hawksworth apareceu parado
na pista, motivando a bandeira amarela. Com isso, os boxes ficaram fechados, e
Helinho só pôde entrar quando os mesmos foram liberados, o que o jogou para o
fim do grid. Quem parou uma volta antes do brasileiro, como foi o caso de seus
companheiros de equipe Will Power e Simon Pagenaud, terminaram a corrida em 1°
e 2° lugares. O pior de tudo é que a estratégia de Hélio naquela corrida era
melhor, pois seus parceiros de time poderiam ter de economizar combustível para
chegar ao final, preocupação que a bandeira amarela eliminou. Hélio vai
precisar de uma reza forte para se livrar deste tipo de azar, ao que parece...
E Kanaan que se previna também...
Independente dos azares alheios,
quem brilhou na etapa de Iowa foi Josef Newgarden. O piloto da equipe de Ed
Carpenter simplesmente mandou e desmandou na corrida, chegando em determinado
momento a colocar volta no 4° colocado. As bandeiras amarelas colaboraram para
os concorrentes se aproximarem um pouco, mas o americano tratou de mostrar que
não estava para brincadeira, e mesmo com alguns ferimentos após o violento
acidente sofrido na etapa do Texas, conquistou uma vitória contundente,
assumindo agora a 2ª colocação na classificação do campeonato, com 336 pontos.
Wil Power bem que tentou, mas não conseguiu emplacar a terceira vitória
consecutiva, mas mesmo assim assumiu a 3ª posição, com 334 pontos. Com a 4ª
posição, Simon Pagenaud segue firme na liderança, com 409 pontos. O pódio em
Iowa foi completado por Scott Dixon, que fez uma corrida inteligente para
terminar em 3°, e ocupando agora a 4ª colocação, com 321 pontos no campeonato.
E o pessoal da Indy, aliás, não descansa: Hoje mesmo todo mundo já está de
volta na pista em Toronto, no Canadá, para a próxima etapa da competição, que
acontece neste domingo, com transmissão ao vivo pelo canal pago Bandsports, a
partir das 16:00 Hrs.
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