A F-1 inicia hoje os
treinos oficiais para o Grande Prêmio da Hungria, e uma das perguntas que mais
se ouve aqui no paddock da pista magiar é se Lewis Hamilton vai assumir a
liderança do campeonato. Nico Rosberg, depois de duas derrotas consecutivas
para o inglês nas últimas duas provas, pode ver a sua liderança da competição
ir para o espaço, e ver o favoritismo da luta pelo título pender para seu
companheiro de equipe, que foi campeão nas últimas duas temporadas e ensaia
enfileirar mais um troféu este ano. Conhecido por ser um piloto mais racional e
menos passional que Hamilton, Rosberg já deu mostras de ter sentido o golpe nos
dois últimos anos. A história vai se repetir nesta temporada? Todos estão na
expectativa, mas sem precipitações, afinal, o campeonato praticamente está na
sua metade de um certame de 21 corridas, e muita água vai correr até a prova de
encerramento, em Abu Dhabi, em novembro. Tudo ainda pode acontecer no duelo que
está sendo travado dentro da equipe Mercedes.
E, se o clima na
escuderia alemã anda quente, a situação não está nem um pouco mais amena justo
no box ao lado, o da Ferrari. O time de Maranello, aliás, está vendo uma crise
se aproximar no horizonte, e a passos largos. Se ela vai se instalar no time,
dependerá da cúpula da Ferrari, que parece estar caminhando para aquelas
típicas épocas de instabilidade emocional que tanto marcou a história da
escuderia em diversas temporadas, e que também ajudou a equipe a passar
praticamente mais de 20 anos sem um título de pilotos. Sergio Marchionne,
presidente do Grupo Ferrari, convocou reuniões para cobrar a falta de
resultados do time nesta temporada, e a sensação é de que cabeças poderão rolar
a qualquer momento, inclusive a do chefe da escuderia, Maurizio Arrivabene, que
na minha opinião tem feito um bom trabalho desde que assumiu a direção da
equipe, mas que não estaria conseguindo os resultados exigidos pela cúpula.
Arrivabene conseguiu
colocar o time em ordem em 2015, depois de uma temporada atribulada em 2014.
Além de contar com Sebastian Vettel, que conseguiu 3 vitórias, a equipe sanou
boa parte das deficiências de sua unidade de potência, deixando-a muito próxima
da Mercedes. O time foi vice-campeão com todos os méritos, afinal, a Mercedes
era, e ainda é a força dominante da F-1. O primeiro objetivo fora cumprido. O
passo seguinte, claro, era disputar o título este ano. Exagero? Nem tanto...
Faltou combinar com os alemães, entretanto...
O início da temporada
foi animador, com os pilotos da Mercedes tendo alguns percalços, e mesmo com a
série de vitórias de Nico Rosberg, a Ferrari estava ali por perto, mais próxima
do que em 2015, e pronta para dar o bote. Seria o lance de acertar o passo e
fazer marcação cerrada. Em teoria, o raciocínio não estava errado: a dupla de
pilotos foi mantida, assim como o staff técnico, coordenado por James Allison,
que continuava desenvolvendo um bom trabalho no time italiano. Lembrando que,
quando Jean Todt assumiu a direção da Ferrari nos anos 1990, demorou muito mais
tempo para o time atingir o patamar onde se encontra atualmente, de 2ª força da
competição. Só em 1997, quase quatro anos depois de iniciado os trabalhos, é
que a Ferrari entrou firme na luta pelo título da categoria. Infelizmente, a
esperada aproximação dos carros vermelhos aos carros prateados não está
ocorrendo como esperado. Mesmo com algumas corridas boas, como Vettel fez no
Canadá, a paciência de Marchionne parece estar ficando escassa, ainda mais
depois das oportunidades perdidas de bons resultados vista na Áustria e em
Silverstone, onde os oponentes da Mercedes que mais brilharam foram a Red Bull,
com seus dois pilotos a andarem melhor do que a dupla do time italiano, que vem
colecionando algumas mancadas e erros de estratégia que em nada estão ajudando
neste momento. Duas quebras de câmbio fizeram Vettel perder posições de largada
tanto em Zeltweg quanto em Silverstone, e para complicar a situação, um pneu
furado acabou com a prova do tetracampeão na Áustria, enquanto na Inglaterra
Sebastian cometeu vários erros durante a corrida, tendo de batalhar para
conseguir chegar na zona de pontuação, e cruzando a linha de chegada com quase
uma volta de atraso.
Enquanto isso, na
única corrida onde ambas as Mercedes ficaram pelo caminho, quem aproveitou a
oportunidade para vencer foi Max Verstappen, da Red Bull, em Barcelona. Kimi
Raikkonen e Sebastian Vettel ocuparam o restante do pódio, mas pegou mal a
derrota do time justamente para um garoto que nem bem chegou na Red Bull e já
venceu uma corrida, em que pese sua brilhante performance na pista. E a
situação piorou nas últimas corridas, quando a Renault disponibilizou nova
atualização de sua unidade de potência, que aliada ao desenvolvimento do chassi
RB12, deixou o time dos energéticos praticamente a par dos italianos na pista.
O resultado é que embora a Ferrari ainda seja a vice-líder do campeonato de
construtores, com 204 ponto, a Red Bull vem chegando rápido, estando no momento
com 198 pontos, e com tendência a ser a favorita para terminar o ano como
vice-campeã. E tudo indica que aqui em Hungaroring será travada mais uma
disputa fraticida entre os dois times. Está incomodando também ver os pilotos
da Red Bull encostando na dupla ferrarista: Raikkonen é o 3° colocado na
classificação, com 106 pontos, mas Daniel Ricciardo está logo atrás, com 100
pontos; Vettel é o 5° colocado, com 98 pontos, e vê Max Verstappen crescer a
olhos vistos na 6ª posição, com 90 pontos. E se a performance pífia vista na
Inglaterra se repetir, a tendência é que ambos sejam superados até com folga já
neste final de semana, tanto na classificação de pilotos como na de
construtores. E o bicho deve pegar feio.
Vale lembrar que nas
duas últimas temporadas, a vitória neste circuito não foi da Mercedes. Em 2014,
Daniel Ricciardo aproveitou os problemas enfrentados por Lewis Hamilton e
contou com a ajuda da chuva para obter com méritos sua segunda vitória na F-1.
No ano passado, foi a Ferrari que chegou na frente aqui, e nada menos do que
esse resultado será admitido pelo time italiano, que ainda diz ser possível
lutar pelo título com a Mercedes, reconhecendo o progresso feito pelo time dos
energéticos, mas não dando o braço a torcer de que eles é que serão sua maior
preocupação, e não o time prateado. Mas o retrospecto dos italianos no ano não
está sendo muito bom para se fazer boas perspectivas para este fim de semana.
Hungaroring é o
circuito mais travado da F-1, depois de Mônaco. Arrivabene declarou que a
Ferrari corrigiu seus problemas na unidade de potência, e que ela agora é seu
ponto forte. Pois motor, infelizmente, é um fator secundário nesta pista. Os
carros atingem altas velocidades apenas na reta dos boxes, em tese o único
ponto favorável para ultrapassagens. Aqui é necessário um carro ágil e bem
equilibrado, e estes são pontos fortes demonstrados pelo carro da Red Bull, que
andou muito bem com Daniel Ricciardo em Monte Carlo, perdendo a vitória apenas
por um pit stop atrapalhado que fez o australiano perder a liderança para
Hamilton, que venceu a corrida.
Arrivabene foi incisivo:
“Não podemos mais errar”. E ele está certo. Vettel vem cometendo erros acima de
sua média este ano, e o time andou se perdendo em algumas estratégias
arriscadas em demasia, como na Áustria, onde muitos concordam que o estouro de
pneu no carro do alemão decorreu de mantê-lo tempo demais na pista antes de
efetuar a troca. Mas o próprio modelo SF-16H tem de ser corrigido em alguns
pontos. O carro não está economizando os compostos de pneus como era de se
esperar, e seu equilíbrio também não está como o esperado. E o sistema do
câmbio também exigiu uma análise criteriosa para apurar os motivos que levaram
à quebra em dois finais de semana consecutivos de GPs.
O problema é
Marchionne perder a paciência de vez e começar a trocar o pessoal da escuderia
em busca de resultados mais imediatos. Esta semana se aventou que o time tentou
conseguir os serviços de Ross Brawn como consultor, muito provavelmente
indicando que a escuderia precisa mais do que nunca de um líder. Mas Brawn
recusou, e afirmou que a Ferrari precisa mais do que nunca manter a calma e ter
um foco e programa precisos para serem seguidos. E eu concordo. Maranello tem
muitos bons profissionais, e se a típica mentalidade italiana voltar a dar as
cartas no time, é bom que os tiffosi se preparem para outro jejum longo de
títulos. Se é verdade que Jean Todt colocou o time em ordem na década de 1990,
isso só foi possível porque Luca de Montezemolo, presidente do Grupo Ferrari na
época, teve a paciência de esperar pelos resultados, que não viriam da noite
para o dia. Com essa tranquilidade proporcionada por Montezemolo, Todt teve tempo
para estabelecer um cronograma e metas de evolução para o time, que alguns anos
depois conquistaria não só cinco títulos com Michael Schumacher, entre 2000 e
2004, mas ainda levaria o título de Kimi Raikkonem, em 2007, e por muito pouco
não conquistou também um com Felipe Massa em 2008, além do vice-campeonato de
Schumacher em 2006.
Sergio Marchionne
precisa deixar a escuderia trabalhar em paz. Ninguém lá está fazendo corpo
mole, e Maurizio Arrivabene sabe o que precisa ser trabalhado, e conseguiu, no
ano passado, criar um clima positivo na escuderia raras vezes visto, dando a
todos tranquilidade e calma para se esforçarem todos juntos no objetivo de
reerguer a escuderia, no que foram mais do que bem-sucedidos. Está certo que a
cobrança este ano é maior, mas ao mesmo tempo, conforme Ross Brawn levantou, se
o time começar a se desesperar pela pressão por resultados, pode colocar tudo a
perder. Ninguém divulgou nada a respeito do que foi dito ou determinado nas
tais reuniões convocadas por Marchionne para avaliar a situação, nem mesmo
quantas reuniões foram feitas, ou se é que já foram realizadas, ou se estão
esperando pelo período de férias da F-1, que começa depois da próxima corrida,
semana que vem em Hockenhein, para realizá-las. Mas é preciso dar tempo ao
tempo, e deixar que seu corpo de profissionais possa mostrar a que veio. Se
começarem a bagunçar o time, logo na primeira entressafra de resultados, este
vai perder sua estabilidade, e obviamente, ninguém conseguirá ter paz para
render o que pode. E desprezar esses profissionais pode ser um tiro no próprio
pé. Nem preciso mencionar que alguns profissionais que ajudaram a conceber o
eficiente modelo W07 da Mercedes, bem como os dos dois anos anteriores, como
Aldo Costa, trabalhavam em Maranello, antes de serem demitidos pela “falta de
resultados”, situação em parte motivada também pela politicagem na condução do
time rosso. Não que cobrar resultados seja errado. A F-1 vive disso, e quanto
antes eles forem obtidos, melhor. Mas é preciso não perder a cabeça nos
momentos ruins. Na década de 1980 e início dos anos 1990, o time fazia uma
troca louca de profissionais a cada momento ruim que vivia, e isso em nenhum
momento trouxe os resultados que se esperava. Havia alguns bons momentos, mas
logo no primeiro tropeço, tudo ia pelos ares, com profissionais sendo trocados
em busca de “mais resultados”. Trocava-se piloto, diretor técnico, etc.
Resultados eram cobrados para ontem, e programas de desenvolvimento eram
interrompidos e reiniciados, muitas vezes com novo corpo técnico ou novas
chefias, recomençando do zero alguns projetos, e descartando outros em
desenvolvimento. Um samba do italiano doido, diga-se de passagem. E olha que a
Ferrari teve oportunidade de contar com nomes de peso na época, tanto na área
técnica quanto em pilotos, como John Barnard, Alain Prost, Cesare Fiorio, etc.
Mas sem paciência da direção, cobranças a torto e a direito, e desrespeito ao
trabalho desenvolvido, nada entrava nos eixos, e a situação degringolava em
pouco tempo.
Que a Ferrari tem
problemas e não está onde esperava, paciência... Mesmo os melhores
planejamentos podem dar errado. Mas a escuderia sabe onde precisa melhorar, e
tem de ter a chance de corrigir suas falhas. Ainda por cima, trata-se de um
momento complicado para o time italiano, aliás, para todos os times da
categoria, em virtude das novas regras técnicas que irão vigorar a partir do
ano que vem, que deverão dividir as atenções dos engenheiros em período
integral daqui para frente, juntamente com o desenvolvimento dos carros da
atual temporada.
O time italiano entra
hoje na pista precisando mostrar serviço mais do que nunca. Mas, se acabar
tendo outro fim de semana ruim, o clima pode azedar de vez, e semana que vem,
já temos nova corrida, na Alemanha. O sinal vermelho acendeu em Maranello, e se
eles não conseguirem colocar os nervos da chefia do grupo sob controle, todo o
bom trabalho desenvolvido na reformulação do time do fim de 2014 até aqui pode
ir literalmente para a cucuia, o que seria muito ruim para os ávidos torcedores
da equipe rossa, mas para a própria F-1, que poderia ver o seu time mais
tradicional novamente incapaz de lutar pelas vitórias nas corridas e pelo
título da categoria, piorando o espetáculo da competição...
Depois da disputa das 24 Horas de
Le Mans, o Mundial de Endurance (WEC) volta às pistas neste final de semana,
com a prova das 6 Horas de Nurburgring, na Alemanha. Vencedora em Le Mans, a
Porsche pretende manter o seu domínio na atual temporada, onde lidera com o
trio Marc Lieb, Romain Dumas e Neel Jani, com 94 pontos. Na vice-liderança da
competição vem um dos carros da Audi, com Lucas Di Grassi, Loic Duval e Oliver
Jarvis, com 55 pontos. E encostado neles, com 54 pontos, vem um dos times da
Toyota, com Kamui Kobayshi, Mike Conway, e Stéphane Sarrazin. Na classificação
de construtores da LMP1, a Porsche lidera com 127 pontos, com a Audi em 2° com
95, e a Toyota com 79 pontos. O canal pago Fox Sports 2 transmite a corrida na
íntegra neste domingo a partir das 8 horas da manhã, pelo horário de Brasília,
com Rodrigo Mattar, Sergio Lago e Hamilton Rodrigues comandando a
transmissão da prova.
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