sexta-feira, 3 de julho de 2015

NELSINHO PIQUET CAMPEÃO DA F-E



Nelson Angelo Piquet teve um final de semana complicado na rodada final da F-E, mas sagrou-se campeão da categoria por apenas 1 ponto, assim como seu pai, em 1981, quando conquistou seu primeiro campeonato na F-1.

            A Formula-E, primeira categoria monoposto de carros de competição elétricos, encerrou seu primeiro campeonato com chave de ouro no fim de semana passado, com a rodada dupla realizada nas ruas do Battersea Park, em Londres. Houve tensão, incerteza, duelos acirrados, e uma decisão de título que acabou sendo feita por uma diferença de apenas 1 ponto. Mais emoção, impossível, para os fãs do esporte a motor.
            E acabou dando Nelson Angelo Piquet, que se sagrou o primeiro campeão da nova categoria, que tem chancela oficial da Federação Internacional de Automobilismo - FIA, e redimindo seu nome perante boa parte do público amante das corridas, que ainda associava o piloto ao Cingapuragate, onde o piloto bateu de propósito durante o GP de Cingapura de 2008, para favorecer seu companheiro de equipe Fernando Alonso, numa trama arquitetada por Flavio Briatore, diretor geral de seu time, a Renault, em conluio com Pat Symonds, diretor técnico da escuderia. No ano seguinte, Nelsinho e seu pai denunciaram a trama: Briatore foi banido da F-1 e Symonds passou alguns anos fora da categoria, retornando apenas no ano passado como novo diretor técnico da Williams. Mas Nelsinho acabou com sua carreira na F-1 ali.
            Agora, Nelsinho se tornou campeão de um torneio oficial, com aval da FIA. Eu diria que ele retomou com méritos sua carreira, e tornou-se um piloto ainda mais técnico e veloz do que era em seus tempos de F-1. Mas não foi uma disputa fácil a conquista do campeonato da F-E. Foi um ano de estréia com bom equilíbrio em alguns aspectos.
            Contratado pela equipe China Racing, Nelsinho foi o único piloto "fixo" do time, que competiu também com nomes como Ho-Pin Tung, Antonio Garcia, Charles Pic, e Oliver Turvey. De início, e.Dams, Audi ABT e Virgin pareciam ser os times mais fortes da competição, mas na verdade foram apenas quem começaram melhor a temporada. Com a disputa das etapas, havia um bom equilíbrio entre os times, de modo que quem quisesse se destacar precisava não apenas ser veloz, mas também constante. Apesar da reação tardia entre os 3 principais duelistas do título, Nelsinho não apenas se posicionou bem na briga, mas soube crescer no momento certo da competição, chegando para a rodada dupla em Londres como líder e o favorito para o título. Nelsinho só não marcou pontos na segunda corrida, em Putrajaya, na Malásia, onde protagonizou seu único abandono no campeonato, ao colidir com Jarno Trulli numa disputa de posição na pista, com culpa maior do piloto italiano. Seu pior resultado nos pontos foi justamente na abertura do campeonato, em Pequim com um 8° lugar. Depois disso, seu pior resultado foi justamente na corrida final de Londres, onde terminou em 7°. Com 2 vitórias e 3 pódios, teve um bom aproveitamento durante o campeonato, mesmo tendo terminado o ano sem nenhuma pole-position. Averbou a volta mais rápida da prova em duas oportunidades, mostrando que não ficava apenas administrando seu ritmo na pista.
Lucas Di Grassi bem que tentou, mas não conseguiu conquistar o título em Londres.
            Lucas Di Grassi também teve apenas um abandono durante a competição, na etapa de Buenos Aires, quando teve uma quebra de suspensão súbita quando liderava a corrida. Mas a desclassificação sofrida em Berlin por erro do time em ter feito um reparo na asa dianteira de seu carro implodiu suas chances de ser campeão, perdendo a liderança do campeonato e tendo de recuperar o terreno perdido nas provas seguintes, o que não conseguiu fazer. Também pesou o seu mal resultado na etapa de Miami, onde foi apenas 9° colocado. Venceu a primeira corrida, em Pequim, e desde o início manteve-se sempre regular e forte, conquistando mais 5 pódios, mas assim como Piquet, Lucas também não conquistou nenhuma pole-position, e contabilizou apenas uma volta mais rápida no certame. Acabou terminando o ano em 3° lugar, tendo sido o maior derrotado na disputa do título travada entre Piquet, ele, e Buemi.
            Sebastién Buemi chegou a Londres como o menos cotado dos duelistas ao título. Apesar de contar com 2 vitórias, tinha 3 provas sem marcar pontos, e estava 23 pontos atrás do líder Piquet. Contavam a seu favor, até então, 2 poles e uma volta mais rápida, mas parecia pouco para credenciá-lo a ser o principal rival dos pilotos brasileiros. Mas eis que o suíço reverteu completamente as expectativas na primeira corrida do fim de semana: marcou a pole, e viu seus dois rivais ficarem de fora do pódio. Tornava-se novamente um adversário a ser temido e respeitado. No domingo, graças à chuva, a dupla brasileira teria de largar do meio do grid para trás, enquanto Buemi, novamente com sorte, largava entre os primeiros. Para muitos, o piloto da e.Dams inverteu as posições e virava o principal favorito ao título, mesmo com Nelsinho ainda na frente na pontuação.
De azarão, Buemi reverteu as expectativas em Londres, vencendo pela 3ª vez e por pouco não levando o título na disputa contra Piquet.
            O palco da rodada final, o Battersea Park, é um lugar belíssimo, mas como pista, deixou a desejar, por ser extremamente estreita, tornando quase impossível de se ultrapassar. Por isso, ao largar lá atrás, Piquet era tido como fora de combate na luta. Mas o filho de nosso primeiro tricampeão de F-1 fez uma excelente largada, para avançar na prova, e chegar a uma posição onde novamente pudesse levantar o título. Mais do que o esforço de Piquet, outros quatro fatores ajudaram Nelsinho a conquistar a taça. O primeiro foi uma rodada justamente de Buemi, na segunda metade da corrida, escapando de leve em uma curva e perdendo a posição para Bruno Senna; o segundo foi o jogo de equipe com seu então companheiro Oliver Turvey, que lhe cedeu posição na pista, permitindo-o ganhar mais uma colocação; o terceiro fator foi Bruno Senna, que fortemente acossado por Buemi, resistiu bravamente às tentativas de ultrapassagem do suíço, nitidamente mais veloz nas voltas finais da corrida; e o quarto fator, vejam só, foi a pista estreita do Battersea Park, que no início, todos diziam, seria o maior empecilho para a recuperação de Piquet, mas acabou sendo um fator decisivo para Bruno Senna conseguir manter sua posição, e assim, evitar que Buemi melhorasse uma posição, e conseguisse chegar ao título. Não que Sebastién não tenha tentado: ele até chegou a quase conseguir a ultrapassagem, mas Bruno conseguiu recolocar o carro na frente e manter-se firme em 4° lugar, enquanto Buemi foi o 5°. E com o 7° lugar, Nelsinho fechou a temporada com 144 pontos, contra 143 de Buemi. Lucas Di Grassi fechou o ano em 3°, com 133 pontos, 11 a menos que seu compatriota.
            A Formula-E termina seu primeiro ano em alta. Um campeonato com várias disputas, vários times e pilotos vencendo corridas, e com público cheio especialmente na segunda metade do campeonato. Houve problemas e falhas durante a competição, mas nada que não possa ser melhorado para o segundo campeonato, que deve começar em outubro, em calendário ainda a ser divulgado. E tem tudo para crescer bastante. Não há como negar que teve um primeiro ano bem interessante.
            Tivemos 7 vencedores, de 6 times diferentes. No campeonato de equipes, a e.Dams foi a grande campeã, com 232 pontos, e a única equipe a vencer com seus dois pilotos, Sebastién Buemi e Nicolas Prost. A Dragon Racing foi a vice-campeã, mesmo tendo obtido apenas 1 vitória, ficando com 171 pontos. Na terceira colocação, a Audi ABT, com 165 pontos, teve como principal problema na prática ter competido com apenas 1 piloto, Lucas Di Grassi, uma vez que Daniel ABT foi apenas o 11° colocado no campeonato. Em 4° lugar, a China Racing, com 152 pontos, teve panorama parecido, uma vez que nenhum dos pilotos que foi parceiro de Nelsinho Piquet durante o ano mostrou desempenho satisfatório.
Desde a primeira corrida do campeonato, em Pequim, a F-E evoluiu e chamou a atenção dos fãs da velocidade. E pode crescer ainda mais...
            Um destaque negativo no campeonato foi Jarno Trulli: o veterano ex-piloto de F-1 competiu com time próprio, mas fora a pole-position na etapa de Berlin, o italiano foi uma negação durante todo o campeonato, não conseguindo nenhum resultado relevante, além de ter causado alguns acidentes na pista com outros competidores. É possível que seu time não siga na competição, uma vez que os fracos resultados não renderam atratividade entre potenciais patrocinadores, mesmo sendo os custos de competição da nova categoria bem acessíveis.
            Quem também não conseguiu fazer um bom campeonato foi Bruno Senna, que enfrentou diversos problemas e continuou mostrando em vários momentos problemas para conseguir se classificar bem. Seu time, a Mahindra, também não conseguiu mostrar um desempenho satisfatório, a ponto de o melhor resultado da equipe ter sido justamente o 4° lugar de Bruno na corrida final de Londres, com o brasileiro finalizando o campeonato em 10° lugar, com 40 pontos, enquanto seu parceiro Karun Chandhock foi apenas o 17° na classificação, com 18 pontos.
            Há quem diga que está se criando muita expectativa em cima da F-E. Tem quem diga que já está melhor do que a F-1, e que em breve os carros elétricos serão melhores e terá o melhor campeonato. Mas vamos devagar com a empolgação. A categoria começou tendo de provar ao público que poderia ser interessante. A curiosidade era grande para ver como se dariam as disputas dos carros movidos unicamente a eletricidade, que deve ser o futuro dos carros de rua, muito mais ecológicos e menos poluentes do que os atuais, movidos por motores a combustão interna. Os carros ainda não tem condições de competir efetivamente em velocidade e autonomia com seus congêneres movidos a gasolina, álcool, diesel, o que for combustível líquido, mas é bom lembrar que a tecnologia deste tipo de carro elétrico ainda está no início de seu desenvolvimento, e o potencial de crescimento é enorme.
            Neste primeiro ano, todos os carros foram padrão, assim como suas unidades de força, fornecidas pela Renault. Para o próximo campeonato, teremos outras empresas envolvidas no desenvolvimento destes "trens de força", como são chamadas as unidades motrizes elétricas. A expectativa é que a competição mais aberta proporcione evoluções e ganhos de monta, que poderão dar tanto mais velocidade aos carros quanto maior autonomia. A operação de troca de carro, instituída mais por necessidade do que por capricho, tornou-se um momento interessante das corridas, e há quem defende que podem muito bem continuar, com a evolução das unidades se concentrando mais no quesito performance do que autonomia propriamente. Mas, conjugando maior performance e autonomia, nada impediria os monopostos elétricos de correrem em pistas além das de rua. O campeonato cresceu o suficiente para as grandes fábricas ficarem de olho no potencial dos carros elétricos, que poderão ser um eficiente laboratório para o desenvolvimento de seus modelos movidos a eletricidade. É um interesse que já se vê nas unidades híbridas que são utilizadas pela F-1 e pela Endurance, mas levada à sua total dedicação na F-E, com propulsores 100% elétricos.
            A estrutura da F-E pode ser pequena, mas ela já iniciou bem no quesito do contato com os fãs. Está na internet, redes sociais, e ainda dá aos torcedores a chance de darem "uma força" a seu piloto favorito, com a eleição do "fan boost", que é um adicional de energia que o piloto pode utilizar durante a corrida em um breve momento, conferindo-lhe maior potência e velocidade, ótimo para se usar durante uma disputa de posição. O público se sente participando da disputa, e paddock e pódios são feitos com a presença dos torcedores bem próximos, ao contrário da F-1, cada vez mais distante e hermética, onde qualquer um que chegue mais perto é barrado sem dó nem piedade. Isso para não falar da postura dos pilotos, sem aquele patrulhamento ferrenho de assessores de imprensa e comunicados "politicamente corretos" que são um tédio só. Neste ponto, a F-E já dá de goleada na F-1, que claro, não está dando a mínima para os carros elétricos...por enquanto.
            Antes mesmo da etapa final do campeonato, Nelsinho Piquet já havia anunciado a renovação de seu contrato com a China Racing, segundo ele, por vários "anos", mostrando que está apostando firme na competição, e como seu atual campeão, irá agora não apenas defender o seu título, mas quem sabe buscar o bicampeonato. É seu direito e seu dever. E um novo duelo com Lucas Di Grassi está à vista, uma vez que seu compatriota já havia sido o primeiro a anunciar a renovação de seu contrato, garantindo-se como piloto da Audi ABT por mais um ano. Agora, é aguardar o que a F-E poderá apresentar no seu futuro segundo campeonato, e os torcedores brasileiros podem estar certos de que o nome Piquet voltou a brilhar positivamente no automobilismo internacional...


A F-1 inicia hoje os treinos oficiais para o Grande Prêmio da Inglaterra, em Silverstone. Na pauta, o mais óbvio possível: Lewis Hamilton vai reagir em "casa", após ser superado por Nico Rosberg na Áustria? E se for, será que o atual bicampeão irá sentir a pressão da disputa com o colega de time? Mas não é só isso. Já começaram as apostas para ver em que volta a McLaren abandona a corrida britânica, ou se o time terá de "queimar" mais uma unidade, e com isso, sofrer novas punições por usar mais um motor além da cota. Também se perguntam em que volta Kimi Raikkonem vai rodar no GP, lembrando das rodadas do Canadá e da Áustria, e não podendo esquecer que aqui no ano passado Kimi saiu da pista, e ao voltar perdeu o controle do carro e acertou fortemente o guard-rail, num acidente que deixou muita gente assustada e quase levou outros pilotos junto. E será que a Williams vai encostar ainda mais na Ferrari e começar a lutar efetivamente pelo pódio? Acompanhemos tudo, e vejamos quais serão as respostas até a bandeirada final na corrida de domingo...

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