Voltando
com a seção Arquivo, trago hoje a coluna escrita para o dia 23 de maio de 1997,
sexta-feira que antecedia o último domingo do mês, data tradicional da mais
famosa corrida dos Estados Unidos, as 500 Milhas de
Indianápolis. O texto faz uma pequena dissertação sobre a história da corrida,
iniciada em 1911, e que só no ano que vem disputará sua 100ª edição, por força
dos anos em que ficou suspensa devido às guerras mundiais. A prova no oval da
capital do Estado de Indiana já foi mais visada, chegando a ter mais de 50
pilotos lutando por um lugar no seu grid de 33 vagas, mas nos últimos anos, tem
sido quase um desafio preencher este grid.
A
corrida antigamente tinha a presença de times que disputavam apenas a Indy500,
e possuía também um regulamento com algumas diferenças em relação ao restante
do campeonato. Hoje isso praticamente acabou, com a prova sendo disputada
apenas pelos times que correm o ano inteiro no campeonato da Indy Racing
League. Para a prova, as escuderias contratam alguns pilotos extras, o que
ajuda a encher todas as 33 vagas do grid. Nos bons tempos, a briga para alinhar
na famosa corrida era mais dura e feroz, e o cronômetro era implacável com quem
não atingia o suficiente para entrar no grid, não importando qual piloto ou time
fosse. Só para exemplificar, em 1995, na última vez que a corrida fez parte da
F-Indy original, a equipe Penske, maior vencedora da prova, simplesmente não
conseguiu se classificar, com seus pilotos Émerson Fittipaldi e Al Unser Jr.,
duas vezes vencedores da Indy500.
Fiquem
agora com o texto, e boa leitura. Em breve, trago mais textos antigos...
INDIANÁPOLIS 500 1997
“Senhores,
liguem seus motores”. Com esta frase, que já se tornou célebre neste tipo de
ocasião, terá início na tarde deste domingo um dos maiores espetáculos
automobilísticos do mundo: as 500 Milhas de Indianápolis. Junto com as 24 Horas
de Le Mans e o Grande Prêmio de Mônaco de F-1, a Indy500 forma a “Tríplice
Coroa do Automobilismo Mundial”. Serão ao todo 33 concorrentes, todos com o
objetivo de vencer aquela que é considerada a mais tradicional prova do
automobilismo americano. E, dentre estes participantes, haverá 2 pilotos
brasileiros, Affonso Giaffone e Marco Greco, largando respectivamente em 14º e
29º no grid de largada.
A
história desta prova remonta aos primórdios do século, quando a nascente
indústria automobilística americana dava seus primeiros grandes passos em busca
da evolução de seus produtos. Era ainda a primeira década do Século XX quando 4
empresários do setor, Carl G. Fisher, James A. Allison, Arthur C. Newby, e
Frank H. Wheeler, adquiriram um terreno de cerca de 1 milhão de metros
quadrados nos arredores da cidade de Indianápolis, com o objetivo de construir
uma pista de testes para a nascente indústria automobilística. A inauguração
foi em 1909, e o primeiro piso da pista era formado de cascalho misturado com
alcatrão. Este pavimento, entretanto, mostrou-se muito perigoso, pois as pedras
que eram levantadas voavam como projéteis na direção de quem vinha atrás.
Em
1911, com a criação da prova das 500 Milhas, todo o pavimento foi trocado por
tijolos. Toda a extensão de 2,5 milhas foi calçada com nada menos do que 3,2
milhões de tijolos. A prova atraiu um público estrondoso para a época: 80 mil
pessoas. Raymond Harroun foi o primeiro vencedor das 500 Milhas, triunfando na
primeira de todas as edições no tempo de 6h42min08s, na velocidade
“estonteante” de 120 Km/h. Harroun marcou presença ainda por ser o único piloto
a correr sem o mecânico a bordo, coisa comum naquele tempo. Como uma das
funções do mecânico a bordo era mais informar quando o piloto ia ser ultrapassado,
Harroun correu com um espelho colocado sobre o painel de seu Nordyke &
Marmon, que pode ser considerado o primeiro espelho retrovisor da história. Ao
todo, 40 pilotos alinharam no primeiro grid de largada da Indy500.
Passaram-se
os anos. Em 1937, o pavimento de tijolos foi substituído por asfalto, mas por
força da tradição, mantiveram intacta uma pequena linha de cerca de 0,91m de
largura na linha de chegada/largada. Com as duas grandes Guerras Mundiais, as
500 Milhas não foram disputadas em 1917, 1918, 1942, 1943, 1944 e 1945. Em
1936, seria criado mais um símbolo e outra tradição da corrida: o Troféu
Borg-Warner. É neste troféu que são incrustados os rostos de todos os
vencedores das 500 Milhas de Indianápolis até hoje. O troféu, aliás, fica permanentemente
no autódromo: os vencedores recebem apenas uma réplica em tamanho menor do
mesmo.
Com
a aproximação da realização das 500 Milhas, a cidade de Indianápolis,
tradicionalmente considerada uma metrópole “caipira”, muda da noite para o dia.
Com cerca de 800 mil habitantes normalmente, a população chega a dobrar por
ocasião da corrida. Todos os ingressos já estão vendidos há meses, e a lotação
dos últimos anos aponta para um público de cerca de 500 mil pessoas. Dentro da
pista, os números são impressionantes: o Indianapolis Motor Speedway tem um
percurso de 2,5 milhas, e a prova é disputada em 200 voltas, totalizando as 500
Milhas, ou 802 Km de percurso. A premiação então, é um assombro: só pela
pole-position da prova deste ano, o holandês Arie Luyendick já embolsou cerca
de US$ 150 mil. O vencedor irá levar um prêmio superior a US$ 1 milhão. Sem
mencionar que há prêmios para uma infinidade de outras coisas durante a prova.
Com todos estes atrativos, fora a divulgação publicitária do evento, quem vence
a Indy500 é transformado em mito da noite para o dia. E quem vence sempre quer
repetir o feito. E os maiores vencedores das 500 Milhas foram apenas 3 pilotos,
todos com 4 vitórias na corrida: Al Unser, A.J. Foity, e Rick Mears. Mears foi
o piloto que mais poles conquistou em Indianápolis: 6; enquanto Al Unser é o
recordista de voltas na liderança: 644. Já A. J. Foity possui um número ímpar
de participações na prova: disputou 35 vezes. Rick Mears também é o piloto que
mais faturou em prêmios na corrida, somando uma bolada que se aproxima de US$
4,3 milhões.
As
500 Milhas também fizeram parte do campeonato de Fórmula por uma década, nos
anos 1950, mas era disputada apenas pelos pilotos americanos. Na década de
1960, contudo, alguns nom,ES de peso da F-1 participaram dela. Foram célebres
as vitórias de Jim Clark em 1965 e de Graham Hill em 1966. Mario Andretti, que
depois também faria carreira na F-1, venceu a Indy500 em 1969. Depois deles,
apenas outro piloto que foi campeão da F-1 venceu em Indianápolis: Émerson
Fittipaldi, que venceu a prova em 1989 e 1993.
A
última edição das 500
Milhas, em 1996, foi marcada pela grande ausência dos
pilotos da F-CART, devido à cisão entre a USAC e a CART, por conta de Tony
George, proprietário do autódromo de Indianápolis. Este ano, alguns outros
pilotos de nome disputam a prova, mas ainda sem a mesma presença de outros
anos. Para 1998, parece que haverá uma trégua entre a IRL e a F-CART, e talvez
poderemos ver novamente a Indy500 com todo o seu charme e disputa que tanto a fizeram
famosa nestas décadas de disputa.
Indianápolis não é só disputa e fama, mas também perigo: durante todos
estes anos de disputa, nada menos do que 39 pilotos perderam a vida no
circuito. Os últimos a morrerem em Indianápolis, já nesta década, foram o
filipino Jovy Marcelo, em 1992; e o americano Scott Brayton, em 1996.
A média horária recorde das 500 Milhas até hoje é da vitória de Arie
Luyendick em 1990, na velocidade média de 299,243 Km/h...
Enquanto a IRL (F-Indy) disputa sua maior prova, a F-CART disputa
amanhã sua mais nova etapa: O Grande Prêmio de Madison, cidade próxima a Saint
Louis, no Estado do Missouri. Hoje acontece o treino de definição do grid de
largada, já que a prova será disputada num sábado, para não fazer concorrência
direta com a Indy500. Serão 240 voltas no circuito oval de 2.011 metros,
totalizando 300 milhas de percurso.
A Fórmula 1 disputa neste domingo o Grande Prêmio da Espanha, no
circuito de Barcelona. A Williams mantém o favoritismo para a corrida, baseada
no seu retrospecto anterior neste circuito. Mas a Benetton promete jogar duro
na prova, baseada nos tempos obtidos nos testes de semanas atrás, quando tanto
Gerhard Berger quanto Jean Alesi foram mais rápidos do que Jacques Villeneuve e
Heinz-Harald Frentzen. Outra escuderia a andar muito forte foi a McLaren, que
também promete entrar forte na luta pela vitória. Mas teste é teste, e corrida
é corrida...
Ricardo Rosset já encontrou ocupação para o resto do ano na F-1: será
piloto de testes da equipe Tyrrel.
Alain Prost pode trocar o piloto japonês Shinji Nakano, devido às suas
más performances. A preferência é pelo piloto Emmanuel Collard. A conseqüência
seria o fim do “desconto” dado pela Mugen-Honda no pagamento de seus motores,
que é de cerca de US$ 4 milhões por ano...
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