Circuito de Jerez de La Fronteira, na Andaluzia, dá a largada na pré-temporada da F-1 neste domingo. |
Acabou-se a espera.
Neste domingo, começa a pré-temporada da Fórmula 1 de 2015. É hora de conferir
os novos carros e as novas associações firmadas para a nova temporada. E os
torcedores espanhóis terão o privilégio de monopolizar todos os testes de
preparação para o campeonato. A pista de Jerez de La Fronteira, na Andaluzia,
sedia a primeira sessão coletiva, que começa neste domingo, 1° de fevereiro, e
vai até o dia 4. Depois, teremos uma pausa de duas semanas, e então os times
voltam ao batente desta vez na Catalunha, no autódromo de Barcelona, nos dias 19 a 22 de fevereiro, e que
também sediará a última sessão coletiva, nos dias 26 de fevereiro a 1° de
março. Depois, é empacotar tudo e rumar para a primeira corrida da temporada,
em Melbourne, na Austrália, no dia 15 de março.
É uma pena que a FIA
continue ignorando os demais países como opções de locais de testes da
pré-temporada da F-1. O belo circuito de Portimão continua sem ter o gosto de
ver um carro de F-1 até hoje, assim como os portugueses há quase 20 anos não
tem este prazer em uma pista de seu país. E até Ímola, na Itália, que poderia
sediar uma sessão de testes, continua esquecido, tendo visto pela última vez um
bólido de F-1 na temporada de 2006. Se Jerez é um circuito que está de fora do
campeonato, Barcelona já virou lugar comum, sediando sempre os testes. Poderiam
experimentar a pista de Valência, não o circuito urbano que sediou o GP da
Europa há pouco tempo atrás, mas o autódromo Ricardo Tormo, que já sedia a
MotoGP. Uma variada faria bem à categoria, e sair um pouco de Barcelona também
ajudaria a tornar a prova espanhola menos tediosa, uma vez que todos os times
já conhecem tão bem a pista pela maioria dos testes que as surpresas tem sido
sempre mínimas, e as corridas, enfadonhas, nos últimos anos.
Além da expectativa
normal que todo início de testes de pré-temporada causa, o panorama geral já
começa bem alvoroçado. Em primeiro lugar, teremos um desfalque: a Force India
anunciou esta semana que não estará em Jerez. Com o carro de 2015 ainda por
finalizar, a escuderia argumentou que os testes com o modelo do ano passado,
mesmo com adaptações dos novos sistemas que virão com o novo monoposto não
dariam os resultados esperados pela escuderia. Pode até ser, mas com apenas 12
dias disponíveis na pré-temporada, perder praticamente 1/3 do tempo de pista
pode ser um grande prejuízo na preparação para o campeonato, e que pode não ser
recuperado mais adiante.
Mas seria o menor
problema do time de Vijay Malliya, que mesmo com o incremento de novos
patrocinadores no México, estaria com a situação financeira tão complicada que
uma publicação alemã até já noticiou que o próprio time estaria à venda. Não
posso negar que, a se confirmar tal posição, fiquei até um pouco surpreso, pois
tudo dava a entender que a escuderia pelo menos conseguiria manter-se firme na
competição, sem maiores percalços financeiros. Não que o time tenha dinheiro
sobrando, mas nas últimas temporadas, em que pese a situação financeira complicada
de seus proprietários, a escuderia de F-1 sempre teve as finanças relativamente
em ordem, evitando contrair dívidas que a complicassem sobremaneira na
competição. Isso se demonstrava também pelo fato de geralmente começar bem o
ano, e depois ir perdendo o fôlego frente aos concorrentes, às vezes mais, às
vezes menos, durante o campeonato, evidência do escasseamento dos recursos, que
eram reduzidos e gerenciados de forma a garantir que o time terminasse o ano
pelo menos de pé, o que parece que agora está muito mais difícil de se
garantir, com o time talvez iniciando o ano em sua pior forma desde que Malliya
assumiu o comando da escuderia na década passada. Uma pena. A Force India pelo
menos sempre se garantia no bloco intermediário, com algumas boas performances
aqui e ali.
Red Bull e Sauber, por
outro lado, enfrentam uma correria desenfreada para colocar seus novos modelos
na pista neste domingo, para darem início a seus testes. Enquanto a escuderia
suíça anda com as finanças combalidas, ao ponto de ter atrasado até a construção
do carro, a Red Bull tenta finalizar o seu novo RB11, que até o fechamento
desta coluna, ainda não teria sido aprovada no "crash test" da FIA.
Os modelos de ambos os times despertam a curiosidade de todos, torcedores e
imprensa especializada. No time dos energéticos, o RB11 deverá ser o último
carro de F-1 "puro sangue" de Adrian Newey, que a partir desta
temporada assumirá a função de "consultor" na Red Bull, dedicando-se
a outros projetos. O carro do time para 2016, o futuro RB12, já deverá ser
concebido pelo corpo técnico do time, que terá apenas a "supervisão"
de Newey. O "engessamento" das regras técnicas da F-1 tiraram o
entusiasmo do projetista, que preferiu buscar novos desafios fora da categoria.
E ao manter o inglês como consultor, a Red Bull também garantiu que outros
times não o contratassem. Como o motor Renault turbo e seus sistemas de
recuperação de energia devem render melhor este ano com as evoluções permitidas
pelo regulamento, todo mundo quer ver do que a última criação de Adrian será capaz
na pista, conduzida pelo australiano Daniel Ricciardo, e pelo russo Daniil
Kvyat.
Na Sauber, a
expectativa é ver como o time conseguirá se portar este ano, depois de sua pior
temporada na história, tendo ficado sem pontuar em 2014, e ficando quase sem
recursos e muitas dívidas. Um acordo de patrocínio e cooperação tecnológica com
a gigante tecnológica Hewlett-Packard firmado esta semana deve aliviar a
penúria do time, e permitir um desenvolvimento mais acurado do potencial que o
novo C34 porventura tenha. Felizmente o time suíço deverá estar com seu
monoposto pronto para entrar na pista no domingo, depois de deixar seus fãs
preocupados com as notícias de que o carro muito provavelmente não estaria
pronto para a primeira sessão de testes coletivos. Espero que a escuderia tenha
um ano melhor, pois Peter Sauber é de uma raça quase extinta na F-1 hoje em
dia, a dos garagistas, que montaram seus times pela paixão da velocidade. Além
do suíço, restam apenas Frank Williams, e Ron Dennis, como representantes desta
estirpe que um dia já foi a grande maioria dos competidores da F-1.
A primeira semana de
testes, como de costume, pode não gerar indícios muito precisos de como será a
relação de forças da categoria nesta temporada. Mas teremos alguns parâmetros interessantes
para se observar. O primeiro deles deverá ser a evolução de potência dos
motores: a introdução das novas unidades de força híbridas em 2014 foi feita de
forma bem conservadora, com nenhuma das marcas a utilizar todo o limite de
rotações permitido pela FIA, a fim de garantir a fiabilidade das unidades e
evitar quebras. Com um ano de experiência de pista, e com os desenvolvimentos
permitidos pelo regulamento para várias áreas dos propulsores, as versões
novas, em que pese ainda sejam os mesmos conjuntos, deverão se mostrar bem mais
fortes do que no ano passado. Renault e Ferrari, que ficaram à sombra da
Mercedes neste campo em 2014, terão uma nova chance de recuperarem o terreno
perdido para os alemães. O problema é que estes também não ficaram parados, e
as más línguas falam que houve um incremento de pelo menos 50 cavalos a mais na
unidade de força germânica, o que pode significar uma ducha de água fria para
os concorrentes, ainda mais se o novo modelo W06 for tão competitivo como o do
ano passado.
Para aqueles que
chiaram a torto e a direito que as novas regras tinham deixado a F-1 "mais
lenta", as perspectivas são boas: os novos carros deverão ser bem mais
velozes este ano. Em parte pelo incremento de potência que todas as unidades
deverão fornecer, em parte pela evolução dos projetos dos carros. Aliás, estes
críticos que falavam que os carros tinham se tornado muito mais lentos pareciam
se esquecer completamente que eles haviam "engordado" cerca de 50 Kg em relação a 2013, além
de perderem bastante downforce com as novas regras. Pois bem, os novos carros
deverão recuperar parte deste apoio aerodinâmico perdido em 2014, e a Pirelli
também dará uma boa contribuição para o incremento de performance dos bólidos
2015. No ano passado, sem maiores informações de como se comportariam as novas
unidades híbridas de força, com reações diferentes dos antigos motores V-8
aspirados, a fabricante italiana optou pela prudência na confecção dos
compostos de pneus que as escuderias utilizariam, para evitar situações como as
ocorridas durante meados da temporada de 2013. Agora, já conhecendo bem melhor
os novos propulsores, a Pirelli promete pneus mais velozes, e também menos
duráveis dependendo do tipo de composto, a fim de provocar as tradicionais
variáveis de estratégias desejadas pela FIA, que viraram norma nos últimos
anos. As escuderias terão de descobrir como usar da melhor maneira estes
compostos, e quem souber interpretar os dados da pré-temporada poderá
surpreender os rivais nas primeiras provas. Calcula-se que os carros, numa
estimativa otimista, possam ser até 3s mais rápidos do que os de 2014.
Todo mundo também está
na expectativa de rever a parceria McLaren/Honda na pista. Até o fechamento
desta coluna, o novo MP4/30 ainda não tinha sido apresentado, o que iria
ocorrer ontem. É de se esperar grandes dificuldades no retorno dos nipônicos à
categoria, mas todos esperam que eles consigam superar as dificuldades o quanto
antes e ajudar a McLaren a voltar às primeiras colocações, de onde andam
ausentes nos últimos dois anos. O problema é que não apenas os japoneses
precisam caprichar, mas a própria McLaren: se o novo carro não for competitivo,
o novo propulsor japonês não fará milagres, e se o carro for bom, também não
conseguirá compensar um motor problemático. Mas, se no ano passado a Red Bull e
a Renault conseguiram fazer um bom campeonato, levando-se em conta que mal
conseguiram andar direito na pré-temporada, dá para ficarmos esperançosos em
uma recuperação do time de Woking mais à frente no caso de uma pré-temporada
desastrosa, pelo menos sabendo que há possibilidade de se recuperar durante o
ano.
E as atenções também
estarão voltadas para a Ferrari, que entra em 2015 praticamente toda renovada,
com direção e comando totalmente novos, além de ter sofrido grandes mudanças na
área técnica. E por contar agora com o tetracampeão Sebastian Vettel. O time
rosso teve em 2014 sua pior temporada em mais de duas décadas, então,
apresentar um desempenho melhor não deve ser difícil. Resta esperar que a nova
direção da escuderia saiba manter a cabeça fria e evitar perder o controle se
2015 se mostrar outro ano de resultados magros na pista. E Vettel chegou ao
time mais famoso da F-1 disposto a calar seus críticos de vez, mostrando ser um
verdadeiro talento e não apenas um sortudo de ter pego os melhores carros dos
últimos anos. Ah, e ele quer apagar também a péssima imagem deixada no ano
passado, quando acabou superado por Ricciardo na própria Red Bull... Por isso e
outros motivos, todo mundo vai querer saber até onde a Ferrari poderá ir este
ano, e se a nova direção do time vai redimi-lo, ou talvez afundá-lo ainda mais.
Tanto McLaren quanto
Ferrari tem muito o que provar em 2015, e num ponto ambas estão idênticas: são
os únicos times cujas duplas de pilotos são campeões. Na escuderia inglesa,
temos o bicampeão Fernando Alonso e Jenson Button, campeão de 2009; já no time
italiano, Kimmi Raikkonem foi o último a conquistar um título pela Ferrari, em
2007, e Vettel praticamente deitou e rolou de 2010 a 2013 em cima dos concorrentes.
Se seus carros corresponderem, eles certamente mostrarão do que são capazes na
pista.
Mercedes e Williams
terminaram 2014 com os melhores carros da competição. Se todos esperam que o
time alemão continue mantendo seu domínio nesta nova temporada, não será menos
esperada ver como se dará o duelo entre sua dupla de pilotos este ano.
Bicampeão, Lewis Hamilton é o favorito para conquistar o tricampeonato, mas
terá em seu companheiro Nico Rosberg novamente um adversário duríssimo a ser
batido. Fica a dúvida apenas de quão dominante o time será em 2015, com uma
oposição teoricamente mais bem preparada, como é o caso da Williams, que
renasceu das cinzas no ano passado, e só faltou mesmo vencer, o que não foi
demérito, dada a supremacia da Mercedes na competição. Se o time mantiver sua
ascendência, eles certamente terão todas as chances de voltar ao degrau mais
alto do pódio nesta temporada. Valtteri Bottas e Felipe Massa tem todas as
razões para se animarem.
A Lotus teve um ano
horroroso em 2014 e tenta reencontrar o seu caminho. Trocaram o motor Renault
pelo Mercedes, mas ainda precisam provar que podem retomar a forma exibida
entre 2012 e 2013. Pelo seu lado, a Toro Rosso terá o mais novo piloto do grid,
Max Verstappen, que promete causar sensação na pista.
Depois de praticamente
dois meses sem nenhuma atividade fora das fábricas, está na hora de todo mundo
entrar novamente na pista e pisar fundo no acelerador. E especialmente conferir
os novos carros, e ver como cada escuderia achou as melhores soluções para as
restrições do regulamento técnico. Depois da chiadeira dos fãs, a FIA impôs
regras para deixar os bicos dos carros teoricamente mais elegantes e
"bonitos", então podemos esperar visuais esteticamente mais belos do
que alguns projetos vistos nos últimos anos. Até o fechamento desta coluna, só
vi o novo modelo da Williams em foto, enquanto os demais carros foram mostrados
apenas em desenho de computador ou especulação de fãs. Se conseguirem deixar os
carros com um visual mais elegante e simples, será um bom caminho para a
categoria voltar a cativar os seus fãs, embora ainda haja muito a ser feito
neste sentido.
Aguardemos então para
ver do que a F-1 2015 é capaz na pista de Jerez nestes primeiros 4 dias, e
tentar entender melhor o que poderemos esperar das equipes e pilotos para mais
um campeonato mundial. É hora de acelerar na pista novamente...
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