Sempre
acaba ficando algo para trás quando se faz um apanhado das notícias para tentar
comentar sobre os acontecimentos do mundo do esporte a motor. Para tentar
remediar um pouco isso, eis aqui a nova edição da Flying Laps, trazendo mais
alguns acontecimentos de destaque do universo das corridas do mês passado. Uma
boa leitura a todos...
A Red Bull
acabou perdendo o recurso que impetrou no Tribunal de Apelações da FIA contra a
desclassificação de Daniel Ricciardo na etapa inaugural do campeonato de F-1,
em Melbourne, motivada pelo uso de um fluxômetro com dados de consumo
irregulares. Além do mal humor pela perda do recurso, o time dos energéticos
ainda trocou farpas com a Mercedes, que defendia que o time austríaco fosse
suspenso por 3 corridas pelo ocorrido, o que deixou os ânimos exaltados. No GP
da China, tentando fumar o cachimbo da paz, Niki Lauda tentou apaziguar os
ânimos, mas a reação do time dos energéticos não teria sido das mais amigáveis,
a ponto de um dos integrantes da Red Bull ter afirmado que eles diriam aos
colegas da garagem vizinha onde eles poderiam enfiar aquela estrela de três
pontas...
Mike Conway venceu o GP de Long Beach
depois de uma bela corrida de recuperação para conseguir o seu 2° triunfo na
Indy Racing League. Mas o que marcou mesmo a prova foi o acidente múltiplo
causado por Ryan Hunter-Reay na parte final da corrida, quando tentou dividir
uma curva com Josef Newgarden, após o piloto fazer sua parada de box e retornar
ainda na liderança da corrida. Com os pneus ainda frios, Newgarden lutava para
segurar o piloto da Andretti Autosport atrás de si, mas o americano resolveu
tentar passar onde não dava, e como resultado, ambos foram parar no muro, dando
início a uma reação em cadeia: James Hinchcliffe, que comboiava Ryan, entrou
fundo na batida dos dois, espalhando os carros, que fecharam parte da pista e
foram atingidos por quem vinha atrás. Entre as vítimas, Takuma Sato, Jack
Hawksworht, e Tony Kanaan, que abandonaram no ato com seus carros detonados.
Felizmente, ninguém se feriu gravemente nas batidas. Will Power escapou por
sorte do rolo e fechou a corrida em 2° lugar, enquanto o colombiano Carlos
Muñoz finalizou o pódio em 3° lugar. Hélio Castro Neves teve uma corrida
apagada, e finalizou em 11°, após quase se enroscar também na batida iniciada
por Hunter-Reay. Depois de ter um desempenho abaixo do esperado em São
Petesburgo, Juan Pablo Montoya fez uma apresentação mais convincente em Long
Beach, terminando a corrida em 4° lugar.
Os times da IRL anunciam a contratação
de reforços para disputar as corridas de Indianápolis: enquanto a KV confirmou
o nome de Townsend Bell para assumir o 3° carro da escuderia nas 500 Milhas, o time de
Michael Andretti anunciou que terá um 5° carro na prova do GP de Indianápolis,
no circuito misto, que será pilotado por Franck Montagny. Para a Indy500, a Andretti
terá a participação de Kurt Bush. Outro convidado já anunciado no início do ano
para as 500 milhas
será o ex-campeão Jacques Villeneuve pela Schmidt Peterson, e Martin Plowman
pela equipe de A. J. Foyt.
Ryan Hunter-Reay venceu a corrida do
Alabama, 3ª etapa do campeonato 2014 da IRL, e redimiu-se em parte da furada
cometida em Long Beach, onde causou um enrosco coletivo na tentativa de assumir
a liderança que estava com Josef Newgarden. No circuito misto de Barber, o
piloto da Andretti andou sempre entre os primeiros, e contou com um erro
primário de Will Power para assumir a liderança, mantendo-se firme na pista
molhada do circuito, que acabou vitimando vários pilotos. Alguns conseguiram
sobreviver às saídas de pista ocasionadas pelo piso escorregadio, enquanto
outros acabaram ficando pelo caminho. A equipe de Michael Andretti, aliás, fez
dobradinha no pódio do Barber Motorsport: enquanto Ryan ficou com a vitória,
Marco Andretti ficou com o 2° lugar. Scott Dixon sobreviveu às armadilhas da
pista e subiu ao pódio na 3ª colocação. A prova, aliás, terminou sob bandeira
amarela, devido à batida do novato Mikhail
Aleshin, que rodou a poucas voltas do final, saiu da pista e bateu com
violência na barreira de pneus, com o carro voltando parcialmente para a pista
junto com parte da proteção de pneus, o que exigiu a intervenção do Pace Car.
Felizmente, o jovem russo nada sofreu. Para os brasileiros, a corrida foi
complicada: Tony Kanaan largou em último, e passou a prova inteira tentando se
recuperar, e acabou em 9° lugar; já Hélio Castro Neves, que largou em 6° e
andou entre os primeiros no início, despencou para trás e terminou num ínfimo
19° lugar.
A direção da Indycar teve uma boa
notícia neste mês de abril: os organizadores do GP de Long Beach renovaram o
contrato para realização da corrida na cidade, que em 1984 estreou na F-Indy, e
atualmente segue no calendário da IRL. A corrida estava sob risco de ser
cooptada pela F-1, que pensava na possibilidade de voltar a correr na cidade
californiana, como fazia até 1983. Seria um baque para a IRL, uma vez que a
corrida é a mais badalada do calendário da categoria, depois das 500 Milhas de
Indianápolis. Com o novo contrato, Long Beach tem sua corrida garantida no
campeonato americano até 2018. O "affair" de Long Beach com a F-1
seria a solução para a categoria máxima do automobilismo fazer 2 corridas nos
Estados Unidos, uma vez que a propalada corrida em Nova Jérsey parece cada vez
mais longe de se realizar. Com a esnobada em relação à F-1, esta que se contente
com a prova no circuito de Austin, no Texas, que pelo menos já mostrou ser um
sucesso nas duas edições disputadas até agora.
E o francês Sebastien Ogier continua
dando as cartas no Mundial de Rali. O piloto da Volkswagen averbou mais uma
vitória na competição ao faturar a etapa de Portugal, sendo esta a sua 4ª
vitória na prova lusitana. Mikko Hirvonen ficou em 2° lugar, seguido pelo
norueguês Mads Ostberg. Na competição, Ogier lidera o campeonato com 91 pontos;
Jari-Matti Latvala ocupa a 2ª colocação, com 62 pontos; e Ostberg é o 3°, com
48 pontos. A próxima etapa do mundial é no segundo final de semana de maio, na
Argentina. Ah, e só para mencionar: Robert Kubic se acidentou novamente na
competição, mas desta vez com pouca gravidade, tendo como maior prejuízo uma
embreagem queimada. O polonês esta ficando "invicto" na competição,
sofrendo acidentes em todas as etapas do ano até aqui...
O mês de abriu trouxe uma perda inestimável
para o esporte brasileiro: Enquanto viajava para narrar um jogo da abertura do
Campeonato Brasileiro de Futebol, em Uberlândia, Minas Gerais, no último dia 19
de abril, o narrador Luciano do Valle passou a se sentir mal no avião onde
estava. Socorrido e levado para o hospital tão logo o avião aterrissou,
infelizmente o mal súbito calou a voz do maior nome da narração esportiva da
história da TV brasileira. A necropsia apontou infarto como causa da morte do
locutor. Luciano tinha 66 anos, e estava em plena atividade, em que pese a
idade já comprometer um pouco de sua lucidez e percepção ao microfone,
confundindo alguns nomes e vez por outra perdendo um lance. Com praticamente 51
anos de carreira, Luciano notabilizou-se não apenas pela narração de eventos
esportivos, mas também como empresário e incentivador de projetos esportivos. Quando
deixou a TV Globo, no início dos anos 1980, ele migrou para a TV Record, e
depois para a Bandeirantes, onde deu início a uma intensa programação esportiva
na emissora, e onde estava até seus últimos dias. Para tanto, fez os
brasileiros descobrirem o vôlei, e no fim dos anos 1980, trouxe a transmissão
da Fórmula Indy para o Brasil, apostando no talento de Émerson Fittipaldi, que
fizera sua carreira de piloto renascer na categoria americana. Outros esportes
incentivados por Luciano na TV foram o basquete e o boxe, tendo narrado as
lutas de Adilson Rodrigues, o Maguila, além das partidas onde vicejava o
talento de Hortência e Paula. O Show do Esporte, transmitido aos domingos na
Bandeirantes, exibia uma diversidade ímpar, só vista muitos anos depois quando
surgiu a TV por assinatura em nosso país, com canais esportivos. E as
transmissões esportivas da emissora não ficavam restritas a esse programa:
Luciano trouxe também as partidas do futebol europeu, além dos jogos da NBA, a
maior liga de basquete do mundo, apresentando os astros da modalidade ao
público nacional, além do torneio da Liga do Futebol Americano, a NFL. Luciano
narrou praticamente tudo quanto é esporte que se transmitiu neste país, de
Olimpíadas a jogos de futebol, passando pela F-1, F-Indy, IRL, hóquei, sinuca,
o diabo a quatro, e se hoje temos uma diversidade de eventos mostrados na TV, é
em boa parte graças a ele, que abriu espaço para muitas modalidades que eram
praticamente ignoradas pelas emissoras e pelos telespectadores. O narrador já tinha
sofrido um AVC há 2 anos atrás, o que fez com que se afastasse uns tempos do
trabalho. Além de se preparar para transmitir os jogos do Campeonato
Brasileiro, ele também se preparava para a Copa do Mundo, em junho, após marcar
escala novamente em Indianápolis para transmitir mais uma edição das 500 Milhas, como fizera
nas vitórias brasileiras em 1989, 2001, 2002, 2009, e no ano passado. Sua voz
se cala, mas a memória de seus feitos na narração e incentivo ao esporte em
nosso país serão eternas. Seu velório aconteceu em Campinas, onde nasceu, e
onde foi enterrado, no cemitério Parque Flamboyant. Descanse em paz, Luciano.
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