quarta-feira, 14 de maio de 2014

FLYING LAPS - ABRIL DE 2014



            Sempre acaba ficando algo para trás quando se faz um apanhado das notícias para tentar comentar sobre os acontecimentos do mundo do esporte a motor. Para tentar remediar um pouco isso, eis aqui a nova edição da Flying Laps, trazendo mais alguns acontecimentos de destaque do universo das corridas do mês passado. Uma boa leitura a todos...


A Red Bull acabou perdendo o recurso que impetrou no Tribunal de Apelações da FIA contra a desclassificação de Daniel Ricciardo na etapa inaugural do campeonato de F-1, em Melbourne, motivada pelo uso de um fluxômetro com dados de consumo irregulares. Além do mal humor pela perda do recurso, o time dos energéticos ainda trocou farpas com a Mercedes, que defendia que o time austríaco fosse suspenso por 3 corridas pelo ocorrido, o que deixou os ânimos exaltados. No GP da China, tentando fumar o cachimbo da paz, Niki Lauda tentou apaziguar os ânimos, mas a reação do time dos energéticos não teria sido das mais amigáveis, a ponto de um dos integrantes da Red Bull ter afirmado que eles diriam aos colegas da garagem vizinha onde eles poderiam enfiar aquela estrela de três pontas...


Mike Conway venceu o GP de Long Beach depois de uma bela corrida de recuperação para conseguir o seu 2° triunfo na Indy Racing League. Mas o que marcou mesmo a prova foi o acidente múltiplo causado por Ryan Hunter-Reay na parte final da corrida, quando tentou dividir uma curva com Josef Newgarden, após o piloto fazer sua parada de box e retornar ainda na liderança da corrida. Com os pneus ainda frios, Newgarden lutava para segurar o piloto da Andretti Autosport atrás de si, mas o americano resolveu tentar passar onde não dava, e como resultado, ambos foram parar no muro, dando início a uma reação em cadeia: James Hinchcliffe, que comboiava Ryan, entrou fundo na batida dos dois, espalhando os carros, que fecharam parte da pista e foram atingidos por quem vinha atrás. Entre as vítimas, Takuma Sato, Jack Hawksworht, e Tony Kanaan, que abandonaram no ato com seus carros detonados. Felizmente, ninguém se feriu gravemente nas batidas. Will Power escapou por sorte do rolo e fechou a corrida em 2° lugar, enquanto o colombiano Carlos Muñoz finalizou o pódio em 3° lugar. Hélio Castro Neves teve uma corrida apagada, e finalizou em 11°, após quase se enroscar também na batida iniciada por Hunter-Reay. Depois de ter um desempenho abaixo do esperado em São Petesburgo, Juan Pablo Montoya fez uma apresentação mais convincente em Long Beach, terminando a corrida em 4° lugar.


Os times da IRL anunciam a contratação de reforços para disputar as corridas de Indianápolis: enquanto a KV confirmou o nome de Townsend Bell para assumir o 3° carro da escuderia nas 500 Milhas, o time de Michael Andretti anunciou que terá um 5° carro na prova do GP de Indianápolis, no circuito misto, que será pilotado por Franck Montagny. Para a Indy500, a Andretti terá a participação de Kurt Bush. Outro convidado já anunciado no início do ano para as 500 milhas será o ex-campeão Jacques Villeneuve pela Schmidt Peterson, e Martin Plowman pela equipe de A. J. Foyt.


Ryan Hunter-Reay venceu a corrida do Alabama, 3ª etapa do campeonato 2014 da IRL, e redimiu-se em parte da furada cometida em Long Beach, onde causou um enrosco coletivo na tentativa de assumir a liderança que estava com Josef Newgarden. No circuito misto de Barber, o piloto da Andretti andou sempre entre os primeiros, e contou com um erro primário de Will Power para assumir a liderança, mantendo-se firme na pista molhada do circuito, que acabou vitimando vários pilotos. Alguns conseguiram sobreviver às saídas de pista ocasionadas pelo piso escorregadio, enquanto outros acabaram ficando pelo caminho. A equipe de Michael Andretti, aliás, fez dobradinha no pódio do Barber Motorsport: enquanto Ryan ficou com a vitória, Marco Andretti ficou com o 2° lugar. Scott Dixon sobreviveu às armadilhas da pista e subiu ao pódio na 3ª colocação. A prova, aliás, terminou sob bandeira amarela, devido à batida do novato Mikhail  Aleshin, que rodou a poucas voltas do final, saiu da pista e bateu com violência na barreira de pneus, com o carro voltando parcialmente para a pista junto com parte da proteção de pneus, o que exigiu a intervenção do Pace Car. Felizmente, o jovem russo nada sofreu. Para os brasileiros, a corrida foi complicada: Tony Kanaan largou em último, e passou a prova inteira tentando se recuperar, e acabou em 9° lugar; já Hélio Castro Neves, que largou em 6° e andou entre os primeiros no início, despencou para trás e terminou num ínfimo 19° lugar.


A direção da Indycar teve uma boa notícia neste mês de abril: os organizadores do GP de Long Beach renovaram o contrato para realização da corrida na cidade, que em 1984 estreou na F-Indy, e atualmente segue no calendário da IRL. A corrida estava sob risco de ser cooptada pela F-1, que pensava na possibilidade de voltar a correr na cidade californiana, como fazia até 1983. Seria um baque para a IRL, uma vez que a corrida é a mais badalada do calendário da categoria, depois das 500 Milhas de Indianápolis. Com o novo contrato, Long Beach tem sua corrida garantida no campeonato americano até 2018. O "affair" de Long Beach com a F-1 seria a solução para a categoria máxima do automobilismo fazer 2 corridas nos Estados Unidos, uma vez que a propalada corrida em Nova Jérsey parece cada vez mais longe de se realizar. Com a esnobada em relação à F-1, esta que se contente com a prova no circuito de Austin, no Texas, que pelo menos já mostrou ser um sucesso nas duas edições disputadas até agora.


E o francês Sebastien Ogier continua dando as cartas no Mundial de Rali. O piloto da Volkswagen averbou mais uma vitória na competição ao faturar a etapa de Portugal, sendo esta a sua 4ª vitória na prova lusitana. Mikko Hirvonen ficou em 2° lugar, seguido pelo norueguês Mads Ostberg. Na competição, Ogier lidera o campeonato com 91 pontos; Jari-Matti Latvala ocupa a 2ª colocação, com 62 pontos; e Ostberg é o 3°, com 48 pontos. A próxima etapa do mundial é no segundo final de semana de maio, na Argentina. Ah, e só para mencionar: Robert Kubic se acidentou novamente na competição, mas desta vez com pouca gravidade, tendo como maior prejuízo uma embreagem queimada. O polonês esta ficando "invicto" na competição, sofrendo acidentes em todas as etapas do ano até aqui...


O mês de abriu trouxe uma perda inestimável para o esporte brasileiro: Enquanto viajava para narrar um jogo da abertura do Campeonato Brasileiro de Futebol, em Uberlândia, Minas Gerais, no último dia 19 de abril, o narrador Luciano do Valle passou a se sentir mal no avião onde estava. Socorrido e levado para o hospital tão logo o avião aterrissou, infelizmente o mal súbito calou a voz do maior nome da narração esportiva da história da TV brasileira. A necropsia apontou infarto como causa da morte do locutor. Luciano tinha 66 anos, e estava em plena atividade, em que pese a idade já comprometer um pouco de sua lucidez e percepção ao microfone, confundindo alguns nomes e vez por outra perdendo um lance. Com praticamente 51 anos de carreira, Luciano notabilizou-se não apenas pela narração de eventos esportivos, mas também como empresário e incentivador de projetos esportivos. Quando deixou a TV Globo, no início dos anos 1980, ele migrou para a TV Record, e depois para a Bandeirantes, onde deu início a uma intensa programação esportiva na emissora, e onde estava até seus últimos dias. Para tanto, fez os brasileiros descobrirem o vôlei, e no fim dos anos 1980, trouxe a transmissão da Fórmula Indy para o Brasil, apostando no talento de Émerson Fittipaldi, que fizera sua carreira de piloto renascer na categoria americana. Outros esportes incentivados por Luciano na TV foram o basquete e o boxe, tendo narrado as lutas de Adilson Rodrigues, o Maguila, além das partidas onde vicejava o talento de Hortência e Paula. O Show do Esporte, transmitido aos domingos na Bandeirantes, exibia uma diversidade ímpar, só vista muitos anos depois quando surgiu a TV por assinatura em nosso país, com canais esportivos. E as transmissões esportivas da emissora não ficavam restritas a esse programa: Luciano trouxe também as partidas do futebol europeu, além dos jogos da NBA, a maior liga de basquete do mundo, apresentando os astros da modalidade ao público nacional, além do torneio da Liga do Futebol Americano, a NFL. Luciano narrou praticamente tudo quanto é esporte que se transmitiu neste país, de Olimpíadas a jogos de futebol, passando pela F-1, F-Indy, IRL, hóquei, sinuca, o diabo a quatro, e se hoje temos uma diversidade de eventos mostrados na TV, é em boa parte graças a ele, que abriu espaço para muitas modalidades que eram praticamente ignoradas pelas emissoras e pelos telespectadores. O narrador já tinha sofrido um AVC há 2 anos atrás, o que fez com que se afastasse uns tempos do trabalho. Além de se preparar para transmitir os jogos do Campeonato Brasileiro, ele também se preparava para a Copa do Mundo, em junho, após marcar escala novamente em Indianápolis para transmitir mais uma edição das 500 Milhas, como fizera nas vitórias brasileiras em 1989, 2001, 2002, 2009, e no ano passado. Sua voz se cala, mas a memória de seus feitos na narração e incentivo ao esporte em nosso país serão eternas. Seu velório aconteceu em Campinas, onde nasceu, e onde foi enterrado, no cemitério Parque Flamboyant. Descanse em paz, Luciano.
 

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