Mônaco: chance maior de desafiar a Mercedes, ou mais um passeio dos carros alemães? |
A
Fórmula 1 chegou ao Principado de Mônaco para a corrida mais charmosa do
calendário, e também para aquela que é vista por muitos como a única
oportunidade, no atual momento de domínio da equipe Mercedes na categoria, de
assistirmos a uma vitória de um time que não o dos carros prateados alemães.
As
características únicas da pista de Mônaco, extremamente travada, e de baixa
velocidade, oferecem o panorama mais propício a um time obter um bom resultado
quando não possui um bom motor, mas possui um chassi muito bom, e/ou conta com
um piloto extremamente talentoso, e que saiba explorar a complexidade das
curvas monegascas com desenvoltura. Nos últimos anos, com o congelamento dos
motores, e com suas performances ficando mais próximas uns dos outros, essa
tendência acabou ficando de lado, mas volta a tona este ano, especialmente
diante do principal ponto fraco do time campeão das últimas temporadas, a Red
Bull, que tem nas unidades de potência da Renault seu calcanhar de Aquiles na
luta contra o poderio do time da Mercedes.
O
modelo RB10, tal qual a maioria dos modelos desenvolvidos por Adrian Newey,
possui uma aerodinâmica extremamente refinada, e nas últimas provas, mostrou
grande desenvolvimento, podendo ser considerado o melhor carro depois do modelo
W05 da Mercedes. O problema é que o carro alemão vem sobrando na temporada, de
modo que mesmo já estando na posição de segundo melhor carro, uma disputa
aberta tem se tornado praticamente impossível, e depois de tomar praticamente
50s do vencedor Lewis Hamilton na pista de Barcelona, semana passada, durante o
GP da Espanha, só circunstâncias anormais pode oferecer uma chance de
equilibrar o duelo.
E
é o que a Red Bull vai tentar aqui em Mônaco. O excelente equilíbrio do modelo RB10
pode mostrar toda a sua eficiência aqui, especialmente pelo fato de ser um
circuito de baixa velocidade, onde a falta de potência da unidade de força da
Renault não deverá pesar tanto quanto nas demais corridas. E, se Sebastian
Vettel dar conta de sua parte, as chances de conseguir uma posição de largada à
frente das imbatíveis Mercedes torna-se mais real. E largar na frente sempre é
considerado meio caminho para a vitória nesta pista. Mas a tarefa vai ser
complicada.
Supondo
que Vettel, ou seu companheiro, Daniel Ricciardo, consigam largar à frente de
Lewis Hamilton e Nico Rosberg, eles terão de dar tudo por tudo para abrir
vantagem logo de cara, a fim de evitar perder a liderança na primeira parada de
troca de pneus. É uma estratégia de tudo ou nada: se não largarem na frente, o
panorama mais evidente da estratégia dos pilotos da Mercedes será comboiar o
líder de perto, sem forçar, e assim que tiverem pista livre pela frente, quando
o rival fizer sua parada, poderão partir para voltas demolidoras a fim de saírem
à frente quando fizerem seus pit stops.
Será
que Vettel, Ricciardo, e o modelo RB10 conseguirão abrir a dianteira necessária
para impedir isso de ocorrer? Só ficaremos sabendo mesmo na corrida. Em todas
as pistas visitadas este ano, os carros prateados do time alemão demonstraram
performance superior em todas elas. Mesmo que porventura não largassem na
frente, era praticamente impossível mantê-las atrás de si, como demonstrou Nico
Rosberg quando teve de se livrar de concorrentes na prova da China, quando perdeu
posições na largada e teve de fazer uma prova de recuperação.
O
circuito de Mônaco, contudo, tem particularidades que tornam muito mais
complicado uma recuperação de posições durante a corrida. É uma pista estreita,
sem ponto de ultrapassagem idéias, e onde quem vai à frente só perde a posição
mesmo se bobear e cometer um erro. E isso pode ser fatal em se tratando de
estratégias de corrida, pois se acabar ficando “trancado” atrás de um carro
mais lento, pode-se perder muito tempo, e talvez até mesmo a corrida.
Há
anos atrás, David Couthard teve parte de sua corrida estragada nesta pista por
ter perdido muitas voltas “preso” atrás de Enrique Bernoldi. O piloto
brasileiro estava guiando sem cometer um único erro, e assim, ele, mesmo
pilotando uma modesta Arrows, conseguiu segurar atrás de si o piloto escocês,
que pilotava uma McLaren, carro muito superior ao de Bernoldi. Por fim, quando
conseguiu superar Bernoldi, Couthard já tinha ficado com sua estratégia de
corrida totalmente comprometida. Curioso foi ver Ron Dennis perder a calma e ir
tirar satisfações com o brasileiro após a corrida, como se Enrique não tivesse
direito de defender sua posição.
E,
antes disso, Mônaco sempre era a etapa do calendário mais aguardada pelos times
que não possuíam um motor potente, como única chance de tentar obter um
resultado de monta que pudesse garantir a sobrevivência da escuderia pelo resto
do ano. Assim como a dificuldade da pista era sempre um belo teste para
evidenciar a habilidade dos pilotos. Foi aqui, por exemplo, que Roberto Moreno
conseguiu a única classificação da equipe Andrea Moda em sua curta vida na F-1.
O carro era uma porcaria, e a estrutura técnica do time não conseguia
proporcionar melhoria ao carro. Mesmo assim, Moreno conseguiu a última posição no
grid, e largou, durante apenas 14 voltas na corrida, mas mostrando como uma
pista como Mônaco exaltava o talento dos pilotos, não importando qual carro
estivessem pilotando.
E
não é por acaso que foi nesta pista que Ayrton Senna sempre se sobressaiu, desde
que estreou na F-1. Em 1984, debaixo de chuva, o brasileiro deu aqui o seu
primeiro show de pilotagem, obtendo seu primeiro pódio. Em 1987, ele venceria a
corrida pela primeira vez, feito que repetiria em 1988, 1990, 1991, 1992, e
1993, batendo o recorde anterior que era de Graham Hill, com 5 triunfos.
Mas
se as chances aumentam na teoria, a realidade pode muito bem jogar contra. Nada
a discutir sobre a qualidade do chassi da Red Bull, ou do talento de Sebastian
Vettel, mas o time da Mercedes não está apresentando pontos fracos a serem
explorados apenas em virtude das características da pista monegasca. O modelo
W05 já mostrou é praticamente tão bom quanto o do time das bebidas energéticas,
e em termos de pilotos, Lewis Hamilton é tido como o mais veloz da F-1 atual,
capaz de arrancar do carro mais velocidade do que ele pode oferecer, da mesma
maneira como Senna costumava fazer. E Nico Rosberg também não está para
brincadeira: no ano passado, ele foi pole e venceu aqui, quando o carro da
Mercedes exibia velocidade, mas maltratava os pneus como nenhum outro carro da
temporada. Com o modelo atual tendo corrigido todos os defeitos do carro de
2013, e agregando ainda mais performance, vai ser complicado tentar desbancar o
favoritismo das flechas de prata alemãs. Claro que as chances de uma surpresa
existem, mas as chances de tudo ficar do mesmo jeito também. Resta saber se
vamos assistir a mais um passeio do time alemão, ou se poderemos ver um pouco de
esperança de algum outro time quebrar, ainda que apenas nesta prova, a
hegemonia do time de Hamilton e Rosberg.
Pelo
desempenho atual dos carros, a Red Bull parece a única com alguma chance de
conseguir tal feito. Mas não se pode descuidar de potenciais rivais que também
podem utilizar dessa estratégia, como Fernando Alonso, se o carro da Ferrari
permitir ao espanhol descontar pelo menos parte da imensa diferença que o
separa para os carros alemães. A se julgar pelo resultado do primeiro treino
livre de ontem, feito com pista seca, vai ser difícil tentar superar os carros
da Mercedes. Já com chuva, como aconteceu no segundo treino livre, a parada
promete ser mais viável, mas ainda assim, sem garantias de sucesso, uma vez que
Hamilton costuma andar muito bem na chuva, ponto que não poderá ser explorado
pelos rivais.
Aguardemos
os resultados dos treinos deste sábado para ver se teremos uma corrida, ou mais
uma procissão. Infelizmente, pelo histórico das corridas monegascas, a
possibilidade da segunda opção é bem mais real...
Neste domingo teremos a edição 2014 de uma das mais famosas corridas do
mundo inteiro: as 500 Milhas de Indianápolis. Depois de brilhar nos treinos
livres, o americano Ed Carpenter confirmou a boa forma exibida e conquistou a
pole-position para a corrida, faturando só com isso mais de US$ 100 mil. Os
brasileiros tiveram desempenhos diferentes: enquanto Hélio Castro Neves larga
na 4ª posição, abrindo a segunda fila, Tony Kanaan alinha apenas em 16º lugar,
mas numa prova tão longa como a Indy500, e cheia de surpresas durante o seu
desenrolar, as posições de largada pouco influem para o resultado final, e não
se pode descartar a dupla brasileira entre os candidatos à vitória. Hélio busca
seu 4º triunfo na prova, enquanto Tony venceu a corrida no ano passado, e está
decidido a aumentar o seu número de vitórias na Brickyard Line. Vamos ver quem
consegue chegar na frente depois dos mais de 800 Km de percurso...
Nenhum comentário:
Postar um comentário