quarta-feira, 21 de maio de 2014

ARQUIVO PISTA & BOX - DEZEMBRO DE 1996 - 20.12.1996


            Trazendo mais um antigo texto na seção Arquivo, esta é a última coluna que escrevi em 1996. Estávamos às vésperas do Natal e era hora de dar um tempo nos textos para descansar a cabeça e iniciar 1997 com energias renovadas. Na pauta do texto, os motivos para a queda de rendimento da escuderia Benetton, que não se resumiam só ao fato de terem perdido Michael Schumacher para a Ferrari naquela temporada. Uma boa leitura a todos, e em breve começo a trazer as colunas escritas em 1997...

 

 

BENETTON EM QUEDA LIVRE

 

            A Benetton, quem diria, não tem boas perspectivas para o mundial de 1997. E os motivos para isso são vários. A começar pelo mais importante de todos numa escuderia de Fórmula 1: dinheiro. Este ano a Benetton não conseguiu nem metade do número de pontos atingidos em 1995, quando foi campeã mundial de pilotos e de construtores. Isso se refletiu no patrocínio da Mild Seven, que baixará pela metade no próximo ano, o que complicará as coisas para o time multicolorido.

            Outro golpe sofrido pela escuderia foi a perda de seus principais nomes da área técnica, Rory Byrne e Ross Brawn, para a Ferrari. O time italiano, por coincidência, o fez a pedido de Michael Schumacher, ex-piloto da Benetton. Com isso, a escuderia sofre um sério revés para o próximo campeonato.

            O que aconteceu para a escuderia mais eficiente dos dois últimos anos cair tão rápido assim? A resposta é simples e já me era conhecida desde 1994, sendo que já cheguei a levantar o tema em discussão nesta coluna: a dependência extrema de Michael Schumacher.

            Explicando melhor, tudo começou em 1993, quando a Benetton resolveu otimizar o desempenho de seu carro, o B193, construindo especificamente para o estilo de pilotagem de Michael Schumacher. Visto com um campeão em potencial na época, nada mais óbvio para a escuderia do que apostar todas as suas fichas no piloto alemão. O resultado foi bom, e os carros de 1994 e de 1995 seguiram a mesma tendência: estilo “Schumacher” de pilotagem, cada vez mais extremo. Com um carro configurado especialmente para si, Schumacher deu verdadeiros shows de pilotagem, levando o carro a limites extremos, o que resultou no bicampeonato do alemão, mesmo guiando um monoposto tecnicamente inferior ao da Williams.

            Só que esse sucesso todo tinha o seu outro lado: o carro dificilmente permitia a qualquer outro piloto que não Schumacher um resultado decente. Vários pilotos de talento comprovado tentaram em vão pilotar o carro no limite extremo, e nenhum deles conseguia o mesmo desempenho de Michael. Jos Verstappen, Riccardo Patrese, Johnny Herbert, e Jirky Jarvi Letho ficaram relegados a performances secundárias com os Benetton, que em suas mãos ainda pareciam carros de times médios. Mas como Schumacher dava e sobrava, Flavio Briatore praticamente ignorava seus segundos pilotos, dando atenção somente para o piloto alemão. Johnny Herbert foi quem mais chiou com o tratamento recebido e com o modo de desenvolvimento do carro, sempre afinado unicamente para o estilo particular de pilotagem de Schumacher. Briatore, por sua vez, não deixou por menos, e deu acaloradas declarações públicas atacando Herbert por seus mais resultados e pondo o talento do inglês em dúvida. Em uma das discussões dentro do time, Briatore teria dito a Herbert que ele estava ali para pilotar, e não para dar palpites no desenvolvimento dos carros.

            Mas essa dependência de Schumacher iria colocar em xeque a escuderia um dia. E esse dia chegou, quando o piloto alemão partiu para a Ferrari, deixando a Benetton com parâmetros de desenvolvimento de um carro que não teriam utilidade alguma para os novos pilotos do time.

            Gerhard Berger e Jean Alesi, os novos pilotos da escuderia, não conseguiram obter bons desempenhos do bólido, comprovando minha teoria, e o resultado só podia ser esse: ter de recomeçar do zero novamente a desenvolver um carro que pudesse ser utilizado por qualquer piloto, como era até 1992, quando Michael Schumacher e Martin Brundle, então pilotos da equipe, conseguiram bons resultados tanto para um quanto para o outro, sendo que em várias corridas Brundle andou à frente do alemão e até conseguiu subir ao pódio em alguns GPs.

            Com essa nova partida do zero, praticamente todo o trabalho de desenvolvimento realizado entre 1993 e 1995 teve de ser jogado fora. Isso resultou numa queda de performance considerável. Até a fiabilidade mecânica dos carros, exemplar em 1995, teve acentuada queda neste ano, deixando tanto Alesi quanto Berger a pé em várias corridas, quando lutavam por lugares pontuáveis e até mesmo por vitórias.

            Chegou-se a cogitar na demissão da atual dupla de pilotos do time, que segundo Briatore, custava muito e não produzia nada, mas por fim, tanto Alesi quanto Berger foram confirmados como titulares da escuderia para 1997. Mas para 1998 já é certo que eles terão de procurar um novo time para competir...

            Para o bem da competição, espero que a Benetton não caia mais do que se viu este ano, mas pelo jeito como as coisas andam, Flavio Briatore já deve ter sentido na pele o drama que a dependência criada no time em relação a Michael Schumacher criou. Como um drogado, o time agora tenta lutar pela sua recuperação depois de ter abandonado o vício...Será que vai conseguir?

 

 

Para fechar o ano, aqui vai a classificação final do Mundial de F-1 de 1996:

 

PILOTOS
CONSTRUTORES
1) Damon Hill..............97
1) Williams/Renault.........175
2) Jacques Villeneuve......78
2) Ferrari...................70
3) Michael Schumacher......59
3) Benetton/Renault..........68
4) Jean Alesi..............47
4) McLaren/Mercedes..........49
5) Mika Hakkinen...........31
5) Jordan/Peugeot............22
6) Gerhard Berger………………..…21
6) Ligier/Mugen-Honda........15
7) David Couthard………………..…18
7) Sauber/Ford...............11
8) Rubens Barrichello...…..14
8) Tyrrel/Yamaha..............5
9) Olivier Panis…………...…….13
9) Arrows/Hart................1
10) Eddie Irvinne..........11
 
11) Martin Brundle..........8
 
12) Heinz-Harald Frentzen...7
 
13) Mika Salo..............5
 
14) Johnny Herbert..........4
 
15) Pedro Paulo Diniz.......2
 
16) Jos Verstappen..........1
 

 

 

Nélson Piquet atacou de novo! Na segunda e última etapa da categoria Gran Turismo disputada em nosso país, nosso primeiro tricampeão de F-1 deu um show de pilotagem, junto com seu parceiro de carro, Johnny Ceccoto. Piquet pilotou como nos velhos tempos dando duro na pista para manter a liderança da corrida. Outro destaque na prova foi o desempenho da dupla Antonio Hermann e Massimo Angelelli, que largaram em último e terminaram em 3º lugar. Já o 2º lugar também teve brasileiro na parada: Maurizio Sala, em dupla com Fabien Giroix, que não conseguiram ter braço suficiente para encararem a dupla Piquet/Ceccoto. Parabéns, Piquet! E também a todos os demais que participaram das etapas, pelo bom show mostrado na competição.

 

 

Semana passada, nosso grande campeão Émerson Fittipaldi comemorou 50 anos de vida, com direito a uma festa de arromba no restaurante Planet Hollywood de Miami. Estiveram presentes toda a família Fittipaldi, o piloto Roberto Moreno, Teddy Mayer (que era o chefe da equipe McLaren quando Émerson foi bicampeão em 1974), além do ex-Beattle George Harrison. Parabéns, Émerson, pelo seus 50 anos, e uma das mais respeitáveis carreiras de todo o automobilismo mundial!

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