Schumacher é um esquiador experiente, mas isso não impediu que se acidentasse feio. Agora é torcer por sua recuperação. |
Definitivamente, 2014
já não começou muito bem para o mundo do automobilismo. O acidente sofrido por
Michael Schumacher enquanto esquiava em uma estação francesa deixou o ânimo de
muitos fãs da velocidade apreensivos. Até o fechamento desta coluna, a primeira
de um novo ano, a situação do heptacampeão permanecia incerta no hospital para
onde foi levado, em que pese as notícias de melhoras em seu estado, pois de
acordo com os médicos, ainda é totalmente imprevisível dizer se o ex-piloto vai
se recuperar totalmente.
A comoção do
infortúnio sofrido por Schumacher lembra o que todos nós, brasileiros, e demais
fãs do esporte a motor, vivemos em 1994, por ocasião do Grande Prêmio de San
Marino. Ayrton Senna bateu na veloz curva Tamburello, e apesar da violência da
batida, pelos acidentes que já tínhamos visto em tempos recentes na categoria
máxima do automobilismo, e levando-se em conta que o carro resistiu bem à
pancada no muro, todos achávamos que Senna iria sair do carro sem problemas,
mesmo que demorasse uns instantes e pudesse até cambalear meio tonto, pois era
uma pancada forte. Infelizmente, os momentos iam passando, e começávamos a ver
que as coisas, infelizmente, tinham sido mais sérias do que imaginávamos. O
serviço de resgate entrou em ação, e quando o helicóptero decolou rumo a
Bolonha, levando o piloto, tínhamos a certeza de que a situação era mesmo
séria.
Naquele dia, a
angústia durou pouco: algumas horas depois, era comunicada a morte de Ayrton,
deixando perplexas pessoas em todas as partes do mundo. Do pessoal que estava
no autódromo, com a corrida tendo sido recomeçada, até os lugares mais
distantes do planeta que acompanhavam a F-1, foi um baque. No último final de
semana, voltamos a sentir sensação semelhante, agora com Michael Schumacher.
Informações preliminares diziam que ele estaria consciente, e bem. Mas, ao fim
do dia, ao recebermos a notícia de que Michael estava em coma, e em situação
crítica, vimos que a situação infelizmente foi pior do que todos esperavam.
Vivendo num mundo
"acelerado", vários pilotos, em seus momentos de folga, procuram
atividades que possam lhes dar sensação similar de quando estão ao volante. E
Schumacher não é exceção: desde que se aposentou pela primeira vez, o heptacampeão
se tornou praticamente de esportes radicais, entre os quais paraquedismo, e até
participou de provas de motociclismo, o que lhe valeu, em 2009, um violento
acidente que o fez parar no hospital, sem risco de vida, felizmente, mas que o
obrigou a fazer alguns tratamentos, a fim de que pudesse voltar a pilotar em
2010, quando voltou à F-1, como piloto da Mercedes. Até então, o maior apuro
que o alemão passara havia sido o seu acidente em Silverstone em 1999, quando
quebrou a perna e ficou alguns meses afastado. Schumacher se recuperou
completamente, e no ano seguinte, iniciaria a maior era de domínio de um piloto
na história da categoria, mostrando que não havia sofrido sequelas, e que
estava pilotando melhor do que nunca. Esquiar na neve era um dos passatempos
preferidos de Michael no inverno, e ele se tornou um esquiador extremamente
competente, tanto que chegava infelizmente a praticar esqui fora das pistas
oficiais da Estação francesa, algo que não é proibido, mas que o hotel avisa
ser perigoso e que quem o faz está por conta e risco próprios, uma vez que
estão fora dos pontos seguros das rotas oficiais delimitadas pela direção do
lugar. Michael estaria fora de uma das rotas "oficiais", quando
acabou surpreendido ao bater em uma pedra que o jogou contra outra. Ainda
surgem novos detalhes de como teria sido o acidente, mas neste momento, isso é
o de menos. O importante agora, é a recuperação do ex-piloto, acima de tudo.
E o dilema é
preocupante: Michael precisou passar por duas cirurgias para aliviar o inchaço
do cérebro, fortemente atingido na sua colisão com uma pedra. O capacete que
ele usava, que salvou sua vida, rachou no impacto, o que dá a dimensão da
gravidade e da força com que sua cabeça atingiu a pedra. Os médicos
diagnosticaram vários edemas e hematomas pelo cérebro de Michael, que chegou a
entrar em coma, situação a qual passou a ser mantida artificialmente pelos
médicos, em um procedimento de rotina para diminuir a atividade cerebral e
permitir que o corpo concentre suas energias em recuperar os ferimentos
sofridos. O fato de Michael ter atingido estabilidade em sua condição, de
acordo com um dos últimos boletins, indica uma melhora em seu estado, a ponto
de terem suspendido os boletins diários, o que significa que a partir de agora
é uma questão de paciência, e embora a situação ainda seja crítica e inspire
cuidados, abriu-se o caminho de uma melhora, que pode conduzir em breve a um
estado em que sua vida já não esteja mais em risco.
Mas os médicos
preferem a prudência, e concordo com eles. O cérebro humano, apesar de todos os
avanços da medicina, ainda é um dos territórios mais inexplorados do corpo, e
no momento, é impossível prever se o ex-piloto de F-1 terá plena recuperação,
ou se sofrerá sequelas em virtude do acidente. Só mais à frente é que se poderá
ter uma idéia mais precisa, e para isso, será imprescindível também que Michael
recobre a consciência, para ver se não apresentará outros problemas. Não dá
para precisar quantos dias irão manter o coma artificial. É preciso dar tempo ao tempo, e isso pode demorar, quanto
pode ocorrer rapidamente. O fato de ser um atleta, e ainda gozar de excelentes
condições físicas é um ponto positivo, que pode ajudar a se recuperar mais
rapidamente, mas não há garantias. Pode levar uma semana, ou um mês, ou até
mais, ou apenas poucos dias.
No momento, a maior
preocupação do hospital onde Michael está internado, é cuidar para que o local
não vire uma romaria dos fãs do heptacampeão, como já virou um de jornalistas,
sendo que um deles até se disfarçou de padre para entrar na sala de cirurgia,
num gesto impensado e irresponsável de quem deveria ter mais respeito para com
o sofrimento alheio. A direção do hospital já teve problemas com o mar de
carros da imprensa estacionados ao redor do prédio, que estava comprometendo a
circulação das ambulâncias. Tudo o que eles precisam agora é de paz e sossego
para continuarem se concentrando em seus afazeres, que é cuidar de seus
doentes, entre eles Schumacher. O fato de não divulgarem mais boletins diários
ajuda a arrefecer o ímpeto dos repórteres, e espera-se que com o passar dos
dias, não haja mais perturbações externas no local.
Que Schumacher possa
se recuperar e viver plenamente o resto de sua vida, que ainda tem muito pelo
que viver. Hoje, ele completou apenas 45 anos, e sua recuperação, agora, seria
o melhor presente que poderia receber neste momento difícil, que também está
sendo muito duro para sua esposa, filhos, o irmão Ralf e o pai, que o
acompanham atentamente no hospital. Que a sorte e competência que demonstrou em
toda a sua carreira o acompanhe agora na recuperação, e que possa superar todos
os desafios que porventura surgir.
Tomara que o resto de
2014 não seja deste jeito...
Quando estava em férias durante
uma temporada e outra, Ayrton Senna sempre se divertia em sua casa de praia em
Angra dos Reis, e um dos seus passatempos preferidos era andar de jet ski, o
que sempre fazia em alta velocidade. Em 1992, acabou se acidentando com o
veículo, a ponto de bater a cabeça e sofrer um corte que precisou de vários
pontos de sutura, sem maior gravidade, felizmente. E dias depois, o brasileiro,
nos treinos para o GP do México daquele ano, ainda capotou seu McLaren numa
curva do autódromo Hermanos Rodriguez, no México, que felizmente, foi um susto
até menor do que o acidente com o jet ski. Mas o acidente mais grave, em 1994,
infelizmente, foi fatal. E em 1° de maio deste ano, se completará 20 anos da
morte do tricampeão brasileiro.
Neste final de semana começa o
Dakar 2014, na Argentina. Semana que vem falo sobre o rali, o mais difícil do
mundo, e que sempre faz algumas vítimas a cada ano. Espero que nesta edição
todos saiam vivos, chegando ou não ao final da competição...
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