Lotus: muitas incertezas podem comprometer o desempenho do time em 2014. |
Equipe
sensação das duas últimas temporadas na F-1, a Lotus vive um momento delicado, com
especulações de ter muitas dificuldades e, pior de tudo, falta de caixa para
continuar competindo de maneira decente na categoria máxima do automobilismo. O
time anunciou que não participará da primeira sessão coletiva de testes, em
Jerez de La Fronteira,
e mesmo alegando que o motivo é para finalizar e desenvolver melhor seu carro 2014, a declaração suscitou
dúvidas em meio à imprensa especializada.
O
time perdeu vários nomes importantes no último semestre, além de sua maior
estrela, o finlandês Kimmi Raikkonem, que deu à escuderia seus melhores
momentos dos últimos dois anos. Se é verdade que o time não disputou o título,
também é certo que, para suas condições o time mostrou-se competitivo e capaz
de surpreender em várias corridas. Mas, mesmo tendo um carro cheio de
patrocínios, os recursos nunca conseguiram superar as despesas, e no último
ano, estas atingiram um patamar bem elevado. Números não são divulgados, mas
Raikkonem declarar que praticamente correu de graça em 2013 e afirmar que iria
até cobrar na justiça os salários atrasados, se preciso fosse, denotaram que a
situação da escuderia não é mesmo das melhores. E, para não dizer que o
finlandês foi o único piloto a não receber o salário, eis que David Valsecchi,
piloto "reserva" do time, também veio a público estes dias reclamar
que não recebeu o que foi combinado com a escuderia, e pensa em outras opções
para 2014.
A
salvação seria o aporte financeiro de um grupo obscuro chamado Quantum, que
prometia assumir uma sociedade com o time e efetuar um investimento maciço na
escuderia, mas as conversas foram sendo enroladas, e finalmente neste início de
2014, a
Lotus confirmou o que todo mundo já esperava: o acordo não deu em nada, e o
dinheiro prometido nunca chegou. Não foi por acaso que Eric Bouiller assinou
com o venezuelano Pastor Maldonado para este ano. Seu polpudo patrocínio
(leia-se PDVSA) é a benção que o time precisava para pelo menos se manter
ativo, ainda que os petrodólares da terra do finado Hugo Chávez não sejam
suficientes para resolver todos os problemas.
Além
das dívidas, existe também a questão do motor. Dizem que a Renault também levou
calote no ano passado, e que portanto o time pode não ter propulsor para este
ano. Creio que esta hipótese é difícil, e apesar de ainda não ter sido
anunciado oficialmente, os motores franceses seguem no time. Uma troca a esta
altura, mais do que tudo, seria prejudicial ao projeto do novo carro, que desde
o início sempre foi concebido para os propulsores da Renault.
O
carro, contudo, pode não apresentar a mesma performance dos últimos anos. As
dívidas acumuladas, e a perda de nomes técnicos importantes podem se sentir no
novo modelo, embora os maus presságios não possam ser dados como verdade
definitiva. É verdade que nomes importantes do staff técnico foram contratados
por outros times, mas a turma que ficou pode ter condições de apresentar um bom
trabalho. Em 2010, contra todas as expectativas, a escuderia, ainda chamada
Renault, apresentou um carro decente, e disputou um belo campeonato,
capitaneada pelo polonês Robert Kubica, contratado para substituir Fernando
Alonso, que tinha ido para a Ferrari. Se conseguir manter o foco do
desenvolvimento do modelo 2014, o time pode surpreender novamente, e até
conseguir sanar seus problemas. Resta saber se a turma que ficou conseguirá
aproveitar a chance de mostrar do que é capaz. Mesmo bons projetos não costumam
sobrepujar um mal gerenciamento da escuderia, e a Lotus, infelizmente, não vem
fazendo uma boa gestão de seus recursos.
O
problema maior podem ser seus pilotos. A perda de Raikkonem com certeza será
muito sentida, mas Romain Grossjean deu mostras de ter evoluído bastante na
segunda metade da temporada de 2013, e pode se tornar o líder que o time
precisa na pista, ajudando a motivar a todos e a nortear o desenvolvimento do
carro. A dúvida fica em
Pastor Maldonado, que todos sabem ser um piloto extremamente
rápido, mas também propenso a se envolver em confusões na pista. Mas se
Grossjean, que em 2012 foi o campeão dos acidentes e confusões na F-1, e
apresentou melhora expressiva em 2013, nada impede que Maldonado também coloque
a cabeça no lugar e faça uma pilotagem limpa, sem se envolver em nenhum
enrosco. E confusões na pista são a última coisa que a Lotus precisa neste
momento.
Mas
a ausência do time na primeira sessão coletiva de testes vai fazer falta. Houve
mudanças técnicas significativas para esta temporada, não apenas nos carros,
mas também nos motores, que passarão a ser turbos, além do complexo sistema do
ERS, evolução do KERS usado nos últimos anos, que certamente demandarão
trabalhos intensivos de pista na pré-temporada. E cada dia precisará ser
aproveitado ao máximo pelos times, para tentar acertar os ajustes que as novas
regras irão impor, não apenas nos carros, mas também na pilotagem que será
exigida. Isso pode prejudicar as chances da Lotus fazer uma boa apresentação.
No ano passado, o time venceu logo de cara na Austrália, com Raikkonem dando
pinta de que seria candidato ao título. O time também perderá dias importantes
para conhecer os novos pneus da Pirelli, o que certamente será outro fator
importante a ser considerado: no ano passado, os carros da Lotus eram os que
melhor cuidavam dos pneus, o que foi crucial para obterem bons resultados em
várias corridas. Não seria bom perder esta qualidade no novo carro. Com tantas
dúvidas e especulações negativas sobre o time, não seria forçado dizer que a
situação está preta na Lotus, e não estou me referindo à cor dos carros. Mesmo
assim, Bouiller afirma que o time estará firme no grid em 2014. Mas estar firme
no grid é algo genérico: Caterham e Marussia estavam nos grids em 2013, e
infelizmente não apresentaram praticamente nada. Será que a Lotus vai sofrer
tamanha queda? Não dá para mensurar ainda o tamanho do possível prejuízo que
todos os desfalques ocorridos no ano passado acarretarão.
A
única notícia positiva nos últimos dias foi o anúncio de que o chassi do modelo
E22 passou no crash test da FIA, e que o time está liberado para competir no
campeonato de F-1 de 2014. Não é muito, mas é pelo menos uma notícia boa em
meio a tantas especulações negativas que rondam a escuderia nos últimos meses.
A
Lotus original foi passando por um declínio longo em seus últimos anos de vida.
Projetos errados e gestão mal feita do time acabaram com uma das lendas da
história da F-1. Esta "nova" Lotus não é nada da original, que deixou
de existir ao fim de 1994, mas se não conseguir colocar a casa em ordem, pode
muito bem sofrer o mesmo destino de sua predecessora, e em menos tempo ainda.
Num momento em que a F-1 não pode se dar ao luxo de perder escuderias, isso
seria ruim, bem ruim...
Semana
passada eu falei aqui na coluna que o rali Dakar 2014 estava sendo suave este
ano, com um número relativamente baixo de acidentes, e nenhuma morte até o
fechamento do texto. Não deu outra: logo na sexta-feira a competição registrou
suas primeiras fatalidades deste ano, com nada menos do que 3 infelizes mortes.
Duas delas foram de jornalistas argentinos que cobriam a competição; a outra
morte foi de um competidor, Eric Palante, que se tornou o 61° competidor a
falecer na história do Dakar. O piloto belga faleceu na quinta-feira, mas a morte
só foi anunciada na sexta, quando seu corpo foi encontrado por um dos caminhões
de suporte da organização do rali.
Este
será um ano em que os participantes brasileiros no Dakar não conseguiram chegar
ao final da prova, marcada para amanhã em Valparaíso, no Chile. Últimos
remanescentes na competição, a dupla Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, que
competia na categoria carros com um Mitsubishi, abandonou o rali na etapa entre
Iquique e Antofagasta, na última quarta-feira. A dupla vinha tendo um desempenho
bom no rali, ocupando a 11ª colocação geral na categoria carros, e apesar dos
problemas, vinha conseguindo suportar bem a prova. Infelizmente, o Dakar
mostrou-se novamente implacável para os pilotos brasileiros.
Nenhuma
novidade surgiu sobre a situação de Michael Schumacher, que continua internado
em estado crítico no hospital de Grenoble, na França. Surgem especulações de
que o coma induzido ao piloto, para auxiliar em sua recuperação, pode até se
tornar permanente, mas nada disso pode ser oficialmente confirmado. Paciência é
tudo neste momento, mas situações de coma podem ser complicadas e
imprevisíveis. Não é difícil, contudo, que o coma do ex-piloto dure um bom
tempo. O ex-prêmie de Israel, Ariel Sharon, ficou 8 anos em coma, até falecer
no início deste mês, só para exemplificar. Mas a comparação não serve de
parâmetro: Sharon foi ao coma por um derrame (AVC), enquanto o de Schumacher
foi induzido para preservar sua vida, permitindo que seu cérebro possa ter
melhores condições de recuperação. Só podemos mesmo esperar, e nada mais, além
de desejar que Schumacher consiga se recuperar...
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