sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

SITUAÇÃO PRETA NA LOTUS


Lotus: muitas incertezas podem comprometer o desempenho do time em 2014.

            Equipe sensação das duas últimas temporadas na F-1, a Lotus vive um momento delicado, com especulações de ter muitas dificuldades e, pior de tudo, falta de caixa para continuar competindo de maneira decente na categoria máxima do automobilismo. O time anunciou que não participará da primeira sessão coletiva de testes, em Jerez de La Fronteira, e mesmo alegando que o motivo é para finalizar e desenvolver melhor seu carro 2014, a declaração suscitou dúvidas em meio à imprensa especializada.
            O time perdeu vários nomes importantes no último semestre, além de sua maior estrela, o finlandês Kimmi Raikkonem, que deu à escuderia seus melhores momentos dos últimos dois anos. Se é verdade que o time não disputou o título, também é certo que, para suas condições o time mostrou-se competitivo e capaz de surpreender em várias corridas. Mas, mesmo tendo um carro cheio de patrocínios, os recursos nunca conseguiram superar as despesas, e no último ano, estas atingiram um patamar bem elevado. Números não são divulgados, mas Raikkonem declarar que praticamente correu de graça em 2013 e afirmar que iria até cobrar na justiça os salários atrasados, se preciso fosse, denotaram que a situação da escuderia não é mesmo das melhores. E, para não dizer que o finlandês foi o único piloto a não receber o salário, eis que David Valsecchi, piloto "reserva" do time, também veio a público estes dias reclamar que não recebeu o que foi combinado com a escuderia, e pensa em outras opções para 2014.
            A salvação seria o aporte financeiro de um grupo obscuro chamado Quantum, que prometia assumir uma sociedade com o time e efetuar um investimento maciço na escuderia, mas as conversas foram sendo enroladas, e finalmente neste início de 2014, a Lotus confirmou o que todo mundo já esperava: o acordo não deu em nada, e o dinheiro prometido nunca chegou. Não foi por acaso que Eric Bouiller assinou com o venezuelano Pastor Maldonado para este ano. Seu polpudo patrocínio (leia-se PDVSA) é a benção que o time precisava para pelo menos se manter ativo, ainda que os petrodólares da terra do finado Hugo Chávez não sejam suficientes para resolver todos os problemas.
            Além das dívidas, existe também a questão do motor. Dizem que a Renault também levou calote no ano passado, e que portanto o time pode não ter propulsor para este ano. Creio que esta hipótese é difícil, e apesar de ainda não ter sido anunciado oficialmente, os motores franceses seguem no time. Uma troca a esta altura, mais do que tudo, seria prejudicial ao projeto do novo carro, que desde o início sempre foi concebido para os propulsores da Renault.
            O carro, contudo, pode não apresentar a mesma performance dos últimos anos. As dívidas acumuladas, e a perda de nomes técnicos importantes podem se sentir no novo modelo, embora os maus presságios não possam ser dados como verdade definitiva. É verdade que nomes importantes do staff técnico foram contratados por outros times, mas a turma que ficou pode ter condições de apresentar um bom trabalho. Em 2010, contra todas as expectativas, a escuderia, ainda chamada Renault, apresentou um carro decente, e disputou um belo campeonato, capitaneada pelo polonês Robert Kubica, contratado para substituir Fernando Alonso, que tinha ido para a Ferrari. Se conseguir manter o foco do desenvolvimento do modelo 2014, o time pode surpreender novamente, e até conseguir sanar seus problemas. Resta saber se a turma que ficou conseguirá aproveitar a chance de mostrar do que é capaz. Mesmo bons projetos não costumam sobrepujar um mal gerenciamento da escuderia, e a Lotus, infelizmente, não vem fazendo uma boa gestão de seus recursos.
            O problema maior podem ser seus pilotos. A perda de Raikkonem com certeza será muito sentida, mas Romain Grossjean deu mostras de ter evoluído bastante na segunda metade da temporada de 2013, e pode se tornar o líder que o time precisa na pista, ajudando a motivar a todos e a nortear o desenvolvimento do carro. A dúvida fica em Pastor Maldonado, que todos sabem ser um piloto extremamente rápido, mas também propenso a se envolver em confusões na pista. Mas se Grossjean, que em 2012 foi o campeão dos acidentes e confusões na F-1, e apresentou melhora expressiva em 2013, nada impede que Maldonado também coloque a cabeça no lugar e faça uma pilotagem limpa, sem se envolver em nenhum enrosco. E confusões na pista são a última coisa que a Lotus precisa neste momento.
            Mas a ausência do time na primeira sessão coletiva de testes vai fazer falta. Houve mudanças técnicas significativas para esta temporada, não apenas nos carros, mas também nos motores, que passarão a ser turbos, além do complexo sistema do ERS, evolução do KERS usado nos últimos anos, que certamente demandarão trabalhos intensivos de pista na pré-temporada. E cada dia precisará ser aproveitado ao máximo pelos times, para tentar acertar os ajustes que as novas regras irão impor, não apenas nos carros, mas também na pilotagem que será exigida. Isso pode prejudicar as chances da Lotus fazer uma boa apresentação. No ano passado, o time venceu logo de cara na Austrália, com Raikkonem dando pinta de que seria candidato ao título. O time também perderá dias importantes para conhecer os novos pneus da Pirelli, o que certamente será outro fator importante a ser considerado: no ano passado, os carros da Lotus eram os que melhor cuidavam dos pneus, o que foi crucial para obterem bons resultados em várias corridas. Não seria bom perder esta qualidade no novo carro. Com tantas dúvidas e especulações negativas sobre o time, não seria forçado dizer que a situação está preta na Lotus, e não estou me referindo à cor dos carros. Mesmo assim, Bouiller afirma que o time estará firme no grid em 2014. Mas estar firme no grid é algo genérico: Caterham e Marussia estavam nos grids em 2013, e infelizmente não apresentaram praticamente nada. Será que a Lotus vai sofrer tamanha queda? Não dá para mensurar ainda o tamanho do possível prejuízo que todos os desfalques ocorridos no ano passado acarretarão.
            A única notícia positiva nos últimos dias foi o anúncio de que o chassi do modelo E22 passou no crash test da FIA, e que o time está liberado para competir no campeonato de F-1 de 2014. Não é muito, mas é pelo menos uma notícia boa em meio a tantas especulações negativas que rondam a escuderia nos últimos meses.
            A Lotus original foi passando por um declínio longo em seus últimos anos de vida. Projetos errados e gestão mal feita do time acabaram com uma das lendas da história da F-1. Esta "nova" Lotus não é nada da original, que deixou de existir ao fim de 1994, mas se não conseguir colocar a casa em ordem, pode muito bem sofrer o mesmo destino de sua predecessora, e em menos tempo ainda. Num momento em que a F-1 não pode se dar ao luxo de perder escuderias, isso seria ruim, bem ruim...


Semana passada eu falei aqui na coluna que o rali Dakar 2014 estava sendo suave este ano, com um número relativamente baixo de acidentes, e nenhuma morte até o fechamento do texto. Não deu outra: logo na sexta-feira a competição registrou suas primeiras fatalidades deste ano, com nada menos do que 3 infelizes mortes. Duas delas foram de jornalistas argentinos que cobriam a competição; a outra morte foi de um competidor, Eric Palante, que se tornou o 61° competidor a falecer na história do Dakar. O piloto belga faleceu na quinta-feira, mas a morte só foi anunciada na sexta, quando seu corpo foi encontrado por um dos caminhões de suporte da organização do rali.


Este será um ano em que os participantes brasileiros no Dakar não conseguiram chegar ao final da prova, marcada para amanhã em Valparaíso, no Chile. Últimos remanescentes na competição, a dupla Guilherme Spinelli e Youssef Haddad, que competia na categoria carros com um Mitsubishi, abandonou o rali na etapa entre Iquique e Antofagasta, na última quarta-feira. A dupla vinha tendo um desempenho bom no rali, ocupando a 11ª colocação geral na categoria carros, e apesar dos problemas, vinha conseguindo suportar bem a prova. Infelizmente, o Dakar mostrou-se novamente implacável para os pilotos brasileiros.


Nenhuma novidade surgiu sobre a situação de Michael Schumacher, que continua internado em estado crítico no hospital de Grenoble, na França. Surgem especulações de que o coma induzido ao piloto, para auxiliar em sua recuperação, pode até se tornar permanente, mas nada disso pode ser oficialmente confirmado. Paciência é tudo neste momento, mas situações de coma podem ser complicadas e imprevisíveis. Não é difícil, contudo, que o coma do ex-piloto dure um bom tempo. O ex-prêmie de Israel, Ariel Sharon, ficou 8 anos em coma, até falecer no início deste mês, só para exemplificar. Mas a comparação não serve de parâmetro: Sharon foi ao coma por um derrame (AVC), enquanto o de Schumacher foi induzido para preservar sua vida, permitindo que seu cérebro possa ter melhores condições de recuperação. Só podemos mesmo esperar, e nada mais, além de desejar que Schumacher consiga se recuperar...

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