sexta-feira, 8 de novembro de 2013

DECISÃO ESPANHOLA NA MOTOGP


Quem leva o título da MotoGP 2013: Jorge Lorenzo (Yamaha, moto azul), atual bicampeão, ou o novato prodígio Marc Márquez (Honda, moto vermelha e laranja)? O duelo promete no domingo, em Valência...

            O Mundial de MotoGP chega à sua última etapa do ano, em Valência, com a perspectiva da decisão do título na categoria máxima do motociclismo. Quem vai ganhar? O atual bicampeão, Jorge Lorenzo? Ou o novato sensação da categoria, Marc Márquez? Para público espanhol, pouco importa, pois ambos são conterrâneos, e foi um ano em que o país Ibérico praticamente monopolizou a MotoGP: das 17 corridas disputadas até agora, apenas 1 não foi vencida por um piloto espanhol: a etapa da Holanda, onde quem chegou na frente foi o italiano Valentino Rossi. Lorenzo venceu 7 provas, Márquez 6 corridas, e Dani Pedrosa outras 3 etapas. Melhor, quase impossível.
            Na pista do circuito Ricardo Tormo, nos arredores de Valência, a disputa promete ser eletrizante. Márquez chegou para a etapa como líder e grande favorito do campeonato, em seu ano de estréia na categoria maior do motociclismo mundial. Dispondo do melhor equipamento do grid, o modelo RC213V da Honda, e correndo pela escuderia da fábrica japonesa, o audaz garoto de ouro do motociclismo espanhol chegou chegando, como se diz no jargão popular. A exemplo da estréia do inglês Lewis Hamilton na McLaren em 2007, Márquez deixou para trás logo na primeira corrida a sensação de que iria ser apenas um novato afortunado de correr pelo melhor time da categoria: travou um belo duelo com Valentino Rossi, e terminou sua primeira prova da MotoGP na 3ª posição, em Losail, no Catar. Jorge Lorenzo venceu a corrida sem maiores percalços, mas seria um dos poucos momentos em que teria vida fácil no campeonato de 2013.
            Dito e feito: na corrida seguinte, em Austin, nos Estados Unidos, Márquez já mostrava a todo mundo que já sabia o suficiente para deixar a concorrência mais "experiente" comendo poeira: venceu com categoria, e os rivais que se preparassem: não ia dar moleza dali em diante. Pior para Dani Pedrosa, seu companheiro na equipe Honda, que antes do início do campeonato era tido como um dos favoritos ao título, por ser o piloto de maior experiência no time, e que teoricamente, serviria de instrutor para conduzir o jovem Márquez nos segredos de aclimatação da possante moto de 1000cc da categoria, um equipamento com comportamento bem diferente das motos da categoria Moto2, onde Marc foi campeão no ano passado. O "aluno" já superava o "professor" logo de cara, e Pedrosa viu seus sonhos de ser campeão levarem um tombo do qual nunca se recuperariam, pelo menos em 2013.
            Não que Pedrosa não tenha tentado reagir ao domínio imposto pelo novo companheiro de equipe: mas suas vitórias em Jerez, Le Mans e Sepang foram pouco diante do ritmo avassalador do jovem espanhol. Se não dava para vencê-lo em velocidade, o jeito era apelar para a constância, que deu resultado durante boa parte da temporada, mantendo Pedrosa como um dos favoritos ao título. Mas como desgraça pouca é bobagem, até no quesito constância Pedrosa acabou perdendo o duelo com Márquez. O novato sensação ficou sem pontuar apenas em duas provas, sendo que em Phillip Island, na Austrália, foi devido à sua desclassificação por trocar de moto uma volta além do permitido em um acordo específico para aquela etapa, o que significa que ele realmente abandonou apenas uma corrida em todo o ano, em Mugello.
            Pedrosa acumulou dois abandonos, sendo que um deles, em Aragón, por culpa de um toque do próprio companheiro de equipe Márquez, que no impacto em uma disputa de posição, rompeu um cabo da moto de Dani, ocasionando um tombo logo a seguir. A partir dali o clima ficou tenso na equipe da Honda, com Pedrosa a reclamar do excesso de agressividade do parceiro de time, opinião que era compartilhada por outros pilotos, para os quais o novato sensação agia em determinados momentos como se não tivesse ninguém na pista, sendo por vezes demasiado agressivo em disputas de posição. Na verdade, Márquez chegou incomodando mais do que todo mundo imaginava, mas de fato em vários momentos ele se portou de forma exageradamente atirada e demasiado agressiva, algo típico da idade. Mas, correndo em motos acima de 300 Km/h, é preciso ser um pouco mais comedido em alguns movimentos, do contrário, o desastre sempre está à espreita. Pedrosa que o diga em Aragón...
            A arrancada de Márquez a meio da temporada, quando enfileirou 4 vitórias consecutivas, deu a impressão de que o mundial acabaria antes do tempo. Coube ao atual campeão da categoria, Jorge Lorenzo, animar a disputa, que conseguiu levar para a última etapa, neste domingo, a duras penas. Duras mesmo: o atual bicampeão suou sangue para levar a Yamaha à vitória em vários momentos, superando no braço a performance inferior de sua moto para a da rival Honda. Não fosse o tremendo esforço de Lorenzo, de fato o mundial já poderia ter acabado. A disputa do título em boa parte do ano foi um duelo restrito a 3 pilotos: a dupla da Honda, Márquez e Pedrosa, e a Jorge Lorenzo. Valentino Rossi, que fez sua volta à Yamaha este ano, até que começou bem a temporada, com um 2° lugar, mas fora sua vitória em Assen, na Holanda, em todo o restante do ano o "Doutor" foi apenas um coadjuvante de luxo do trio que disputou efetivamente o título, e que agora se reduziu à dupla Márquez-Lorenzo.
            Com Rossi incapaz de acompanhar o ritmo dos rivais da Honda na maior parte do campeonato, sobrou para Lorenzo resgatar a honra da Yamaha. Ele o fez com competência, mas não foi fácil. Jorge também sentiu o impacto da ascenção de Márquez, e na primeira metade ainda conseguiu lidar com o novato da Honda com certa calma, mas o caldo engrossou a meio do campeonato, e na tentativa de acompanhar o ritmo de Márquez, Lorenzo passou a cometer mais riscos, o que o levou a se acidentar feio, durante os treinos para a prova da Holanda, quebrando a clavícula, passando por uma cirurgia e voltando para a pista para correr, ainda sem estar recuperado, o que o levou a novo acidente na etapa seguinte, e aí o forçou sim a maneirar um pouco nas semanas seguintes.
            Já recuperado, Lorenzo precisou repensar sua estratégia para enfrentar Márquez, e passou a usar de toda a sua experiência, além de seu enorme talento, para tentar contrabalançar a tremenda velocidade e ímpeto do rival. Motivando a Yamaha a dar tudo por tudo na luta pelo título, Lorenzo conseguiu dar a volta por cima, e se não conseguiu superar o jovem Marc, pelo menos conseguiu reequilibrar a briga, e nas duas últimas corridas, obteve vitórias cruciais, diminuindo sua desvantagem para o piloto da Honda. E com Pedrosa já fora de combate na luta pelo título, tudo agora se resolverá na etapa derradeira da competição. Desde 2006 que a MotoGP não assistia a uma decisão de título em sua última etapa do campeonato. Naquele ano, Valentino Rossi tinha chegado para a etapa final com uma vantagem de 8 pontos para Nick Hayden, na mesma pista de Valência. Podendo correr por pontos, entretanto, as coisas não saíram como Rossi esperava, pois Valentino levou um tombo logo no início da corrida, e acabou perdendo o título para Hayden, que chegou em 3° lugar naquela prova, conquistando o caneco.
            A situação de Márquez é parecida: o novato sensação tem 13 pontos de vantagem para Lorenzo, e pode se dar ao luxo de marcar o rival sem maiores problemas. Se Jorge vencer a corrida, bastará um 4° lugar para Márquez faturar o título. O problema é que em nenhuma das corridas que terminou este ano o garoto ficou fora do pódio, e a menos que aconteça algo inesperado, dificilmente vai deixar de conquistar um novo pódio em Valência. O degrau menor, da 3ª posição, já lhe dá o título confortavelmente, e ele pode deixar Lorenzo e Pedrosa partirem para o mano a mano em busca da vitória, e se Dani vencer a corrida, melhor ainda. Para Lorenzo, mesmo que tenha a providencial ajuda de Valentino Rossi, que poderia lutar pelo pódio, e assim complicar um pouco mais as chances de Márquez, ainda assim o fato de precisar apenas do 4° lugar dificulta ainda mais as coisas para o atual bicampeão.
            Restaria a Lorenzo a esperança de que os demais competidores do grid entrem na parada e compliquem a situação de Márquez, mas é difícil. Honda e Yamaha praticamente monopolizaram o pódio da MotoGP durante todo o ano, com apenas 2 exceções, tamanha foi a diferença de performance dos dois times principais para as outras escuderias do grid. E em nenhum momento os demais times sequer ameaçaram os postulantes da Yamaha e Honda à vitória nas corridas de 2013. Dos pilotos da Honda e Yamaha, apenas Valentino Rossi ficou devendo na maior parte do campeonato, tendo ele sim, problemas para se livrar dos demais concorrentes do grid, muitas vezes em luta pelo 4° lugar, e até para ser 3° colocado algumas vezes. Em condições normais, Lorenzo, Pedrosa e Márquez só viram o restante do grid na hora de ultrapassá-los como retardatários.
            Esta será a 16ª vez que a categoria máxima do motociclismo assistirá a uma decisão na última etapa do campeonato. A primeira vez foi em 1950, com o título conquistado pelo italiano Umberto Masetti. Na última, em 2006, Nick Hayden foi o campeão. Seja quem for o vencedor do campeonato no domingo, o será com todos os méritos. Marc Márquez já inscreveu seu nome na história da categoria com seu impressionante campeonato de estréia, e se for campeão, apenas aumentará a dimensão de seu feito. Jorge Lorenzo, por sua vez, mostra que está em sua melhor forma, e que consegue equilibrar uma disputa mesmo competindo com um equipamento levemente inferior, algo que poucos pilotos conseguem efetivamente realizar.
            Os fãs da motovelocidade certamente vão se lembrar deste campeonato por muitos anos, e com muito gosto, e eles certamente merecem o show que estão assistindo este ano, com o duelo titânico Márquez-Lorenzo. Quem vence é o esporte a motor, por proporcionar este pega empolgante.

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