Quem leva o título da MotoGP 2013: Jorge Lorenzo (Yamaha, moto azul), atual bicampeão, ou o novato prodígio Marc Márquez (Honda, moto vermelha e laranja)? O duelo promete no domingo, em Valência... |
O
Mundial de MotoGP chega à sua última etapa do ano, em Valência, com a
perspectiva da decisão do título na categoria máxima do motociclismo. Quem vai
ganhar? O atual bicampeão, Jorge Lorenzo? Ou o novato sensação da categoria,
Marc Márquez? Para público espanhol, pouco importa, pois ambos são
conterrâneos, e foi um ano em que o país Ibérico praticamente monopolizou a
MotoGP: das 17 corridas disputadas até agora, apenas 1 não foi vencida por um
piloto espanhol: a etapa da Holanda, onde quem chegou na frente foi o italiano
Valentino Rossi. Lorenzo venceu 7 provas, Márquez 6 corridas, e Dani Pedrosa
outras 3 etapas. Melhor, quase impossível.
Na
pista do circuito Ricardo Tormo, nos arredores de Valência, a disputa promete
ser eletrizante. Márquez chegou para a etapa como líder e grande favorito do
campeonato, em seu ano de estréia na categoria maior do motociclismo mundial.
Dispondo do melhor equipamento do grid, o modelo RC213V da Honda, e correndo
pela escuderia da fábrica japonesa, o audaz garoto de ouro do motociclismo
espanhol chegou chegando, como se diz no jargão popular. A exemplo da estréia
do inglês Lewis Hamilton na McLaren em 2007, Márquez deixou para trás logo na
primeira corrida a sensação de que iria ser apenas um novato afortunado de
correr pelo melhor time da categoria: travou um belo duelo com Valentino Rossi,
e terminou sua primeira prova da MotoGP na 3ª posição, em Losail, no Catar.
Jorge Lorenzo venceu a corrida sem maiores percalços, mas seria um dos poucos
momentos em que teria vida fácil no campeonato de 2013.
Dito
e feito: na corrida seguinte, em Austin, nos Estados Unidos, Márquez já
mostrava a todo mundo que já sabia o suficiente para deixar a concorrência mais
"experiente" comendo poeira: venceu com categoria, e os rivais que se
preparassem: não ia dar moleza dali em diante. Pior para Dani Pedrosa, seu companheiro
na equipe Honda, que antes do início do campeonato era tido como um dos
favoritos ao título, por ser o piloto de maior experiência no time, e que
teoricamente, serviria de instrutor para conduzir o jovem Márquez nos segredos
de aclimatação da possante moto de 1000cc da categoria, um equipamento com
comportamento bem diferente das motos da categoria Moto2, onde Marc foi campeão
no ano passado. O "aluno" já superava o "professor" logo de
cara, e Pedrosa viu seus sonhos de ser campeão levarem um tombo do qual nunca
se recuperariam, pelo menos em 2013.
Não
que Pedrosa não tenha tentado reagir ao domínio imposto pelo novo companheiro
de equipe: mas suas vitórias em Jerez, Le Mans e Sepang foram pouco diante do
ritmo avassalador do jovem espanhol. Se não dava para vencê-lo em velocidade, o
jeito era apelar para a constância, que deu resultado durante boa parte da
temporada, mantendo Pedrosa como um dos favoritos ao título. Mas como desgraça
pouca é bobagem, até no quesito constância Pedrosa acabou perdendo o duelo com
Márquez. O novato sensação ficou sem pontuar apenas em duas provas, sendo que em Phillip Island, na
Austrália, foi devido à sua desclassificação por trocar de moto uma volta além
do permitido em um acordo específico para aquela etapa, o que significa que ele
realmente abandonou apenas uma corrida em todo o ano, em Mugello.
Pedrosa
acumulou dois abandonos, sendo que um deles, em Aragón, por culpa de um toque
do próprio companheiro de equipe Márquez, que no impacto em uma disputa de
posição, rompeu um cabo da moto de Dani, ocasionando um tombo logo a seguir. A
partir dali o clima ficou tenso na equipe da Honda, com Pedrosa a reclamar do excesso
de agressividade do parceiro de time, opinião que era compartilhada por outros
pilotos, para os quais o novato sensação agia em determinados momentos como se
não tivesse ninguém na pista, sendo por vezes demasiado agressivo em disputas
de posição. Na verdade, Márquez chegou incomodando mais do que todo mundo
imaginava, mas de fato em vários momentos ele se portou de forma exageradamente
atirada e demasiado agressiva, algo típico da idade. Mas, correndo em motos
acima de 300 Km/h,
é preciso ser um pouco mais comedido em alguns movimentos, do contrário, o
desastre sempre está à espreita. Pedrosa que o diga em Aragón...
A
arrancada de Márquez a meio da temporada, quando enfileirou 4 vitórias
consecutivas, deu a impressão de que o mundial acabaria antes do tempo. Coube
ao atual campeão da categoria, Jorge Lorenzo, animar a disputa, que conseguiu
levar para a última etapa, neste domingo, a duras penas. Duras mesmo: o atual
bicampeão suou sangue para levar a Yamaha à vitória em vários momentos,
superando no braço a performance inferior de sua moto para a da rival Honda.
Não fosse o tremendo esforço de Lorenzo, de fato o mundial já poderia ter
acabado. A disputa do título em boa parte do ano foi um duelo restrito a 3
pilotos: a dupla da Honda, Márquez e Pedrosa, e a Jorge Lorenzo. Valentino
Rossi, que fez sua volta à Yamaha este ano, até que começou bem a temporada,
com um 2° lugar, mas fora sua vitória em Assen, na Holanda, em todo o restante
do ano o "Doutor" foi apenas um coadjuvante de luxo do trio que
disputou efetivamente o título, e que agora se reduziu à dupla Márquez-Lorenzo.
Com
Rossi incapaz de acompanhar o ritmo dos rivais da Honda na maior parte do
campeonato, sobrou para Lorenzo resgatar a honra da Yamaha. Ele o fez com
competência, mas não foi fácil. Jorge também sentiu o impacto da ascenção de
Márquez, e na primeira metade ainda conseguiu lidar com o novato da Honda com
certa calma, mas o caldo engrossou a meio do campeonato, e na tentativa de
acompanhar o ritmo de Márquez, Lorenzo passou a cometer mais riscos, o que o levou
a se acidentar feio, durante os treinos para a prova da Holanda, quebrando a
clavícula, passando por uma cirurgia e voltando para a pista para correr, ainda
sem estar recuperado, o que o levou a novo acidente na etapa seguinte, e aí o
forçou sim a maneirar um pouco nas semanas seguintes.
Já
recuperado, Lorenzo precisou repensar sua estratégia para enfrentar Márquez, e
passou a usar de toda a sua experiência, além de seu enorme talento, para
tentar contrabalançar a tremenda velocidade e ímpeto do rival. Motivando a
Yamaha a dar tudo por tudo na luta pelo título, Lorenzo conseguiu dar a volta
por cima, e se não conseguiu superar o jovem Marc, pelo menos conseguiu
reequilibrar a briga, e nas duas últimas corridas, obteve vitórias cruciais,
diminuindo sua desvantagem para o piloto da Honda. E com Pedrosa já fora de
combate na luta pelo título, tudo agora se resolverá na etapa derradeira da
competição. Desde 2006 que a MotoGP não assistia a uma decisão de título em sua
última etapa do campeonato. Naquele ano, Valentino Rossi tinha chegado para a
etapa final com uma vantagem de 8 pontos para Nick Hayden, na mesma pista de
Valência. Podendo correr por pontos, entretanto, as coisas não saíram como
Rossi esperava, pois Valentino levou um tombo logo no início da corrida, e
acabou perdendo o título para Hayden, que chegou em 3° lugar naquela prova,
conquistando o caneco.
A
situação de Márquez é parecida: o novato sensação tem 13 pontos de vantagem
para Lorenzo, e pode se dar ao luxo de marcar o rival sem maiores problemas. Se
Jorge vencer a corrida, bastará um 4° lugar para Márquez faturar o título. O
problema é que em nenhuma das corridas que terminou este ano o garoto ficou
fora do pódio, e a menos que aconteça algo inesperado, dificilmente vai deixar
de conquistar um novo pódio em
Valência. O degrau menor, da 3ª posição, já lhe dá o título
confortavelmente, e ele pode deixar Lorenzo e Pedrosa partirem para o mano a
mano em busca da vitória, e se Dani vencer a corrida, melhor ainda. Para
Lorenzo, mesmo que tenha a providencial ajuda de Valentino Rossi, que poderia
lutar pelo pódio, e assim complicar um pouco mais as chances de Márquez, ainda
assim o fato de precisar apenas do 4° lugar dificulta ainda mais as coisas para
o atual bicampeão.
Restaria
a Lorenzo a esperança de que os demais competidores do grid entrem na parada e
compliquem a situação de Márquez, mas é difícil. Honda e Yamaha praticamente
monopolizaram o pódio da MotoGP durante todo o ano, com apenas 2 exceções,
tamanha foi a diferença de performance dos dois times principais para as outras
escuderias do grid. E em nenhum momento os demais times sequer ameaçaram os
postulantes da Yamaha e Honda à vitória nas corridas de 2013. Dos pilotos da
Honda e Yamaha, apenas Valentino Rossi ficou devendo na maior parte do
campeonato, tendo ele sim, problemas para se livrar dos demais concorrentes do
grid, muitas vezes em luta pelo 4° lugar, e até para ser 3° colocado algumas
vezes. Em condições normais, Lorenzo, Pedrosa e Márquez só viram o restante do
grid na hora de ultrapassá-los como retardatários.
Esta
será a 16ª vez que a categoria máxima do motociclismo assistirá a uma decisão
na última etapa do campeonato. A primeira vez foi em 1950, com o título
conquistado pelo italiano Umberto Masetti. Na última, em 2006, Nick Hayden foi
o campeão. Seja quem for o vencedor do campeonato no domingo, o será com todos
os méritos. Marc Márquez já inscreveu seu nome na história da categoria com seu
impressionante campeonato de estréia, e se for campeão, apenas aumentará a
dimensão de seu feito. Jorge Lorenzo, por sua vez, mostra que está em sua
melhor forma, e que consegue equilibrar uma disputa mesmo competindo com um
equipamento levemente inferior, algo que poucos pilotos conseguem efetivamente
realizar.
Os
fãs da motovelocidade certamente vão se lembrar deste campeonato por muitos
anos, e com muito gosto, e eles certamente merecem o show que estão assistindo
este ano, com o duelo titânico Márquez-Lorenzo. Quem vence é o esporte a motor,
por proporcionar este pega empolgante.
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