quarta-feira, 13 de novembro de 2013

ARQUIVO PISTA & BOX - SETEMBRO DE 1996 - 27.09.1996



            Continuando a trazer minhas antigas colunas, esta é do dia 27 de setembro de 1996, e o assunto era a decisão do título na F-1, que com a vitória de Jacques Villeneuve no Grande Prêmio de Portugal, postergava a decisão para a etapa final da temporada, que seria disputada em Suzuka, que naquele ano encerrava o campeonato. De quebra, mais algumas notas rápidas sobre os acontecimentos do fim de semana no mundo da velocidade. Uma boa leitura a todos, e em breve, trago mais textos antigos...


DECISÃO ADIADA

            Bem, ainda não foi desta vez que vimos Damon Hill conquistar o seu primeiro título mundial de Fórmula 1. Jacques Villeneuve, em uma corrida de sorte e garra, conseguiu sair do autódromo do Estoril com o resultado de que mais precisava para manter suas esperanças no título: a vitória.
            Sem dúvida o Grande Prêmio de Portugal foi palco de uma grande corrida. Uma das melhores do ano. Não faltou briga entre vários pilotos, fossem elas na ponta, no pelotão intermediário, ou mesmo entre os últimos colocados. Damon Hill conseguiu aproveitar muito bem sua pole-position e começou a ir embora dos demais. Chegou a abrir até 16s de vantagem para Villeneuve antes que o canadense conseguisse se livrar de Michael Schumacher e partisse em sua perseguição. A ultrapassagem de Villeneuve sobre Schumacher pelo lado de fora da curva Parabólica foi sem dúvida a melhor do ano; já fazia um bom tempo que não ocorria tais manobras de ultrapassagem na categoria. Daí em diante, Villeneuve contou com a sorte e com a garra: manteve um bom ritmo de corrida e, com os trabalhos de Box, ganhou as posições de Jean Alesi e Damon Hill. O inglês, como é de costume, acabou perdendo todo o terreno ganho na pista em ultrapassagens muito demoradas sobre os retardatários, além de ter sofrido alguns problemas na embreagem de seu carro.
            Ficou a dúvida se Villeneuve teria conseguido arrancar a ultrapassagem de Hill na pista se tivesse de fazê-lo. Quando o canadense encostou no inglês depois do segundo pit stop, Hill conseguiu manter-se firme e até voltou a abrir sua vantagem, que havia caído para meros 0s3. A mesma dúvida fica em relação a Alesi, que também mantinha um bom ritmo de corrida. No final, vendo que não conseguiria recuperar a liderança, Damon acabou correndo com a cabeça, resignando-se a terminar a prova em 2º lugar. Se, por um lado, isso demonstra que, nos momentos mais duros Hill parece não ter braço para se impor frente a adversários mais fortes, por outro lado, também foi um ato consciente. Afinal, quantas corridas Alain Prost deixou de ganhar porque resolveu garantir posições ao invés de lutar por elas em disputas provavelmente fraticidas? Longe de comparar Hill com Prost, apenas que não se pode condenar o inglês por desistir na vitória no Estoril. Seu 2º lugar ainda lhe garante uma posição razoavelmente confortável na classificação.
            E a matemática joga a favor de Damon Hill: basta apenas mais 1 ponto, o equivalente a chegar em 6º lugar, para sagrar-se campeão de 96. Villeneuve adiou para o Japão a decisão do título, mas a faca e o queijo continuam nas mãos de Hill. Em Suzuka, o canadense não poderá apenas depender de si mesmo, mas do que Hil conseguir ou deixar de conseguir. É hora de ver se o filho de Gilles Villeneuve vai suportar bem a pressão. Quanto a Hill, só uma coisa é óbvia: o piloto inglês deverá fazer uma corrida segura, visando o título, o que significa correr apenas pelos pontos necessários para liquidar a fatura.
            E a concorrência joga contra o canadense. Benetton e Ferrari podem se intrometer na briga pela vitória em Suzuka e estragar os planos de Jacques. Qualquer resultado que não seja a vitória dá o título de presente ao filho de Graham Hill. Vale lembrar que, em 95, Alesi e Schumacher foram as estrelas da corrida de Suzuka: Schumacher venceu e Alesi deu o maior show de pilotagem até sua Ferrari quebrar. Quem também andou bem foi a McLaren. Resumindo, a prova deverá ser bem competitiva.
            Nesta semana as equipes permaneceram no Estoril para testes. Semana que vem, o trabalho continua, agora com cada equipe no seu canto. E, na outra semana, chega a hora de embarcar para o Japão para a corrida decisiva. Aproxima-se a etapa final, e a emoção é promissora. Vamos aguardar.


Mais dois pilotos brasileiros garantiram seus lugares na F-Indy em 97: Raul Boesel vai ser o companheiro de equipe do americano Scott Pruett na Patrick Racing. Boesel continuará com o patrocínio da Brahma, que será exclusivo de seu carro. Pruett continuará com o patrocínio da Firestone e da Penzoil. O outro brasileiro é Guálter Salles, que vai correr na nova equipe que está sendo estruturada por Gerald Davis, que comprou a estrutura da recém-fechada equipe Hall. Enquanto Raul Boesel usará chassi Lola, motor Ford e pneus Firestone, Guálter correrá com chassi Reynard, motor Mercedes e pneus Goodyear.


Com isso, já são 6 pilotos brasileiros garantidos no campeonato da F-Indy de 97: Gil de Ferran na Walker; Christian Fittipaldi na Newmann-Hass; André Ribeiro na Tasman; Maurício Gugelmim na PacWest; Raul Boesel na Patrick; e Guálter Salles na nova equipe de Gerald Davis. Roberto Moreno ainda negocia com várias equipes, e Émerson Fittipaldi ainda não deu sua decisão de continuar ou não a competir como piloto na categoria.


Enquanto Jacques Villeneuve fez a melhor ultrapassagem na prova do GP de Portugal, Eddie Irvinne e Gerhard Berger tiveram uma luta de titãs pela 5ª posição no fim da corrida. Berger chegou a ultrapassar o irlandês, mas acelerou demais e levou o troco na curva seguinte, quando abriu demais a trajetória. No fim, Irvinne ganhou a parada, e o 5º lugar.


Pedro Lamy, o único piloto português na F-1, não pôde fazer muita coisa na corrida de seu país. Teve de largar dos boxes e ficou sempre em último na corrida, até abandonar. O próprio piloto já admitia ter um dia ruim nas entrevistas, quando declarou que não esperava nada de seu carro nem nos treinos e nem na corrida.


Rubens Barrichello não teve um bom dia no Estoril. Estava dando luta às McLaren e vinha em uma boa posição quando o câmbio de seu Jordan deixou-o a pé. Mas a Jordan não foi a única equipe azarada na corrida: a McLaren que o diga, com Mika Hakkinen rodando e perdendo o bico do carro, e acontecendo até um congestionamento no box da equipe. David Couthard também acabou fazendo das suas e precisou de reparos no carro. Mas não ficou nisso: o escocês excedeu o limite de velocidade no pit line e levou uma punição de 10s em um “stop and go“.


Nova reviravolta no futuro possível de Damon Hill: o abandono da F-1 ao fim da temporada, se não conseguir um carro decente para 1997. E o próprio Eddie Jordan parece mais inclinado a manter Rubens Barrichello no time, desde que Hill não resolva vir para a escuderia. Jordan pediu ao piloto brasileiro para esperar até o início da próxima semana para decidir qualquer coisa. De positivo para Rubinho, apenas o encontro com o tricampeão Jackie Stewart, que tenta tê-lo como piloto de seu novo time de F-1, quando foi muito elogiado pelo ex-piloto escocês.


Bernie Ecclestone, vice-presidente da FIA e presidente da FOCA, declarou que Pedro Paulo Diniz é uma “estrela em potencial” para o futuro da F-1. Elogios de Ecclestone, porém, podem virar da noite para o dia: em 1993, Rubens Barrichello também foi elogiado pelo dirigente que, recentemente, declarou que Barrichello não tinha talento para ser campeão...


Eddie Irvinne teve no GP de Portugal sua melhor performance desde o GP da Austrália, no início da temporada. Durante boa parte dos treinos, o irlandês ficou à frente de Michael Schumacher, e na corrida, andou bem mais próximo do alemão do que nas provas anteriores, sem mencionar que seu carro não quebrou. Das duas uma: ou a Ferrari resolveu melhorar o tratamento a Irvinne e mantê-lo firme na equipe para 97, ou o irlandês acordou depois de inúmeras performances sonolentas e das críticas feitas a ele pelo colega de equipe durante a semana. Por mim, aposto na primeira hipótese...

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