Felipe Massa, enfim, já está garantido na F-1 em 2014, defendendo a equipe Williams, onde já esteve de visita esta semana... |
Se
a disputa do título da Fórmula 1 já foi fechada por Sebastian Vettel no GP da
Índia, pelo menos a última semana foi pródiga em acontecimentos nos bastidores
da categoria, que até então não tinha muito a oferecer nos últimos meses além
de tentar adivinhar em qual prova o atual tricampeão da equipe Red Bull
conquistaria seu 4° caneco. E hoje os carros ainda entram na pista no belo
circuito de Austin para iniciarem os treinos oficiais para o Grande Prêmio dos
Estados Unidos. Mas, a menos que a corrida seja espetacular, o que aconteceu
esta semana nos bastidores vai monopolizar as discussões na categoria máxima do
automobilismo.
Começando
do início, temos a ausência de Kimmi Raikkonem. Oficialmente, o piloto
finlandês da Lotus, que já está acertado com a Ferrari para 2014, retirou-se
das etapas dos EUA e Brasil em virtude de uma cirurgia que fez para tratar de
um problema nas costas, que o aflige há anos, e que nas últimas semanas, teria
se agravado, a ponto de as dores quase terem comprometido sua participação em
uma corrida. A justificativa é ter um tempo de recuperação maior a fim de poder
iniciar seus trabalhos na Ferrari no próximo ano já plenamente recuperado. De
fato, Kimmi no início de sua carreira sofreu um acidente que lesionou suas
costas, a ponto de, segundo dizem, ter originado uma espécie de hérnia, que de
fato inspira cuidados. E nas últimas semanas, o finlandês quase ficou de fora
de uma corrida, devido a estas fortes dores nas costas. O cuidado é
justificado.
A
pulga atrás da orelha é que isso reacende a discussão sobre a situação
financeira da Lotus, ainda mais depois de Raikkonem ter botado a boca no
trombone denunciando que sua escuderia praticamente não lhe pagou os salários
de toda esta temporada, e que já havia até ameaçado deixar o time antes do fim
do ano. A Lotus, aguardando pelo dinheiro prometido por um fundo de
investimentos chamado Quantum, foi enrolando Kimmi, e mesmo agora, com as
promessas de que o fundo está finalmente acertando os detalhes para finalizar o
pagamento à escuderia, esta saída de Raikkonem sugere que a grana ainda está
longe de Enstone, muito longe. A equipe, claro, afirma que, após o encerramento
do campeonato, tudo será acertado, mas... De qualquer maneira, a desculpa da
cirurgia vem bem a calhar, e falando pelo aspecto puramente técnico, melhor que
Kimmi se cuide, pois enfrentar Fernando Alonso como companheiro de equipe em
Maranello vai ser uma tarefa árdua, e melhor que o finlandês esteja preparado
100% para encarar o asturiano na próxima temporada. Pior para a Lotus, que
ainda tinha esperanças de discutir o vice-campeonato de construtores com
Ferrari e Mercedes. Romain Grossjean vem andando bem nas últimas corridas, mas
ele sozinho não vai dar conta de descontar a diferença da escuderia inglesa
para a Mercedes e a Ferrari. Quem agradece mais a ausência de Kimmi é
justamente Alonso, que com um adversário a menos, já pode praticamente
comemorar mais um vice-campeonato, como isso consolasse o espanhol...
E
quem ganhou também foi Heikki Kovalainen, que acabou contratado por Eric
Bouiller para correr estas duas etapas finais do campeonato. Rebaixado à
condição de "reserva" da equipe Caterham, onde foi titular no ano
passado, o finlandês terá chance de pelo menos mostrar um pouco do seu valor, e
com isso se relançar no mercado, visando uma vaga para 2014. A equipe de Tony
Fernandes, aliás, já pensa em colocar Kovalainen novamente como titular na
próxima temporada, uma vez que os pilotos titulares deste ano não deram os
melhores resultados, tendo sido contratados mais na base do patrocínio do que
no talento propriamente dito. E quem ficou chupando o dedo foi Davide Valsecchi,
o piloto reserva "oficial" da Lotus, o que acabou mostrando novamente
que a função de piloto de testes na F-1 virou apenas cargo de faz-de-conta nas
últimas temporadas, algo que felizmente pode mudar no ano que vem, com a
reintrodução de algumas sessões de teste e um horário extra nos treinos livres
de sexta apenas para os reservas andarem.
Para
os torcedores brasileiros, enfim, saiu a contratação oficial de Felipe Massa
pela Williams, afastando por hora os temores de não termos mais um
representante no campeonato de F-1. Felipe assume o lugar de Pastor Maldonado,
que sai brigado do time, e leva junto, depois de acertar várias pendengas
jurídicas em negociação, o patrocínio da PDVSA, que teve de pagar uma multa
rescisória a Frank Williams que, segundo dizem, ajudou a contratar Massa sem
que o brasileiro precisasse apresentar patrocinadores. Se foi bom para o
brasileiro, por outro lado, fica a incerteza de o time conseguir finalizar o
orçamento de 2014, tendo a tarefa de encontrar patrocínio de vulto, algo bem
complicado quando o time, mesmo com toda a sua tradição e história na
categoria, vive o pior ano de que há memória, tendo apenas um suado ponto no
campeonato até agora. A esperança é a radical mudança de regras técnicas para o
próximo ano, que deve ajudar a embaralhar um pouco as forças, e quem sabe,
propiciar a oportunidade de crescimento para outros. Felipe terá pela primeira
vez a posição de líder de fato de uma escuderia, e caberá a ele conduzir o time
em sua recondução a dias melhores. Algo possível, mas não vamos ficar cheios de
expectativas também, pois foi o mesmo tipo de conversa quando da contratação de
Rubens Barrichello ao fim de 2009, e todos viram que o time depois não decolou
coisa nenhuma: Barrichello até fez um ano razoável em 2010, mas em 2011 o time
errou feio no carro, e dispensaram Rubinho sem a menor cerimônia, indo atrás
dos patrocínios de Bruno Senna, que por sua vez, também foi descartado sem
maiores considerações. Que Felipe tenha melhor sorte do que seus conterrâneos
recentes que passaram por Grove.
E
tivemos mudança também na McLaren. Confirmando o que muitos já esperavam, o
mexicano Sérgio Perez já está sem time para 2014. A equipe inglesa
dispensou o piloto, que parece não ter conseguido se achar em Woking, em um ano
que foi particularmente difícil para a escuderia fundada por Bruce McLaren há
50 anos. O temperamento difícil de Perez infelizmente não casou bem na McLaren,
e apesar dos comunicados polidos tanto da equipe quanto do piloto, a relação de
fato ficou estremecida entre ambos. O estilo agressivo do mexicano em alguns
momentos na pista tiraram até Jenson Button, normalmente comedido e educado, a
criticar o comportamento do parceiro de time, uma vez que andaram batendo rodas
em alguns momentos, que podia ter gerado consequências mais sérias. Para
piorar, Perez não vinha assumindo um espírito colaborativo com a escuderia,
algo essencial em um ano complicado como vem sendo 2013. O mexicano agora busca
um lugar para 2014, que pode ser a volta à própria Sauber, que anda precisando
de reforço financeiro, e com o apoio da Telmex, Sérgio pode ser tudo o que o
time precisa.
Para
a McLaren, fica o gosto ruim de ter feito uma aposta errada. Perez fez uma
temporada muito boa pela Sauber no ano passado, e isso até o credenciava a
assumir vôos mais altos. Não é um piloto ruim. Mas certos comportamentos,
aceitos em times pequenos ou médios, muitas vezes não se encaixam nas
exigências de postura de times de ponta. O mexicano afirmou que a McLaren
precisa de mais humildade e menos arrogância, e neste ponto, ele até tem razão,
uma vez que o ambiente no time inglês é por demais sério e fechado,
metodologias de trabalho implantadas por Ron Dennis há muito tempo atrás, e que
hoje impregnam a escuderia. Mas também serve para o próprio Perez, que tendo a
chance de entrar em um time de ponta, deveria ter tido mais comprometimento com
a McLaren, e ajudar no que pudesse a melhorar posição do time, e não pensar
apenas em superar
Button na pista, como chegou a alegar declaradamente em
entrevistas, aparentemente esquecendo todo o resto de suas atribuições de
piloto. Martin Whitmash já anunciou o substituto de Perez, Kevin Magnussem, que
fez boas demonstrações na World Series By Renault este ano, conquistando o
título da categoria. É mais uma aposta da McLaren, e espera-se, seja mais
acertada, em decisão tomada com mais propriedade do que foi a contratação do
mexicano no ano passado, feita meio de supetão depois da saída inesperada de
Lewis Hamilton para a Mercedes, quando o time correu para anunciar um
substituto. Kevin de fato parece ter uma postura muito mais centrada e focada
do que Perez, mas vamos esperar como ele se sai em 2014, onde a mudança de
regulamento vai exigir dos times e pilotos mais do que nunca capacidade de
analisar e compreender o comportamento dos novos carros e motores. Pelo menos,
ao contrário de Perez, Kevin já é bem mais conhecido pela McLaren, fazendo parte
de seu programa de desenvolvimento de pilotos, o mesmo que levou Hamilton a
estrear pelo time em 2007. Não por acaso, Whitmarsh afirma que o jovem piloto é
um "novo" Hamilton...
Nico Hulkenberg está novamente sem saber onde correrá em 2014. Lotus, Sauber ou Force Índia podem ser suas opções, mas não tem garantias de nada até o momento... |
Nico
Hulkenberg, por outro lado, que até o mês passado parecia ser a bola da vez do
mercado de pilotos, como o melhor nome disponível, está vivendo novamente uma
sinuca em sua carreira: suas chances na Lotus dependem unicamente da entrada da
verba prometida pelo grupo Quantum, que já até manifestou preferência pelo
piloto alemão. Mas promessas de dinheiro não pagam contas, e se a grana não
pintar, e com as dívidas se acumulando, Eric Bouiller pode ter de optar por
Pastor Maldonado, que segundo dizem, já teria até assinado contrato, na
condicional de o dinheiro da Quantum não surgir até certa data. Se o dinheiro
surgir, Hulkenberg garante sua posição em Enstone. Mas se os
cheques não surgirem, é o venezuelano quem aporta por lá, com seus petrodólares
da PDVSA. Para o alemão, seria duplamente desgostoso, por ser a segunda vez em
que perderia sua chance em um time para o piloto sul-americano, que tomou seu
lugar na Williams em 2011 justamente por ter o patrocínio da petroleira de seu
país. E, complicando a situação, até mesmo seu lugar na Sauber, que para 2014
já não era garantido, ganhou mais um complicador: Sérgio Perez, que pode
retornar ao time suíço, muito provavelmente ocupando o lugar de Esteban
Gutiérrez, que até agora não desencantou como deveria. Com o outro lugar
reservado para o jovem russo Sirotkin, que vem apoiado por um forte grupo de
interessados russos em injetar verba no time, seria uma escuderia a menos
interessada em Nico. E
até mesmo a Force Índia, outro lugar potencial para Nico arrumar cockpit,
poderia acabar descartando seus serviços, dependendo de como as peças se
movimentarem. Depois, quando se critica que a F-1 ultimamente está se rendendo
de vez a pilotos pagantes em detrimento do talento, muitos acham a afirmação
exagerada... Nico tem talento, mas se não tiver patrocínio, parece condenado a
viver na corda bamba na F-1...
Então,
ficamos com muitas dúvidas: Para onde Pastor Maldonado vai? Pode tanto pintar
na Lotus, quanto até mesmo seguir para a Sauber, ou até a Force Índia. Perez
agora é um nome interessante no mercado, e assim como Maldonado, seu apoio da Telmex
o torna igualmente disputado, ainda que seja mais insociável do que o
venezuelano. Na Sauber, nem mesmo o jovem Sirotkin está garantido, pois a
exemplo da associação da Lotus com o grupo Quantum, o consórcio de empresas
russas que fez acordo com Peter Sauber até o momento não mostrou a cor da
grana, e se ele não chegar, provavelmente estenderão o tapete vermelho pedindo
Perez de volta, e possivelmente mantendo Gutiérrez também, e Sirotkin que
arrume outro lugar para correr. Mas, mesmo que o dinheiro russo apareça, a
Sauber pode avaliar se o jovem russo tem condições de estrear já como titular,
ou colocá-lo como reserva, para efetivá-lo em 2015, visando lhe dar treinos ao
longo da temporada para lhe dar quilometragem. E para onde vai Nico Hulkenberg,
afinal? Até ele gostaria de saber...
Com
tanto agito fora da pista, ainda temos uma corrida para acompanhar, onde muito
provavelmente veremos mais uma vitória de Sebastian Vettel, o que certamente já
não está mais empolgando muita gente, exceto claro, os torcedores da Red Bull e
do piloto alemão. E vamos para a corrida do fim de semana, então...
Nenhum comentário:
Postar um comentário