sexta-feira, 15 de novembro de 2013

BASTIDORES A MIL



Felipe Massa, enfim, já está garantido na F-1 em 2014, defendendo a equipe Williams, onde já esteve de visita esta semana...

            Se a disputa do título da Fórmula 1 já foi fechada por Sebastian Vettel no GP da Índia, pelo menos a última semana foi pródiga em acontecimentos nos bastidores da categoria, que até então não tinha muito a oferecer nos últimos meses além de tentar adivinhar em qual prova o atual tricampeão da equipe Red Bull conquistaria seu 4° caneco. E hoje os carros ainda entram na pista no belo circuito de Austin para iniciarem os treinos oficiais para o Grande Prêmio dos Estados Unidos. Mas, a menos que a corrida seja espetacular, o que aconteceu esta semana nos bastidores vai monopolizar as discussões na categoria máxima do automobilismo.
            Começando do início, temos a ausência de Kimmi Raikkonem. Oficialmente, o piloto finlandês da Lotus, que já está acertado com a Ferrari para 2014, retirou-se das etapas dos EUA e Brasil em virtude de uma cirurgia que fez para tratar de um problema nas costas, que o aflige há anos, e que nas últimas semanas, teria se agravado, a ponto de as dores quase terem comprometido sua participação em uma corrida. A justificativa é ter um tempo de recuperação maior a fim de poder iniciar seus trabalhos na Ferrari no próximo ano já plenamente recuperado. De fato, Kimmi no início de sua carreira sofreu um acidente que lesionou suas costas, a ponto de, segundo dizem, ter originado uma espécie de hérnia, que de fato inspira cuidados. E nas últimas semanas, o finlandês quase ficou de fora de uma corrida, devido a estas fortes dores nas costas. O cuidado é justificado.
            A pulga atrás da orelha é que isso reacende a discussão sobre a situação financeira da Lotus, ainda mais depois de Raikkonem ter botado a boca no trombone denunciando que sua escuderia praticamente não lhe pagou os salários de toda esta temporada, e que já havia até ameaçado deixar o time antes do fim do ano. A Lotus, aguardando pelo dinheiro prometido por um fundo de investimentos chamado Quantum, foi enrolando Kimmi, e mesmo agora, com as promessas de que o fundo está finalmente acertando os detalhes para finalizar o pagamento à escuderia, esta saída de Raikkonem sugere que a grana ainda está longe de Enstone, muito longe. A equipe, claro, afirma que, após o encerramento do campeonato, tudo será acertado, mas... De qualquer maneira, a desculpa da cirurgia vem bem a calhar, e falando pelo aspecto puramente técnico, melhor que Kimmi se cuide, pois enfrentar Fernando Alonso como companheiro de equipe em Maranello vai ser uma tarefa árdua, e melhor que o finlandês esteja preparado 100% para encarar o asturiano na próxima temporada. Pior para a Lotus, que ainda tinha esperanças de discutir o vice-campeonato de construtores com Ferrari e Mercedes. Romain Grossjean vem andando bem nas últimas corridas, mas ele sozinho não vai dar conta de descontar a diferença da escuderia inglesa para a Mercedes e a Ferrari. Quem agradece mais a ausência de Kimmi é justamente Alonso, que com um adversário a menos, já pode praticamente comemorar mais um vice-campeonato, como isso consolasse o espanhol...
            E quem ganhou também foi Heikki Kovalainen, que acabou contratado por Eric Bouiller para correr estas duas etapas finais do campeonato. Rebaixado à condição de "reserva" da equipe Caterham, onde foi titular no ano passado, o finlandês terá chance de pelo menos mostrar um pouco do seu valor, e com isso se relançar no mercado, visando uma vaga para 2014. A equipe de Tony Fernandes, aliás, já pensa em colocar Kovalainen novamente como titular na próxima temporada, uma vez que os pilotos titulares deste ano não deram os melhores resultados, tendo sido contratados mais na base do patrocínio do que no talento propriamente dito. E quem ficou chupando o dedo foi Davide Valsecchi, o piloto reserva "oficial" da Lotus, o que acabou mostrando novamente que a função de piloto de testes na F-1 virou apenas cargo de faz-de-conta nas últimas temporadas, algo que felizmente pode mudar no ano que vem, com a reintrodução de algumas sessões de teste e um horário extra nos treinos livres de sexta apenas para os reservas andarem.
            Para os torcedores brasileiros, enfim, saiu a contratação oficial de Felipe Massa pela Williams, afastando por hora os temores de não termos mais um representante no campeonato de F-1. Felipe assume o lugar de Pastor Maldonado, que sai brigado do time, e leva junto, depois de acertar várias pendengas jurídicas em negociação, o patrocínio da PDVSA, que teve de pagar uma multa rescisória a Frank Williams que, segundo dizem, ajudou a contratar Massa sem que o brasileiro precisasse apresentar patrocinadores. Se foi bom para o brasileiro, por outro lado, fica a incerteza de o time conseguir finalizar o orçamento de 2014, tendo a tarefa de encontrar patrocínio de vulto, algo bem complicado quando o time, mesmo com toda a sua tradição e história na categoria, vive o pior ano de que há memória, tendo apenas um suado ponto no campeonato até agora. A esperança é a radical mudança de regras técnicas para o próximo ano, que deve ajudar a embaralhar um pouco as forças, e quem sabe, propiciar a oportunidade de crescimento para outros. Felipe terá pela primeira vez a posição de líder de fato de uma escuderia, e caberá a ele conduzir o time em sua recondução a dias melhores. Algo possível, mas não vamos ficar cheios de expectativas também, pois foi o mesmo tipo de conversa quando da contratação de Rubens Barrichello ao fim de 2009, e todos viram que o time depois não decolou coisa nenhuma: Barrichello até fez um ano razoável em 2010, mas em 2011 o time errou feio no carro, e dispensaram Rubinho sem a menor cerimônia, indo atrás dos patrocínios de Bruno Senna, que por sua vez, também foi descartado sem maiores considerações. Que Felipe tenha melhor sorte do que seus conterrâneos recentes que passaram por Grove.
            E tivemos mudança também na McLaren. Confirmando o que muitos já esperavam, o mexicano Sérgio Perez já está sem time para 2014. A equipe inglesa dispensou o piloto, que parece não ter conseguido se achar em Woking, em um ano que foi particularmente difícil para a escuderia fundada por Bruce McLaren há 50 anos. O temperamento difícil de Perez infelizmente não casou bem na McLaren, e apesar dos comunicados polidos tanto da equipe quanto do piloto, a relação de fato ficou estremecida entre ambos. O estilo agressivo do mexicano em alguns momentos na pista tiraram até Jenson Button, normalmente comedido e educado, a criticar o comportamento do parceiro de time, uma vez que andaram batendo rodas em alguns momentos, que podia ter gerado consequências mais sérias. Para piorar, Perez não vinha assumindo um espírito colaborativo com a escuderia, algo essencial em um ano complicado como vem sendo 2013. O mexicano agora busca um lugar para 2014, que pode ser a volta à própria Sauber, que anda precisando de reforço financeiro, e com o apoio da Telmex, Sérgio pode ser tudo o que o time precisa.
            Para a McLaren, fica o gosto ruim de ter feito uma aposta errada. Perez fez uma temporada muito boa pela Sauber no ano passado, e isso até o credenciava a assumir vôos mais altos. Não é um piloto ruim. Mas certos comportamentos, aceitos em times pequenos ou médios, muitas vezes não se encaixam nas exigências de postura de times de ponta. O mexicano afirmou que a McLaren precisa de mais humildade e menos arrogância, e neste ponto, ele até tem razão, uma vez que o ambiente no time inglês é por demais sério e fechado, metodologias de trabalho implantadas por Ron Dennis há muito tempo atrás, e que hoje impregnam a escuderia. Mas também serve para o próprio Perez, que tendo a chance de entrar em um time de ponta, deveria ter tido mais comprometimento com a McLaren, e ajudar no que pudesse a melhorar posição do time, e não pensar apenas em superar Button na pista, como chegou a alegar declaradamente em entrevistas, aparentemente esquecendo todo o resto de suas atribuições de piloto. Martin Whitmash já anunciou o substituto de Perez, Kevin Magnussem, que fez boas demonstrações na World Series By Renault este ano, conquistando o título da categoria. É mais uma aposta da McLaren, e espera-se, seja mais acertada, em decisão tomada com mais propriedade do que foi a contratação do mexicano no ano passado, feita meio de supetão depois da saída inesperada de Lewis Hamilton para a Mercedes, quando o time correu para anunciar um substituto. Kevin de fato parece ter uma postura muito mais centrada e focada do que Perez, mas vamos esperar como ele se sai em 2014, onde a mudança de regulamento vai exigir dos times e pilotos mais do que nunca capacidade de analisar e compreender o comportamento dos novos carros e motores. Pelo menos, ao contrário de Perez, Kevin já é bem mais conhecido pela McLaren, fazendo parte de seu programa de desenvolvimento de pilotos, o mesmo que levou Hamilton a estrear pelo time em 2007. Não por acaso, Whitmarsh afirma que o jovem piloto é um "novo" Hamilton...
Nico Hulkenberg está novamente sem saber onde correrá em 2014. Lotus, Sauber ou Force Índia podem ser suas opções, mas não tem garantias de nada até o momento...
            Nico Hulkenberg, por outro lado, que até o mês passado parecia ser a bola da vez do mercado de pilotos, como o melhor nome disponível, está vivendo novamente uma sinuca em sua carreira: suas chances na Lotus dependem unicamente da entrada da verba prometida pelo grupo Quantum, que já até manifestou preferência pelo piloto alemão. Mas promessas de dinheiro não pagam contas, e se a grana não pintar, e com as dívidas se acumulando, Eric Bouiller pode ter de optar por Pastor Maldonado, que segundo dizem, já teria até assinado contrato, na condicional de o dinheiro da Quantum não surgir até certa data. Se o dinheiro surgir, Hulkenberg garante sua posição em Enstone. Mas se os cheques não surgirem, é o venezuelano quem aporta por lá, com seus petrodólares da PDVSA. Para o alemão, seria duplamente desgostoso, por ser a segunda vez em que perderia sua chance em um time para o piloto sul-americano, que tomou seu lugar na Williams em 2011 justamente por ter o patrocínio da petroleira de seu país. E, complicando a situação, até mesmo seu lugar na Sauber, que para 2014 já não era garantido, ganhou mais um complicador: Sérgio Perez, que pode retornar ao time suíço, muito provavelmente ocupando o lugar de Esteban Gutiérrez, que até agora não desencantou como deveria. Com o outro lugar reservado para o jovem russo Sirotkin, que vem apoiado por um forte grupo de interessados russos em injetar verba no time, seria uma escuderia a menos interessada em Nico. E até mesmo a Force Índia, outro lugar potencial para Nico arrumar cockpit, poderia acabar descartando seus serviços, dependendo de como as peças se movimentarem. Depois, quando se critica que a F-1 ultimamente está se rendendo de vez a pilotos pagantes em detrimento do talento, muitos acham a afirmação exagerada... Nico tem talento, mas se não tiver patrocínio, parece condenado a viver na corda bamba na F-1...
            Então, ficamos com muitas dúvidas: Para onde Pastor Maldonado vai? Pode tanto pintar na Lotus, quanto até mesmo seguir para a Sauber, ou até a Force Índia. Perez agora é um nome interessante no mercado, e assim como Maldonado, seu apoio da Telmex o torna igualmente disputado, ainda que seja mais insociável do que o venezuelano. Na Sauber, nem mesmo o jovem Sirotkin está garantido, pois a exemplo da associação da Lotus com o grupo Quantum, o consórcio de empresas russas que fez acordo com Peter Sauber até o momento não mostrou a cor da grana, e se ele não chegar, provavelmente estenderão o tapete vermelho pedindo Perez de volta, e possivelmente mantendo Gutiérrez também, e Sirotkin que arrume outro lugar para correr. Mas, mesmo que o dinheiro russo apareça, a Sauber pode avaliar se o jovem russo tem condições de estrear já como titular, ou colocá-lo como reserva, para efetivá-lo em 2015, visando lhe dar treinos ao longo da temporada para lhe dar quilometragem. E para onde vai Nico Hulkenberg, afinal? Até ele gostaria de saber...
            Com tanto agito fora da pista, ainda temos uma corrida para acompanhar, onde muito provavelmente veremos mais uma vitória de Sebastian Vettel, o que certamente já não está mais empolgando muita gente, exceto claro, os torcedores da Red Bull e do piloto alemão. E vamos para a corrida do fim de semana, então...

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