Hoje
começam os treinos oficiais para o Grande Prêmio do Brasil, fechando a
temporada de 2013, que infelizmente não foi das mais emocionantes, como a do
ano passado, quando tivemos 8 pilotos diferentes vencendo corridas, mesmo que
apenas 2 deles tivessem chegado aqui discutindo o campeonato. Sebastian Vettel
muito provavelmente vai vencer de novo, se nada diferente do normal acontecer.
Está previsto chuva para o domingo, o que pode ajudar a deixar as coisas mais
divertidas para quem espera uma prova fora dos padrões, resta saber se a ajuda
de São Pedro vai ser suficiente.
Esta
corrida marca a despedida de Felipe Massa da equipe Ferrari. Com contrato
assinado com a Williams para 2014, o piloto brasileiro busca renovar suas
esperanças na F-1, após praticamente uma década em Maranello. Não o
fez por opção própria, já que o time vermelho resolveu trazer um piloto mais
forte para ser companheiro de Fernando Alonso no próximo ano, Kimmi Raikkonem.
Mas a mudança de ares fará bem a Massa, que estava precisando buscar espaço em
outro lugar, uma vez que na Ferrari, ele já não tinha mais espaço.
É
o fim também para uma era, entre a Ferrari, e pilotos brasileiros, iniciada há
14 anos, em 2000, quando Rubens Barrichello fez sua estréia nos carros
vermelhos. Anunciado como substituto do irlandês Eddie Irvinne na segunda
metade de 1999, a
contratação de Barrichello por um time de ponta encheu os torcedores
brasileiros de esperança. Após a perda de Ayrton Senna, tínhamos virado
coadjuvantes na F-1. Voltar a ter um piloto em um time capaz de disputar o
título significava voltar, pelo menos, a vencer corridas. E Barrichello, por
sua vez, queria mostrar realmente do que era capaz de produzir.
A
partir daí, foram mais decepções do que satisfações. A política interna da
Ferrari, que dava preferência exclusiva para Michael Schumacher, sempre foi um
ducha de água fria para as esperanças dos torcedores brasileiros. O problema
não era exatamente Michael Schumacher, que afinal, como maior talento da F-1,
fazia por merecer ter seus privilégios. O problema era que isso mostrava que
não dava para esperar muito de Rubinho, que apesar de não ser talentoso como o
parceiro alemão, também não era um joão ninguém. Infelizmente, o brasileiro
nunca pôde pensar em disputar o título, e para reafirmar isso, o próprio Luca
de Montezemolo afirmou, com todas as letras, ainda em 2000, após a vitória
espetacular de Barrichello em Hockenhein, que o único objetivo da Ferrari era
fazer Schumacher campeão, e que o brasileiro devia ficar em seu devido lugar. E
tal política nunca mudaria. Não apenas pelo tipo de gestão de Maranello, mas
também por que Schumacher nunca aceitaria que seu "escudeiro"
dividisse curvas com ele. Michael nunca digeriu bem quando ficava atrás do
colega de equipe, e costumava perder as estribeiras por causa disso.
Ainda
que seja leviano falar em sabotagem, pode-se dizer que isso ocorreu veladamente
com Barrichello. Num universo onde detalhes fazem a diferença, como é a F-1,
bastava deixar de atentar para um detalhe para que o piloto brasileiro perdesse
totalmente as chances de ter uma luta justa com seu companheiro de equipe. Não
que Schumacher precisasse disso, mas quando, em 2002, o time proibiu Rubens de
vencer na Áustria, em um campeonato amplamente dominado pelo piloto alemão,
pode-se ter uma idéia de como as coisas corriam em Maranello. Afinal,
porque o piloto brasileiro sempre tinha uma primeira metade de campeonato
geralmente problemática, enquanto nada de anormal ocorria com Schumacher? Ou
algumas situações totalmente inusitadas, como quando esqueceram o carro do
brasileiro em cima dos cavaletes no grid de largada, com todos os carros
partindo para a corrida? Um erro dos mais primários e inconcebíveis de se
admitir num time de ponta da F-1. E o GP do Brasil de 2003, onde Rubinho vinha
com boas chances de vencer, e sofreu uma pane seca até hoje mal explicada pelo
time, que alegou ter ficado sem telemetria e cujos dados de consumo prévio não
batiam? A Ferrari nunca admitiria, mas conversas de fundo com alguns
integrantes do time apontam que a pane seca teria sido deliberada, para impedir
que o brasileiro, então empatado com Schumacher no campeonato àquela altura,
disparasse na frente, o que poderia causar "distúrbios" indesejados
dentro do time e em Schumacher.
Uma
verdade incontestável é que Michael Schumacher era muito mais piloto do que
Rubens Barrichello. Um fato sobre o qual não pesa a menor dúvida. O que fica na
dúvida é qual seria a verdadeira diferença entre ambos, uma vez que devido à
política adotada pela escuderia italiana, em muitos momentos a atenção para com
Rubinho limitava sua performance. Não vou dizer que sem isso o brasileiro seria
campeão ao invés de Schumacher, mas certamente Rubens teria alguns números
muito melhores de sua passagem por Maranello. Disputar o título até poderia ter
ocorrido, mas ser campeão, aí já é difícil saber.
E
a forma como o time dá atenção influi sobremaneira na performance de um piloto.
Está aí o exemplo deste ano de Romain Grossjean na Lotus, que depois que foi
anunciada a ida de Kimmi Raikkonem para a Ferrari, passou a andar muito melhor
do que vinha andando. E podemos ter um exemplo mesmo da Ferrari em 2004: quando
Schumacher já tinha conquistado matematicamente o título daquele ano, a
escuderia passou a priorizar Rubinho, para que ele conquistasse o
vice-campeonato. O resultado foram duas vitórias do piloto brasileiro em
corridas onde, vejam só, Schumacher andou muito atrás do que normalmente
andaria, incapaz até de lutar pelo pódio, e em um ano onde a Ferrari massacrou
a concorrência. Curiosamente, depois que Barrichello atingiu o vice-campeonato,
a performance do brasileiro despencou novamente, enquanto a de Schumacher
voltou a subir. Coincidência? Dizem que na F-1 não tem disso...
Rubens
sempre foi ficando acreditando que uma hora chegaria sua vez, apostando numa
aposentadoria de Schumacher, e acreditando que seria escolhido para então
liderar a escuderia italiana. Mas sua paciência acabou antes, e mesmo tendo
contrato para 2006, preferiu sair e tentar buscar espaço em outros lugares, ao
fim de 2005. E então, entrou Felipe Massa em seu lugar. Felipe já era piloto da
Ferrari desde sua estréia na F-1, tendo disputado sua primeira temporada pela
Sauber como "empréstimo" ao time suíço, que usava os motores italianos.
Dispensado para 2003, Massa passou o ano como piloto de testes da Ferrari,
retornando à Sauber em 2004 e 2005.
O
destino de Felipe em Maranello tendia a ser igual ao de Rubens, mas ele teve
uma sorte diferente: próximo do fim do campeonato, Schumacher anunciou que ia
se aposentar, e Massa, então, teria a oportunidade que Barrichello sempre
esperou e nunca surgiu: comandar o time. Para 2007, teria a companhia de Kimmi
Raikkonem. Se em 2006, fora escudeiro de Schumacher, e saiu-se bem para seu primeiro
ano como titular em Maranello, cumprindo o figurino, em 2007, era aproveitar a
chance de ser o veterano do time para tentar enfim poder lutar pelo título.
Massa
até tentou, mas teve azar na segunda metade do campeonato, e com uma arrancada
forte do finlandês, teve de dar suporte ao parceiro para a conquista do título
daquele ano. Foi um ano em que a política de pilotos da Ferrari foi meio posta
de lado realmente, com o time optando por Kimmi quando o brasileiro já estava
fora da briga, ao contrário do que ocorria nos tempos de Schumacher, quando seu
parceiro de time já era posto para escanteio antes mesmo da competição se
iniciar. Em 2008, Massa teve sua melhor chance de ser campeão, e quase chegou
lá, perdendo o título por um único ponto, aqui mesmo em Interlagos. Foi um
ano ímpar de Felipe, que venceu 6 corridas. Mas a Ferrari pecou em algumas
provas, assim como o próprio Massa também errou feio em outras. A postura de
Felipe na derrota aqui foi a mais nobre e sincera possível: "Ganhamos e
perdemos juntos", afirmou, referindo-se que tanto ele quanto seu time
falharam em momentos do ano, repartindo responsabilidades e méritos.
Em
2009, um carro apenas mediano, e um violento acidente na Hungria fizeram
daquela temporada um ano a ser esquecido. A plena recuperação do brasileiro
para 2010 era a melhor notícia possível. Se tivesse um carro vencedor, o
brasileiro poderia mostrar que ainda daria alegrias aos torcedores nacionais.
Mas havia um Alonso no meio do caminho...
Contratado
para substituir Kimmi Raikkonem, que estava desmotivado, o espanhol chegou no
time com o status de "salvador da pátria", o único capaz de levar o
time vermelho de novo ao título. E, para quem achava que Massa seria capaz de
enfrentar o espanhol, veio a pior notícia possível: a volta da política interna
de pilotos da Ferrari, tal qual era aplicada nos tempos de Schumacher. E a
ficha caiu como uma bomba naquele GP da Alemanha de 2010, com a frase que até
hoje ficou gravada na memória dos torcedores "Alonso está mais rápido que
você..."
Se
Rubens Barrichello tinha seus momentos de revolta, e costumava andar muitas
vezes mais perto de Schumacher do que a equipe gostaria, Massa entretanto
desabou dali em diante, raramente mostrando a combatividade de antigamente. Não
foi apenas o abalo psicológico de virar "escudeiro" de Alonso que
incomodou sobremaneira, mas vários fatores que se aglutinaram, como os novos
pneus instáveis da Pirelli, e carros não tão competitivos quanto antigamente.
Felipe sempre teve mais dificuldades para lidar com eles do que Alonso, que
conseguia quase sempre superar as limitações do equipamento, enquanto o
brasileiro, sem a autoconfiança de antes, se debatia até mais do que o normal,
tentando extrair deles a mesma performance do companheiro de equipe, o que
poucas vezes aconteceu.
No confronto com Alonso, Massa teve seus piores momentos na Ferrari. Desgaste tornou-se inevitável, e o brasileiro ainda sucumbiu psicologicamente, poucas vezes mostrando sua real capacidade. |
Felipe
ainda teve muita sorte com a paciência da Ferrari, que o manteve como piloto
por mais 4 temporadas, embora isso possa ser devido mais à política de não ter
dois pilotos fortes no time do que qualquer outra coisa. Não fosse a impaciência
e críticas de Fernando Alonso a meio desta temporada para com o time, que
fizeram até mesmo Luca de Montezemolo perder a paciência com o espanhol, muito
possivelmente Massa ainda poderia estar garantido em Maranello. Foi mais
o desejo de punir Alonso, tirando-o de sua posição de conforto na Ferrari, onde
não tinha concorrência interna, do que a falta de resultados do brasileiro, o
que mais contribuiu para a saída de Massa da escuderia. Mas é verdade também
que a política da de pilotos da Ferrari, ainda mais não tendo um carro tão
competitivo, ajudou o brasileiro a não conseguir resultados de maior monta, uma
vez que Alonso sempre recebia mais atenção do time, relegando o brasileiro a
segundo plano. Para Fernando Alonso, era conveniente continuar tendo o brasileiro
como colega de time, sempre o defendendo como o melhor parceiro, certo de que
sabia poder domá-lo sem problemas, além de contar com as regalias da
preferência do time para si, o que sempre deixou o brasileiro em segundo, ou
até terceiro plano, dentro da própria Ferrari.
No
ano passado, depois de um início medíocre, Massa se recuperou de forma
contundente na segunda metade do campeonato, garantindo sua permanência na
Ferrari em 2013. Mas, na política interna, tudo continuou igual a antes,
chegando ao cúmulo do time provocar uma punição deliberada ao brasileiro no GP
dos EUA do ano passado ao romper o lacre do câmbio de seu carro apenas para
promover Alonso a uma posição à frente no grid de largada, e do lado mais
favorável. Neste ano, parecia que Felipe tinha recuperado totalmente a boa
forma, mas os problemas retornaram, e com o time não tão competitivo quanto em
2012, foi novamente mais o brasileiro a sofrer as consequências do que Alonso.
Apenas
com sua saída da equipe confirmada é que Felipe pareceu tirar um peso das
costas como há muito não se via. Passou a correr com a velha combatividade que
raras vezes apresentou nos últimos anos. Terá na Williams um papel inédito em
sua carreira, que será liderar um time, algo que apenas em 2008 teve chance de
exercer na Ferrari, e ainda assim, apenas em parte da temporada. Tal qual
Barrichello, Massa passou um bom tempo em Maranello, e assim como seu
antecessor, teve seus bons momentos na escuderia. Não por acaso, em sua
despedida oficial, em Mugello, semana retrasada, teve um público de 15 mil
torcedores aplaudindo-o, um raro reconhecimento de seus serviços prestados à
escuderia italiana. E até hoje, Rubens Barrichello também é lembrado com
respeito pela escuderia, pelo seu tempo como titular lá, assim como pela
torcida.
É
um ciclo que se encerra, e para a maioria dos torcedores, não vai deixar
saudade alguma, pelo fato de tanto Massa quanto Barrichello não terem tido
maiores chances de vencer ou de serem campeões. E embora para muitos, guiar
pela Ferrari seja considerado um grande mérito, pelo prestígio e história da
escuderia em todo o mundo do esporte a motor, poucos torcedores brasileiros
irão concordar com isso, preferindo mais as críticas ao jogo de equipe
praticado em Maranello, que raras vezes favoreceu nossos representantes.
Tanto
Felipe Massa quanto Rubens Barrichello tiveram suas carreiras na F-1 marcadas
por sua passagem pelo time de Maranello. Concordando ou não, é algo a ser
respeitado e admirado, pois são muito poucos os que chegam a tal posto, e menos
ainda os que pilotaram para o time italiano por tanto tempo quanto os
brasileiros. A seu modo, a Ferrari valorizou tanto Massa quanto Rubinho em suas
campanhas nos últimos 14 anos, que agora ficarão registrados na história do
time italiano e também nos anais da F-1. Pode não ter sido do jeito como muitos
queriam, mas não dá para se ter tudo o que se deseja.
Um comentário:
Infelizmente o Barrichello e o Massa não passaram de simples coadjuvantes e não tiveram papel importante na Ferrari!!!
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