Montoya: fim de carreira? |
Em
um momento de muita fofoca e pouca coisa concreta em relação à Fórmula 1, eis
que uma notícia nos Estados Unidos chamou a atenção nesta semana: Juan Pablo
Montoya acaba de ser demitido de seu time na Nascar. Calma, é só após o fim da
atual temporada da Sprint Cup, mas isso significa que o piloto colombiano, que
há mais de 10 anos prometia ser uma das novas estrelas da F-1, depois de
mostrar muito arrojo e sucesso na F-Indy original, estará desempregado em 2014,
e aos praticamente 38 anos, se não arrumar um outro time, pode até encerrar a
carreira de piloto.
Desde
que retornou aos Estados Unidos em 2006, o colombiano foi buscar refúgio em seu
antigo patrão na F-Indy, Chip Ganassi, e acertou para correr por sua escuderia na
principal categoria automobilística americana, a Nascar, onde está até hoje.
Entretanto, sua passagem pela divisão principal da Stock Car americana rendeu
poucos frutos em termos de sucesso: em mais de 230 largadas, foram apenas 2
vitórias em pouco mais de 6 temporadas de participação, um número extremamente
baixo para o cacife que Montoya ostentava até então. Mesmo que a categoria
americana seja extremamente difícil e competitiva, o colombiano infelizmente
não conseguiu o destaque que esperava: sua melhor temporada foi em 2009, quando
finalizou o campeonato na 8ª posição. Nos demais anos, teve posições mais
modestas no certame: em 2007, foi apenas o 20° colocado; em 2008, 25°; em 2010,
17°; em 2011, 21°; no ano passado, foi 22°; e este ano, até esta semana, é
"apenas" o 22° colocado após 22 corridas.
De
acordo com a declaração da direção da equipe, Montoya pareceu conformado com a
decisão, entendendo que o time esperava mais dele, e que teve muita paciência
até hoje, ainda mais com as confusões que o colombiano sofreu todos estes anos
na Nascar, onde acabou sofrendo vários acidentes - nada muito anormal para a
categoria, que tem disputas ferrenhas o tempo todo. Montoya acabou tendo mais
sorte em algumas corridas fora da Nascar neste meio-tempo: venceu 3 vezes as 24
Horas de Daytona, uma das mais importantes corridas de endurance americanas,
sempre pelo time de Chip Ganassi - a última este ano, em parceria com Memo
Rojas, Charlie Kimball e Scott Pruett.
Nascido
em Bogotá em 1975, filho de um arquiteto que era também entusiasta das
corridas, não demorou para o jovem Juan Pablo apaixonar-se pelas corridas.
Conseguiu vencer com muito custo as dificuldades, e em 1998 sagrou-se campeão
da F-3000 Internacional, degrau logo abaixo da F-1. Sem vaga na categoria máxima
do automobilismo em 1999, foi correr nos Estados Unidos, substituindo o
italiano Alessandro Zanardi na equipe Chip Ganassi na F-Indy original.
Bicampeão, Zanardi foi para a Williams na F-1, e Montoya foi recomendado a Chip
por Frank Williams. Deu mais do que certo: Montoya ganhou o melhor carro da
categoria e mandou ver logo de cara. Ao fim do ano, venceu o título com nada
menos do que 7 vitórias. O ano seguinte não foi tão vitorioso, uma vez que a
Ganassi mudou completamente de equipamento, trocando chassi e motor. Mesmo
assim, Montoya ainda venceu 3 corridas pela Indy original, e ainda venceu as 500 Milhas de
Indianápolis, pela Indy Racing League, sendo o primeiro novato desde Graham
Hill em 1966 a
vencer a mítica corrida. Já havia conquistado a América, como fizera Zanardi.
Para 2001, a
F-1 estava à sua espera, com a Williams a apostar em seu talento.
E
Montoya chegou mostrando ser abusado: logo no início do campeonato, aqui em
Interlagos, foi dando um passão logo em Michael Schumacher
no "S" do Senna durante o GP do Brasil. O colombiano não estava nem
aí para quem o alemão era, e mostrava que, se tivesse carro, ia mesmo para cima
sem cerimônias. Mas sua impetuosidade também o fazia abandonar mais corridas do
que deveria, e mesmo tendo um carro potencialmente vencedor, foi apenas em
Monza que conquistou sua primeira vitória, ao passo que seu colega de equipe
Ralf Schumacher venceu 3 provas naquele ano, terminando em 4° no campeonato,
enquanto o colombiano era o 6°. Mas, de início, não estava nada mal. Os anos
seguintes, contudo, estancaram um pouco as esperanças de vermos o colombiano
disputar o título. A supremacia da Ferrari e de Michael Schumacher deixaram
todo o restante da F-1 como coadjuvantes, e a Williams tinha um carro de
performance irregular, ora potencialmente imbatível em algumas pistas, ora
apenas regular em outras.
De positivo foi o fato de Montoya cilindrar Ralf na Williams,
e superar o alemão regularmente dentro do time. Assim, em 2002, Montoya já foi
3° colocado no campeonato. Seu melhor ano foi em 2003, quando realmente se
manteve na luta pelo título até o final, terminando novamente em 3°, mas a
apenas 11 pontos do novamente campeão Michael Schumacher. Em 2004, com a
Williams caindo de produção, Montoya foi apenas 5° no campeonato, e venceu sua
última corrida pelo time, aqui em
São Paulo, para delírio dos torcedores colombianos que foram
vê-lo. No ano seguinte, aportaria na McLaren, onde para muitos teria finalmente
os meios para ser campeão.
No
time de Woking, contudo, as coisas não correram como o colombiano esperava:
ganhou sim um carro vencedor, mas também um companheiro de equipe duríssimo:
Kimmi Raikkonem. O finlandês deixou Juan Pablo na sombra no time, e mesmo que
Montoya tenha vencido 3 corridas, Raikkonem faturou 7 provas, e ainda foi
vice-campeão, enquanto o colombiano foi apenas 4° colocado, com pouco mais da
metade dos pontos de Kimmi. Mas o problema maior não era o finlandês: Montoya
passou a não se sentir à vontade no ambiente sisudo e extremamente sério da
McLaren, e isso claramente o incomodava. No ano seguinte, a McLaren teve um ano
abaixo do esperado, e Montoya, na ânsia de tentar andar mais do que o carro,
passou a exagerar na dose. O ponto mais abaixo foi no GP dos EUA, quando ele e
Kimmi praticamente bateram juntos um no outro. Não foi um caso único: nas 10
provas disputadas naquele ano, Montoya arrumou confusão com Kimmi em
praticamente 3 corridas. Ron Dennis sempre foi mais liberal do que os outros
chefes de equipe na disputa de seus pilotos em pista, mas baterem um no outro
era algo fora de cogitação, e paciência de Ron esgotou-se ali mesmo em Indianápolis. E,
pelo gênio forte de Montoya, não seria surpresa se ele tivesse mandado Ron para
"aquele lugar" depois da bronca. Estava decretado o fim da carreira
do colombiano na F-1.
Mesmo
havendo opções de equipes razoáveis para 2007, Montoya preferiu voltar ao
ambiente mais cordial e menos chato do automobilismo americano. Acertou com
Chip Ganassi, seu velho patrão, para correr por seu time na principal divisão
da Nascar e acreditava poder reencontrar na categoria o seu prazer de competir.
Pode-se dizer que conseguiu: nunca se sentiu infeliz por lá, e passou a
excomungar a F-1 de forma até justificável. Mas ao mesmo tempo, não brilhou
como fazia antes em sua passagem na antiga Indy.
Montoya
poderia ter ido para a Indy Racing League, mas preferiu os carrões da Stock.
Talvez por preferir não ter de cuidar tanto do físico como é necessário para os
pilotos de monopostos, o colombiano de fato ficou mais rechonchudo nos últimos anos.
Pra alguns, pode ter perdido uma excelente oportunidade de mostrar que ainda
era um piloto vencedor, pois a Ganassi tinha um dos melhores carros da
competição, e foi campeã de 2008
a 2011. Chip já tinha uma dupla de pilotos talentosa,
mas com certeza poderia ter arrumado mais um carro para o colombiano. Poderia
não ter dado certo também, mas pelo menos poderia ter tentado. Ao optar ir para
a Nascar, seus fãs nunca mais puderam vê-lo dar seus shows de velocidade, tendo
se tornado "apenas mais um" no meio do grid da Sprint Cup.
Com
certeza Juan Pablo sente falta dos tempos de glória, mas de certa forma, não
ficou no aperto financeiro pela falta de resultados: a Nascar é a categoria
americana que mais prêmios distribui a seus pilotos, e Montoya já faturou mais
de US$ 30 milhões em prêmios desde que estreou por lá. Resta saber se, após o
fim da atual temporada, Juan Pablo vai curtir uma merecida aposentadoria, ou se
tentará arrumar um novo time para continuar acelerando. Seu nome ainda é muito
respeitado e até venerado nos Estados Unidos, mesmo sem atingir o prestígio e a
fama dos gigantes da Nascar, e com certeza ele terá boas chances de seguir
competindo nos Estados Unidos.
É
cedo para dizer que o colombiano pode encerrar a carreira, mas se acabar ficando
sem opções, pode-se dizer que teve bons dias para se vangloriar no mundo do
automobilismo. Que tenha as devidas chances para seguir adiante, e possa
escolher o melhor destino para si a partir de 2014.
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