quarta-feira, 14 de agosto de 2013

ARQUIVO PISTA & BOX - AGOSTO DE 1996 - 09.08.1996



            De volta com a seção Arquivo, trago hoje este texto publicado no dia 9 de agosto de 1996, cujo assunto principal era o violento acidente sofrido por Émerson Fittipaldi nas 500 Milhas de Michigan, prova do campeonato da F-Indy. Já tínhamos passado pelo trauma de ver Ayrton Senna morrer no Grande Prêmio de San Marino, em 1994, e em 1992, Nélson Piquet sofreu um forte acidente em Indianápolis que na prática encerrou sua carreira como piloto. Émerson, na época, era a última "esperança" dos torcedores brasileiros de verem uma vitória em um campeonato de renome. Felizmente, Émerson se recuperou sem maiores sequelas do acidente de Michigan, mas sua carreira como piloto profissional realmente acabou ali, para desespero dos torcedores nacionais, que não tinham mais a quem recorrer para manter nossa fama de campeões e vencedores no automobilismo mundial.
            O fim da carreira de Émerson encerrou uma era na nossa presença no automobilismo mundial. A partir dali, uma nova geração teria de batalhar pelos triunfos no mundo da velocidade. Voltamos a vencer corridas e campeonatos, mas para muitos, sem apresentar o mesmo brilho de antigamente. É fato que nossa geração de grandes campeões foi única. Nossos melhores pilotos atuais podem ser bons, mas estarão sempre devendo se comparados a Émerson, Piquet e Senna, infelizmente. Fiquem agora com o texto, e boa leitura...


A BANDEIRADA FINAL?

            Primeiro, foi Nélson Piquet a sofrer aquele violento acidente em Indianápolis em 1992 e ficar praticamente um ano se recuperando das seqüelas sofridas numa colisão a mais de 300 Km/h. Depois, a tragédia de San Marino em 1994, quando perdemos Ayrton Senna em um acidente tão comum quanto vários outros, mas que a fatalidade cuidou de tornar mortal. Agora, Émerson Fittipaldi sofre o pior acidente de toda a sua carreira, acaba parando no hospital, e como Piquet, pode ter sua carreira abreviada.

            Triste coincidência, todos os nossos grandes campeões da F-1 parecem fadados a terminarem suas carreiras de forma abrupta e violenta. Piquet tentava em Indianápolis dar a volta por cima, depois de uma despedida discreta da F-1. Seus planos eram de conseguir uma equipe competitiva para o ano seguinte; queria disputar o título e já não tinha nada a provar a ninguém na F-1. O acidente mudou seus planos, e mesmo já recuperado, preferiu encerrar a carreira de piloto profissional. Hoje, Piquet pilota apenas ocasionalmente, e só para se divertir.

            Ayrton Senna não teve nem o que escolher. O destino tomou a decisão sozinho e Senna se foi, talvez da maneira como preferia: na frente de todos. O acidente que vitimou Ayrton deu-se numa prova que ele liderava. Estava no auge de sua forma, e tudo indicava que, com a Williams, teria os meios de se tornar o maior piloto da história da Fórmula 1. Senna já havia sofrido alguns acidentes, mas nunca saiu ferido de maneira séria, e sua determinação de vencer era férrea. Todos nós brasileiros ficamos, até hoje, imaginando o que poderia ter acontecido se os eventos de Ímola não tivessem ocorrido da maneira que conhecemos.

            Agora foi a vez de nosso primeiro campeão, Émerson Fittipaldi, o pioneiro, o primeiro piloto brasileiro a brilhar na F-1 e o mais jovem campeão da categoria em sua história. O pior disto tudo é saber que o pior acidente de Émerson tenha se dado em vista da inconseqüência de um piloto novato. Um novato muito talentoso, é verdade, tentando se impor em um meio onde só os fortes sobrevivem. Mas isso não significa cometer atos inconseqüentes como aquele.

            Greg Moore, 20 anos, campeão da Indy Lights de 95, ascendeu à categoria principal com todos os méritos, mas o jovem canadense parece ainda não ter aprendido a domar sua ousadia ao volante. A desculpa de que seu carro começou a escapar de frente é ridícula: todo piloto sabe que, se o carro começa a escapar de frente em um oval, a manobra correta é aliviar o pé do acelerador gradualmente. Por que ele não fez isso? Não é uma pergunta apenas que eu faço, mas seus próprios colegas de profissão também estão fazendo. Até Jacques Villeneuve, também canadense e atual campeão da F-Indy, condenou a atitude de seu compatriota. Espero que ele dome seu ímpeto, antes que cometa outro acidente onde as conseqüências podem se tornar verdadeiramente graves.

            Quanto a Émerson, o acidente poderia ter tido conseqüências realmente graves. Por pouco nosso grande campeão não ficou paralítico. Felizmente, isso não aconteceu, mas depois de tudo o que passou, nossa apreensão foi de novo aos limites, e a da família do piloto, ainda mais. Toda a família Fittipaldi viveu talvez a pior semana de suas vidas, sem falar no próprio Émerson. Passado o susto, agora inicia-se o caminho da recuperação. Émerson deverá levar cerca de 3 meses para se recuperar, mas é provável que o tempo seja menor. O excelente condicionamento físico de nosso campão, e sua vontade indomável já lhe garantiram deixar o hospital com pelo menos 3 dias a menos do que qualquer outro paciente em sua situação. Assim como Nélson Piquet surpreendeu os médicos com sua recuperação, esperemos que Émerson faça o mesmo.

            E o futuro? Émerson já admite que pode encerrar a carreira. Verdade ou não? Nos últimos meses, os problemas enfrentados por Fittipaldi na F-Indy foram inúmeros, e esta vinha sendo sua pior temporada, desde que estreou na categoria, em 1984. O piloto já vinha até aceitando parcialmente a idéia de se aposentar das pistas, mas confessa ficar bravo cada vez que lhe insinuavam isso. Depois deste acidente, entretanto, Émerson pode estar pensando diferente. Se pára ou não, só saberemos com certeza quando Émerson se recuperar. Até lá, ficaremos na dúvida se nosso grande campeão já recebeu sua bandeirada final ou se continuará nas pistas para brilhar novamente.

            Qualquer que seja sua decisão, boa sorte, Émerson! E uma feliz e completa recuperação!





A Áustria planeja seu retorno ao circuito da F-1, depois de uma longa ausência. O velho circuito de Zeltweg, palco tradicional da categoria no país, foi totalmente reformado. E já foi reinaugurado semana passada, quando foi realizado o Grande Prêmio da Áustria de Motovelocidade. O circuito, que tinha uma extensão de 5.942 metros, foi reduzido para apenas 4.319 metros, e ganhou algumas novas curvas. O traçado antigo fazia de Zeltweg um dos circuitos mais velozes da F-1, rivalizando com Monza e Silverstone. O último GP foi disputado em 1987, em 52 voltas, e foi vencido por Nigel Mansell, com Williams/Honda turbo. A pole foi de Nélson Piquet, com 1min23s357, também com Williams/Honda turbo.





Para quem gosta de história, aqui vão algumas curiosidades sobre a última corrida da F-1 disputada na Áustria, no circuito de Zeltweg: a corrida teve nada menos do que 3 largadas, sendo que as 2 primeiras foram anuladas em virtude de várias colisões entre os carros no pelotão intermediário (alguns quase decolaram em cima de outros); Nigel Mansell, que se recuperava de uma operação (havia extraído um dente do ciso), protagonizou uma cena interessante, após vencer a corrida: estava sendo levado para o pódio em um caminhão de apoio, e ao passar por baixo de uma passarela, o piloto inglês bateu a cabeça de frente, desmaiando momentaneamente, e ganhando um bom galo; Stefan Johnsson levou um susto tremendo nos treinos para a corrida quando um veado, sabe-se lá como, invadiu a pista no instante em que o sueco se aproximava ao volante de sua McLaren/TAG-Porshe turbo: Johnsson atropelou o veado, destruindo toda a frente do carro e por pouco não sofrendo maiores conseqüências, após ainda bater forte fora da pista após a colisão com o animal. “Só vi o animal quando estava a 3 metros dele.”, declarou o piloto sueco, na época.





Fim de semana agitado no automobilismo: neste domingo, pela F-1, disputa-se o Grande Prêmio da Hungria, no circuito de Hungaroring; pela F-Indy, disputam-se as 200 Milhas de Mid-Ohio, em Lexington, Ohio. Damon Hill venceu o GP da Hungria em 95, e está disposto a repetir a dose este ano, sendo o franco favorito. Já em Mid-Ohio, a vitória de 95 ficou com Al Unser Jr., da Penske, e se encontra entre os favoritos para vencer este ano.





Se a Ferrari esperava ter espantado um pouco o azar depois do GP da Alemanha, ele voltou com tudo na última terça-feira: Michael Schumacher, testando em Monza, teve um motor estourado, saiu da pista duas vezes, perdeu o bico do carro em uma das saídas e, ainda pra variar, teve um pneu furado. O piloto alemão deu mais voltas de bicicleta pela pista do que de carro. Talvez devesse trocar de veículo...

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