De
volta com a seção Arquivo, trago hoje este texto publicado no dia 9 de agosto
de 1996, cujo assunto principal era o violento acidente sofrido por Émerson
Fittipaldi nas 500 Milhas
de Michigan, prova do campeonato da F-Indy. Já tínhamos passado pelo trauma de
ver Ayrton Senna morrer no Grande Prêmio de San Marino, em 1994, e em 1992,
Nélson Piquet sofreu um forte acidente em Indianápolis que na prática encerrou
sua carreira como piloto. Émerson, na época, era a última "esperança"
dos torcedores brasileiros de verem uma vitória em um campeonato de renome.
Felizmente, Émerson se recuperou sem maiores sequelas do acidente de Michigan,
mas sua carreira como piloto profissional realmente acabou ali, para desespero
dos torcedores nacionais, que não tinham mais a quem recorrer para manter nossa
fama de campeões e vencedores no automobilismo mundial.
O
fim da carreira de Émerson encerrou uma era na nossa presença no automobilismo
mundial. A partir dali, uma nova geração teria de batalhar pelos triunfos no
mundo da velocidade. Voltamos a vencer corridas e campeonatos, mas para muitos,
sem apresentar o mesmo brilho de antigamente. É fato que nossa geração de
grandes campeões foi única. Nossos melhores pilotos atuais podem ser bons, mas
estarão sempre devendo se comparados a Émerson, Piquet e Senna, infelizmente.
Fiquem agora com o texto, e boa leitura...
A BANDEIRADA FINAL?
Primeiro,
foi Nélson Piquet a sofrer aquele violento acidente em Indianápolis em 1992 e
ficar praticamente um ano se recuperando das seqüelas sofridas numa colisão a
mais de 300 Km/h. Depois, a tragédia de San Marino em 1994, quando perdemos
Ayrton Senna em um acidente tão comum quanto vários outros, mas que a
fatalidade cuidou de tornar mortal. Agora, Émerson Fittipaldi sofre o pior
acidente de toda a sua carreira, acaba parando no hospital, e como Piquet, pode
ter sua carreira abreviada.
Triste
coincidência, todos os nossos grandes campeões da F-1 parecem fadados a
terminarem suas carreiras de forma abrupta e violenta. Piquet tentava em
Indianápolis dar a volta por cima, depois de uma despedida discreta da F-1.
Seus planos eram de conseguir uma equipe competitiva para o ano seguinte;
queria disputar o título e já não tinha nada a provar a ninguém na F-1. O
acidente mudou seus planos, e mesmo já recuperado, preferiu encerrar a carreira
de piloto profissional. Hoje, Piquet pilota apenas ocasionalmente, e só para se
divertir.
Ayrton
Senna não teve nem o que escolher. O destino tomou a decisão sozinho e Senna se
foi, talvez da maneira como preferia: na frente de todos. O acidente que
vitimou Ayrton deu-se numa prova que ele liderava. Estava no auge de sua forma,
e tudo indicava que, com a Williams, teria os meios de se tornar o maior piloto
da história da Fórmula 1. Senna já havia sofrido alguns acidentes, mas nunca
saiu ferido de maneira séria, e sua determinação de vencer era férrea. Todos
nós brasileiros ficamos, até hoje, imaginando o que poderia ter acontecido se
os eventos de Ímola não tivessem ocorrido da maneira que conhecemos.
Agora
foi a vez de nosso primeiro campeão, Émerson Fittipaldi, o pioneiro, o primeiro
piloto brasileiro a brilhar na F-1 e o mais jovem campeão da categoria em sua
história. O pior disto tudo é saber que o pior acidente de Émerson tenha se
dado em vista da inconseqüência de um piloto novato. Um novato muito talentoso,
é verdade, tentando se impor em um meio onde só os fortes sobrevivem. Mas isso
não significa cometer atos inconseqüentes como aquele.
Greg
Moore, 20 anos, campeão da Indy Lights de 95, ascendeu à categoria principal
com todos os méritos, mas o jovem canadense parece ainda não ter aprendido a
domar sua ousadia ao volante. A desculpa de que seu carro começou a escapar de
frente é ridícula: todo piloto sabe que, se o carro começa a escapar de frente
em um oval, a manobra correta é aliviar o pé do acelerador gradualmente. Por
que ele não fez isso? Não é uma pergunta apenas que eu faço, mas seus próprios
colegas de profissão também estão fazendo. Até Jacques Villeneuve, também
canadense e atual campeão da F-Indy, condenou a atitude de seu compatriota.
Espero que ele dome seu ímpeto, antes que cometa outro acidente onde as
conseqüências podem se tornar verdadeiramente graves.
Quanto
a Émerson, o acidente poderia ter tido conseqüências realmente graves. Por
pouco nosso grande campeão não ficou paralítico. Felizmente, isso não aconteceu,
mas depois de tudo o que passou, nossa apreensão foi de novo aos limites, e a
da família do piloto, ainda mais. Toda a família Fittipaldi viveu talvez a pior
semana de suas vidas, sem falar no próprio Émerson. Passado o susto, agora
inicia-se o caminho da recuperação. Émerson deverá levar cerca de 3 meses para
se recuperar, mas é provável que o tempo seja menor. O excelente
condicionamento físico de nosso campão, e sua vontade indomável já lhe
garantiram deixar o hospital com pelo menos 3 dias a menos do que qualquer
outro paciente em sua situação. Assim como Nélson Piquet surpreendeu os médicos
com sua recuperação, esperemos que Émerson faça o mesmo.
E
o futuro? Émerson já admite que pode encerrar a carreira. Verdade ou não? Nos últimos
meses, os problemas enfrentados por Fittipaldi na F-Indy foram inúmeros, e esta
vinha sendo sua pior temporada, desde que estreou na categoria, em 1984. O
piloto já vinha até aceitando parcialmente a idéia de se aposentar das pistas,
mas confessa ficar bravo cada vez que lhe insinuavam isso. Depois deste
acidente, entretanto, Émerson pode estar pensando diferente. Se pára ou não, só
saberemos com certeza quando Émerson se recuperar. Até lá, ficaremos na dúvida
se nosso grande campeão já recebeu sua bandeirada final ou se continuará nas
pistas para brilhar novamente.
Qualquer
que seja sua decisão, boa sorte, Émerson! E uma feliz e completa recuperação!
A Áustria planeja seu retorno ao circuito da F-1, depois de uma longa
ausência. O velho circuito de Zeltweg, palco tradicional da categoria no país,
foi totalmente reformado. E já foi reinaugurado semana passada, quando foi
realizado o Grande Prêmio da Áustria de Motovelocidade. O circuito, que tinha
uma extensão de 5.942 metros, foi reduzido para apenas 4.319 metros, e ganhou
algumas novas curvas. O traçado antigo fazia de Zeltweg um dos circuitos mais
velozes da F-1, rivalizando com Monza e Silverstone. O último GP foi disputado
em 1987, em 52 voltas, e foi vencido por Nigel Mansell, com Williams/Honda
turbo. A pole foi de Nélson Piquet, com 1min23s357, também com Williams/Honda
turbo.
Para quem gosta de história, aqui vão algumas curiosidades sobre a
última corrida da F-1 disputada na Áustria, no circuito de Zeltweg: a corrida
teve nada menos do que 3 largadas, sendo que as 2 primeiras foram anuladas em
virtude de várias colisões entre os carros no pelotão intermediário (alguns
quase decolaram em cima de outros); Nigel Mansell, que se recuperava de uma
operação (havia extraído um dente do ciso), protagonizou uma cena interessante,
após vencer a corrida: estava sendo levado para o pódio em um caminhão de
apoio, e ao passar por baixo de uma passarela, o piloto inglês bateu a cabeça
de frente, desmaiando momentaneamente, e ganhando um bom galo; Stefan Johnsson
levou um susto tremendo nos treinos para a corrida quando um veado, sabe-se lá
como, invadiu a pista no instante em que o sueco se aproximava ao volante de
sua McLaren/TAG-Porshe turbo: Johnsson atropelou o veado, destruindo toda a
frente do carro e por pouco não sofrendo maiores conseqüências, após ainda
bater forte fora da pista após a colisão com o animal. “Só vi o animal quando
estava a 3 metros dele.”, declarou o piloto sueco, na época.
Fim de semana agitado no automobilismo: neste domingo, pela F-1,
disputa-se o Grande Prêmio da Hungria, no circuito de Hungaroring; pela F-Indy,
disputam-se as 200 Milhas de Mid-Ohio, em Lexington, Ohio. Damon Hill venceu o
GP da Hungria em 95, e está disposto a repetir a dose este ano, sendo o franco
favorito. Já em Mid-Ohio, a vitória de 95 ficou com Al Unser Jr., da Penske, e
se encontra entre os favoritos para vencer este ano.
Se a Ferrari esperava ter espantado um pouco o azar depois do GP da
Alemanha, ele voltou com tudo na última terça-feira: Michael Schumacher,
testando em Monza, teve um motor estourado, saiu da pista duas vezes, perdeu o
bico do carro em uma das saídas e, ainda pra variar, teve um pneu furado. O
piloto alemão deu mais voltas de bicicleta pela pista do que de carro. Talvez
devesse trocar de veículo...
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