Circuito de Hungaroring: muitas curvas e um fortíssimo calor esperam os pilotos da F-1. |
Depois
de 3 semanas, eis que a Fórmula 1 está de volta, e chegamos ao circuito de
Hungaroring, nas cercanias de Budapeste, reconhecidamente a mais bela capital
do leste europeu. Mas, se a cidade encanta pela sua beleza, o mesmo não se pode
dizer do circuito que desde 1986 sedia a prova húngara: pista travada e sem
maiores atrativos, as corridas por aqui raramente oferecem muita emoção, e
mesmo atualmente se podendo contar com o sistema do DRS e o Kers, as
possibilidades de ultrapassagens ainda ficam abaixo do que normalmente se
gostaria que fossem.
Por
vezes, isso possibilita algumas corridas bem disputadas, como foi em 1990,
quando Thierry Boutsen venceu aqui largando da pole e tendo de se virar com uma
turma feroz logo atrás, que incluía nomes como Ayrton Senna e Nigel Mansell,
que não tinham medo de partir para o ataque. Em outras ocasiões, o clima ajudou
a deixar a corrida mais agitada, como foi em 2006, quando Jenson Button
conquistou nesta pista sua primeira vitória na categoria. Mas, na maioria das
vezes, a corrida tem sido monótona, e é preciso saber usar bem da estratégia
para salvar um bom resultado na corrida, se tiver feito uma má classificação.
Portanto, largar na frente sempre é fundamental nesta pista.
Todos
os times chegaram à Hungria com algumas novas dúvidas na cabeça. Se o teste
feito em Silverstone semana passada ajudou a confirmar a maior durabilidade dos
novos compostos disponibilizados pela Pirelli, o forte calor do verão europeu
certamente vai dar mais trabalho do que todos imaginavam. E, por isso mesmo,
apesar de saber que contarão com pneus que certamente não sofrerão as agruras
vistas durante o GP da Inglaterra, as escuderias não sabem exatamente como os
novos pneus irão reagir ao forte calor húngaro. Os compostos deste final de
semana serão os macios e os médios, na prática os compostos intermediários do
rol de opções da fábrica. O problema é que a temperatura está mesmo forte, e a
previsão de tempo é que possa chegar perto dos 40 graus no domingo, e não estamos
falando do calor no asfalto do circuito.
Normalmente,
um forte calor assim já torna o acerto aerodinâmico um pouco mais complicado: o
ar quente é mais leve, e portanto exige acertos mais refinados no ajuste
aerodinâmico. Nada exatamente complicado, mas na pista de Hungaroring os carros
já usam praticamente todo o apoio aerodinâmico possível nas asas, devido ao
excesso de curvas e a velocidade final não ser muito elevada. Tração é
fundamental para sair bem nas curvas. O problema é acertar tudo de forma a não
comprometer exageradamente a velocidade do carro na reta dos boxes,
praticamente o único ponto favorável de ultrapassagens. A asa móvel traseira
ajuda, mas se não conseguir entrar na reta bem próximo do adversário, o esforço
pode ser inútil.
O
forte calor também preocupa os times pela necessidade de refrigeração dos
sistemas. O ar quente faz os radiadores trabalharem a fundo, e por isso mesmo,
todo ar mais fresco é bem-vindo. E, para isso, convém ficar o menos possível
perto do adversário que vai à frente, pois a baforada de ar quente que os
carros soltam não é nenhuma brisa. Só que, sem embutir no adversário, não se
fazem ultrapassagens. Portanto, é preciso caprichar no acerto para que o carro
receba todo o ar fresco possível.
Mas
os pneus ainda vão concentrar a maior atenção dos técnicos. Se por um lado os
compostos não dêem possibilidade de furos ou estouros anormais como os vistos
na Inglaterra, os times estão entrando hoje na pista quase que a zero no
conhecimento dos novos compostos. Os treinos feitos em Silverstone semana
passada já deram uma boa base para os times, mas Silverstone é Silverstone, e
estamos em Hungaroring, com perfil de curvas, velocidade, e asfalto com
características diferentes. E o forte calor ainda vem botar, literalmente, mais
lenha na fogueira. Ninguém sabe exatamente qual vai ser a durabilidade “ideal”
dos pneus, e saber tal informação é crucial para se planejar a estratégia de
corrida. Embora não se espere o mesmo número elevado de pit stops vistos em
Barcelona, ninguém pode afirmar que duas paradas bastarão para se chegar ao fim
da corrida. É plausível afirmar que o número ideal será de 3 paradas, mas os
carros que tratarem os pneus de forma mais suave talvez possam arriscar fazer
apenas 2 trocas.
Neste
ponto, quem sai perdendo é a Mercedes, que não pôde treinar semana passada
cumprindo pena pelo teste “secreto” da Espanha em maio. Todos os demais times
já tem algumas idéias do que os novos pneus podem apresentar, e isso já lhes dá
uma boa vantagem. Por outro lado, é preciso também considerar que a relação de
forças vista até agora pode sofrer mudanças com os novos pneus. Ao mudar
ligeiramente a construção dos compostos, e voltar a utilizar o kevlar e não o
aço na cinta dos pneus, quem possuía carros com boa adaptação aos compostos
desde o início do campeonato pode passar a não ter o mesmo comportamento a
partir de agora. Ferrari, Lótus e Force Índia tinham chassis que sabiam lidar
bem com os pneus. Isso irá se manter agora? Pelo seu lado, a Mercedes entra na
pista hoje com câmeras de sensor térmico instaladas nos flaps de suas asas
dianteiras, com o objetivo de vigiar os pneus dianteiros, e permitir ao pessoal
do Box acompanhar em tempo real as condições dos compostos. E há quem tema que,
por usar uma construção mais similar à do ano passado, a Red Bull, que já tem
conseguido se distanciar com Sebastian Vettel na classificação, fique ainda
mais poderosa, e que o campeonato perca parte de sua competitividade com isso. A
conferir na pista hoje.
Por
todas as dúvidas apresentadas pelo calor e pelos novos pneus, os treinos livres
de hoje deverão ser bem aproveitados. Todas as escuderias precisam ter noção
mais exata do que os novos pneus poderão render no forte calor da Hungria, e
ver se seus carros reagem aos novos pneus da forma como é esperada. Dos dados
obtidos hoje deverá sair a resposta mais clara para se decifrar a charada
húngara deste fim de semana. E o fim de semana deve ser mesmo de muito
trabalho: depois de domingo, inicia-se o período de “férias” da F-1, que só
voltará a se reunir praticamente daqui a um mês, em Spa-Francorchamps. Embora
as fábricas das escuderias fechem em parte deste período, vai ser um mês cheio
de estudos no restante do tempo, e para tal, toda a informação que puder ser
obtida aqui no GP da Hungria será crucial para abastecer as planilhas e
sistemas de estudos visando aprimorar o comportamento dos carros para a fase
seguinte do campeonato, que terá a maioria de suas provas disputadas longe da
Europa.
Este
é o momento mais importante para se colher dados que poderão significar
continuar evoluindo no atual campeonato ou passar a ser figurante. E,
complicando ainda mais o panorama, os times também precisam focar seus estudos
para os projetos da próxima temporada. Dos times de ponta, a McLaren é quem já
definiu que 2013 é um ano perdido, e passará a focar mais seu projeto de 2014.
Mesmo assim, o time de Woking continuará promovendo melhorias nos carros, mas
sem a mesma prioridade do projeto 2014. Para os demais times, em especial
Ferrari, Lótus, Red Bull e Mercedes, a batalha com certeza continuará mais
centrada ainda este ano, pelo menos por mais algumas semanas.
Diante
dos desafios que a prova da Hungria está apresentando, fica a dúvida: veremos
uma boa prova no fim de semana, por conta dos novos pneus, ou será que teremos
mais uma corrida sem grandes disputas? Acho que só saberemos mesmo no domingo,
e espero que os novos pneus ajudem a deixar a competição mais agitada – no bom
sentido, claro. E brigas na pista nunca são demais...
Avisando a quem ainda não sabe: a TV Globo rifou a corrida húngara de
sua programação de domingo. A emissora carioca vai transmitir a missa do Papa
Francisco, que está no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude. Quem quiser
ver a corrida de F-1 precisará recorrer ao canal pago SporTV, que pelo menos
mostrará a prova ao vivo.
Lewis Hamilton venceu a corrida da Hungria no ano passado. Hoje na
Mercedes, o inglês demonstra não ter o mesmo entusiasmo de 2012, devido ao fato
de não se sentir “confortável” o suficiente no carro. O inglês também não pode
afirmar que lutará pela vitória, uma vez que a Mercedes não tem maiores
informações de como seu carro reagirá aos novos pneus, mas certamente a
situação mais adversa é da McLaren, que no ano passado venceu aqui com
Hamilton, e neste ano se contentará se puder marcar pontos, devido ao péssimo
rendimento do modelo 2013...
Nenhum comentário:
Postar um comentário