De
volta à seção Arquivo, trago hoje a coluna do dia 19 de julho de 1996, que
relatava as frustrações e decepções com os resultados apresentados no Grande
Prêmio da Inglaterra de F-1 daquela temporada, além dos acontecimentos vistos
no Grande Prêmio de Toronto da F-Indy, onde houve também uma tragédia durante a
prova. Fiquem agora com o texto, e boa leitura para todos. Na semana que vem
tem mais...
DECEPÇÕES E TRAGÉDIA
Terminado
o domingo passado, as etapas automobilísticas da F-1 e da F-Indy não
corresponderam muito às expectativas gerais do público e da mídia. Muito pelo
contrário, foram várias as decepções em ambas as provas.
Na
Fórmula 1, em Silverstone, tudo indicava que Damon Hill era o favorito para
vencer o GP de seu país. Entretanto, uma largada falha e uma suposta roda
bloqueada fizeram as expectativas da torcida inglesa, que lotou o autódromo inglês,
irem por terra. Erro de Hill ou falha mecânica do carro? A largada falha, sem
dúvida, fazendo o piloto inglês da Williams cair para a 5ª posição, e ter de
recuperar tais posições, ajudou a animar a expectativa de quem pensava que
veria apenas uma passeio do filho de Graham Hill. Jacques Villeneuve viu na
ocasião a chance de vencer a prova e foi abrindo vantagem. Hill adotara a
tática de fazer apenas 1 parada no box, e até sua rodada, vinha cumprindo bem o
seu papel; dali em diante, seria apenas repetir a performance exibida em outros GPs, quando
sempre foi mais constante e rápido que o piloto canadense. Mas não foi o que
aconteceu. Damon teve um das rodas dianteiras de sua Williams travada, e ao
fazer a Copse, saiu forte da pista, sem maiores conseqüências além do abandono.
Se a falha foi do carro, não importa: para a torcida, foi Hill quem errou e
ponto final, terminando de forma desalentadora o GP britânico.
Fora
o drama de Hill, a Ferrari também teve mais um dia de calvário: Michael
Schumacher desta vez conseguiu largar, ao contrário da França, mas foram apenas
2 voltas até as esperanças do bicampeão mundial ruírem novamente. Eddie
Irvinne, repetindo o que acontecera nas corridas anteriores, despediu-se
igualmente cedo da disputa, ainda nas voltas iniciais do GP. Fico imaginando o
que vai acontecer na próxima corrida se isso se repetir com Schumacher
novamente...
Jean
Alesi, que até agora é a maior estrela da Benetton, parece estar sendo um
piloto de pouco fôlego: fez uma largada relâmpago, e por pouco não assumiu a
liderança na arrancada para a curva Copse. O piloto francês até manteve um bom
trem de corrida inicial mas, na segunda metade da prova, perdeu muito
rendimento. O carro quebrou, é verdade, mas antes disso, Gerhard Berger, seu
companheiro de equipe, que largara bem atrás, recuperava terreno e estava
pressionando fortemente seu colega de time, cena que já vem sendo comum nas
últimas corridas. O pódio de Berger foi uma recompensa à persistência do
austríaco. Apesar dos boatos de sua dispensa pela Benetton ao fim do ano, já há
rumores de que a reação do piloto no campeonato podem inverter a querela. Quem
sai e quem fica na Benetton? Pode ser difícil dizer...
Outras
decepções em Silverstone: Pedro Paulo Diniz, mais uma vez andando à frente de Olivier
Panis, teve sua bela atuação novamente malograda por um motor estourado, como
na França. David Couthard não conseguiu se impor à concorrência, ficando na
sombra de Mika Hakkinem durante todo o fim de semana.
Mais
tarde, em Toronto, no Canadá, em etapa válida pela F-Indy, nada a se comemorar.
A concorrência, que imaginava-se todos, aplicaria o golpe final na liderança do
campeonato de Jimmy Vasser, acabou capitulando ao azar, que atingiu a todos
nesta prova. O único ponto positivo foi o de Christian Fittipaldi, o menos
azarado, que diminuiu sua desvantagem para Vasser, em apenas 1 ponto, muito
pouco para suas aspirações ao título. Em contrapartida, os demais perseguidores
do piloto americano da Chip Ganassi, Michael Andretti, Al Unser Jr., e Gil de Ferran,
não tiveram os resultados esperados. O piloto brasileiro e “little” Al tiveram
toques de carro na largada e perderam tempo precioso nos boxes reparando seus
bólidos. Estava perdida a chance de pontuar para ambos. Michael Andretti
parecia ser o vitorioso da contenda até o azar também acertá-lo. Tudo isso,
mais um satisfatório 8º lugar de Jimmy Vasser deram ao californiano boas e
renovadas perspectivas na luta pelo título, já que aproxima corrida é em
Michigan, onde o conjunto Reynard/Honda/Firestone foi imbatível na US 500, e
tudo indica que poderá haver uma reprise de tal desempenho.
O
brasileiro de maior destaque na prova também não conseguiu escapar do azar.
André Ribeiro conseguiu a pole-position, mas erros do piloto, e outros azares
durante a corrida, tiraram André da zona de pontuação. Para piorar o astral do
piloto, viu seu companheiro de equipe vencer a prova, sinal de que também
poderia tê-lo feito.
Outra
decepção já nem foi novidade: Raul Boesel mais uma vez ficou pelo caminho.
Confesso já ter perdido a conta de quantos defeitos surgiram no carro do
paranaense este ano. Duvido que outro carro tenha pifado tantas vezes, à
exceção do Eagle/Toyota de Juan Manuel Fangio II...
Já
o outro enunciado do título desta coluna, tragédia, foi o ocorrido nas voltas
finais do GP de Toronto de F-Indy. Uma fechada involuntária de Stefan Johnsson
acabou catapultando o Reynard/Toyota do americano Jeff Krosnoff para o ar. O
carro acertou o alambrado e uma árvore rente ao mesmo, bateu em um poste de
iluminação e caiu sobre a pista, dividido ao meio pelo forte impacto contra a
árvore. Krosnoff morreu na hora, e piorando a desgraça, dois fiscais de pista
postados por infeliz coincidência no mesmo ponto, foram atingidos pelo carro.
Um deles, Gary Arvin, de 44 anos, também morreu na hora, ao ser atingido na
cabeça. O outro fiscal, Bárbara Johnston, foi hospitalizada, mas já passa bem.
A cena foi apavorante, e todos os pilotos presentes no momento do violento
acidente por pouco não escaparam de sofrer também sérios ferimentos. Johnsson
acabou tonto com o impacto de parte do carro de Krosnoff, que despencou em cima
de seu bólido. O sueco, felizmente, não sofreu nada. André Ribeiro desviou
instintivamente e evitou colidir com o motor do carro do americano, que voou em
sua direção. Para isso, o brasileiro precisou seguir reto em uma curva,
afundando seu carro Lola/Honda na proteção de pneus. Émerson Fittipaldi também
foi atingido por destroços do carro de Jeff, mas os danos se resumiram à
suspensão e bico de seu Penske/Mercedes.
Já
é o segundo acidente com morte este ano nas categorias Indy: primeiro foi a
morte de Scott Brayton em Indianápolis, pela Indy Racing League. Agora, foi
Jeff Krosnoff. Não importa quem seja o piloto, depois de ver a morte de Ayrton
Senna, todo acidente, por menor que seja, me arrepia. E o do último domingo é
mais um ponto negro na história do automobilismo que vai ficar gravado na
memória de muita gente. E como vai...
Na Indy Lights, o campeonato está embolado. Guálter Salles, em sua 3ª
vitória consecutiva, diminuiu ainda mais a vantagem do líder do certame, David
Empringham. O canadense lidera com 117 pontos, mas o piloto brasileiro já soma
108. A desvantagem, que era de 22 pontos, despencou para 9. E Guálter promete
chumbo grosso nas 3 etapas que faltam. Ameaça real ou blefe? Empringham pode
não querer pagar para ver...
Eis uma das últimas “bombas” soltas no paddock de Silverstone: Damon
Hill, caso ganhe o campeonato, deve pedir cerca de US$ 34 milhões por dois anos
de salário para renovar com a Williams. Se isso for verdade, Hill irá repetir o
ocorrido com, Nigel Mansell em 92, quando o campeão também ficou desempregado
por querer aumento salarial, e foi para a F-Indy...
Outra fofoca nos bastidores do GP inglês: a Marlboro, depois de mais de
20 anos, deixará de patrocinar a McLaren. Se isso se confirmar, deixará a
equipe de Ron Dennis totalmente desfigurada visualmente para a próxima
temporada.
“Eu sou Michael Schumacher e não David Cooperfield.”, declaração do
bicampeão alemão à imprensa, depois do fiasco da Ferrari no Grande Prêmio da
Inglaterra de F-1. Schumacher diz que é um piloto, não um mágico, e não faz
milagres na pista...
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