Barcelona é a primeira pista europeia do campeonato. |
Hoje
os times da Fórmula 1 entram novamente na pista, após praticamente 3 semanas
depois da primeira fase do campeonato, com as 4 primeiras corridas disputadas
no Oriente. E o primeiro palco da fase européia do campeonato, de longe a minha
parte favorita do ano, é em Barcelona, circuito conhecido de cima a baixo e de
todos os ângulos por todos os times. E, conhecendo a fundo esta pista, as
escuderias prepararam um extenso pacote de mudanças nos carros para melhorar o
desempenho, depois de modificações apenas pontuais nas provas iniciais.
Gosto
muito das corridas na Europa, pois é aqui que se respira a verdadeira essência
dos Grandes Prêmios, onde se vê o público que realmente ama e curte a
categoria. Quase nenhuma corrida fora do Velho Continente permite sentir este
clima. Entre as pistas extra-Europa que mais curto estão Montreal, Melbourne,
Suzuka, e claro, Interlagos. Das pistas européias, só não curto muito
Hungaroring. E desnecessário dizer que depois de ter sido “destroçado”,
Hockenhein não é nem sombra do que já foi um dia, com suas longas e belas retas
no meio da Floresta Negra.
Em
Barcelona, por conhecerem muito bem a pista, este circuito é o palco perfeito
para se introduzir modificações de vulto nos carros. Com todos os dados do
circuito e do carro obtidos aqui na última sessão de testes ainda na
pré-temporada, as escuderias já tem uma base considerável de conhecimento para
comparar os desempenhos daqueles dias com o que poderão obter a partir de hoje
na pista. Há variáveis importantes a serem levadas na comparação, como a
temperatura, muito maior hoje do que em fevereiro, quando o frio impediu que os
times tivessem condições de experimentar tudo o que desejavam. Mas isso não vai
impedir as equipes de experimentarem muitas inovações.
E
hoje mesmo, ao fim do dia, todos os dados obtidos já terão sido transmitidos
pelos times às suas matrizes, na Itália e Inglaterra, com o fim de produzirem
novos aperfeiçoamentos que poderão ser introduzidos daqui a duas semanas, quando
todo mundo estará em Monte Carlo, ou no mais tardar em Montreal, pista mais
apropriada para se testar modificações importantes, uma vez que Mônaco é um
caso mais particular, por ser uma pista de rua, e onde ser ousado demais pode
ser arriscado, com os muros muito próximos prontos a receber pilotos mais
afoitos ou com algum problema que surja no carro que os faça atingir as muretas
e cause um prejuízo adicional ao fim de semana. Isso é feito em todas as
corridas, mas como estamos na Europa, onde os times estão próximos de suas
bases, a celeridade para destrinchar os dados e convertê-los em evoluções é
ainda mais premente, para que possam ser verificadas e implementadas já na
próxima etapa. E este ano, ainda temos os times correndo em duas direções ao
mesmo tempo.
Como
regulamento técnico de 2014 muda com a adoção dos novos motores turbo, alguns
times já estão centrando boa parte de seus esforços no desenvolvimento dos
carros da próxima temporada. Mas, ao mesmo tempo, precisam manter o foco em
desenvolver os carros atuais, a fim de garantir um bom campeonato. Quem já
começou o ano com um carro competitivo pode se dar ao luxo de visar mais o
modelo 2014, sem descuidar, claro, do carro 2013.
Por
outro lado, quem começou o ano ruim pode literalmente dar o ano como perdido e
já se focar no carro do ano que vem. Cedo demais? Sim, mas cada time tem seu
modo de pensar, e um carro que nasceu ruim vai demandar mais recursos para se
tornar competitivo, e o resultado não será tão proveitoso, pois a base técnica
irá mudar no próximo campeonato. É uma equação por vezes complicada, e nem
sempre dá para dizer qual é a melhor estratégia de ação.
Dentre
os times grandes, a McLaren, por exemplo, é quem começou o ano pior. Mas nem
por isso deixou de vir para a Catalunha com muitas mudanças a serem
experimentadas nos carros. A ordem é salvar parte do ano, mesmo que o título já
esteja totalmente fora de cogitação. E quem está disputando o título a fundo
até o momento, como Red Bull, Lótus e Ferrari, vai também dar tudo o que pode nas
atualizações a fim de não perder terreno.
E
no meio desta briga toda, ainda temos os pneus da Pirelli, que estão realmente
dando o que falar, mais uma vez. A fim de melhorar as atividades do fim de
semana, foi feito um acordo onde a partir de hoje, em todas as sextas-feiras,
todos os times terão um jogo extra de pneus por carro, geralmente os mais duros
disponíveis em cada GP, a fim de que as escuderias possam rodar mais tempo sem
se preocupar com a economia de compostos para o fim de semana. Como os compostos
mais macios estavam apresentando até um desgaste maior do que o esperado, ficou
muito incômodo ver os times tentando economizar borracha a qualquer custo,
mesmo sacrificando trabalho na pista. Um jogo extra não é muita coisa, preferia
que fossem pelo menos mais uns 3 jogos, mas já é um início de se tentar agitar
um pouco mais as coisas.
A
mudança só não foi melhor porque parte da proposta original, que visava que
este jogo extra fosse usado apenas pelos pilotos de teste em um dos treinos,
como forma de dar-lhes quilometragem e permitir-lhes exercer de fato a função
de “pilotos de testes”, acabou vetada por não ter conseguido aprovação de todos
os times. Mas, já que é assim, vamos em frente, por ora... Os pneus da fábrica
italiana ainda devem dar uma bela dor de cabeça para os engenheiros, e com
isso, a imprevisibilidade de como os carros vão se comportar com os pneus de
pista a pista está garantida por algum tempo. E em cada pista parece ter um
carro que se adapta melhor ao circuito, enquanto em outros, é outra escuderia
que vai melhor. Mas, a rigor, não vemos nenhum carro com perfil “dominador”,
embora a Red Bull, com duas vitórias no ano, queira quebrar um pouco essa
esperança.
No
ano passado, vimos aqui em Barcelona a grande surpresa do ano, quando Pastor
Maldonado fez a pole-position, depois de Lewis Hamilton ser penalizado por não
ter retornado aos boxes com seu carro, por causa do pouco combustível; e contra
todas as previsões, praticamente venceu a corrida espanhola de ponta a ponta,
surpreendendo a todos, ainda mais por ter chegado à frente de Fernando Alonso,
que duelou com o venezuelano a prova inteira sem conseguir superar o piloto da
Williams. Foi uma surpresa maior até do que a vitória da Mercedes na China,
pois o carro alemão já vinha mostrando potencial, que depois foi minguando
conforme a temporada avançava. Já a Williams mostrava ter feito um bom carro,
mas nada que sugerisse que pudesse disputar pódios, e muito menos vencer. E de
fato, no restante da temporada, o time nunca mais mostrou o mesmo brilho, e
Maldonado chegou a passar quase todo o resto do ano em branco, se metendo em
várias confusões na pista. Este ano, com a performance pífia da Williams, não
se vê esperança nenhuma de o time conseguir surpreender novamente.
O
que não quer dizer que não podemos ter algo inesperado. Quem sabe a Force
Índia, que vem demonstrando boa performance desde Melbourne, não consiga
desencantar? E mesmo a McLaren, que luta para melhorar, pode de um momento para
outro voltar a andar na frente. Ou a Mercedes, que já mostrou ter um carro
melhor em 2013, pode também conseguir sua primeira vitória do ano? Podemos ter
esperanças de vermos resultados inesperados, e a previsão de tempo deve ajudar
a deixar a situação mais enrolada para pilotos e equipes: a previsão aponta
chuva para hoje e até amanhã, o que deve deixar as escuderias com poucos dados novos
de acerto para a corrida.
Apesar
do bom clima do retorno da F-1 à Europa, devo dizer que o clima no paddock não
é totalmente otimista porque a economia espanhola está firmemente atolada na
crise que assola o continente nos últimos anos, e com um desemprego recorde,
com boa parte da população atolada em dívidas, e muita gente perdendo até suas
casas e todas as esperanças. Mesmo que Fernando Alonso vença a corrida de forma
arrasadora, isso pouco afetará a vida sofrida de muitos espanhóis, que
continuarão seu drama diário. E, vendo a opulência e luxo das equipes, que aqui
montam seus esplendorosos motorhomes (certo, eles estão mais comedidos do que
há alguns anos atrás, quando eram ainda maiores e mais luxuosos), ainda é uma
ostentação de riqueza que pode causar constrangimentos e revolta em quem está
com a vida economicamente arruinada ou em crise profunda.
A
F-1 precisa ter mais sensibilidade nestes momentos...
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