Pneus Pirelli 2013: ame, odeie, ou simplesmente resmungue... |
Findo
o Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1, mais do que o show de pilotagem de
Fernando Alonso, que venceu pela segunda vez no ano e se candidata como um dos
favoritos ao título da temporada, todo mundo só fica falando de como os pneus
estão “destruindo” a F-1, devido ao seu curto período de vida de utilização. Há
adjetivos mais moderados, e aqueles mais radicais, do tipo que “não assistem
mais F-1 porque os pneus roubaram a alma da categoria”, e por aí vai. Tem gente
que nunca está satisfeita com nada mesmo. E nisso se inclui alguns times da
categoria, como a Red Bull, que é quem mais está fazendo beicinho em cima da
durabilidade dos pneus, a ponto de fazer com que a Pirelli, fornecedora dos
compostos, admitir que irá efetuar mudanças nos compostos para a prova do
Canadá, daqui a algumas semanas.
De
fato, os pneus mais macios da fabricante parecem ter ficado mesmo muito pouco
duráveis. Chegou-se ao cúmulo de os pilotos tentarem de tudo para economizar
pneu para guardar para a corrida. De seu lado, a Pirelli apenas cumpriu o que
devia fazer, que era produzir pneus de comportamento mais “instável” a fim de
embaralhar a cabeça de pilotos e engenheiros das equipes, de modo a produzir
mais paradas e comportamentos inesperados, acabando com a previsibilidade das
corridas.
Certo,
ela pode ter errado um pouco na dose nos compostos mais macios, que ficaram
muito menos duráveis do que deveriam ser. Como conseqüência, a maior parte dos
pilotos precisou de 4 paradas para cumprir o GP de Barcelona. Honrosa exceção,
Kimmi Raikkonem, cujo carro da Lótus é um dos que mais bem trata os pneus,
saiu-se com 3 paradas, mas não teve ritmo suficiente para discutir a vitória
com Alonso na parte final da corrida. Certamente, é necessário fazer alguns ajustes
para que os pneus ganhem um pouco mais resistência, até porque tivemos alguns
pilotos tendo problemas com pneus furados, e até dechapados, o que poderia
significar um risco de segurança para os competidores.
Neste
aspecto, as críticas até se justificam. Mas vamos ser razoáveis. Tem havido
críticas não apenas descabidas, mas completamente irracionais por parte de
alguns. As mais ridículas vem de torcedores que afirmam que, depois do que
viram nos últimos tempos, “nunca iriam comprar pneus da Pirelli”, alegando que
são pneus que não prestam. Totalmente sem noção tal afirmação: a Pirelli produz
pneus de comprovada qualidade, e os compostos que a fábrica italiana produz
para a F-1 tem uma fórmula diferenciada, visando tornar os pneus menos
previsíveis para equipes e pilotos. São pneus feitos “sob encomenda” para
atenderem a determinados requisitos, criados há 3 anos, com o propósito de dar
mais ação e variáveis às corridas. Só um imbecil para achar que os pneus para
os carros de rua iriam ser iguais aos compostos de competição, na falta de
adjetivo menos educado. Não é assim que as coisas funcionam.
A
Red Bull reclamar que os pneus estão durando pouco é choradeira de barriga
cheia. A equipe dos energéticos tem um bom carro, mas ela não tem um monoposto
que trate os pneus da melhor forma. Mesmo assim, o time lidera o campeonato com
Sebastian Vettel, que já venceu duas corridas, e ambas as vitórias foram
conquistadas com boas performances, enquanto os concorrentes se debatiam com
problemas adversos, entre eles também a maneira de entender o funcionamento dos
pneus. Mais razão para reclamar tem a Mercedes, que tem um carro muito rápido
em classificação, mas que detona os pneus na corrida. A fábrica alemã não está
chiando com isso, muito pelo contrário, está mais interessada em descobrir uma
maneira de equilibrar seu carro de modo a não gastar tanto pneu.
Paul
Hembery, diretor da Pirelli, acabou soltando algumas declarações acaloradas
sobre a reclamação da Red Bull, acusando o time de querer a volta das corridas
“procissões” onde ninguém passava ninguém, e que mudar os compostos poderia
passar a sensação de que estariam mudando para favorecer apenas um time. Sua
irritação com a Red Bull e suas críticas tem razão de ser: basta lembrar que,
nos últimos dois anos, quando a Pirelli começou a fornecer os pneus, a equipe
austríaca arrasou a concorrência em 2011, e no ano passado, só deslanchou a
partir do GP da Bélgica, quando fez uma revisão no seu carro. Em outras
palavras, reforça ainda mais a imagem de choradeira de barriga cheia. Eles que
desenvolvam melhor seu carro e resolvam o problema, ora bolas. Ah, mas o “mago”
da Red Bull, Adrian Newey, é especialista em aerodinâmica, e não teria, segundo
alguns, idéias de como deixar o modelo 2013 mais “dócil” com os pneus. Ora
essa, será que o restante do grupo técnico do time não sabe fazer nada além de
seguir as indicações de Newey?
Há
quem diga que, ao admitir mudar os compostos, a Pirelli estaria cedendo às
pressões, e com isso, a Red Bull poderia ser a maior beneficiada. Pode ser que
sim, pode ser que não. Mudar os compostos é uma coisa, agora, se essa mudança
vai fazer os carros da Red Bull renderem melhor, é outra história. Nada garante
que os novos compostos, mais resistentes, atendam especificamente às
necessidades do time. Serem mais duráveis não quer dizer que ofereçam maior
performance. Pode-se dar o resultado inverso. Até certo ponto, torço para isso
acontecer, pois deixariam as corridas ainda imprevisíveis, com os times tendo
de descobrir, prova a prova, como acertar melhor as variáveis apresentadas
pelos pneus.
No
ano passado, conforme a temporada avançava, os times iam aprendendo a lidar com
os pneus, de modo que, depois das férias de agosto, a luta pelo título foi
ficando polarizada entre Sebastian Vettel da Red Bull, e a Ferrari com Fernando
Alonso. Mais experientes no uso dos pneus, os times passaram a acertar muito
mais nas estratégias e acertos dos carros, deixando as corridas mais
previsíveis, e menos diversificadas em termos de resultados. Se os pneus não mudassem,
o panorama das provas hoje seria muito menos inesperado, e mais “convencional”,
e por conseguinte, as corridas poderiam ser também menos emocionantes e com
menos disputas de posição.
E,
afinal, dizer que não podem andar tudo o que poderiam é algo que até tem sua
razão de reclamar, mas é preciso rever que, desde sempre, a F-1 sempre foi um
campo onde resistência X velocidade eram a equação-chave para se ter sucesso.
Antigamente, os carros quebravam muito mais, e não era raro alguns pilotos
pé-pesado, ficarem a pé por forçar demasiado o equipamento. Outros pilotos, de
trato mais fino na pilotagem, podiam não parecer tão rápidos, mas conseguiam
chegar ao final das provas com mais carro para disputar posições.
Alain
Prost, por exemplo, era um piloto que, de tão suave pilotagem, não parecia
andar rápido, mas foi um dos maiores vencedores da história. E ele apenas
“parecia” não ser rápido. Diferente imagem tinha Nigel Mansell, com seu estilo
“desembestado” de conduzir o carro, que ao mesmo tempo que impressionava pelo
modo de condução, que era estupidamente rápido, muitas vezes ficava a ver
navios pelo carro não agüentar o ritmo imposto. É um desafio que continua hoje
em dia, agora mais focado nos pneus, pois motores e câmbios, pelo regulamento,
para contenção de custos, tem que durar várias provas, então estes componentes
passaram a quebrar muito menos do que antigamente. Dizer que os carros não
andam mais rápidos por causa dos pneus é verdadeiro, mas querer dizer que não
dá para fazer o carro ser mais rápido sem degradar ainda mais os pneus é algo
totalmente falso. É apenas uma questão de saber trabalhar o carro. Então, mãos
à obra e tratem de acertar o ponto ideal. E depois, dizem que a F-1 não oferece
desafios técnicos... Talvez não como antigamente, mas há muitos desafios ainda
a serem enfrentados.
Espero
que a Pirelli acerte a dose e deixe os pneus mais duráveis, mas não menos
imprevisíveis. Isso é algo totalmente possível. E antes que digam que sou
contra a Red Bull, repito o que muitos já disseram e que tem gente que, na hora
de defender mudanças, esquece totalmente: os pneus são iguais para todos. Os
carros que se virem com os pneus. Tem quem consiga, e tem quem não consiga, mas
aí, é problema deles. Que botem seus engenheiros para trabalhar e descobrir
como tirar proveito das dificuldades apresentadas pela competição, e não ficar
chorando por que não consegue resolver o problema como os outros.
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