sexta-feira, 26 de abril de 2013

BANZAI, SATO-SAN



Sato reencontrou-se com a vitória em Long Beach, e quer entrar na briga pelo título da IRL.

            O Grande Prêmio de Long Beach, disputado domingo passado, válido pelo campeonato deste ano da Indy Racing League, foi uma corrida pródiga em disputas acirradas entre os pilotos, e como é normal em circuitos de rua, algumas disputas terminaram com os pilotos arrumando confusões uns com os outros, além de várias tocadas carro a carro, e com vários competidores ficando pelo caminho, seja por defeitos mecânicos, batidas no muro, e ou rusgas com outros pilotos. E, no meio de toda esta briga, eis que Takuma Sato surgiu para fazer história e se tornar o primeiro piloto nipônico a vencer uma corrida na categoria.
            E, não pensem que foi uma vitória fortuita, herdada quando os outros competidores se acidentaram. Nada disso, Takuma venceu por méritos próprios, fruto de uma pilotagem precisa e competente. E o mais incrível é que, numa corrida marcada por diversos incidentes entre os pilotos, o japonês, que já se envolveu em diversas estripulias na pista em sua carreira, não apenas passou incólume a tudo isso, como todas as disputas de posição que efetuou foram limpas e sem confusões. Uma vitória mais do que merecida para Takuma, que desde que estreou na F-1, já demonstrava ser um dos melhores pilotos japoneses que chegaram à categoria TOP do automobilismo mundial, mas nunca teve chance de brilhar de forma definitiva.
            Estreando na equipe Jordan no campeonato de 2002 da F-1, Takuma chegou com a reputação de rápido como poucos pilotos japoneses, mas infelizmente, também carregando a “maldição” de seus antecessores na categoria, de serem estabanados e se envolverem em confusões na pista. Ainda naquele ano, marcou seus primeiros pontos, com um 5º lugar justo no GP de seu país, o Japão, na pista de Suzuka. No ano seguinte, ficou praticamente fora do campeonato, e só não passou o ano em branco porque substituiu o canadense Jacques Villeneuve na equipe BAR, justamente na prova do Japão, onde fez uma boa corrida e marcou mais pontos, terminando a corrida em 6º lugar. Isso lhe valeu contrato para ser piloto efetivo da escuderia em 2004, onde fez sua melhor temporada na F-1, terminando em 8º lugar no campeonato, com 34 pontos, e conquistando seu primeiro (e único) pódio, na prova dos Estados Unidos, ao terminar em 3º lugar a corrida. Takuma já era considerado então o melhor piloto de seu país a chegar à F-1, e mostrava evolução em sua pilotagem, mostrando arrojo e velocidade, e se envolvendo muito pouco em confusões.
            Em 2005, infelizmente, a BAR teve um ano ruim, e isso afetou sobretudo Sato na escuderia, que não conseguiu apresentar as mesmas performances do ano anterior. Acabou terminando o ano apenas em 23º lugar, com apenas 1 ponto conqusitado. Isso o fez perder o lugar no time para 2006, onde novamente continuaria na F-1 graças ao apoio da Honda, que bancou a criação do time de Aguri Suzuki, que teria no compatriota o principal piloto da nova escuderia. Mas, como acontece com os times pequenos na F-1, mesmo os maiores esforços de Sato não foram suficientes para obter resultados significativos. Os carros eram pouco competitivos, e o orçamento, mesmo com apoio da fábrica japonesa, era escasso. Takuma ficou na escuderia até seu fechamento, o que ocorreu em 2008, quando a Super Aguri faliu após disputar as primeiras 4 provas do ano. Com o fim do time, acabou também a carreira de Sato na F-1, após 90 GPs, e 44 pontos acumulados. Nos anos seguintes, Sato tentou arrumar um novo lugar na categoria, mas sem obter êxito.
            Sua chance de renascer no automobilismo viria em 2010, quando mudou-se para a Indy Racing League, disputando o campeonato pela equipe KV Racing. Contando com o patrocínio da Lótus em seu carro, o intrépido japonês se viu arrumando muitas confusões nas corridas, terminando poucas provas, e finalizando seu primeiro campeonato na categoria americana em 21º lugar, com 214 pontos. No ano seguinte, ainda na KV, seus resultados melhoraram, e terminou o ano em 13º lugar, com 282 pontos. Passou a ser mais constante, e se envolveu em menos acidentes, mostrando mais adaptação à categoria. Em 2012, contratado pela equipe Rahal/Letterman, Sato mostrou muita velocidade, mas também voltou a se envolver em acidentes, inclusive um na volta final da Indy500, onde forçou passagem sobre Dario Franchiti e perdeu o controle do carro e as chances de um bom resultado, indo parar no muro. Seguiu-se um período de várias batidas nas corridas seguintes, sendo preciso que Bobby Rahal entrasse em cena para colocar a cabeça do japonês de novo no lugar, e fazendo-o reencontrar a concentração para terminar o campeonato em 14º lugar, com 281 pontos. De positivo, o piloto conquistou seus primeiros pódios na categoria, ao chegar em 3° lugar na etapa de São Paulo, e obtendo uma excelente 2ª colocação em Edmonton, no Canadá. Ficava a expectativa de que a qualquer momento, a chance de Sato vencer surgiria. Mas o piloto japonês acabou dispensado por Bobby Rahal, e precisou procurar outro time para 2013.
            Para este ano, Sato acabou contratado pelo time de A. J. Foyt, e desde a primeira corrida, o piloto vem mostrando uma excelente performance, tendo se adaptado muito bem na nova escuderia, onde é o único piloto, o que faz com que tenha atenção integral do time. Conquistou um impressionante 2º lugar no grid em São Petesburgo, logo na prova de estréia do campeonato, e terminou em 8º, não tendo feito uma estratégia de corrida mais condizente, mas mostrando do que era capaz. Na prova do Alabama, teve um desempenho apenas mediano, largando em 14º e terminando em 12º. Em Long Beach, fez uma boa classificação, largando em 4º, e desde o início, mostrou que estava ali para brigar pelos primeiros lugares, mostrando sempre um ritmo forte e constante. Curiosamente, foi na etapa do ano passado, em Long Beach, que Sato quase chegou a vencer pela primeira vez: o nipônico liderava a corrida mas acabou se enroscando quando foi ultrapassado por Ryan Hunter-Reay, e ambos rodaram, terminando em 8° e 6° lugares, respectivamente.
            Para Takuma, foi a redenção depois de mais de 10 anos após ter vencido pela última vez uma corrida em sua carreira. Em 2001, quando ainda disputava a F-3 Inglesa, o japonês venceu pela última vez, na etapa final daquele ano, em Silverstone, quando foi campeão da categoria, tornando-se o primeiro nipônico a vencer o mais prestigiado campeonato de F-3 do mundo, e credenciando-se para estrear no ano seguinte na F-1. De lá para cá, foi um longo caminho até reencontrar-se com a bandeira quadriculada na primeira posição, o que se tornou realidade em Long Beach. E Sato, empolgado com a vitória, não quer saber de moderar o apetite: ocupando a 2ª colocação na classificação do campeonato, atrás apenas do brasileiro Hélio Castro Neves, Sato quer entrar na briga pelo título da IRL.
            Talento para isso Sato tem, mas a disputa promete ser dura, e o maior revés que o japonês pode enfrentar é seu próprio time: a Foyt é um time médio, e no médio prazo, não tem condições de enfrentar com a regularidade necessária os times mais poderosos como Penske, Andretti, ou Ganassi. Mas nem por isso Sato pode deixar de sonhar alto: como a IRL é uma categoria onde os equipamentos são mais parelhos e equilibrados, se o time conseguir trabalhar bem e mantiver um ajuste fino do carro como conseguiu em Long Beach, Takuma pode sim entrar na briga pelo título, e isso não é nada impossível. Vencer pode ser outra história. E a Foyt precisa vencer principalmente seu péssimo retrospecto quando o assunto é vencer corridas: o último triunfo do time foi há mais de 10 anos, em 2002, quando o time chegou em primeiro na prova do Kansas, com o brasileiro Airton Daré. Na verdade, o time possui apenas 1 título em sua história na Indy Racing League, conquistado no ano de 1998 com o piloto sueco Kenny Brack. Méritos da conquista à parte, naquela temporada a categoria só possuía times sem maior expressão, tendo se separado da F-Indy há pouco tempo, e onde ficaram as principais escuderias da época.
            Hoje, com o fim da F-Indy, estes times que dominavam a categoria competem na IRL, e essa forte concorrência sem dúvida é um forte obstáculo para que o time do lendário Anthony Joseph Foyt Junior, nada menos do que 7 vezes campeão da F-Indy, assuma a condição de protagonista principal da luta pelo título. Mas, não é por isso que Takuma Sato vai desistir da briga. Fiel ao estilo obstinado dos samurais, e com a determinação dos lendários kamikazes que tanto temor provocaram nas Forças Aliadas na Segunda Guerra Mundial, o piloto japonês promete ir à luta com todas as suas forças, e se não encontrar um muro pelo caminho, podem apostar, ele vai dar trabalho mesmo. E será muito, mas muito bem-vindo nesta briga pelo título, que está precisando de novos protagonistas para balançar as estruturas da IRL.
            Banzai, Sato-San...

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