Razia ficou a pé... |
Luiz
Razia nem conseguiu entrar na Fórmula 1 e já saiu pela porta dos fundos. O
problema foi o mais básico possível: sem grana, sem carro. E os patrocinadores
do piloto baiano não conseguiram nem agüentar o primeiro mês apoiando seu
escolhido. Razia ficou resignado como pôde, afinal, conhece as regras, e sabia
que, se não pudesse dar conta da situação, pelo menos tenta manter um canal
livre para futuras conversas. Mas que seus planos para 2013 foram frustrados,
isso foram. Agora Luiz precisa ver o que fará neste ano, a fim de não ficar
parado. Para aqueles que acham que o piloto foi injustiçado, a verdade é que no
automobilismo nada é certo, e os bons dias muitas vezes costumam ser a exceção,
e não a regra. Mesmo quem está com a situação definida precisa ter um
planejamento metódico para que a situação continue estável, caso contrário,
pode sofrer este tipo de revés. Alguns podem ser previstos, outros não. No caso
de Razia, infelizmente sua situação desde o início era instável. Ou a situação
melhorava, ou isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. Na pior das hipóteses,
o ano de Razia pode ter ido inteiramente para o brejo, e isso é um prejuízo
considerável em termos de carreira, que precisará ser retomada, visto que seus
planos eram unicamente estar na F-1.
Razia
não é o primeiro a se frustrar na entrada para a F-1. A lista de pilotos que já
tentou a sorte na categoria máxima e “quebraram a cara” é longa, extensa, de
várias épocas, e de muitos países. O Brasil não é nenhuma exceção, e se tivemos
3 pilotos campeões mundiais que entraram para os anais da categoria como alguns
dos maiores pilotos de todos os tempos, também tivemos vários representantes
que nunca conseguiram dar mais do que alguns passos no circo. A lista dos que
conseguiram disputar temporadas completas já é maior, mas sem também nunca
passarem de “notas de rodapé” nas estatísticas.
Se
Razia, fazendo um trocadilho, acabou “rodando a baiana”, há que se lembrar de
outro brasileiro que também passou vexame quando tentou entrar na categoria
máxima do automobilismo: Ricardo Rosset. O ano era 1997, e Ricardo estreava,
junto com o italiano Vincenzo Sospiri, na nova equipe Lola, com um projeto de
patrocínio ousado da empresa de cartões Mastercard. Nos treinos para o GP da
Austrália, em Melbourne, que abria a temporada daquele ano, tanto Rosset quanto
Sospiri levaram um baile de todos os times, ficando a mais de 11s de desvantagem
do pole-position, e sem participar da corrida. Certo, todo mundo sabia que ia
ser difícil. O que ninguém esperava era que, ao chegar em São Paulo, para a
segunda corrida, o time fosse praticamente extinto, e isso com todo o pessoal
já aqui em Interlagos, com equipamentos e pilotos. A Lola, que teve uma
trajetória de altos e baixos na F-1, encerrava ali sua história na categoria,
com uma situação de mico que deixou muitos constrangidos. Se Rosset ainda
conseguiu, voltar à F-1 em 98, embora não tenha conseguido praticamente nenhum
resultado, assim como já havia feito em 1996, seu ano de estréia na categoria,
Vincenzo Sospiri nem isso conseguiu. Rosset praticamente perdeu ali seu ano de
competição, enquanto o italiano praticamente nunca mais seria considerado para
se tornar titular, tendo de se contentar em participar da Indy Racing League,
aposentando-se como piloto em 2001.
Mesmo
pilotos já com renome no automobilismo podem entrar numa tremenda fria, ou
causarem uma decepção completa. Cito os nomes de dois campeões da F-Indy para
exemplificar: em 1993, Michael Andretti, campeão da categoria americana em
1991, chegava à F-1 por um time de ponta, a McLaren. Em que pese o time inglês
não ser a potência que havia sido dois anos antes, ainda era um time de
primeira, e possuía um carro que era competitivo, embora não tivesse condições
de enfrentar a Williams, então um time praticamente imbatível. Apesar do
talento e arrojo de Andretti, o americano teve uma passagem apática pela F-1,
tendo como único momento positivo sua última prova na categoria, em Monza, onde
enfim mostrou suas qualidades e subiu ao pódio em 3° lugar. Na prova seguinte,
seu lugar já era ocupado por Mika Hakkinem, e Michael nunca mais falaria ou
seria falado na F-1. Envolveu-se em várias confusões, e não rendeu o que se
esperava. A comparação ficou ainda mais complicada quando seu companheiro de
equipe era Ayrton Senna, e o brasileiro, apesar do carro tecnicamente inferior,
desafiou a Williams em boa parte do campeonato, conseguindo até vencer
corridas. O filho de Mario Andretti também nunca se adaptou direito ao clima
diferente de trabalho na F-1, muito mais carregado, pesado e cheio de cobranças
do que o qual estava acostumado nos Estados Unidos. Michael voltou à F-Indy em
1994, onde voltou a vencer corridas, mas nunca mais sendo campeão na categoria.
Em
1999, era a vez de Alessandro Zanardi voltar em grande estilo à F-1. O italiano
teve uma passagem conturbada pela Lótus na primeira metade da década, em um
momento em que o time inglês vivia uma crise, e nunca conseguira mostrar do que
era capaz. Contratado pela Ganassi para disputar a F-Indy em 1996, Zanardi
brilhou no certame, sendo bicampeão da categoria em 1997 e 1998, detonando a
concorrência, e foi contratado por Frank Williams para capitanear seu time na
temporada seguinte da F-1 após perder Jacques Villeneuve. Apesar da Williams em
99 não ter um carro potencialmente vencedor, ainda era um carro competitivo,
mas Alessandro não conseguiu nem marcar um mísero ponto naquele campeonato,
enquanto seu companheiro de equipe, Ralf Schumacher, abocanhou nada menos do
que 35 pontos e alguns pódios. Nem mesmo o próprio Zanardi podia imaginar que
seu retorno à F-1 seria tão ruim assim. Tamanho vexame sepultou a carreira do
italiano de vez na F-1, e o Alessandro voltou novamente para a F-Indy, onde
infelizmente o destino não lhe foi muito mais feliz.
Nos
dias de hoje, a frustração é que o piloto, por mais talentoso que seja, precisa
ser ainda mais talentoso fora da pista. Razia pode ter feito tudo como achava
que devia, mas seu planejamento, tentando achar um suporte financeiro mais
firme e considerável, ou não foi bem feito, ou simplesmente não achou
interessados. O brasileiro pode ter tentado ir na base da sorte, mas isso está
muito difícil de acontecer. Nos velhos tempos, até poderia ter funcionado, mas
nos dias atuais, a situação ficou muito mais complicada, e os times, cada vez
mais desesperados por verba potencial. Mas Razia não é o único piloto egresso
da GP2 de 2012 a
ficar frustrado com sua situação: basta lembrar que Davide Valsecchi, que foi o
campeão do ano passado, sequer conseguiu também um posto de titular, tendo de
se conformar em ser piloto de testes da equipe Lótus, uma posição que
atualmente é mais decorativa do que efetiva. E enquanto isso, Estéban Gutiérrez
e Max Chilton, que não foram tão proeminentes quanto Valsecchi e Razia na GP2
ano passado, estão firmes como titulares na F-1 este ano na Sauber e na
Marussia. Se pelo talento não devessem estar lá, por terem sido em tese
superados por Razia e Valsechhi, pelo menos fizeram com mais competência seu
lobby financeiro fora da pista.
Para
a torcida brasileiro, a saída de Razia, lamento dizer, não faz diferença:
estaria na F-1, é verdade, mas a Marussia não é um time onde poderia brilhar,
tendo como maior mérito apenas bater o companheiro de equipe e, no máximo,
superar os pilotos da Caterham. No mais, apenas faria figuração, o que não
satisfaz os torcedores nacionais, que sempre foram e continuam muito exigentes
com nossos pilotos na categoria, tenham condições técnicas ou não de disputa. E
sobre tentar mostrar pelo menos serviço, ainda que nas limitações do time, para
se projetar para 2014, seria um plano totalmente sem garantias, lembrando que,
nestes 3 anos em que existiram, nenhum dos pilotos das equipes Caterham,
Marussia, ou Hispania, conseguiram fincar lugar na F-1. Bruno Senna ainda
disputou quase um ano e meio por Lótus e Williams, mas acabou dispensado para
2013, e isso porque ainda tinha muito patrocínio. Razia admitiu suas
limitações, mas precisava tentar. Sabia desde o início que o ano seria de fato
duro, e mirava mesmo tentar cavar um lugar mais condizente em 2014,
empenhando-se ao máximo neste ano para mostrar, com limitações ou não, o que
poderia fazer. Infelizmente, não deu certo, e agora, o jeito é tocar a vida pra
frente.
Boa
sorte a Razia em sua retomada de planos para 2013, e que tenha melhor sorte em
novos projetos de sua carreira...
É hora de fazer as malas e embarcar para o outro lado do mundo. Equipes
e pilotos da F-1 iniciam neste final de semana a longa viagem até a Austrália,
na Oceania, para o início do campeonato de 2013. Não existe melhor lugar para o
início do certame, com um povo acolhedor e que sempre soube fazer um trabalho
impecável de promoção de sua corrida. Uma prova que, aliás, pode mostrar
grandes surpresas, já que nenhum time conseguiu se entender a contento com os
novos compostos da Pirelli para este ano na pré-temporada. O campeonato promete
muita emoção e briga nas disputas. Se vai repetir 2012, só saberemos mais à
frente. Todos estão fazendo figa...
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