Hora de colocar os carros na pista. |
Chegou
a hora de mais um Campeonato Mundial de Fórmula 1. No momento em que esta
coluna estiver sendo lida no Brasil, os primeiros treinos livres já terão sido
encerrado no belo circuito montado dentro do Albert Park, em Melbourne. É a 18ª
edição do GP da Austrália nesta cidade, desde que passou a sediar o GP em 1996,
substituindo Adelaide, cujo circuito de rua sempre mostrou boas corridas
também, e há poucos dias atrás, sediou o início da V-8 Supercars, o principal
campeonato de corridas da Austrália. O clima de início de campeonato contagia o
público, jornalistas, equipes e pilotos, embora estes dois últimos tenham
chegado ao belo país da Oceania com certa dose de apreensão.
O
motivo foi que os testes da pré-temporada não permitiram aos times entenderem
completamente as reações da nova geração de pneus da Pirelli para este
campeonato. Atendendo a reclamações dos times, que tiveram problemas para
aquecer devidamente os compostos no ano passado, a fábrica italiana modificou novamente
seus compostos, produzindo pneus que, em teoria, agora devem atingir mais
rapidamente a temperatura ideal de performance, o que deve solucionar os
problemas que as escuderias enfrentaram em diversas provas do ano passado. Em
contrapartida, os novos pneus deverão apresentar uma durabilidade mais breve, o
que pode significar muitas paradas extras nos boxes, dependendo de como cada
piloto e carro interagir com os novos compostos. Até aí, nada demais.
O
problema é que, na maioria dos dias de testes, as escuderias enfrentaram as
baixas temperaturas do inverno europeu, e as duas sessões finais de testes,
realizadas na pista de Barcelona, ao invés de esclarecer, serviram para lançar
mais dúvidas sobre o comportamento dos pneus. Com as baixas temperaturas, os
compostos simplesmente não atingiram as temperaturas ideais de performance, o
que ocasionou um desgaste excessivo que surpreendeu e preocupou alguns times.
Nada que vá comprometer a segurança dos monopostos, felizmente, mas sem ter
idéias de como os pneus irão reagir no calor, os times iriam tentar tirar todas
as dúvidas nestes primeiros treinos livres na sexta-feira, procurando andar
tudo o que pudessem.
Só
que o tempo no fim de semana promete pregar peças no pessoal: a temperatura, se
não está fria, também não está aquele calor que era esperado: a previsão é de
temperaturas na faixa dos 20°, melhor que a dos testes, mas inferior à esperada
inicialmente, o que pode resultar em um comportamento incerto dos pneus. E como
desgraça pouca é bobagem, há previsão de chuva para o fim de semana, em
especial no sábado, o que deve complicar ainda mais as coisas. Os times tiveram
dois dias de chuvas na Catalunha para experimentar os novos compostos de chuva
da Pirelli, então, não se pode dizer que estarão em terreno desconhecido no que
tange ao comportamento dos pneus. Mas a pista do Albert Park costuma ser meio
particular no que tange ao desempenho dos carros, então, podem ocorrer supresas
inesperadas na parada. Bom para imprensa e torcedores, péssimo para os times e
pilotos, que partirão logo em seguida para Sepang, onde um calor abrasador nos
aguarda no fim de semana seguinte, onde todos os parâmetros testados em
Melbourne provavelmente não servirão para nada.
Todos
os times tiveram alguns empecilhos em algum momento da pré-temporada. O jogo de
esconde-esconde, habitual nestes dias, pode ter lançado dúvidas sobre quem está
mesmo em boa forma para disputar o campeonato. Cada time teve sua metodologia
de treino, e tentando sempre esconder o máximo possível suas condições uns dos
outros, é difícil dizer qual o patamar de cada escuderia. Um exemplo é o caso
da Mercedes, que terminou os testes da Catalunha com os melhores tempos, e
dando a entender que este ano vai entrar na luta pelas vitórias. O indicativo
dos testes é de fato animador, até porque o time de Brackley sofreu alguns
reveses na primeira sessão, em Jerez de La Fronteira. Só que no ano passado a
mesma Mercedes dava pinta de que poderia desencantar de vez na categoria, mas
após uma surpreendente vitória na China, onde Nico Rosberg também marcou a
pole-position, o time das três estrelas literalmente perdeu o rumo no restante
do ano.
Mas
é nos pneus que os times precisarão se concentrar mais. No ano passado, as
características dos compostos deixaram quase todas as escuderias passando boa
parte do ano tendo de decifrar seu funcionamento ideal. E, mesmo quando já
tinham dados suficientes para driblar o problema, os pneus ainda apresentavam
um comportamento inesperado em virtude das características da pista, e do clima
do momento. Isso ajudou a termos uma primeira metade de campeonato excepcional,
com 7 pilotos vencendo as 7 primeiras corridas, e sendo difícil apontar quais
seriam os favoritos. Na segunda metade do ano, especialmente depois das férias
de agosto, os times já tinham aprendido como usar melhor os pneus, e daí para a
frente, a competição não foi mais a mesma de antes. A situação pode se repetir
este ano, porque os testes de inverno, como Sebastian Vettel mesmo afirmou,
foram “inconclusivos”, o que significa que os times vão precisar aproveitar
como nunca os treinos livres dos primeiros GPs para tentar tirar o atraso, e
evitarem as situações enfrentadas em 2012.
Ao
mesmo tempo, parte do corpo técnico de todos os times já concentra esforços
para o novo regulamento técnico de 2014, quando veremos a volta dos motores
turbo à categoria. Vai ser um ano cheio para engenheiros e projetistas, com
duas frentes a serem encaradas durante o ano. Dependendo de como se comportarem
neste início de campeonato, o ritmo dos trabalhos deverá certamente sofrer
mudanças e redirecionamento de esforços. Na pista, isso pode ser muito
interessante, e quem sabe gerar muitas disputas.
De
minha parte, vou gostar mesmo de ver os treinos livres da sexta mais agitados.
Nada mais do que justo os times andarem tudo o que podem. A torcida sai
ganhando, vendo os bólidos em ação em um dia onde nada de muito importante
acontecia nos últimos tempos. Como esta coluna foi fechada antes do início
destes primeiros treinos livres de sexta, ainda não sei o que ocorreu, mas
todos esperam muita ação com os novos carros, os novos pilotos e os novos
pneus. E de preferência todos ao mesmo tempo...
Impossível quantificar a perda que o automobilismo nacional sofreu esta
semana com a morte de Wilson Fittipaldi. O “Barão”, como era chamado, foi um
exemplo de dedicação e profissionalismo, e mais do que nos legar nosso primeiro
campeão de F-1 – seu filho Émerson, que desbravou as fronteiras internacionais
para nossos pilotos nas décadas seguintes, foi um incansável incentivador das
corridas em nosso país, tendo sido um dos fundadores da Confederação Brasileira
de Automobilismo (CBA), que surgira para solucionar os desmandos do Automóvel
Clube do Brasil, que à época gerenciava o automobilismo nacional. O contato com
as corridas virou um vício para seus filhos Wilsinho e Émerson, e eles seguiram
carreira no meio, gerando frutos que se estendem até hoje. O que dá pena hoje é
que a CBA, entidade que ajudou a fundar, parece repetir atualmente os vícios e
problemas gerados pelo Automóvel Clube naqueles tempos. E o mesmo automobilismo
que Wilson ajudou a criar, hoje já não vive seus melhores dias, que ficaram
para trás. Uma amostra mais do que clara que homens como o “Barão”, mais do que
nunca, fazem uma tremenda falta ao nosso país, e não me refiro apenas ao mundo
do automobilismo nacional...
Wilson Fittipaldi tinha 92 anos, e desde o dia 25 de fevereiro já
estava internado no Hospital Copa D’Or, com complicações de saúde. Meus pêsames
à família Fittipaldi, e que o “Barão” possa descansar em paz, desfrutando do
sono dos justos. Sua missão foi cumprida com muita dignidade. Fica a esperança
de que nosso automobilismo volte a viver melhores dias, e que não esteja a
caminho do caixão também...
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