sexta-feira, 29 de junho de 2012

UMA VITÓRIA ÉPICA


            Uma hora a festa ia acabar, e o campeonato 2012 da Fórmula 1 iria ver fatalmente um piloto começar a repetir vitórias na atual temporada, depois de cravar 7 vencedores diferentes nas 7 primeiras corridas do ano, um recorde na história. Mas não faltou torcida para vermos um novo vencedor na oitava corrida, em Valência, domingo passado. E, por alguns momentos, houve até boas chances disso acontecer, mas em compensação, assistimos a uma exibição de pode ser considerada a maior zebra da temporada desde a corrida da Malásia, vencida de forma magistral por Fernando Alonso em uma Ferrari que nem de longe imaginava conseguir vencer naquela altura.
            E, por incrível que pareça, foi novamente Fernando Alonso a desafiar as possibilidades e se tornar o primeiro piloto a vencer mais de uma corrida na temporada, e conseguindo isso diante de seu público, os espanhóis, que mesmo não tendo lotado as arquibancadas da pista urbana de Valência, comemoraram como nunca esta vitória, com direito a homenagem do asturiano circulando pela pista com a bandeira de seu país, lembrando o gesto que Ayrton Senna gostava de fazer em algumas de suas vitórias. Ao parar depois da bandeirada diante de uma das arquibancadas, e saudar os torcedores, impossível não lembrar de outra vitória épica, também de Ayrton Senna, em Interlagos, 1993, quando contra tudo e contra todos, Senna obteve sua primeira vitória num ano que todos apostavam seria um passeio da então toda-poderosa Williams, cujos carros conseguiam andar até 2s por volta mais rápidos do que a concorrência mais próxima.
            A prova de domingo foi uma das melhores da temporada, e graças à combinação asa móvel/pneus Pirelli, a emoção neste campeonato tem sido garantida, com equipes e pilotos alternando resultados sem conseguirem estabelecer um nível exato de performance. Depois dos treinos classificatórios no sábado, ninguém no paddock da pista valenciana seria capaz de afirmar que a Ferrari, e Fernando Alonso, seriam capazes de lutar pela vitória. Muito pelo contrário, todos estavam desapontados com o ritmo e a performance de seus carros, que não foi capaz de levar nenhum de seus pilotos ao Q3. Na frente, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton ocupando a primeira fila, com um surpreendente Pastor Maldonado e as duas Lótus logo atrás, faziam prever um panorama onde o time italiano teria de ter sorte somente para conseguir somar pontos.
            Felizmente, como tem sido hábito nesta temporada, a corrida no domingo mostrou um panorama diferente do que todos esperavam. Tirando Vettel, que disparou na frente e logo abriu uma vantagem assustadora, todos os pilotos restantes estavam em luta direta uns com os outros. Alonso fez um excelente arranque e ganhou algumas posições, iniciando sua escalada rumo às primeiras posições. Com uma pilotagem agressiva e precisa, o asturiano galgou vários postos, até estar no lugar certo para aproveitar a intervenção do Safety Car, motivada para a limpeza de detritos de um enrosco entre Jean-Eric Vergne e Heikki Kovalainen. Isso detonou a vantagem de praticamente 20s que o atual bicampeão havia imposto sobre os adversários mais próximos, e na relargada, tudo indicava que o alemão da Red Bull iria deslanchar novamente. Mas Alonso, a esta altura, já havia subido para 3°, e logo após a relargada, partiu para cima de Romain Grossjean, o então 2° colocado, superando o franco-suíço sem mais delongas.
            Desnecessário dizer que a esta altura, cada ultrapassagem de Alonso na pista era comemorada nas arquibancadas como se fosse um gol em final de campeonato de futebol. E a cada posição ganha, a empolgação dos espanhóis aumentava, e não era para menos. Fernando chegava à 2ª posição, e partia para cima de Vettel. Um duelo difícil, dado o ritmo da Red Bull, que trouxe para Valência um novo conjunto traseiro com modificações aerodinâmicas que, segundo dizem, conseguem repetir o efeito gerado pelo duplo difusor, banido há duas temporadas, e que seria o principal responsável pela tremenda performance exibida por Vettel até então na corrida, e que deu ao alemão a vantagem de quase 0s4 na classificação. Na melhor das hipóteses, a Ferrari teria de se contentar com o 2° lugar. Mas, de repente, eis que a Red Bull passa a se arrastar na pista. A bela corrida de Vettel desfazia-se em um problema de alternador que deixou piloto e time transtornados.
            As arquibancadas quase vieram abaixo: Fernando Alonso era agora o líder da corrida, contra todas as expectativas até o início da corrida. Mas o triunfo na prova ainda estava longe: Grossjean vinha no encalço do asturiano, e tinha tudo para ser o mais novo vencedor da F-1, com um carro que tinha mais ritmo do que a Ferrari. O duelo entre ambos prometia. Mas eis que o alternador do motor do carro da Lótus, tal qual havia acontecido com Vettel, também deixa Romain a pé. Nova ovação nas tribunas: a principal ameaça a Alonso estava neutralizada. Agora seria questão de rumar para a bandeirada final e comemorar um triunfo inesquecível. Mas, como garantir que o que tínhamos visto em Montreal não se repetiria em Valência. Podia acontecer novamente de os pneus de Alonso se degradarem, ou podia não acontecer nada. Não havia garantias de nada.
            O espanhol nunca abriu muita vantagem para quem vinha atrás, provavelmente tentando preservar os pneus o máximo que podia. Para sua sorte, atrás dele, Lewis Hamilton, em duelo com Kimmi Raikkonem, degradou seus pneus, perdendo a posição para o finlandês da Lótus apenas a poucas voltas do final. Se não tivesse perdido tanto tempo atrás de Hamilton, Kimmi poderia ter complicado a vida de Alonso, pois estava muito rápido. Mas Alonso conseguia manter sua vantagem, apesar de pequena, estável, e Raikkonem já havia perdido parte de seus pneus no duelo com o piloto da McLaren. Outra ameaça potencial, Pastor Maldonado, que voava nas voltas finais, acabou não mostrando paciência na dose certa, e na colisão com Hamilton, arruinou as chances de um novo pódio para a Williams. Coube a Alonso cruzar a bandeirada, e fazer história novamente neste campeonato, que está tão recheado de excelentes corridas, que fica difícil dizer qual foi a melhor.
            Alonso agora lidera o campeonato, com 20 pontos de vantagem sobre Mark Webber, que fez uma bela prova em Valência e ocupa a vice-liderança, com 91 pontos, contra os 111 do asturiano da Ferrari. Ainda é cedo para afirmar que o espanhol torna-se o favorito ao título, pois ainda tem muito chão pela frente, e muitas corridas onde o panorama da competição pode mudar de uma prova para outra. Mas Fernando tem guiado como nunca, e num campeonato onde estamos vendo um equilíbrio e disputa ferrenha, diferenças como a que Alonso vem conseguindo na pista podem ser a chave para conquistar o título.
            Qualquer que seja o campeão este ano, será merecido, depois de assistirmos tantas provas de tirar o fôlego, com incertezas do início ao fim, e da ponta à última posição. Semana que vem, em Silverstone, é hora de vermos se o show continuará no nível atual. Até lá.

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O abandono de Lewis Hamilton, e a perda de posições de Pastor Maldonado premiaram Michael Schumacher em Valência com o 3° lugar, sendo o primeiro pódio do heptacampeão desde o seu retorno à F-1 há dois anos. Foi o 155° pódio da carreira do alemão, que havia subido pela última vez a um pódio em 2006, no GP da China, prova onde venceu pela última vez na categoria. O pódio, aliás, composto por Fernando Alonso, Kimmi Raikkonem (2°), e Schumacher, repetiu o visto no pódio do GP da França de 2005, com os pilotos nas mesmas colocações, mas em times diferentes. Na época, Alonso pilotava para a Renault, que é a atual Lótus, time atual de Raikkonem, que na época era piloto da McLaren. E Schumacher pilotava a Ferrari, time atual de Alonso. Schumacher enfim conseguiu acabar um pouco com o azar que o perseguia na temporada, e se alguém duvida que ele pode não estar no grid ano que vem, que comece a pensar melhor...

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Se Michael Schumacher conseguiu acabar um pouco com o azar que o perseguia, o mesmo não pode ser dito dos brasileiros, que em Valência tiveram suas provas conturbadas por encontros nada amigáveis com Kamui Kobayashi, que se envolveu em enroscos tanto com Bruno Senna quanto com Felipe Massa. O japonês da Sauber vai perder 5 posições em Silverstone por causa das estripulias aprontadas domingo passado.

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