Chegamos
a uma das etapas mais aguardadas do campeonato de Fórmula 1, o Grande Prêmio do
Canadá, e o fim de semana tem tudo para ser dos melhores. Primeiro, pelo fato
de a atmosfera da cidade de Montreal ser única, abraçando o seu GP como se
fosse uma grande festa. Não fosse o trabalho de promoção ímpar dos
australianos, os canadenses faturariam sem problemas o título de prova mais
festiva da temporada. E, para variar, o circuito Gilles Villeneuve, situado na
ilha de Notre Dame, uma ilha artificial localizada no Rio São Lourenço, que
corta a grande metrópole, oferece não apenas um visual bonito, mas também uma
das pistas que oferece mais emoções durante o campeonato. E nem comentei que o
clima costuma ajudar de vez em quando...
E,
no atual estágio do campeonato, com 6 vencedores diferentes em 6 provas até
aqui, as chances de vermos um 7° vencedor diferente são bem grandes. O traçado
da prova canadense é bem particular, misturando características de pistas
permanentes com as de um circuito de rua. Muitos trechos da pista possuem os
guard-rails e os muros muito próximos, como nos circuitos urbanos, e onde um
erro geralmente costuma ser fatal. Temos também um bom trecho de reta, que deve
ser muito apreciado pelos carros da Mercedes, com seu esquema de duto canalizador
de ar. Nico Rosberg e Michael Schumacher tem tudo para brilhar nos treinos, e
quem sabe, até aprontar uma surpresa na corrida, ainda mais depois da pole do
heptacampeão em Monte Carlo, em uma performance que lembrou os bons tempos de
Michael, apesar da punição que o relegou à 6ª posição. Por outro lado, para a
Ferrari, este trecho de alta velocidade da pista deverá ser complicado. Por
mais que o F2012 tenha melhorado, o carro ainda padece de baixa velocidade em
reta, e diminuir muito a asa traseira, a fim de compensar, não é uma boa idéia:
o circuito tem muitas curvas de baixa velocidade, onde toda a estabilidade será
necessária para se ganhar tempo. A jogada é simples: vai ser preciso fugir do
miolo para conseguir folga na reta. Se em Barcelona Fernando Alonso conseguiu
até se dar bem, em Montreal não há como garantir que o panorama vai se repetir.
Também
não há garantias de que a Ferrari poderá andar bem no Canadá. Em Mônaco, onde a
velocidade de ponta era baixa, e o principal era estabilidade mecânica, o time
rosso até que se deu bem, com seus dois pilotos. Mas em Montreal, a
estabilidade aerodinâmica volta a ditar o ritmo, e o F2012 ainda tem algumas
deficiências nesse quesito. Os técnicos de Maranello aprontaram um pacote de
modificações para a corrida canadense, que garantem ser mais um passo à frente
na performance atual do carro. Veremos nos treinos de hoje o quanto isso é
verdade.
Na
Red Bull, o clima é de aparente tranqüilidade, apesar de a FIA ter declarado
que os buracos feitos no assoalho próximos aos pneus traseiros estavam fora do
regulamento e não poderiam ser usados. O time desconversa e fala que eles já
estavam fora dos planos mesmo para a prova canadense. Pode ser verdade, como
também pode não ser. Como único time a vencer 2 vezes na temporada, e com
diferenças até mínimas entre as classificações no campeonato, todo detalhe pode
fazer a diferença, e aparentemente, esse já vai ser um detalhe que poderá fazer
falta, a não ser que Adrian Newey consiga tirar algum trunfo da manga. De qualquer
maneira, o time austríaco chegou a Montreal determinado a recuperar a vitória
que por pouco não conseguiu no ano passado, quando Sebastian Vettel perdeu a
corrida na última volta ao rodar sob forte pressão de Jenson Button, da
McLaren, que venceu após fazer uma corrida espetacular, que ficou ainda mais
apimentada devido à chuva. E Vettel, diga-se de passagem, está incomodado com a
forma com que Mark Webber está pilotando este ano, estando praticamente
empatados em número de pontos no campeonato. Para quem no ano passado deitou e
rolou sobre o companheiro de equipe, ele definitivamente não está muito à
vontade com isso.
Mas
quem não está mesmo à vontade com a situação atual é Jenson Button. Vencedor
nesta pista no ano passado, onde começou a se credenciar como favorito para o
vice-campeonato, o campeão de 2009 está apagado desde a corrida de início do
campeonato, na Austrália, onde venceu e deu até impressão de que poderia ser o
piloto a ser batido em 2012. Considerado o piloto que melhor sabia preservar
seus pneus sem deixar de ser rápido, o inglês, ironia das ironias, não está
conseguindo se entender com os novos pneus da Pirelli nesta temporada. Para
piorar a situação, um ponto que Button sempre afirmou que precisava melhorar,
que era a posição de classificação, está sendo um ponto fraco ainda mais
contundente este ano. Devido ao grande equilíbrio entre os times, as diferenças
que até o ano passado ainda garantiam a presença no Q3 agora estão sendo
cruciais para se perder a vaga na fase final do treino. E largando no meio do
grid, onde as disputas estão cada vez mais apertadas, pode comprometer
irremediavelmente a estratégia de corrida. Basta lembrar que em Monte Carlo
Button ficou preso atrás de uma Caterham durante boa parte da corrida, e na
tentativa de ultrapassar o concorrente, Jenson errou e acabou batendo, dando
adeus à prova.
Mas
a própria McLaren também precisa melhorar. Tida como melhor carro na Austrália,
a situação começou a degringolar nas corridas seguintes, a ponto de Lewis
Hamilton, até agora, não ter conseguido vencer, e nem sequer ser o favorito em
alguma corrida. Hamilton, por outro lado, está fazendo bom uso da regularidade
para marcar pontos importantes e evitar desgarrar-se dos ponteiros, mas é
imprescindível voltar a vencer para readquirir força no campeonato. A McLaren,
que no ano passado soube ser a principal força opositora da Red Bull, apesar da
supremacia desta, este ano parece não conseguir dar um direcionamento ao
desenvolvimento de seu carro. O time está se esforçando, mas até agora, os
resultados não surgiram como se esperava. Talvez aqui na pista canadense o time
prateado volte a deslumbrar na pista, pois foi aqui no ano passado que a
McLaren conseguiu sua segunda vitória, depois do triunfo de Hamilton na China.
E
a Lótus começa a perder um pouco o encanto. Andando sempre entre os primeiros
em várias corridas, o time pecou por ser conservador nas estratégias de pneus,
e com isso, uma potencial vitória até agora andou escapando dos carros negros.
E há quem diga que o clima na escuderia, depois do desempenho pífio de Mônaco,
já não seria exatamente tão empolgante quanto antes. Mas tudo pode mudar nesta
corrida, claro. E ainda não podemos deixar de considerar que Williams e Sauber
ainda podem voltar a aprontar, depois de não mostrarem praticamente nada na
última corrida. A verdade é que o campeonato está tão cheio de altos e baixos
que até o presente momento, não se pode descartar ninguém de uma provável
surpresa na corrida. Até agora, apenas Monte Carlo apresentou uma corrida
monótona, com pouquíssimas ultrapassagens, como convém ao traçado monegasco,
sempre propenso a favorecer corridas em fila indiana, mas essa certamente não é
a situação aqui em Montreal.
Se
mesmo nos tempos de corridas chatas e de poucas disputas este GP sempre
ofereceu um agito anormal, temos boas chances de vermos uma corrida das mais
interessantes no domingo, com algumas idéias a se tirar já nos treinos livres
que teremos hoje. Mas, independente dos treinos, fica valendo a pergunta mais
crucial: quem vai legar a corrida desta vez? Respostas na bandeirada
quadriculada na tarde de domingo, e não antes...
Scott Dixon conquistou em Detroit, semana passada, a segunda vitória
consecutiva da Chip Ganassi no atual campeonato da Indy Racing League. Se em
Indianápolis foi Dario Franchiti a encerrar a seção de azares na temporada, na
pista do Belle Isle Park foi a vez do neozelandês cravar pole e vitória,
mostrando que a Penske não irá ficar rindo à toa este ano. Embora Will Power
ainda lidere o campeonato, com 232 pontos, Scott Dixon está logo atrás com 206,
seguido de Hélio Castro Neves com 177 pontos. E neste final de semana, amanhã,
já temos mais uma corrida, à noite, no circuito oval de Texas Motor Speedway,
onde a Ganassi tem tudo para continuar tirando o sono do time de Roger Penske.
Quem achou que Power iria deslanchar sozinho no campeonato, que comece a se
preparar para ver uma briga das boas pelo título...
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