quarta-feira, 20 de junho de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – NOVEMBRO DE 1995 - 30.11.1995


            Dando sequência à publicação de minhas antigas colunas, trago hoje a coluna publicada no dia 30 de novembro de 1995, cujo tema era a entrada arrasadora da Brahma na F-Indy, associando-se ao time que havia sido campeão naquele ano, com Jacques Villeneuve. Como o canadense partia para a F-1 em 1996, o time teria direito a usar o número 1 em seu carro, e como o slogan da cerveja brasileira era ser a marca “N° 1”, o mote bateu bem em cima. Além de um patrocínio milionário, o projeto também havia contratado o brasileiro Raul Boesel para ser o piloto do time em 96. O visual do carro ficou lindo com as cores da cerveja nacional, e todo um esquema de promoção havia sido preparado para capitalizar a jogada publicitária.
            Como vimos um ano depois, a coisa infelizmente não deu muito certo, pelo menos em termos de resultado de pista, mas foi um tipo de jogada publicitária que não vemos mais nos dias atuais, onde patrocínios a nossos pilotos e projetos no automobilismo internacional praticamente secaram quase por completo, apesar de nossa economia ter crescido muito de lá para cá. Curtam o texto, e boa leitura...



A JOGADA NA NÚMERO 1


Adriano de Avance Moreno


            Semana passada foi dado o maior passo já feito por uma empresa totalmente brasileira no meio automobilístico, em termos de patrocínio, desde a criação da equipe Copersucar/Fittipaldi nos anos 1970. Foi anunciado o patrocínio milionário da Brahma, a maior indústria cervejeira do Brasil, e uma das maiores do mundo, à equipe Green Racing, campeã deste ano na F-Indy com Jacques Villeneuve. O anúncio foi feito junto com a contratação oficial de Raul Boesel como novo piloto do time para 96. Foi uma verdadeira bomba nos bastidores da F-Indy: todos esperavam que Raul renovasse com Bobby Rahal para 96, mas o piloto brasileiro optou por um novo desafio, e respaldado pela Brahma, fechou contrato com a equipe campeã de 95.
            A Brahma vai investir cerca de US$ 10 milhões na equipe Green em 96, e irá ocupar praticamente toda a carenagem, e a escuderia passará a se chamar oficialmente Green Brahma Racing, repetindo parcialmente uma operação realizada pela Benetton em 1985 na Toleman, na F-1. No ano seguinte, a confecção italiana adquiriu a equipe, que passou a se chamar Benetton. Mas a Brahma avisa: não adquiriu nem pretende comprar a Green. A cervejaria apenas ficou associada à escuderia, mas todo o controle fica a cargo de Barry Green, que seguirá comandando o time. A Brahma largou de vez a F-1 e agora vai centrar esforços na Indy, onde irá concorrer com 3 outras marcas de renome no automobilismo americano: a Budweiser, a Miller, e a Tecate. E, seguindo o exemplo destas, vai fazer do carro um verdadeiro out-door da marca, ocupando todo o espaço. E a Brahma vai fundo, especialmente com seu slogan publicitário de cerveja “Nº 1”: como a Green foi campeã este ano, Raul Boesel irá levar o Nº 1 em seu carro, já que Jacques Villeneuve foi para a F-1. Sem dúvida alguma, uma jogada de mestre. Além disso, a Brahma já renovou sua cota publicitária junto à TVS, para a temporada de 96, e planeja criar uma tribuna exclusiva para o GP brasileiro de F-Indy que acontecerá em 96, criando a “Torcida Nº 1”. Nunca antes uma empresa nacional investiu tanto num campeonato estrangeiro internacional desde que a Copersucar patrocinou a equipe de Wilsinho e Émerson Fittipaldi cerca de 20 anos atrás.
            Para Raul Boesel, ele agora tem a certeza de que irá finalmente disputar as vitórias, e quem sabe o título da Indy. A escuderia foi a mais eficiente este ano, tanto no lado estratégico como no nível mecânico, conseguindo 4 vitórias, sendo que uma foi em Indianápolis, e inúmeras poles-positions. Como Raul tem talento de sobra, a equipe deverá manter o nível vitorioso de 95, ainda mais que irá contar com uma nova versão do motor Ford turbo, desenvolvida para diminuir a diferença de potência para os Honda, com vários HPs a mais no topo de potência.
            E o piloto brasileiro já começou a mostrar a que veio: no primeiro teste que fez com o Reynard/Ford utilizado por Jacques Villeneuve este ano, Raul barbarizou. O teste era apenas para Boesel conhecer os mecânicos, engenheiros e o chassi Reynard, com o qual nunca tinha tido contato, e de cara, fez 44s no circuito misto de Firebird, contra os 43s9 obtido por Villeneuve em seu último teste. Uma marca excepcional, que deixou todos da equipe Green espantados, pois Boesel apenas estava conhecendo o carro, sem exigir tudo o que podia, enquanto o canadense já tinha 3 anos na equipe e conhecia o carro e todos os seus segredos.
            Raul fez questão de frisar que se impressionou com o desempenho do carro, mas não forçou muito. Isso desenha um panorama otimista para 96 e podem apostar que, se o novo carro Reynard for bom, Boesel vai dar muito o que falar na próxima temporada. No campo promocional, a Brahma já começou a trabalhar, criando uma série de novos comerciais, cuja maioria só irá ao ar em 96, utilizando Raul como novo garoto-propaganda. Mais do que nunca, será frisada a característica da cerveja “Nº 1” com o time “Nº 1” da Indy. E, o melhor de tudo, disputando o título. Não há dúvidas: este foi um tiro muito bem planejado e tem tudo para garantir um alto retorno. Alguém duvida?




Boas novas nos testes realizados por Ferrari, Williams e Benetton no circuito do Estoril, em Portugal: houve muita igualdade nos tempos obtidos, o que desenha um panorama animador para 96. Jean Alesi, Michael Schumacher e Jacques Villeneuve deram muito empenho em seus testes. O filho de Gilles conseguiu o melhor tempo entre todos, pilotando a Williams. Alesi também andou muito rápido com a Benetton, carro campeão de 95, enquanto Schumacher conseguiu bons tempos, mas se debateu muito com problemas em sua Ferrari, entre os quais, dois motores V-10 novos quebrados.




Ponto negativo no Estoril: Gerhard Berger destruiu sua Benetton ao bater forte na curva Parabólica depois de algumas voltas. O motivo: o austríaco admitiu que, se não forem tomadas providências no projeto do novo carro da equipe, não irá conseguir pilotar a contento. O carro foi concebido para o estilo de pilotagem de Schumacher, e não funciona direito com os outros pilotos. Embora Alesi tenha conseguido andar forte com o modelo, já avisou que ele é nervoso demais nas curvas, o que o preocupa...




Berger não é o primeiro a falar mal do comportamento do carro da Benetton. Johnny Herbert, que foi o segundo piloto do time no mundial de F-1 deste ano, também já desandou a falar mal do carro, dizendo que tudo o que a equipe fazia era para privilegiar Schumacher, sendo até o carro concebido unicamente para o estilo de condução do alemão. Herbert não gostava das reações nervosas do carro, bem ao estilo preferido de Schumacher, e por causa disso não conseguia ter boas performances na pista, pois se forçasse demais, sofreria um acidente. Sem dúvida, a Benetton vai ter o que pensar sobre isto...




Tony Kanaan barbarizou em seu primeiro teste com o carro da Indy Lights: baixou o recorde oficial da pista de Willow Springs, na Califórnia, em 0s5, deixando Alier McNish, proprietário do carro, de queixo caído e com a certeza de nunca ter visto um piloto igual.




Detalhe importante: o recorde extra-oficial da pista californiana tinha sido obtido na semana anterior por outro brasileiro: Guálter Salles, e ele também ambiciona correr na Indy Lights em 96. Quem será que vai querer ficar com estas duas novas feras brasieiras? Rola um boato que metade dos times da Indy Lights estão disputando este direito...




A Forti Corse já comunica: na próxima semana, assina contrato de uso exclusivo do motor Ford Zetec-R V-8 para a temporada de 96 da F-1. A Sauber, time oficial da Ford este ano, vai usar o novíssimo Zetec-S V-10.




Pedro Paulo Diniz deve fechar em breve o contrato com a Ligier para disputar a temporada de 96 de F-1. Seu maior cacife é o polpudo patrocínio de cerca de US$ 7 milhões da Parmalat. Enquanto isso, Gil de Ferran teve seu nome cogitado pela Mercedes e pela Phillip Morris para substituir Mika Hakkinen na McLaren, caso o finlandês não se recupere do acidente sofrido em Adelaide. Seu nome também foi cogitado pela Ligier, com indicação de Bernie Ecclestone. Mas Gil, que tem um bom contrato acertado com a Hall Racing, deve continuar na F-Indy, onde já é considerado um dos favoritos ao título de 1996...

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