sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

BARRICHELLO E A INDY

            Um dos assuntos do momento no mundo do automobilismo neste início de fevereiro tem sido a possibilidade de Rubens Barrichello ir para o campeonato da Indy Racing League. A possibilidade, tratada como muito provável quando saiu a notícia do teste que o brasileiro, recordista de participações na F-1, com 19 temporadas, iria fazer com o carro da KV Racing, a pedido de Tony Kanaan, e com total consentimento de Jimmy Vasser, um dos donos do time, assumiu ares de quase certeza após o resultado de dois dias e meio de treinos na pista de Sebring, no Estado da Flórida. Praticamente novato no conhecimento do circuito, e em relação ao novo chassi DW12 produzido pela Dallara, que será adotado como equipamento padrão da categoria para este ano, Barrichello surpreendeu a todos com sua performance.
            No primeiro dia, achando o “caminho das pedras” na pista e conhecendo as reações do carro, Rubinho ficou apenas 0s14 atrás de Kanaan, que já tinha maior experiência no contato com o chassi, pra não falar de mais de uma década conhecendo a pista da Flórida, tradicionalmente utilizada para testes desde a antiga F-Indy. Ao fim do segundo e último dia de testes, veio a notícia de que Barrichello “ganhara” mais um dia para testar o carro da categoria. Passando para o chassi de número 11 do time – até então, Rubens andara com o carro de número 5, que no dia seguinte passou para o venezuelano Ernesto Viso, Barrichello praticamente encerrou sua participação nos testes coletivos de Sebring com a melhor marca, colocando quase 0s2 sobre o segundo colocado do dia, Hélio Castro Neves, da Penske. A partir daí, o assunto passou a ser apenas quando sairia o comunicado “oficial” da transferência de Rubens para o campeonato Indy deste ano.
            Barrichello assombrou a todo mundo nos dois dias e meio em que esteve na pista. Dentro e fora do carro. A troca de informações do brasileiro com os engenheiros foi extremamente proveitosa, e de novo, Rubinho impressionou todo o time com o seu feedback técnico. Todos os outros pilotos puderam sentir a velocidade do “novato”, e mostraram-se extremamente amistosos e empolgados com a possibilidade de contarem com o veterano da F-1 no campeonato deste ano. Um ambiente muito diferente do visto na F-1, muito mais camarada, aberto, e por sinal, autêntico e salutar do que os ares herméticos, desconfiados, e raivosos que rondam os boxes da categoria máxima do automobilismo. A importância da possibilidade de Barrichello vir para a categoria fez até Randy Bernard, dirigente da Indycar, deslocar-se para Sebring, para acompanhar as atividades do brasileiro, e dar seu total apoio para a provável vinda dele para disputar o campeonato, o que daria uma grande divulgação da IRL no meio automobilístico.
            Rubens, claro, gostou da experiência, e já está buscando viabilizar sua participação. A resposta deve sair em alguns dias, e além de garantir patrocínio para a empreitada, teria uma tarefa mais complicada pela frente: convencer a esposa Silvana a deixá-lo competir nas pistas ovais, onde pediu que ele jurasse nunca correr. Este pedido já vem de longa data, e depois do que se viu em Lãs Vegas no ano passado, ninguém pode condená-la pelo temor de ver o marido sofrer um acidente neste tipo de pista. Com sua carreira na F-1 praticamente terminada, embora ainda diga haver possibilidades para o futuro, o ano de 2012 parece ser mesmo destinado à Indy. Piloto e categoria ganhariam muito com a entrada de Barrichello no certame.
            Guardadas as devidas proporções, Rubinho poderia promover na IRL o mesmo que Nigel Mansell fez em 1993 quando disputou o campeonato da antiga F-Indy. Destratado pela Williams em 1992, onde foi campeão com 5 corridas de antecedência, o “Leão” encontrou abrigo na equipe Newmann-Hass, e assinou contrato para ser o companheiro do veterano Mario Andretti na temporada seguinte. Com isso, a F-1 ficava sem o seu campeão de 92 defendendo o título na temporada seguinte. A Williams não se incomodou muito: tinha ainda o melhor carro da F-1, e passaria a contar com Alain Prost. Muitos já davam o título de 93 por decidido, dada a supremacia da equipe de Frank Williams e a falta de competitividade que a F-1 experimentara em 1992.
            Os olhares de meio mundo do automobilismo voltaram-se então para o campeonato da F-Indy, para onde Mansell havia migrado. E o “Leão” chegou mostrando as garras, fazendo a pole-position e vencendo a prova inaugural, em Surfer’s Paradise, após um duelo renhido com Émerson Fittipaldi, uma das grandes estrelas da categoria. Mansell já estreava mostrando a que tinha vindo, e os pilotos de ponta da F-Indy que se preparassem. Na prova seguinte, na pista oval de Phoenix, a impetuosidade do “Leão” o fez sofrer o seu pior acidente na temporada. Impedido de disputar a corrida por ordem médica, Mansell estava de volta na prova seguinte, a Indy500. Mostrou que havia aprendido a lição dos ovais, e ficou em 4° lugar. Mas em Milwaukee, largou na pole e venceu a prova. Os ovais não eram mais problema. Tirando partido do excelente conjunto do chassi Lola T9300 e do eficiente motor Ford XB V-8 turbo, o único em condições de brecar a escalada de Mansell rumo ao título da categoria era Émerson Fittipaldi, ao volante do Penske PC22 equipado com motor Chevrolet V-8 turbo, reconhecido com o melhor carro daquele ano. O duelo durou até Nazareth, penúltima etapa do campeonato, onde Mansell conquistou sua 5ª vitória no ano e o título da categoria. Fechou o ano com 191 pontos, 5 vitórias e 7 poles. Émerson foi o vice-campeão, com 183 pontos, com 3 vitórias e 2 poles.
            O sucesso inicial de Mansell inundou a categoria de jornalistas europeus. Maior ídolo do automobilismo inglês da década de 1980, seus fãs praticamente seguiram sua empreitada na categoria americana, e os índices de audiência da categoria no Velho Continente dispararam. Com algum exagero, disseram que iriam até superar a da F-1. Não chegou a tanto, mas a F-Indy ficou mais conhecida do que nunca. Suas corridas, com mais disputas, equipes e pilotos em condições de vencer provas e o campeonato, em contrapartida com uma F-1 onde a Williams dominava, e as demais apenas sobravam na disputa, eram o chamariz perfeito para quem curtia o bom automobilismo, onde o que vale são as disputas na pista. Alguns anos depois, a categoria chegaria até à Europa, com etapas disputadas na Inglaterra e na Alemanha, em pistas ovais. O “boom” desencadeado por Nigel Mansell duraria praticamente uma década, onde a F-Indy passava a ser uma concorrente potencial para a F-1.
            Rubens Barrichello, contudo, não foi campeão da F-1, assim como a IRL nem de longe é o que era a antiga F-Indy. Mas o brasileiro é um nome conhecido do grande público que curte automobilismo de monopostos, e a IRL, que tenta encontrar seu caminho, ganharia visibilidade com a presença do recordista de GPs da F-1 em seu grid de largada. Para Rubinho, seria a chance perfeita de continuar sua carreira, em um certame mais equilibrado e disputado, sem as picuinhas políticas que cercam a categoria européia. O momento também seria ideal para Barrichello: todos os times estão começando seus trabalhos com o novo chassi DW12 da Dallara, assim como os novos motores V-6 turbo, em substituição aos antigos chassis usados até 2011, e os antigos motores V-8 aspirados. Sua única desvantagem seriam os circuitos, todos desconhecidos para ele. Mas, como mostrou em Sebring, ele não teria muitas dificuldades para se adaptar aos traçados. E mesmo os ovais, com cuidado, e tato, poderiam ser desvendados sem maiores celeumas.
            Mas, vamos devagar com as expectativas também: Rubens disputar o título seria uma possibilidade até real, uma vez que a competitividade da categoria é bem maior, com menos discrepâncias de performance entre os times. A KV, por sua vez, é um time que ainda não tem a estrutura de uma Ganassi ou Penske, os maiores times da categoria. Mas isso não quer dizer que ela não possa entrar na briga. A KV cresceu muito em 2011, graças a Tony Kanaan, que ajudou a elevar o status da escuderia comandada por Jimmy Vasser e Kevin Kalkhoven. Faltou vencer, mas Kanaan conseguiu alguns pódios, e terminou o campeonato entre os primeiros colocados. E este ano, com todos os times usando novos carros e motores, ninguém pode garantir que Penske e Ganassi continuem dominando como fizeram nos últimos anos. Na luta para descobrir os melhores acertos dos novos carros e motores, podem surgir surpresas na disputa, ajudando a embolar a competição, com possíveis novos vencedores de corridas e até na luta pelo título. E a KV poderia ser um destes times a surpreender na competição.
            E é aí que a grande experiência e feedback de Barrichello poderiam fazer a diferença. Tony Kanaan é o mais empolgado com a perspectiva de ter Rubinho como companheiro de equipe: ambos são amigos de longa data, e Kanaan teria em seu compatriota alguém confiável para dividir o trabalho de desenvolvimento do carro, tarefa que ele teve de desempenhar nos últimos anos na Andretti e no ano passado na própria KV, mas sem ter a mesma contraparte de seus colegas de time. E Jimmy Vasser sabe que, se puder contar com Barrichello, as chances de sua escuderia surpreender seriam muito maiores. Ele conhece a capacidade comprovada de Kanaan, e Rubinho seria um aporte considerável. E a Chevrolet, que fornece os motores do time, também estaria muito interessada em ver Rubens competindo com seus propulsores. Vasser e Kalkhoven já estariam empenhados em conseguir apoio financeiro para um terceiro carro, com Rubens já estando empenhado na mesma tarefa aqui no Brasil.
            Para a IRL, seria a chance de conseguir espaço em definitivo no Brasil, onde nunca conseguiu suplantar a preferência da antiga F-Indy. Com o fim desta, o maior entrave para a popularização da categoria em nosso país é o tratamento capenga que suas corridas têm do grupo Bandeirantes, que detém os direitos de transmissão, com as provas sendo transmitidas de maneira sortida entre os canais aberto e pagos do grupo, sem um esquema fixo. A ida de Barrichello poderia forçar a emissora a adotar um tratamento mais condigno, de forma a aproveitar e capitalizar a oportunidade que se apresentaria. E a Indy300, etapa brasileira, marcada para o fim de abril, ganharia desde já um apelo fortíssimo.
            Mas, nada de expectativas exageradas: disputar o título seria uma possibilidade, mas ainda não é uma certeza. Já há torcedores de Rubens apregoando até que ele venceria o campeonato. Vamos devagar com a coisa. Barrichello lutar pelo título seria muito bom, mas não se esqueçam que a KV também tem Tony Kanaan, e se Rubinho for à luta pelo título, seu amigo baiano não iria ficar fora da luta. Mas seria ótimo vermos ambos disputando as vitórias, e quem sabe até o título. Mas, no momento, é aguardar para ver se Rubens irá mesmo disputar o campeonato da IRL. Depois que tivermos a resposta a esta pergunta, podemos começar a pensar nas corridas, e quem sabe, no campeonato...

Um comentário:

Anônimo disse...

“Pachecada, segurem o oba-oba, no momento o Brasil não esta “apitando” nada na F1 e nem mesmo na F.Indy, apenas participamos das categorias”

Abaixo quem dominou a Formula Indy 2011!

Lembrando que, o líder por mais voltas leva pontos(acho que o pole também) esses pontos fazem muita diferença na tabela, todas as equipes em 2011 correram com motor Honda e chassi Dallara. A prova de Las Vegas foi cancelada pela morte de Weldon, logo, só valeu a pole que foi de Kanaan. Em 2011 foi um ano muito ruim para os brasileiros, mesmo com Castro Neves correndo no mesmo time de Power, a forte Penske.
Kanaan pouco pôde fazer ele corre na mediana equipe KV(imaginem Rubens entrar sem conhecer nada e em equipe mediana, 2012 é um ano de aprendizagem). Rubens pode até vencer uma ou outra corrida na base da “loteria” como aconteceu com: Conway, Weldon,Andretti, Carpenter e Hunter-Ray. O mais importante nesse ano é Rubens não cometer muita pixotada como aconteceu nos tempos de F1, se mostrar serviço o resto vem com o tempo.

No momento 3 pilotos tomam conta da Indy, o tetracampeão Franchitti e o bicampeão Dixon que correm pela fortíssima equipe Ganassi.

Também quem fez bonito foi Will Power grande sensação dos últimos anos(muito fera em pista mista, teve problemas nos ovais, mas agora vai para seu terceiro ano de Indy, deve melhorar muito). Isso já mostra que Rubens não vai ter vida fácil, vai levar tempo pra pegar a “mão” nos ovais, e vitórias nessas pistas são importantes na briga pelo título. Franchitti foi campeão várias vezes muito graças a regularidade, é piloto pra vencer corridas e títulos. Notem abaixo que, Power fez mais poles liderou e venceu mais, mas acabou vice-campeão. A Falta de experiência em ovais fez falta pra Power ser campeão.

Poles:
Power,8
Franchitti,2
Dixon,2
Tagliani,2
Kanaan,2
Sato,2

Líder por mais voltas:
Power,7
Franchitti,6
Dixon,3
Briscoe,1

Vencedor:
Power,6
Fhanchitti,4
Dixon,2
Conway,1
Weldon,1
Andretti,1
Hunter-Ray,1
Carpenter,1

Boa sorte ao Rubens, e “peloamordedeus” não caía que nem pato no oba-oba da Band.

Off: Diário Oficial

“Proibido pronunciar o nome jet-ski no Brasil, agora só pode dizer moto aquática”