quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

ARQUIVO PISTA & BOX – OUTUBRO DE 1995 – II

            Mais uma sessão “Arquivo” para os leitores. Nesta coluna, lançada no dia 13 de outubro de 1995, o tema é Nigel Mansell, que acabava de lançar uma autobiografia no Reino Unido. Um dos destaques do livro era de como a carreira do piloto inglês na F-1 foi “atrapalhada” por uma dupla de pilotos brasileiros. O livro, infelizmente, nunca acabou sendo lançado por aqui, estando disponível ainda em sua edição original em inglês. Fiquem agora com o texto da coluna na época, e boa leitura...
 
A VIDA DE MANSELL

Adriano de Avance Moreno
            Nigel Mansell, quem diria, acaba de lançar sua própria autobiografia! O lançamento foi feito no fim da semana passada na Inglaterra com muita pompa. Não é pra menos, afinal, Mansell é o britânico com mais vitórias na F-1 e seus fãs enlouqueciam em Silverstone com suas vitórias em casa.
            Até o torcedor brasileiro pode gostar de ler este livro. Se há uma coisa em que Mansell faz questão de frisar em sua autobiografia são os brasileiros que encontrou pelo seu caminho. Vale a pena ver como nossos pilotos foram vistos pelos seus rivais.
            Mansell declara abertamente que sua carreira poderia ter sido ainda melhor se não tivesse encontrado certa “dupla” brasileira nas pistas, que atrapalharam e muito os planos do inglês. Nem é preciso mencionar nomes: todo mundo já sabe quem são! Para os brasileiros, ver as “encrencas” que nossos pilotos arrumaram com Nigel Mansell ao longo de sua carreira já vai valer a pena ler o livro. É claro que isso apenas quando o mesmo chegar por aqui. Por enquanto, ele ainda não está disponível nas livrarias brasileiras.
            Verdade seja dita: a carreira de Mansell poderia ser ainda mais vitoriosa se ele não encontrasse os brasileiros em seu caminho nas pistas. Mas Mansell é um daqueles pilotos que, apesar de terem todo o talento de um verdadeiro campeão, tiveram o azar de correr na mesma época que verdadeiros supercampeões. Foi o caso de Mansell, que encontrou pela frente Alain Prost, Ayrton Senna, e Nélson Piquet, campeões consagrados da história da F-1. Casos assim não são novidade na F-1. Stirling Moss, por exemplo, foi 4 vezes vice-campeão de F-1. Seu problema para ser campeão chamava-se Juan Manuel Fangio, e apesar de todo o seu talento, a situação foi parecida, com o agravante de Mansell não terem sido apenas 1 oponente, mas 3 deles. Sempre que 1 ou 2 estavam fora de combate, lá estava o terceiro para complicar as coisas para ele.
            Mansell não era um piloto vencedor no início de sua carreira na F-1. Tinha talento e garra, mas sempre acontecia alguma coisa que o deixava sem o gosto do topo do pódio. Mansell só foi receber a bandeirada quadriculada em primeiro lugar no GP da Europa de 1985, na Williams. Ainda naquele ano, venceu o GP da África do Sul, em Kyalami. Em 1986, suas vitórias deslancharam, nos dois anos de supremacia da Williams/Honda. Nestes dois anos, Mansell viu suas esperanças de títulos sumirem devido aos seus próprios erros, e principalmente, ao seu companheiro de equipe, Nélson Piquet. A briga entre os dois começou a meio da temporada de 86, quando o brasileiro viu que, se quisesse o título, teria de se virar sozinho, pois a equipe estava privilegiando o piloto inglês. E o brasileiro quase conseguiu, perdendo o título por apenas 3 pontos e ficando 1 ponto atrás de Mansell, que perdeu o título na última corrida cometendo o erro de não parar para trocar pneus, o que o fez, a meio da prova decisiva, ter um pneu estourado que o levou a abandonar a corrida.
            Em 1987, outro campeonato de supremacia Williams/Honda, o pior adversário de Mansell foi Piquet, e até si próprio. Mansell cometeu muitos erros durante o campeonato, perdendo boas chances de marcar pontos. Piquet, por sua vez, não cometeu o mesmo erro de 86 e partiu para a conquista do título já no início do ano. Nem o forte acidente em San Marino deteve o piloto brasileiro, mas facilitou a reação de Mansell, que acabou vencendo mais que Piquet naquele ano, e nem assim levou o título. Em Suzuka, Mansell, desesperado para alcançar Piquet, sofreu um forte acidente e ficou de fora das últimas corridas, perdendo sua segunda chance de chegar ao título. Em 1988, com a queda de performance da Williams, Nigel acabou caindo junto. Já em 1989, agora na Ferrari, o inglês fez algumas boas corridas, mas não conseguiu vencer a superioridade da McLaren/Honda e seus pilotos, Ayrton Senna e Alain Prost. Prost, aliás, foi o vencedor da briga de 86, derrotando Mansell por apenas 2 pontos.
            A temporada de 1990 foi a pior para Mansell em termos de resultados. Com a Ferrari e tendo Alain Prost como colega de equipe, Mansell acabou vencendo apenas 1 corrida no ano e amargando uma posição intermediária no campeonato, enquanto Prost disputava o título com Ayrton Senna e vencia 5 corridas, acabando como vice-campeão. Até Nélson Piquet, em uma Benetton que, à época, era inferior à Ferrari, foi melhor que o inglês, ficando em 3º no campeonato.
            Em 1991, de volta à Williams, que começava a dar os ares de domínio novamente na F-1, Mansell perdeu novamente o título, desta vez para Senna, apesar da McLaren já não ser o melhor carro. Mais uma vez, a impetuosidade de Nigel voltou-se contra ele mesmo, fazendo-o perder corridas e mais uma chance de ser campeão. O GP do Canadá acabou sendo clássico: Mansell imprimiu um ritmo infernal durante a prova inteira, e a poucas voltas do final, forçou o ritmo, fazendo a melhor volta, sem ter quem o ameaçasse. Na metade da última volta, seu carro parou. Alguns dizem que Mansell forçou demais o carro e ele acabou quebrando, outros dizem que foi falta de gasolina devido ao forte ritmo que ele impôs. Seja lá qual foi a verdade, chegou a ser hilário. E quem ganhou de presente a vitória na corrida? Nélson Piquet!
            Em 1992, Mansell finalmente conseguiu o seu tão sonhado título mundial. Infelizmente, a imagem mais forte é que Mansell só conseguiu isso porque pilotou um carro muito superior à concorrência, que não conseguiu acompanhar o ritmo. Nem mesmo Senna, na McLaren/Honda, conseguiu fazer frente aos Williams/Renault, salvo momentos ocasionais. Isso se comprovou pelo fato de que Riccardo Patrese, seu companheiro de equipe, mesmo com uma campanha medíocre naquele ano se comparada com a de Mansell, ainda assim ficou com o vice-campeonato, mesmo tendo vencido apenas 1 corrida, contra as 9 do inglês.
            Na F-Indy em 93, Mansell conseguiu o título da categoria, e mais uma vez estava sentado no melhor carro. Mas o inglês continuou sendo infernizado pelos brasileiros: desta vez com Raul Boesel e Émerson Fittipaldi. Em 94, sem ter um carro tão competitivo, Mansell quase não brilhou na categoria, e até voltou à F-1, onde disputou 4 corridas, sendo que em 2 teve um desempenho medíocre, e as outras 2 com desempenho satisfatório. E este ano, na McLaren, acabou despedido por falar demais do carro, que realmente era ruim pra falar a verdade.
            Tudo isto é Nigel Mansell. Sobre os brasileiros, ele chega a elogiar Senna, dizendo que perder para ele era perder para o melhor do mundo. Claro que com Senna morto, não seria a hora de manchar sua memória mas, e se ele estivesse vivo? Talvez então Mansell lhe dirigisse as mesmas palavras a que falou de Piquet. Nigel chamou Nélson de trapaceiro, desleal e traidor, além de outros tipos de expressões. Confesso que gostaria de ter este livro para ver tudo o que ele achou dos pilotos brasileiros. Deve ser bem divertido.
            Isso é até coincidente com a situação atual da F-1: Damon Hill, que é inglês, é um bom piloto, mas Michael Schumacher, um piloto alemão, é muito melhor. Uma situação parecida com a que Mansell enfrentou há alguns anos, com a diferença de que Nigel era bem melhor do que Hill.
            Em todo caso, pilotos como Mansell são a alegria da F-1. Eles podem não ser destinados a serem campeões, mas a categoria ficaria sem graça, pois pilotos como o “Leão”, com suas corridas por vezes até loucas e rodadas potenciais, fazem a alegria da torcida...

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