A conversa surgiu no paddock belga no último final de semana, durante a realização do Grande Prêmio da Bélgica: Paul Ricard voltaria ao calendário da F-1 em 2013, e a partir daí, faria revezamento com a prova de Spa-Francorchamps, garantindo a presença de ambas na F-1, ainda que em anos alternados. Idéia ruim ou boa? Da parte da volta de Paul Ricard, ótima; a pista de Le Castellet, perto da costa do Mediterrâneo, sempre foi o palco favorito do GP da França entre todos os integrantes da categoria, e sua mudança de cenário para o insípido autódromo de Magny-Cours nunca foi engolida por muita gente. Nos dois primeiros anos, todo mundo até encarava numa boa a nova pista francesa, situada no meio de lugar algum e lugar nenhum no interior da França, pelo efeito da novidade, e pelos novos padrões de infra-estrutura que o circuito trazia para a categoria, que hoje são até medianos se comparados ao estrondo portentoso de algumas pistas novas que andam entrando no calendário, como Abu Dhabi.
A idéia de mudar o local do GP da França era usar a prova para desenvolver a região de Nevers, cidade mais próxima do circuito, e berço local do então manda-chuva da política francesa à época, François Miterrand. A idéia também teve apoio de Guy Ligier, que sempre foi bem relacionado com o governo francês, e inclusive transferiu a fábrica de seu time para as proximidades da pista. A idéia não era ruim, visto que a região da Catalunha, onde se situa o autódromo de Barcelona, passou por um grande desenvolvimento desde que o GP espanhol passou a ser realizado por lá, desde 1991. Só que na França o tiro saiu pela culatra, e mesmo em 2008, último ano em que o GP da França foi realizado, a região em volta do autódromo continua sendo um lugar nenhum perto de lugar algum. O desenvolvimento da região nunca veio, apesar da prova de F-1, e equipes, pilotos, torcedores e demais pessoas nunca esconderam a irritação pela falta de estrutura presente na região, onde fora da pista praticamente não havia quase nada por perto.
A volta de Paul Ricard seria bem-vinda, e seria ainda melhor se fosse no circuito integral, de 5,81 Km de extensão, que foi usado pela categoria, desde a primeira prova disputada no autódromo, em 1971, até 1985. Nos seus últimos anos, a F-1 passou a correr numa versão mais curta da pista, devido ao violento acidente que matou Elio de Angelis em um teste particular poucos dias antes do GP da Bélgica daquele ano. O traçado foi reduzido para 3,813 Km de extensão, cortando a imponente reta Mistral pela metade, e tornando o tempo de volta no circuito em pouco mais de 60s, algo que foi muito criticado na época. O autódromo está em plenas condições de uso, tendo sido palco de testes da equipe Toyota de F-1 enquanto a fábrica japonesa esteve presente na categoria. Com algumas reformas, para adequar aspectos relativos à segurança em alguns setores e infra-estrutura, não seria difícil vermos novamente os F-1 roncarem por suas belas curvas.
Mas a idéia de fazer Paul Ricard revezar com Spa-Francorchamps no calendário da F-1 beira a heresia. Mas Bernie Ecclestone quer corridas mais lucrativas – para ele, claro, e na Europa, praticamente todos os países, ainda mais com a atual crise de alguns deles no momento, se recusam a pagar mais pelas taxas da FOM. Os turcos foram os últimos a serem limados do calendário para 2012. Tudo porque Ecclestone quis aumentar a taxa, de US$ 13 milhões para US$ 26 milhões, para que Istambul continuasse tendo seu GP de F-1. Os turcos não quiseram saber do aumento, e com isso, a vaga vai para os Estados Unidos, com a nova pista de Austin, no Texas, que está em construção neste momento. Uma pista, aliás, que já está levantando polêmica de estar sendo erguida com recursos públicos e não privados, como deveria ser, e lá pelas paragens do Tio Sam, picaretagens com o dinheiro dos contribuintes não costumam acabar em pizza como anda acontecendo cada vez mais aqui no Brasil. Isso ainda vai dar muito o que falar.
Na Europa, a prova belga, apesar de ser a mais apreciada do calendário, também anda na berlinda, ao lado da prova alemã. O motivo é o mesmo: as altas taxas cobradas pela FOM estão tornando a brincadeira altamente custosa, e as autoridades locais, já com vários problemas devido à crise econômica, não querem saber de gastar mais com a brincadeira. E Ecclestone já avisou que, se precisar, vai tirar quantas etapas forem precisas da Europa para acomodar os novos interessados em participar da F-1, que não estão nem um pouco preocupados com suas exigências financeiras desvairadas. A curto prazo, a Rússia deve entrar no calendário, e o presidente da FOM já estaria acertando possíveis novos interessados em sediar outras provas. O revezamento seria uma solução para manter alguns GPs tradicionais sem tirar as corridas em definitivo do calendário, mas torcedores e até as escuderias não estão gostando muito dessa idéia.
Some-se a isso o calendário do ano que vem, com duração recorde do início de março ao fim de novembro, com uma parada mais forçada em agosto, onde os times estão reclamando dos custos e da logística, e teremos uma bela discussão pela frente, em que pese terem chegado a uma posição “de compromisso”, com um meio-termo que, se não agradou a todos, pelo menos não desagradou todo mundo também.
Novamente, a briga se resume a dinheiro, e nessa empreitada, o velho Bernie se vale da velha lei da oferta e da procura do mercado: quem der mais leva, mesmo que isso signifique prejudicar a situação do produto que se vende. E o espírito da F-1, quer queiram, quer não, está na Europa e nas provas de grande tradição de seu calendário. E tradição não se compra de um dia para o outro, como prova todas as novas etapas que entraram no calendário na última década e pouco, que até hoje não conseguiram cativar a maioria do público que comparece a estas corridas.
Na opinião de muitos torcedores, deveria haver um revezamento de corridas sim, mas das novas corridas do calendário, como Bahrein, Abu Dabhi, China, etc. Mas o bolso de Ecclestone com certeza sairia perdendo, e o velho Bernie não aceita perder em nada. Desse jeito, vamos ver o que o futuro nos reserva quanto ao calendário da Fórmula 1...
Bruno Senna fez uma estréia razoável como piloto da Renault na corrida da Bélgica. O sobrinho de Ayrton Senna surpreendeu mesmo na classificação, realizada com o típico clima instável que já virou marca registrada da região das Ardenhas. Pena que na corrida, um erro de cálculo na largada levou Bruno a colidir com Jaime Alguerssuari e comprometer totalmente sua corrida, obrigando-o a fazer uma prova de recuperação, terminando apenas em 13°. Mas de qualquer maneira, o piloto brasileiro conseguiu mostrar potencial, e agora é aproveitar a corrida da Itália para garantir de vez seu lugar no time até o fim do ano, e quem sabe, garantir-se para 2012. Não houve como ver sem nostalgia o carro da Renault, com pintura inspirada na célebre Lótus preta e dourada dos bons tempos, com aquele capacete verde e amarelo. Parecia estarmos de novo a 25 anos atrás, quando Ayrton conseguia em Spa, novamente na chuva, vencer sua segunda prova na F-1. Olhando para Bruno, com a viseira aberta, então, era impressionante como ele se parece com seu tio. Mas ele faz questão de frisar que não é o Ayrton, apenas o Bruno. E isso faz toda a diferença, para que não se cobre dele algo que ele não pode dar, que é repetir na pista os feitos do tio, que foi um dos maiores nomes do automobilismo mundial de todos os tempos. Se tiver oportunidade, ele pode até tentar chegar lá. Talento, ele tem. Se vai ser um novo Ayrton, ninguém sabe. Ao torcedor brasileiro, neste momento, tão sem paciência para com nossos pilotos no meio, resta não ir com muita sede ao pote, e dar-lhe a tranqüilidade necessária para evoluir na categoria. E que Bruno também saiba distanciar-se das cobranças da torcida brasileira, que muitas vezes pode mais prejudicar do que ajudar nossos representantes, com suas cobranças desproporcionais. Afinal, aqui virou a terra da exigência de sucesso total: se não for campeão, é um fracassado, para muita gente que se diz torcedor... Uma lamentável realidade nacional.
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