sexta-feira, 23 de setembro de 2011

DECISÃO EM CINGAPURA?

            Chegou a hora do mais exótico Grande Prêmio do calendário da F-1, a prova de Cingapura. Além do local já naturalmente diferente, que é a cidade-estado de Cingapura, que apesar de seu tamanho é um dos grandes “Tigres Asiáticos”, com uma renda per capita que está entre as 10 maiores do mundo, a prova é disputada à noite em sua totalidade, ajudando a dar uma atmosfera única a este GP. E com a possibilidade de se definir o campeão da temporada, tudo ganha contornos mais relevantes.
            Como todo circuito de rua, esta pista oferece os tradicionais muros onde os pilotos precisam justificar seu salário, passando rente a eles na medida certa para conseguir ser rápido e ao mesmo tempo não arrebentar o carro na parede mais próxima. Além das dificuldades de acerto inerentes ao um traçado urbano, o clima ajuda a complicar a situação com um calor bem forte, que talvez perca apenas para o clima tropical enfrentado na Malásia, que não por coincidência fica aqui pelas imediações. Um calor que fica um pouco menos tenso à noite, mas que não relaxa tanto assim. O ponto negativo é que, desde sua estréia no calendário em 2008, a prova de Cingapura tem oferecido corridas apenas medianas, apesar de suas particularidades de disputa e desafios do tipo de circuito. Pra não mencionar o escândalo do “Cingapuragate”, de quando o piloto brasileiro Nelsinho Piquet bateu seu carro em 2008 em uma das retas desta pista para forçar a entrada do safety car e, com isso, privilegiar a estratégia de corrida de Fernando Alonso, que tendo feito seu pit stop imediatamente antes da batida premeditada, voltou na frente e lá ficou para vencer a corrida.
            Em 2009, a vitória foi de Lewis Hamilton, em um ano onde a Brawn GP foi a grande sensação da temporada, mas chegou ao traçado montado em Marina Bay já sem apresentar o mesmo brilho do início do ano. Em 2010, tivemos uma vitória de Fernando Alonso, que soube resistir bem à pressão de Sebastian Vettel e vencer pela segunda vez a prova noturna. E este ano, com os novos pneus da Pirelli, mais o kers e o dispositivo da asa móvel traseira, talvez possamos ver uma corrida um pouco mais agitada do que as anteriores.
            Mas o ponto que chama mesmo a atenção é a disputa pelo título. Disputa essa que, diga-se, é pra “inglês ver”, ou nem mesmo isso, pois Sebastian Vettel, com 112 pontos de vantagem para Fernando Alonso, tem tudo para encerrar matematicamente a disputa em Marina Bay. Basta apenas que se repitam os resultados vistos nas últimas corridas, onde Vettel tem corrido apenas para marcar pontos, enquanto seus perseguidores digladiam-se entre si, para que tudo termine de vez. Mesmo assim, na melhor das hipóteses, o que deve haver é o adiamento da decisão em 1 ou 2 corridas. Se a decisão não for na prova deste final de semana, muitos apostam que de Suzuka mesmo não passará. Aliás, muita gente no paddock está fazendo uma torcida velada para que a decisão vá para o Japão mesmo, onde se poderia aproveitar muito melhor o clima de decisão, pra não falar que a pista de Suzuka tem mais charme e oferece melhor disputa do que qualquer traçado urbano. De minha parte, também torço para que nada saia definido aqui em Cingapura. Se for, certo, a cidade até pode merecer isso, ainda mais porque é um dos GPs mais novos que, ganância de Ecclestone à parte, foi um golpe certeiro de novidade que a categoria precisava.
            Para os brasileiros, o interessante é ver esta corrida no horário em que se assiste tradicionalmente às provas européias. Pelo horário de Brasília, o treino de classificação será às 11 horas da manhã de sábado, enquanto a corrida, domingo, será no tradicional horário das 9 da manhã. Já para quem está no circuito, é simplesmente fazer tudo à noite e seguir madrugada adentro, indo dormir perto do dia raiar e só levantar lá pelo meio da tarde. Todo o pessoal nem bem chega da Europa ou outras partes do mundo e já vai fazer “serão”, para entrar no horário das atividades oficiais. Pela diferença do horário a que todos estamos habituados, é nesse detalhe que tudo fica mais interessante, por sairmos da rotina.
            O traçado de Marina Bay tem 5,073 Km de extensão, com o GP sendo disputado em 61 voltas, dando um total de 309,316 Km de percurso. No ano passado, a volta mais rápida da corrida foi de Fernando Alonso, com 1min47s976. Alonso também foi o pole-position, com 1min45s390. Dos brasileiros, apenas Rubens Barrichello andou relativamente bem no ano passado nesta pista, terminando em 6° lugar. Felipe Massa vivia o seu calvário na Ferrari, terminando apenas em 8° (na verdade foi o 10° colocado, mas dois pilotos à sua frente sofreram punições), enquanto via seu companheiro de equipe vencer a corrida. E Bruno Senna, pilotando a carroça da Hispania, nem tinha muito o que fazer. Neste ano, a situação de todos é diferente: Barrichello está com uma carroça nas mãos, Bruno tem um carro que pode render pontos certos, e Massa está num calvário maior do que em 2010, que só não é ainda maior porque até mesmo Alonso está fora da disputa pelo título, haja vista sua desvantagem de pontos para Vettel – e olhe que o espanhol é o 2° colocado na classificação do campeonato.
            Vettel mostra prudência quanto às possibilidades de conquistar o título nesta pista. Mesmo podendo apenas correr por pontos, o intrépido alemãozinho da Red Bull arrepiou nas corridas da Bélgica e da Itália, mostrando um arrojo que muitos não esperavam para quem já tinha tanta vantagem na classificação, que aliás, aumentou ainda mais com as duas vitórias nestas pistas. Apesar dos riscos envolvidos, por se tratarem de autódromos, não houve riscos maiores do que os normais neste tipo de situação, talvez o mais perigoso tenha sido a ultrapassagem feita por Vettel sobre Alonso em Monza, onde precisou colocar duas rodas na grama por um segundo para achar espaço na ultrapassagem sobre o espanhol. Seria talvez o caso do atual campeão dar uma relaxada para marcar pontos em Marina Bay, de forma mais comedida, e partir para uma conquista definitiva na corrida seguinte, em Suzuka? Pode até ser, mas muitos duvidam que Vettel tenha essa postura mais conservadora. O piloto da Red Bull deve partir mesmo é para tentar a vitória na corrida, o que seria a 9ª na temporada. Mas, se a situação se mostrar complicada demais para isso, não será nada anormal ele adotar uma postura mais branda e correr apenas pelos pontos se os riscos forem demasiado grandes.
            Por mais anticlimático que possa parecer, Vettel pode se dar a esse luxo neste momento, deixando seus perseguidores correrem quase à toa – afinal, perder o título, só em um desastre extremo, algo muito improvável de acontecer, enquanto ele marca mais alguns pontos com uma corrida tranqüila. Mas, corridas tranqüilas em circuitos de rua geralmente não costumam acontecer assim. E por mais declarações que os pilotos andem fazendo, o que podemos esperar é outra briga direta entre McLaren, Red Bull e talvez Ferrari e até Mercedes em Marina Bay. Se isso acontecer, ótimo, poderemos ter uma corrida emocionante. Se Vettel quiser partir para o tudo ou nada na luta pela vitória na corrida, tudo bem também. Não sendo uma corrida chata, todo mundo sai ganhando. E pelo que vem acontecendo este ano com as novas regras, podemos ter outro GP bem interessante. Vai compensar passar as noites de Cingapura acordado...


Que a pista montada em Marina Bay não é nenhum exemplo de genialidade para um circuito de rua, há quem opine que poderia ser feita uma adaptação que poderia oferecer pelo menos dois bons pontos de ultrapassagem no circuito. No ponto onde a pista fica lado a lado com si mesma, nas curvas 8 e 14, se fosse feito um viaduto ou um túnel, permitindo à pista passar por cima de si mesma naquele trecho, criaria dois trechos de reta bem maiores, que talvez possibilitasse um aumento nas disputas por posição. Simples na teoria, mas na prática, as coisas são diferentes, e ainda mais se tratando de uma pista de rua, não se fariam um túnel ou viaduto assim apenas para se satisfazer as necessidades de disputa de um GP. Claro, isso depende das autoridades locais. Mas, ao contrário do que acontece por aqui, o governo de Cingapura joga sério e duro no que tange a administração pública, algo que no Brasil infelizmente ainda estamos longe de desfrutar...

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