sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DESORDEM DENTRO E FORA DA PISTA

            Desde que a F-Indy original encerrou suas atividades com a sua última etapa realizada em 2008, quando foi disputado o GP de Long Beach apenas com os pilotos que participavam de seu campeonato no ano anterior, muito se falou que o fim da “guerra” das Indys promovida e levada a cabo por Tony George finalmente colocaria o automobilismo de monopostos nos trilhos novamente. Propagandeou-se numa aludida “reunificação” que nunca existiu, pois a OWRS simplesmente encerrou suas atividades, enterrando o sonho de restaurar a glória e prestígio da categoria americana, que nos seus anos gloriosos de administração da CART, chegou a fazer sombra até ao campeonato mundial de F-1. Alguns migraram para o que sobrou, a Indy Racing League, enquanto outros, mantendo seus princípios firmes, preferiram fechar as portas a competir na categoria que muitos apontam ter sido a principal causadora da ruína do velho campeonato Indy, como foi o caso da Forsythe, um dos times de ponta da categoria.
            O único ponto positivo foi que o grid da IRL ficou “cheio”, chegando hoje a ter 26/28 carros dependendo da prova, como nos bons velhos tempos da CART. Antes, no duelo entre os grupos, o grid ficou reduzido a 17/19 carros para cada lado. Em que pese a iniciativa da CART a princípio de deixar as coisas seguirem, as investidas agressivas da IRL, somadas mais a decisões erradas tomadas pela direção da CART, contribuíram para a derrocada da categoria original muito mais do que as propagadas “qualidades” do campeonato IRL. Qualidades estas que se mostraram na verdade um castelo de areia extremamente frágil quando se vislumbrou que Tony George usava parte do patrimônio de sua família para sustentar a categoria, onde também tinha um time próprio para ajudar a “encher” o grid. George, então, nem teve tempo de comemorar sua “vitória” com a extinção da F-Indy original, o que desejava há tempos, desde que criou a IRL: acabou destituído não apenas da direção da IRL, mas também do Indianapolis Motor Speedway, que administrava há anos, e era seu grande trunfo político, pois é o autódromo onde são realizadas as 500 Milhas de Indianápolis, a prova mais importante do automobilismo americano.
            Sem dinheiro, Tony George não teve mais como se gabar: fechou seu time, e tornou-se meio que um pária na IRL, que tentando resgatar o prestígio e mostrar ser uma categoria séria, tentou de desfazer de todos os seus integrantes oriundos da administração do ex-dono do IMS. Pairava sobre a categoria a visão culpada de ter ocasionado a extinção de um certame que existia há quase 100 anos, o que desagradou a muitos fãs de corridas. Era uma tentativa válida de recomeço. Tanto que passou a usar novamente o nome “Indycar”, tentando mostrar que o futuro seria mais promissor. Um futuro que ainda não chegou.
            E o campeonato deste ano, diga-se de passagem, é a prova mais cabal de que a IRL (para mim, eles não fazem juz ao nome “Indycar”, que simboliza uma época onde a categoria Indy original era sinônimo de competição e disputa de alto nível) anda mais metendo os pés pelas mãos do que revitalizando o certame. Adotou uma regra que acabou se tornando temerária, a largada em fila dupla nas bandeiras amarelas, esquecendo-se de que o momento é potencialmente propício a acidentes, pela proximidade entre os carros. Muitos pilotos, claro, apoiaram a medida, no interesse pessoal de que é uma oportunidade para se efetuar ultrapassagens e recuperar posições. Só que se esqueceram que boa parte das pistas é estreita para este tipo de procedimento, em especial algumas pistas de rua. Não deu outra: logo na primeira corrida, em São Petesburgo, a largada inicial já foi conturbada, e ocorreram mais confusões nas demais relargadas. Algo que se repetiu em outras provas.
            Tentou-se dar uma inovada dividindo a prova do Texas em duas corridas, com a segunda corrida tendo seu grid definido por sorteio, algo que nem todos gostaram. Mas até aí, foi uma iniciativa válida. Mas a postura dos fiscais de pista começou a incomodar também. Como se estivéssemos na F-1, onde até olhar torto hoje em dia parece ser passível de punição, a direção da categoria começou a aplicar algumas punições e a adotar algumas regras bestas. O lance da vitória que foi garfada de Hélio Castro Neves em Edmonton no ano passado é um bom exemplo. Hélio ainda tomou uma punição em forma de multa por ter reclamado com os fiscais, possesso que ficou. E com razão.
            E a corrida de New England disputada semanas atrás, onde a organização resolveu antecipar a prova para tentar fugir da chuva. Quando as emissoras entraram no ar, a prova já estava em andamento, e mesmo explicando os motivos da antecipação, muito torcedor chiou com razão, e as emissoras não podiam fazer muita coisa, tendo de obedecer a horários estabelecidos nas transmissões de satélite e outros pormenores. Pior mesmo foi tentar fazer a corrida relargar com a pista úmida, o que provocou a rodada de vários carros. Will Power saiu irritado com a decisão equivocada e saiu mostrando o dedo para a organização, que não hesitou em dar-lhe uma bela multa, como se a palhaçada maior não tivesse sido da própria IRL, que tentou porque tentou terminar a prova em bandeira verde. Em uma pista oval, correr no molhado é suicídio mesmo. Será que eles não se mancaram?
            A última notícia é de que o GP de Las Vegas, que encerra a temporada no mês que vem, e teria convidados “especiais” que disputariam a prova visando um prêmio de US$ 5 milhões caso vencessem, na verdade não terá nenhum participante em especial. Dan Wheldon, que venceu a Indy500 este ano, correndo por um time que participou apenas em Indianápolis, seria o único “participante especial” da prova, só que se vencer, terá direito apenas a “metade” do prêmio especial, se vencer. A outra metade, vejam só, será sorteada para um torcedor em promoção a ser feita no site oficial da categoria. A desculpa oficial da direção da IRL é de que ninguém quis participar da premiação especial, e por isso, apenas Dan Wheldon correrá, largando do fundo do grid, em último, inclusive. Penske e Ganassi, que inicialmente iriam disponibilizar um carro extra para os convidados especiais, praticamente pularam fora, ainda mais agora que a disputa pelo título entre seus pilotos, Dario Franchiti e Will Power, está pegando fogo, e mais renhida do que nunca na classificação. Com o título em jogo, nada mais lógico ambos os times preferirem centrar suas atenções na disputa séria do que dar atenção a uma ação promocional da categoria. E o problema não se resume a apenas isso. Logo que o anúncio da participação de Wheldon foi feito, não tardou para outros pilotos que poderiam participar desta corrida e nunca foram considerados nem convidados começassem a reclamar dos métodos de escolha da direção da IRL.
            Ficou muito forte a sensação de que a direção da categoria queria que apenas “medalhões” viessem tentar o prêmio especial. Só que nenhum destes potenciais candidatos quis entrar na parada, e agora eles tentam evitar o maior desgaste com inúmeros outros pilotos, que não tendo disputado o campeonato regularmente, se vêem no direito de pleitear poder correr também. Não estão errados. A IRL é que errou ao não planejar a coisa direito. A idéia não era ruim, mas sua execução foi totalmente atabalhoada. Provas promocionais são interessantes. A antiga F-Indy costumava ter o Marlboro Challenge, uma prova extra-campeonato que era disputada apenas pelos mais bem colocados pilotos no campeonato (geralmente os 10 primeiros), que corriam unicamente pelo prêmio da vitória da prova, oferecido pela patrocinadora, e que não contava pontos para o campeonato. Mas as regras eram simples, claras, e cumpridas devidamente. Algo que não se vê no rolo desta premiação extra para convidados “especiais” em Las Vegas, mudada de última hora, e com interpretações que agora dão margem a idéias nas entrelinhas que não eram divulgadas oficialmente...Será que ainda não vão mudar tudo novamente, alguns perguntam, ironizando o descrédito que a mudança anunciada gerou no meio.
            Randy Bernard, que comanda a categoria atualmente, vai ter de mostrar muito jogo de cintura para resolver essa muvuca, para não mencionar das outras confusões que a categoria anda promovendo, essas mais por conta de Brian Banhart, que se acha o rei da cocada preta da IRL. Bernard, que promovia rodeios antes de vir comandar a IRL, vai ter de se segurar firme para não cair do cargo, enquanto Banhart vai colecionando desafetos a cada corrida. Outra decisão que ficou a dever foi sobre a escolha dos novos chassis a serem utilizados a partir do ano que vem. Quando todo mundo já estava enjoado dos atuais Dallaras, eis que a fábrica italiana continuará como fornecedora de chassis...única. Propostas de outros fabricantes foram vetadas em nome da contenção de custos, mesmo com os times aceitando e alguns até defendendo a necessidade de se atrair novos fornecedores de chassis, alimentando a competição. Recentemente, resolveram postegar por um ano a adoção dos kits de aerodinâmica que os times poderiam desenvolver. De concreto mesmo, apenas a volta de novos fornecedores de motores em 2012, que agora passam a ser turbos. A Honda continua, e a Chevrolet retorna. A Lotus Cars, em uma parceria com John Judd, também fornecerá motores. Na década de 1990, a F-Indy original tinha chassis da Lola, Penske, March e Reynard. Os motores eram Chevrolet, Ford, Judd e Porshe, todos turbos V-8. Bons tempos aqueles, e não faltava emoção e competição a custos acessíveis.
            A IRL querer reencontrar o seu rumo não tem nada de errado. Mas, na ânsia de tentar inovar, está dando com os burros n’água, e isso só vai piorando a fama do certame, que está muito, muito longe de recuperar qualquer vestígio de seriedade e emoção que desfrutava a Indy original há 15 anos atrás. É preciso chamar gente entendida do meio para poder recolocar a categoria, ou o que sobrou dela, de novo nos eixos. Ou dali a pouco, nem IRL vai sobrar para contar história...


E Sebastian Vettel ganhou sua 8ª corrida do ano, em Monza, onde foi disputado o tradicionl Grande Prêmio da Itália de F-1. Preciso falar mais...?

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