sexta-feira, 9 de setembro de 2011

FELIPE NARS CONQUISTA A F-3 INGLESA

            No último domingo, o Brasil alcançou mais uma conquista no automobilismo internacional. O brasiliense Felipe Nasr, com uma 3ª colocação na etapa final das provas disputadas no circuito inglês de Rockingham, faturou por antecipação o título da F-3 Inglesa de 2011. Com nada menos do que 7 vitórias em 21 corridas disputadas nesta temporada, Felipe tornou-se o 12° piloto brasileiro a conquistar o mais famoso campeonato de F-3 do mundo, por onde passam todos os anos pilotos vindos de todos os continentes almejando fazer carreira de sucesso no automobilismo internacional. Um campeonato que é considerado uma grande escola de aprendizagem por todos os pilotos que lá já competiram, e com inúmeros nomes que brilharam em outras categorias.
            Nossa primeira conquista neste famoso torneio foi feita por ninguém menos do que Émerson Fittipaldi, que ganhou a competição em 1969, competindo pela equipe de Jim Russel. No ano seguinte, enquanto Émerson seguia para a F-1 na equipe Lótus, José Carlos Pace repetiria o feito de seu compatriota um ano antes. Em 1978, seria a vez de Nélson Piquet arrepiar os britânicos, e naquele mesmo ano, estrear na F-1, em uma corrida pela equipe Ensign. Em 1979, Chico Serra também venceria o campeonato. Na década seguinte, seria a vez de Ayrton Senna mostrar aos ingleses do que era capaz, pulverizando as marcas da categoria em 1983, ano em que foi campeão do certame. Maurício Gugelmim também seguiria os passos de Senna, e em 1985, também levantaria o caneco da competição. Na década de 1990, faturamos 3 campeonatos, com Rubens Barrichello (1991), Gil de Ferran (1992) e Mário Haberfeld (1998). No ano 2000, Antonio Pizzonia venceria em 2000; Nelsinho Piquet repetiria o feito do pai, vencendo em 2004. Este foi nossa última conquista na F-3 Inglesa, até o triunfo de Nasr no último final de semana.
            Com exceção de Mário Haberfeld e Gil de Ferran, todos os nosso campeões na categoria inglesa chegaram à F-1, com especial destaque para nossos grandes campeões de F-1, Émerson, Piquet e Senna. Gil de Ferran chegou a fazer teste para correr pela equipe Arrows pouco tempo depois de sua conquista na Inglaterra, mas uma batida de cabeça numa porta mudou seu rumo para os Estados Unidos, onde foi correr na antiga F-Indy. E Gil fez sucesso nos EUA, chegando a ser bicampeão da F-Indy, e descartando de vez a F-1. Haberfeld tentou seguir os passos de seu compatriota, mas infelizmente não teve o mesmo sucesso. Na F-1, José Carlos Pace morreu em um acidente de avião naquele que era considerado o seu melhor momento da carreira. Chico Serra correu por carros pouco competitivos e desistiu da categoria. Maurício Gugelmim e Antonio Pizzonia até tentaram, com um pouco mais de sorte para Gugelmim, que foi piloto titular por 5 anos, enquanto Pizzonia nunca conseguiu disputar uma temporada completa. Nelsinho Piquet ficou apenas 1 ano e meio na categoria máxima, e saiu defenestrado pelo Cingapuragate, onde bateu de propósito por ordem da equipe. E Rubens Barrichello, mesmo sem ter sido campeão, está há 19 anos na F-1, e no que depender dele, ainda com algum tempo de carreira pela frente.
            A conquista de Felipe Nasr o credencia a sonhar alto em sua carreira no automobilismo, como mostra o retrospecto de nossos vencedores anteriores na competição, por onde passaram nosso grandes campeões antes de chegarem à F-1. Mas é a partir de agora que o caminho de Felipe começa a ficar mais complicado. É hora de dar o passo seguinte, e as opções são a GP2, ou a World Series by Renault. A GP2 é considerada o degrau imediatamente inferior à F-1, mas pode não ser a melhor opção. A WSR pode ser mais proveitosa para o piloto brasileiro. Em primeiro lugar, a vantagem financeira: é mais barato competir na categoria apoiada pela Renault do que na GP2, e para quem viu o macacão do piloto brasileiro, pode notar o pouco número de patrocínios ostentados por Nasr, que se deram conta do recado até agora, significam que é preciso batalhar por mais suporte para dar o passo seguinte. Mas não é apenas no aspecto financeiro que a WSR se mostra melhor do que a GP2. No aspecto técnico, Felipe poderá treinar mais neste campeonato do que na GP2, que a exemplo da F-1, limitou seus testes visando conter despesas. E numa hora em que é preciso aprender a galgar o salto de potência dos monopostos das principais categorias, treinar mais significa aprender mais com o carro, e com s pistas por onde terá a chance de correr. Quanto mais quilometragem acumular, melhor. Um ponto positivo é que o brasileiro já chamou a atenção dos principais chefes da F-1. McLaren, Ferrari e até Red Bull já fizeram contatos com o mais novo campeão brasileiro da F-3 inglesa, mas nenhuma decisão foi tomada por Felipe até o momento. Felipe esbanja tranqüilidade no momento, e faltando ainda 2 rodadas triplas, quer tentar vencer todas para encerrar sua passagem pela categoria com chave de ouro. O que não significa que ele não esteja com a cabeça já focada no desafio do próximo ano.
            Nessas horas, Felipe tem a seu lado uma dupla de ouro para orientar seus passos: o pai, Samir Nasr; e seu tio, Amir Nasr, que também são donos de equipe de competições no Brasil. Como o tio também foi piloto, Felipe desde cedo passou a conviver com o ambiente das corridas, e desde que fez sua estréia internacional nos monopostos, em 2009, vem numa escalada impressionante: venceu na F-BMW em seu ano de estréia, o qual se segue agora este da F-3 Inglesa, no seu segundo ano de disputa na categoria britânica, onde estreou no ano passado, tendo terminado na 5ª colocação final, mas disputando o campeonato por uma equipe muito menos competitiva do que sua atual escuderia, a Carlin, uma das melhores da F-3 inglesa.
            Pelo cronograma inicial, Felipe quer tentar chegar à F-1 em 2014, o que significa que os próximos dois anos serão cruciais para a chegada à categoria máxima do automobilismo mundial. Ter sido sondado por algumas das principais equipes da categoria é bom, pois mostra que seu trabalho já chamou a atenção de gente importante por lá. Por outro lado, isso também significa que errar a partir de agora pode ter mais conseqüências do que antes. Outro fator que não se pode ignorar é que, mesmo mostrando seu talento e competência com afinco, é preciso se resguardar no fator financeiro, e no atual momento vivido pela F-1, ter um bom suporte por trás em termos de patrocinadores pode ser vital. E este pode ser o maior desafio que Felipe irá enfrentar: se dentro da pista mostra que pode se garantir, fora dela a batalha para se garantir ajuda financeira que garanta sua passagem adiante poderá ser inglória, mesmo com todos os resultados já conquistados. As empresas brasileiras deixaram de apoiar como faziam antes nossos pilotos, e os poucos que ainda acreditam em nossos representantes já tem seus escolhidos. Vai ser preciso uma boa queda de braço para reverter essa situação. Não é nada impossível, mas é algo complicado de se dizer se vai dar resultado ou não. Mesmo neste momento em que nossa economia está indo bem, os patrocínios de pilotos simplesmente estão no seu menor patamar em décadas, algo difícil de entender, pois em tempos menos fartos, havia inúmeros pilotos contando com patrocínios de empresas nacionais, algumas que até nunca tiveram expressão internacional, mas que se dispuseram a apoiar nossos pilotos.
            Por enquanto, o piloto brasileiro pode relaxar um pouco, e como ele mesmo afirmou, partir para o tudo ou nada nas duas últimas rodadas triplas que ainda restam para encerrar o campeonato de 2011, que serão disputadas em Donington Park e Silverstone, a fim de aumentar o seu cartel de vitórias. Mas não pensem que, só pelo campeonato já estar garantido, que Felipe vai sair do seu estilo de pilotagem a fim de tentar vencer por vencer. Ele vai sim, arriscar mais, mas só o fato de já não ter de se preocupar com pontos e o campeonato permitirão que ele possa correr mais solto e tranqüilo. Se ele já mostrou do que é capaz durante o certame, agora que faturou o caneco, pode até ir mais longe. Com 6 corridas pela frente, ele só não terá como sequer empatar o número de vitórias que é de Jan Magnussen, de 1994, quando o piloto dinamarquês venceu 14 corridas naquela temporada. Poderá chegar no máximo a 13, que foi o recorde anterior de vitórias em um mesmo ano da F-3 inglesa, estabelecido em 1983 por Ayrton Senna. Curiosamente, o recordista de vitórias Jan Magnussen é nada menos do que o pai de Kevin Magnussen, o companheiro de equipe de Felipe Nasr na equipe Carlin nesta temporada, que deve ter pelo menos respirado aliviado vendo que seu parceiro de escuderia não terá como desbancar o recorde atingido pelo pai...

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