sexta-feira, 26 de agosto de 2011

SCHUMACHER, 20 ANOS

            Depois de quase 1 mês sem corridas da Fórmula 1, nada mais propício do que voltar à ativa logo no melhor circuito de toda a temporada. Chegar a Spa-Francorchamps, no meio das colinas das Ardenhas, na Bélgica, é sempre um prazer, e não sou o único com esta opinião. Dificilmente um circuito é o preferido de 9 entre 10 pilotos, mas esta é a popularidade da pista belga entre todos que aqui chegam para desafiar suas curvas e retas em busca do melhor lugar numa corrida automobilística.
            É também um circuito onde os grandes pilotos sempre se destacam. E não é por acaso que um de seus maiores vencedores é o saudoso Ayrton Senna, que aqui colecionou nada menos do que 5 vitórias na prova belga. Senna sempre fez boas performances aqui. Mas o maior vencedor de Spa é Michael Schumacher, que acumulou 6 triunfos em sua carreira na F-1. Foi aqui que Michael, que se tornou o maior piloto da história da categoria pelo menos nos números, obteve sua primeira vitória na F-1, em 1992, em uma corrida sob chuva, derrotando as imbatíveis Williams de Nigel Mansell e Riccardo Patrese, logo em seu 17° GP na categoria. Apenas um ano antes, nesta mesma pista, o intrépido alemãozinho desembarcava na F-1 substituindo o belga Bertrand Gachot, que havia sido preso dias antes na Inglaterra por atacar um motorista de táxi com um spray paralisante, atitude que dá cadeia nas ilhas britânicas.
            A Jordan tinha um carro que era uma das sensações da temporada, mas era pobre de patrocínios. E a Mercedes, onde Michael Schumacher corria na Sport-Protótipos, resolveu bancar a estréia de um de seus pupilos na categoria, onde desembarcaria algum tempo depois, associada a seu velho parceiro Peter Sauber. Michael pegou a mão do carro rapidamente e abocanhou a 7ª posição no grid de largada. Sua prova durou até a descida em direção à Eau Rouge, mas o recado estava dado. Eddie Jordan só não teve chance de capitalizar o talento que tinha nas mãos porque Flavio Briatore foi mais ligeiro e contratou o jovem alemão para ser piloto da Benetton logo na prova seguinte, na Itália, destroçando a carreira de Roberto Moreno no processo.
            Michael mostrou a que veio: acelerava muito. Cometeu algumas burradas devido a um pouco de arrojo em excesso, mas logo foi se aprumando, e em 1993 já era considerado até candidato ao título, ainda que em potencial, pois a Williams, em sua supremacia, deixava até mesmo Senna como coadjuvante de luxo. Mesmo assim, Schumacher foi impondo respeito, ainda que arrumasse algumas escaramuças com outros pilotos que não se intimidavam com ele numa disputa de freada. Seu momento de consagração viria em 1994, quando teve enfim um carro à sua altura, e soube tirar dele tudo o que podia. Foi o seu primeiro título, em que pese a manobra desleal de abalroar Damon Hill na etapa decisiva em Adelaide, na Austrália. No ano seguinte, conquistaria o bicampeonato de maneira totalmente limpa, e consolidando de vez sua posição de maior nome da F-1 na era pós-Senna.
            Logo em seguida, aceitou o que muitos achavam impensável: deixou uma Benetton vencedora para ingressar numa Ferrari que andava em crise e tentava renascer desde o vice-campeonato de Alain Prost em 1990. Foi um trabalho demorado, que durou 4 anos, mas ele conseguiu: em 2000, trouxe a Ferrari novamente para o círculo dos times campeões. E iniciou um domínio que dificilmente será repetido: conquistou nada menos do que 5 campeonatos consecutivos para a equipe de Maranello, tornando-se o primeiro e único heptacampeão da F-1, e atingindo números que são recordes em quase todas as estatísticas da categoria.
            Pesa contra Schumacher o fato de, durante a maior parte de sua carreira, nunca ter tido adversários à altura de seu talento. Damon Hill e Jacques Villeneuve nunca foram considerados pilotos de monta, apesar de o canadense ter cotação melhor do que o filho de Graham Hill; enquanto Senna dividiu as pistas com Schumacher, o brasileiro mostrava-se ainda superior. Não fosse a morte acidental de Ayrton em 1994, poderíamos ter assistido a um duelo de gigantes na categoria, mas nunca saberemos como poderia ter sido. Mika Hakkinen, bicampeão em 1998 e 1999, foi talvez o mais forte oponente de Michael em seu período de maior nome da F-1. Em 2005, quando a Ferrari não teve um carro à sua altura, Schumacher encarou enfim um adversário de verdade: Fernando Alonso. O espanhol, com um carro vencedor, foi o primeiro a destronar o reinado de Schumacher, que já durava 5 anos. Mas todos sabiam que Fernando tinha mais carro que Michael, então, a disputa ficou meio inacabada. No ano seguinte, quando Maranello conseguiu novamente fazer um carro vencedor, Michael e Alonso travaram um verdadeiro duelo, com vitória, nos pontos, para o espanhol. Antes que pudéssemos ter um novo round na disputa, eis que Michael anunciou sua aposentadoria. Em 2007, ele não estava mais no grid. Já tinha conquistado tudo o podia, diziam. De fato, podia se aposentar mesmo com o sentimento do dever cumprido. Uma carreira ímpar nas conquistas e números.
            No ano passado, após 3 anos, estava de volta à categoria. Agora na Mercedes, fábrica que o apoio no início da carreira, Michael resolveu voltar a correr. Meio que por gratidão, meio que para se provar que ainda é um piloto competitivo. Os 3 anos de afastamento, contudo, cobraram seu preço: o heptacampeão demorou a se reacostumar ao carro, e levou uma bela sova de seu companheiro de equipe Nico Rosberg. Este ano, pode-se ver que Michael já está mais de volta à velha forma. O problema é que o carro da Mercedes não lhe permite sonhar com vitórias, e embora esteja atrás de Rosberg novamente nos resultados, pode-se notar que ele, pelo menos na garra e determinação, já mostra o velho talento de antes. Mesmo assim, dificilmente ele pode sonhar em repetir em Spa uma vitória, onde venceu pela última vez em 2002, com a Ferrari.
            São 20 anos de Michael Schumacher na F-1, embora contemos efetivamente 17 deles na pista. Mas aqueles que aqui estiveram há 20 anos trás, e pensavam que aquele jovem piloto alemão que estreava no carro verde da Jordan seria apenas mais um entre tantos outros que entravam e saíam da categoria não poderiam estar mais errados do que ele mostraria nos anos seguintes. Não se pode afirmar que Michael é o maior piloto de fato da história da F-1, apenas por seus números. Estatísticas nunca são um parâmetro 100% fiel do que um piloto conseguiu em sua carreira. Muitos afirmam que Ayrton Senna foi maior do que Michael, e outros dizem que Juan Manuel Fangio ainda é superior a todos que já alinharam num grid de F-1. Outros afirmam que o maior de todos os pilotos nunca teria estado na categoria.
            Discussões sem fim à parte, Michael escreveu seu nome nos anais do automobilismo nestes últimos 20 anos. E nada melhor do que comemorar estas duas décadas de feitos em uma pista ímpar e desafiadora como é Spa-Francorchamps, um lugar que sempre ocupa uma posição especial no coração de todo piloto que acelere em suas curvas e retas em uma competição de carros.
            Parabéns aos 20 anos de Michael Schumacher na F-1.


Bruno Senna enfim vai ter sua chance de disputar um GP pela Renault nesta temporada. O time acabou de mandar embora Nick Heidfeld, alegando que o piloto alemão não trouxe os resultados que o time esperava, o que acho uma tremenda injustiça, pois se o carro não é exatamente o que eles esperavam, Heidfeld não é o principal culpado, embora tenha tido algumas performances desanimadoras este ano. Para Bruno, que já tinha feito um treino livre na Hungria, é aproveitar a chance para mostrar do que é capaz, mas ao mesmo tempo, de se mostrar maduro e prudente para não cometer erros, pois o lugar também está sendo cobiçado pelo francês Romain Grossjean, que pode se tornar campeão da GP2 neste final de semana e conta com a simpatia de Eric Boiller, chefe da equipe Renault, e é o preferido dos franceses, ávidos por terem novamente um representante na F-1. Bruno precisa manter a cabeça no lugar e fazer o que sabe. Se for bem sucedido, poderá ter dado o passo definitivo que precisava para enfim arrumar um lugar na F-1. Talento ele tem. Precisava de uma oportunidade decente. Ela surgiu. Agora, é com ele...

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